Capítulo 3
por Bidi NaschpitzXena havia acordado sobressaltada; dessa vez não era os sonhos eróticos que vinha tendo.
Olhou para sua barriga, sem se mover: depois de algumas horas de sono, a espaçosa Gabrielle tinha “escalado”, o corpo da morena, tendo seu braço esquerdo sobre seus seios, a cabeça sobre a barriga e um teimoso braço direito sobre um local um tanto indevido, o que deixava – até aquele momento – uma perturbada e sonolenta Princesa Guerreira lutando contra o mundo de Morpheus e seus sonhos eróticos.
“Esse bastardo deve adorar fazer essas brincadeiras comigo, como vingança por eu não ter permitido Gabrielle ser sacrificada como sua noiva” – pensou.
No momento em que o Deus dos Sonhos já estava se preparando para jogá-la em mais um sonho pervertido, algo mais ressaltou em si: seus pêlos estavam ouriçados, e seu corpo formigava, tentando alertar sua habitante do perigo eminente.
Um ruído veio do corredor da estalagem, aguçando seus ouvidos. Se fosse alguém que havia ido “se divertir” naquela noite, teria feito um barulho mais estrondoso, e não teria cuidado em tentar não revelar sua presença no local.
A esse pensamento, seu sexto sentido gritou. Era claro que algo não estava certo.
Uma estranha movimentação no bosque além da janela, e que não era o derradeiro vento noturno e gelado, começou a se manifestar.
A adormecida barda se movimenta, retirando a concentração de Xena na situação e fazendo-a voltar sua atenção para a loira.
A expressão tensa em seu rosto se vai ao momento em que ela fixa seus olhos na serena face de Gabrielle adormecida. Uma solene Princesa Guerreira olha para a jovem e acaricia seus dourados cabelos com ternura.
“Como ela é linda dormindo… O anjo que veio iluminar meu caminho, e tirar-me da escuridão” – pensou, enquanto sorridentemente zelava pelo sono da barda. – “Nada, ninguém, jamais tocará sequer em um fio de cabelo seu”.
Os passos silenciosos do (provável) bandido cada vez mais alto eram distinguidos por seus sensíveis ouvidos.
Sem se mover, ela gira os olhos em torno do quarto, procurando por opções. Entretanto, a única “opção” que ela consegue visualizar é seu chakram e sua espada, desafortunadamente do outro lado do cômodo, próximo à lareira.
Um vulto surge na soleira da porta do quarto, denunciado pela tocha que jazia no corredor.
A guerreira fecha os olhos, tentando se concentrar. Esforçava-se duramente para escutar os mais inaudíveis sons, que até mesmo o mais atento dos seres humanos não seria capaz de ouvir.
Mesmo em um estado de quase transe, o corpo da morena se mexia sozinho. Ele não conseguia se aquietar com o aviso gritante de perigo eminente.
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A movimentação causada por sua “ansiedade” acaba por acordar Gabrielle, que dormia profundamente sobre o corpo da guerreira:
– Huumm… Xena! Por que você se move tanto enquanto dorme? Poderia tirar um defunto de sua cova desse jeito – resmunga a barda, se levantando.
Xena rapidamente acorda do transe e arregala os olhos.
– Psst! Gabrielle volte aqui, agora! Não se mexa – disse quase em um sussurro, imóvel, enquanto a loirinha coçava os olhos, sentada na beirada da cama.
A barda se levanta, ignorando o aviso. Boceja e começa a caminhar pelo quarto.
Ela olha para trás com um disfarçado sorrisinho malicioso, sem interromper seus passos. Gabrielle já se encontrava noutro lado do quarto
– Calma Xena. Eu sei que você depende de mim, mas não precisa de exagero – disse, sem um pingo de humildade e um grosseiro sarcasmo.
– Eu só vou lavar meu rosto, já que você me acordou – suspirou resignada, indicando para uma pequena bacia de água que ficava sobre uma mesa.
A velha mesa de ferro podre e enferrujado, que ficava ao lado da porta, mal se agüentava de pé. Na verdade, estava mais sendo sustentada pelas bolsas de Xena e Gabrielle do que qualquer outra coisa.
