Fanfics sobre Xena a Princesa Guerreira

    Ela não está com a expressão feroz que tinha quando a matei. Minha memória quase fotográfica permite que eu molde o rosto dela ao meu bel-prazer, e consigo fazê-la com a expressão terna e meiga que eu sabia que ela tinha antes de eu tirar sua vida. Ouço Varia fungar levemente atrás de mim, paro o desenho por um tempo e acaricio seu rosto, limpando a lágrima que caía. Acabo deixando um risco preto em sua bochecha.

    – Ei! – ela protesta, esfregando o rosto.

    – Desculpa – digo, rindo, e volto a desenhar.

    Enquanto finalizo o desenho, as mãos delas sobem e descem por minhas costas nuas. Seria incrivelmente distrativo, se eu já não estivesse tão saciada das muitas horas que tínhamos passado fazendo amor em sua cabana. Capricho no que estou fazendo, atenta aos mínimos detalhes, mas eu refaria mil vezes aquilo se fosse necessário, até que Varia ficasse satisfeita.

    Finalmente acho que terminei. Ela apoia o queixo em meu ombro, sinto os peitos dela em minhas costas quando me recosto nela e acho que minha saciedade talvez esteja começando a atingir seu prazo limite. Ela pega o desenho e olha fixamente. A expressão no rosto dela é indescritível. Ela coloca o desenho de lado e enterra o rosto em minha nuca, abraçando minha cintura. Me aperta forte contra ela.

    – Obrigada, Eva – ela diz – obrigada.

    Eu não respondo, porque não tem nenhum sentido ela me agradecer por isso. Afago as mãos dela. Saio de entre suas pernas e me sento de frente a ela.

    – Tenho que me preparar para ir. Mãe já está pronta – digo.

    Ela acena com a cabeça e baixa os olhos, triste.

    – Sabe, Eva… eu sempre acreditei, e sempre vou acreditar no poder da espada. Mas você matou minha irmã – ela diz, olhando nos meus olhos. Aquilo me corta, mas eu e ela sabemos quem somos e Varia não é de meias palavras ou eufemismos – e estou aqui, ao seu lado, e tudo que sinto é paz. Bem, tesão também – solto uma risada, ela sorri e prossegue – o que quero dizer é… tem algo de certo no que você diz, ou isso não seria possível.

    – Todos os caminhos levam à um só lugar – respondo.

    Ela segura meu rosto e me puxa para um beijo. Meu corpo começa a acender novamente quando batidas soam na porta.

    – Eva? – é a voz de minha mãe – por favor, já está ficando tarde.

    Jogo a cabeça pra trás e faço um barulho frustrado. Levanto-me e me visto, Varia faz o mesmo. Ela me abraça e eu retribuo, forte.

    – Você vai voltar? – ela me pergunta.

    – Claro. Sou como sua frieira, lembra?

    Ela balança a cabeça, envergonhada.

    – Eu realmente sinto muito por essa comparação infeliz. E eu não tenho frieira.

    – Foi a coisa mais romântica que já ouvi.

    – Isso é triste.

    Eu abro a porta. Minha mãe está lá, me olhando de forma ao mesmo tempo divertida e repreensiva.

    – Bem, já era hora – ela diz.

    Eu fico vermelha, minha mãe se despede de Varia com um abraço, mas minha amazona de olhos de mel não consegue encará-la, rígida de vergonha. Minha mãe sobe no cavalo, eu monto atrás dela e abraço sua cintura. Ela faz o animal começar um trote lento. Quando saímos da aldeia, ela fala:

    – Olha, posso te ensinar um truque para não gritar tão alto assim.

    – Mãe!

    – Juro, é só uma questão de respiração.

    – Mãe, por favor…

    – Se bem que não dava para saber de quem era a voz. Acho que a aldeia passou por um trauma coletivo essa noite.

    – Meu deus! – eu escondo o rosto nas costas dela.

    – Vi uns olhares de respeito em sua direção, quem ainda não tinha te perdoado, definitivamente agora perdoou.

    – Não estava tão alto assim, você está me provocando.