Xena engole seco, começando a pressentir o perigo perto demais. Pequenos ruídos vinham de todos os lados: da janela que ficava acima da cama, da outra janela na parede ao lado, e também no corredor, atrás da porta onde Gabrielle estava.
A guerreira se agita ao ver Gabrielle indo em direção à porta. Se o “vulto da soleira” percebesse, ela não teria tempo de levantar e impedi-lo.
Olhou novamente em torno de si: suas armas estavam do outro lado do quarto, perto de Gabrielle. Na mesa ao lado da cama, onde antes jazia o vaso que ela havia jogado em Joxer, já não tinha mais nada.
Dirigiu seu olhar para os pés da mesa de ferro, presa ao chão, ao lado da cama.
Balançou a cabeça em sinal negativo, sutilmente; de nada adiantaria, não teria força suficiente para levantar a mesa e jogá-la contra os bandidos, mais rápido do que a agilidade do homem matando Gabrielle. O único objeto que poderia usar ali era o travesseiro de penas de ganso que estava embaixo de sua cabeça; o que, entretanto, não surtiria muito efeito.
A única opção que restava era esperar e pedir aos deuses que a ajudassem:
“Eu como Xena, não sou de rezar e nem sei se algum deus pode me ouvir. Mas se puder… Que ele ou eles protejam minha pequena barda… Por favor, não a deixem morrer”.
Focou completamente sua atenção na cena que viria (ou não) a se desenrolar.
O vulto se agita ao perceber a presença da barda perto de si. Entretanto, não fez movimentos bruscos. Provavelmente a calma dos passos da loira e a suavidade de seus movimentos o devem ter tranqüilizado.
Ela sabia que estavam cercadas, e que se fizesse qualquer movimento brusco, o homem atrás da porta a abriria e rapidamente mataria Gabrielle.
– Pronto, guerreira maluca-sob-controle – disse a barda, encarando a morena ao mesmo em que enxugava seu rosto com um pano velho. – Eu não morri, ainda estou aqui.
Xena levantou o olhar para a barda a sua frente, tentando esconder o desespero em seus olhos.
Se a loira percebesse, choveria um interrogatório sobre a guerreira pela preocupação da barda para com ela. E com isso, a loira se alteraria, instigando os bandidos a atacarem.
Do mesmo modo, também não poderia simplesmente contar para a loira, pois o canalha do outro lado da porta escutaria.
Teve o ímpeto de fechar os olhos e fugir daquela realidade. Por muitas vezes se cansara daquele trabalho, se cansara de viver…
Na verdade, não fora a vergonha de seu passado, que Hércules a fez enxergar, que levou a guerreira ao norte para se libertar do pesar – ou em outras palavras, cometer o suicídio de se desarmar: um guerreiro sem armas é presa fácil, e assim ela não duraria muito tempo –, morrendo espancada, torturada, da maneira mais dolorosa possível.
Naquele mesmo instante, um estalar pareceu cair sobre a morena. Se ela fizesse isso, permitiria Gabrielle morrer da mesma forma que ela desejou há tempos atrás. Indiretamente, estaria induzindo a barda a uma das piores mortes que existiam; uma das mais lentas e dolorosas.
Respirou fundo, pensando em cada detalhe de seu pequeno plano de última hora.
Internamente, riu de si mesma. Reclamava tanto que Gabrielle demorava a pensar, sempre pesando os prós e os contras… Mas agora era ela quem o fazia.
Barda especial. Tão nova, tão inexperiente, tão ingênua… E tão sábia. Tão inteligente que nem ela mesma se dava conta disso.
Seu sorriso morreu quando mais um ruído de galho quebrado soou do lado de fora da janela, trazendo-a de volta para a infeliz realidade fora de seus devaneios.
Agora era hora, estava muito próximo. Era “matar ou levar”, como diria em outros tempos.
Não havia outro modo: teria de deixar os bandidos entrarem e depois pensar em algo. Desejou que sua imaginação de javali africano ajudasse ao menos naquela vez.
Fechou os olhos, tentando se concentrar para usar seus velhos métodos de escutar “os sons por baixo dos sons”.
– Gabrielle, se prepare… Você vai ser atacada. – respirou profundamente; para seus sentidos, o mundo entrava num estado de câmera lenta.
No mesmo instante em que a loira se vira para a morena, não entendendo o sentido daquelas palavras, a porta bruscamente se abre e bate com força contra a parede.
Gabrielle mal tem tempo de se virar, pois numa questão de centésimos de segundos, um alto, moreno e horrível guerreiro a agarra por trás, segurando-a com o braço esquerdo e espremendo uma adaga contra sua garganta.
Xena se encolhe contra a parede, na sombra da luz do luar, se camuflando e aguardando; ela sabia que ele não estava sozinho.
– Oi beleza… O que você tem pra me oferecer, huh?
– XENA! – gritou Gabrielle, se debatendo na tentativa desesperada de se soltar – em vão.
O homem ri sarcasticamente, dando um agudo assobio:
– Vamos rapazes! Ela já está dominada… Peguem tudo que puderem.
Um bandido sujo e um pouco desdentado surge na janela acima de Xena, em torno de outros dois, fitando seu mandante com uma expressão interrogativa.
– Mas chefe… Eu escutei essa garota aí falando com mais alguém. E o senhor mesmo não disse que essa vadiazinha aí viaja com a tal da China?
– É XENA, IMBECIL! Oh Deuses! Só um idiota faz uma pergunta como essa… Lógico que essa mera criança loira não faz o tipo grande Destruidora de Nações! Eu ouvi que ela gosta de escravas experientes e mais maduras…
Xena gela com esse comentário.
“Filho de uma bacante, escória maldita, bastardo!!! Você vai me pagar!”
Gabrielle fica atônita ao ouvir isso. “Eu ouvi que ela gosta de escravas experientes e mais maduras, eu ouvi que ela gosta de escravas experientes e mais maduras…” não parava de ecoar em sua cabeça. Então… Xena mantinha relações sexuais com suas escravas, em seus tempos de Destruidora?! Deuses! Não era possível! Será que ela ainda mantinha esse gosto peculiar? Mesmo Gabrielle não sendo uma escrava, ainda ser uma menina e não ter experiência… Só essa declaração fez seu coração disparar em saltos, não importando o perigo que se encontrava…
– Que ladrão sujo em sua sã consciência não conhece a poderosa Princesa Guerreira? – ele olha para cima. – Meu Zeus, o que eu fiz pra merecer “isso” como comparsas?!
Os bandidos sussurram entre si:
– Ele xingou a gente, não xingou?
– Não sei, mas eu acho que sim.
– É, ele nos xingou!
– O QUE É QUE VOCÊS ESTÃO COCHICHANDO AÍ?! – os três homens gelam
– Na-nada n-não che-efe…
– Então entrem logo nesse quarto antes que eu vá aí e coloque vocês pra dentro eu mesmo!
Os homens se entreolham, e, conformados, escalam a janela.
Quando o trio vai passar por cima de Xena, pulando a janela acima de si, a guerreira segura o pé do último, fazendo-o ir de encontro ao chão e caindo sobre os outros dois.
Xena prontamente fica de pé, e instintivamente dá um passo na direção de suas armas. Ao colocar os olhos sobre o local onde estas se encontravam, ela e se vê impedida: o homem que segurava Gabrielle estava na frente delas. Se tentasse uma aproximação ele a mataria.
Os homens que estavam no chão levantam e se juntam com o resto do bando, avançando na desarmada Xena.
Esses eram bem organizados, uma surpresa para Xena; um de cada vez dava sua tentativa de levar a Princesa Guerreira ao chão, e quando ele caía, o próximo investia, dando tempo para o outro se levantar.
Xena tenta desesperadamente se livrar dos bandidos que haviam formado uma roda em torno dela, com socos e chutes e alguns saltos, quando via abria uma abertura pra isso.
– Vamos, bando de lesmas! É só uma mulher – disse o guerreiro que mantinha a adaga pressionada contra o pescoço de Gabrielle, que aparentava ser o chefe.
Mais um pequeno grupo de bandidos entra pela porta, rapidamente localizando a confusão e indo de encontro ao inimigo.
Desorientados pelo fato de não serem páreos para aquela poderosa guerreira, os bandidos se investem todos de uma vez contra a mulher, jogando-a ao chão e pulando por cima dela.