    – Varia vai ter que lutar para recuperar algo da dignidade. Estou louca ou ela estava mancando um pouco?

    – Não vou responder uma coisa dessas!

    – Sei. Quem come quieta come duas vezes, hein? Mas acho que essa parte da quietude não vai ser mais possível, filha…

    – Porque está fazendo isso?

    – Tenho anos de maternidade acumulada para soltar em cima de você. Comece me contando como foi sua primeira vez, até chegar em Varia.

    – Se eu fizer isso, você me abandona no próximo cruzamento.

    – Provavelmente está certa. Apenas sobre Varia, então.

    Suspirei. Falei como tinha sido quando eu e Varia tínhamos nos conhecido, como tínhamos nos dado bem até ela saber quem eu era. Como tínhamos conversado sobre sua irmã. Finalmente falei para ela sobre as memórias de Lívia. Contei todos os detalhes, menos os sexuais.

    – É tão fofo você apaixonadinha – ela diz.

    Aquele comentário me perturba.

    – Acha que é isso que estou sentindo?

    – E o que seria?

    – Não sei, uma atração física?

    – Isso todos pudemos ouvir – eu dou um tapa brincalhão no ombro dela – estou perguntando sobre o que vai além disso.

    – Não sei se tem algo além disso.

    – Se eu fosse você, tomaria um pouco de cuidado com Varia.

    – Como assim?

    – Ela me parece, sei lá, meio cachorra.

    Isso me faz gargalhar.

    – Mãe, você acha que eu sou o que? Não sei se você lembra, costumavam me chamar de Vadia de Roma. Esse nome não se referia só ao fato de eu ser uma carniceira.

    – Ai ai… certo. Talvez eu deva alertar Varia para tomar cuidado com você, então.

    – Eu e ela somos adultas, mamãe, não precisa se preocupar.

    – É impossível não me preocupar. É o coração da minha filha que está em jogo. Vocês vão continuar se vendo?

    – Não deixamos nada definido. Eu tenho uma vida errante e muito incerta – dessa vez minha voz fica triste. Tinha doído me despedir. Queria dar meia volta e ficar com Varia. Mas meu querer nada era, comparado ao que eu tinha que fazer. Eu já sabia para onde devia ir, o conhecimento me tinha sido revelado, havia algo que eu devia fazer em Esparta. Eu nunca pedia nada para o poder superior, mas, dessa vez, eu pedi para que, caso estivesse em seus planos, ele me permitisse ver Varia novamente, algum dia.

    Só posso supor que o que aconteceu tantos anos depois foi fruto desse pedido que eu fiz. Eu andei o mundo inteiro, aprendi tantas coisas, me purifiquei ao ponto de ser capaz de curar, como Eli. Estava de volta à Grécia, batizando pessoas em Corinto, quando meu grupo foi atacado por mercenários.

    A perseguição contra nós Elisianos nunca tinha cessado. Sempre que crescíamos um pouco, algo vinha e exterminava a maioria de nós. Mas eu via que a cada vez íamos um pouco além, eu podia ver que o caminho do amor iria, passo a passo, redimir o mundo.

    Fugíamos a toda velocidade quando um grupo de guerreiros se colocou do nosso lado, nos defendendo. Eu guiava meu grupo pelo caminho de fuga quando vi um dos mercenários prestes a disparar uma flecha contra um daqueles guerreiros. Sem hesitação, me coloquei entre eles, recebendo a seta em meu peito.

    O arqueiro foi abatido por um de nossos defensores, e a pessoa que eu tinha salvado me segurou nos braços. Vi os olhos castanhos, a única parte descoberta do seu rosto, e era ela. Tirou as peles que a cobriam, seus cabelos caíram sobre os ombros, e me abraçou. Ela chorava, e eu não era capaz de chorar, porque estava perdida na maior alegria que eu já tinha sentido, maior que a iluminação de Eli, maior que o colo das minhas mães.

    A última coisa que senti no mundo terreno foi o calor dos lábios dela nos meus, a última coisa que ouvi foi a voz dela dizendo que me amava.

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