Gabrielle se debate mais ainda nos braços do bandido-chefe, forçando sua garganta contra a adaga e fazendo dali escorrer um filete de sangue. A dor em ver Xena naquele estado era pior do que a dor da arma contra seu pescoço.
– Xena!!! Levante e lute! Onde está a poderosa Princesa Guerreira que queima o fogo da batalha dentro de si?
– Fique quieta, sua vadiazinha! Você não valerá nada para nós estando morta.
Por um momento, a barda passa seus olhos pela sua estrela. Em um espaço de tempo menor do que um piscar de olhos, o pequeno astro pulsa exatamente no instante em que Gabrielle passa seus olhos por ele.
Existe um mundo dentro de um segundo, e somente aquilo fora suficiente.
O olhar da barda se perde por algum momento, penetrando em algo que não pertencia àquele momento – uma visão, um lampejo do futuro… Ou de outras vidas:
Uma jovem garota loira de pele abatida, lábios brancos, círculos negros embaixo dos olhos e uma franja molhada pelo suor de uma forte febre é visualizada. O misto de tensão, raiva, ansiedade e tristeza é facilmente percebido em suas feições adormecidas e traços apagados. Ao que tudo indicava a visita de Celesta não demoraria muito para aquela loira.
Surgindo do nada, a mão de um braço feminino, com o pulso envolto por um bracelete que se estendia por todo o antebraço, acaricia o rosto da loira, o que a fez despertar de seu sono aparentemente profundo:
– Xena? – a guerreira pousa o dedo indicador sobre os lábios da jovem mulher.
– Shh… Não fale Gabrielle. Poupe suas forças. Você está fazendo isso por que… Sabe o que vou dizer, não é? – escondidas lágrimas surgem nos olhos da guerreira morena, ao mesmo em que a raiva assume a liderança de seu semblante, tomada pela tristeza e o luto. – Nós já discutimos isso, e tua vida não é algo que eu esteja disposta a sacrificar agora. Não é negociável, e não tentes insistir, não irei mudar de idéia! – ela agarra a mão da mais nova.
– Você sabe que esse é o certo! – tentou argumentar.
Os fracos dedos pálidos tentam apertar – quase que inutilmente – a mão forte.
– Gabrielle é lindo você arriscar sua vida pelos outros, pelo “Bem Maior” e todas essas coisas altruístas. Mas entenda que nesse momento eu não vou deixar você se sacrificar por isso! Pelos deuses, eu te amo! Eu não posso viver essa vida sem você ao meu lado – as lágrimas, agora bastante visíveis, eram ao máximo barradas pela mulher.
Seu orgulho, ainda que diante de alguém que a conhecia do fundo do último fragmento de sua alma, continuava tendo a voz mais alta, embora ela não levantasse sequer um ruído de sua garganta para combatê-lo.
Gabrielle olha para Xena bem no fundo de seus olhos.
– Você me ensinou que há coisas na vida pela qual vale à pena morrer – um suave sorriso triste brota em seus lábios, molhado pelas lágrimas.
A guerreira não pode mais suportar: entrega-se as lágrimas que o amor criara e que antes eram inexistentes, em um passado não muito distante dali.
Antes, as lágrimas de dor e amor eram substituídas por faíscas do ódio. E agora chamuscava a ciência do quanto isso lhe fez a diferença em tempos remotos.
Xena segura o rosto de Gabrielle com as duas mãos e a beija, intensa, calorosa e sofregamente, implorando aos deuses, aos céus, e a tudo que poderia ter poder superior a sua vida, que aquele momento nunca mais terminasse.
Ainda de olhos fechados e lábios encostados nos de sua alma-gêmea, ela diz, entre sussurros embargados:
– Se esse é pra ser nosso destino… Vamos encará-lo juntas… Mesmo na morte… Gabrielle, eu… Eu nunca irei deixar você – ela afasta seu rosto, em disposto momento com as feições tomadas por pequenos traços de lágrimas.
A jovem barda sorri, também entregando seu coração às lágrimas. Agora poderia se firmar na certeza de que nem mesmo a morte poderia separar suas almas, que depois de passados séculos, se uniam novamente, entrelaçadas por toda uma eternidade.
Gabrielle volta a si, recobrando os sentidos e a consciência de onde estava.
Aquilo tinha sido diferente… Não era como um de seus delírios literários, por exemplo. Havia sido… Real.
Estava confusa, não entendia o porquê daquilo. Teria sido uma visão? Mas fo…
Naquele instante, corpos que estavam amontoados uns em cima dos outros voam pelo cômodo, tirando a concentração de Gabrielle daquele misterioso assunto.
Do meio de onde antes estavam amontoados os corpos surge Xena. Estava com um pouco de sangue descendo pelo nariz, contusões e arranhões, mas estava viva e bem.
– Xena… – suspira Gabrielle aliviada.
A ofegante guerreira percorre seus olhos pelo quarto, procurando por sua parceira. Mal teve tempo de avistá-la quando um dos bandidos havia levantado e já estava plenamente atacando a guerreira.
Ele vem pelas costas dela, cambaleante, e com o braço direito estendido ao lado de si, com o punho fechado para – tentar – acertar Xena.
A morena percebe o atacante e se abaixa, fazendo-o passar ao lado dela. Quando o atacante se encontra à sua frente, ela o atinge com uma escorada de sua perna esquerda, mandando-o de encontro à parede e de Morpheus.
Gabrielle parece estar se acalmando quando vê o resto do grupo se levantando, o desespero tomar conta de si novamente, retornando a se debater.
– Fique quieta cadela! Não quero ter que marcar esse seu delicioso pescoço com uma marca roxa pra acalmá-la.
– Me solte, sua escória!
– Como é que é?! Ok, você quem pediu por isso – fedorento bandido tira a adaga do pescoço da barda, mas prendendo-o com seu braço livre.
A loira põe suas duas mãos no braço dele, tentando afrouxar a pressão. Ele puxa a arma para trás, pronto para acertar a nuca de Gabrielle com seu cabo.
Era essa oportunidade que Gabrielle esperava; ela passa sua perna por dentro das do bandido e acerta seus “países baixos” com o calcanhar, fazendo-o ir de encontro ao chão.
– XENA! – grita a barda, chamando a atenção da guerreira para dar-lhe ciência da situação.
Ela instintivamente agarra seu cajado, assim que percebe que Xena a viu.
A guerreira fica aliviada por sua barda estar bem. Entretanto, ela vê o bandido se remexendo no chão e sacando uma besta de alguma parte escondida em suas costas, já com uma flecha parada.
Um fogo sobe sob sua carne, sobre cada parte de suas entranhas. Seus pêlos arrepiam, tentando demonstrar o perigo que já se apresentava diante de seus olhos.
Seu coração gritou, e antes de qualquer outra coisa acontecer, ela investe na direção da loira, na frustrada tentativa de salva-la.
– GABRIELLE!!! – um grito gutural e assustador sai do fundo de si; a sensação era de que sua alma estava gritando, tentando salvar uma parte de si que estava desprotegida.
A barda, tanto surpreendida quanto assustada, se vira na direção de Xena, apenas para ver a guerreira correndo em sua direção, depois sentir uma forte dor aguda e cair, desmaiada.
A flecha havia acertado a lateral esquerda de seu corpo, um pouco mais embaixo das costelas. Já se formava uma poça rubra em torno da barda tombada.
O bandido-chefe começa a rir, e antes que ele possa visualizar a mulher vindo em sua direção, já jazia morto no chão com a adaga de peito de Xena atravessando-lhe a garganta.
A morena pressente o grupo de bandidos avançando contra ela atrás de si. Então ela alcança seu chakram e o atira, fazendo-o voar pelo quarto e cortando a garganta dos bandidos.
Mal o chakram havia voltado para sua mão, coberto de sangue, e uma Xena ensangüentada já estava ajoelhada com uma inconsciente Gabrielle jazendo em seu colo.
Ela acaricia o cabelo da barda, com mãos trêmulas.
– Gabrielle, meu amor… Vamos lá, acorde – ela começa a inutilmente sacudir os ombros da loira. – Eu sei que você não está morta… Anda. Você conseguiu, me assustou… Agora acorde.
Silêncio.
– Gabrielle… Acorde, Gabrielle… GABRIELLE!!!