Fanfics sobre Xena a Princesa Guerreira

 

 

Olhando para suas irmãs a barda vinda de Atenas sinaliza para iniciar a segunda apresentação da manhã.

“- Canto a ventura entre dois amantes.
No tempo em que a Grécia estava sendo dominada por senhores da guerra que invadiam os povoados, escravizavam, matavam e roubavam o fruto do trabalho de um verão inteiro, nem bem o ciclo das estações estava terminado, Mirenon foi invadida por mais um exército de homens, que nada sabiam a não ser extorquir e matar, um exército ergueu-se para defender o povo. A fragilidade da região estava na ausência de união entre as famílias poderosas, que tinham como defender-se e no fato do povo simples não apresentar nem força, nem uma liderança para fazê-lo. Foi neste tempo que um jovem criador de cavalos, que havia sido marinheiro nos mares ao sul de Esparta retornou para sua vila em atenção aos seus pais, já de idade avançada. Com sua experiência resolveu fazer algo para auxiliar aqueles que o viram crescer, tornar-se um homem e auxiliar os que viriam após ele. Com as lides dos cabos e velas também aprendera os caminhos das armas. Rapidamente organizou sua cidade para resistir aos bandidos que grassavam por toda a Grécia, mas nos últimos tempos atuavam fortemente em sua região e ouvira falar que no norte da Macedônia um exército estava sendo reunido com o mesmo propósito. Ainda que tenha deixado uma milícia relativamente pronta, sentiu que seu povo teria mais chances se tal exército viesse a protegê-los. O jovem arrumou quem apoiasse seus pais em sua ausência, partindo assim que conseguiu. Após cinco dias de cavalgada, interrompida apenas para dar descanso e alimento ao animal, ele encontrou o exército que procurava, sendo barrado pelos sentinelas. Causou-lhe espécie que as sentinelas o conduzissem a uma mulher, mas nada comentou e ele ouviu a voz daquela que lhe foi apresentada como uma oficial.
– Amanhã os novos recrutas serão testados e você pode sentar em qualquer lugar, deixando seu cavalo nas mãos dos tratadores. A comida será servida em duas marcas de vela e deves manter seus cobertores e armas com você.
No dia seguinte antes do nascer do carro de Apolo, todos os novos recrutas foram reunidos sendo colocados em um círculo, onde os oficiais ficaram na parte mais elevada do terreno, sendo que a mesma mulher que lhe falara na noite anterior estava estabelecendo as regras que vigorariam e regeriam suas vidas caso fossem aceitos.
– Neste exército não há espaço para covardes, egoístas ou insubordinados. A voz de quem nos comanda é lei e deverá ser obedecida. Traidores ou insubordinados são severamente punidos e não é permitido o roubo, a mentira, a pilhagem ou o estupro. Somos guerreiros e não a escória que buscamos combater. Aquele entre vocês que não concordar com este compromisso poderá partir livremente que nada lhe será cobrado, nada lhe será tirado, mas o que aceitar saiba que nossa missão está em livrar a Grécia destes parasitas, levar paz, segurança e prosperidade ao povo. Quem quiser desistir deve fazê-lo agora!
Seis homens se adiantaram.
– Tragam seus cavalos, coloquem provisões e que eles sigam em paz.
– Ao seu comando!
– Vocês agora serão testados, devendo lutar entre si até que reste apenas um em pé. Este irá enfrentar a mim.
Os homens combateram por quase quatro marcas de vela, ficando em pé apenas o jovem marinheiro, que enfrentou a oficial por meia marca até ser derrotado.
– Você receberá o comando de um grupo e está marcado como sargento. Jantará com a Espada de Ares, que em nome dele faz a guerra para libertarmos a Grécia. Todos devem tomar banho e fazer a barba. Sejam bem vindos.
No jantar o jovem caiu nas graças da Espada de Ares, sendo comunicado que sua unidade estaria disponível pela manhã. Lhe seria permitido relacionar-se com a oficial se fosse de sua vontade, não sendo a isso obrigado. Ele tinha captado o interesse da guerreira que o recebera e estava encantado por ela.
Juntos passaram as noites e fizeram uma dupla imbatível a servir a Espada de Ares. Quando a linda mulher morreu em batalha vitimada por quatro flechas traiçoeiras durante um confronto com um exército inimigo, ele ficou arrasado. Após o funeral ele tornou-se incomunicável por três dias, quando um ordenança entrou em sua tenda informando que estava sendo chamado na tenda de comando e a Espada de Ares não admitia atrasos. Lentamente reagiu e buscou atender aquela a quem servia:
– Ao seu comando!
– Não é admissível que continues assim. Sabemos que ela foi a melhor e quem mais entendeu nossa missão. Tens minha permissão para deixar o exército se for de teu desejo. Fala com Terquien e ele providenciará trinta talentos de ouro e um cavalo.
– Com sua permissão pretendo servir ao exército até meus dias sobre a terra terminarem comandante e realmente ela era a melhor, mas meu tributo a ela será uma Grécia livre destes animais que massacram diariamente.
– Xena! Podes me chamar por meu nome indicado Volaire assumirás o posto dela. Realmente ela era a melhor e dificilmente haverá no exército quem a substitua. Diga seu nome, pois os mortos podem ouvir os vivos e ela estará sempre ao teu lado assim que o fizeres.
O jovem guerreiro olhou sua comandante e entendeu o que estava sendo dito. Uma lágrima desceu por sua face e ele chamou num sussurro quase surdo, aquela que amara mais que a qualquer outra.
Callisto! ”

Aguardando um sinal da Sacerdotisa a irmã caçula de Ylevana inicia o terceiro conto.

Cyane
– “Eu canto a história de um tempo em que a Senhora da Lua estava feliz com a formação de seu povo e no norte havia uma tribo de guerreiras que sabiam seu valor. Canto a história de Cyane das Estepes e o caminho da Caçadora.”

Com este chamado ela obteve a audiência atenta de toda sua platéia e ao mesmo tempo de suas irmãs. Era um conto que lhe falava caro ao coração e guardara para um momento como este. Um conto que jamais contara em público e sequer suas irmãs tinham assistido.

“ Nos princípios vivia entre as mulheres uma jovem com o coração puro e alma forte que em tudo orgulhava os seus. Treinava arduamente para conhecer o caminho da guerreira, mas com igual ênfase se dedicava à cura, às plantas e ao caminho da vida. De todos os aspectos da vida em comum o que mais atraia a jovem era o nascer de uma nova existência. Tanto entre os animais de criação, silvestres ou nascer de outro ser humano a menina tinha uma inspiração divina e não havia parto difícil ou luta perdida. Muitas de suas irmãs deviam a ela e seus conhecimentos a vida e muitas deviam a vida de suas filhas, no que pese sua pouca idade. O grupo estava em uma partida de caça nos limites da terra amazona. Os sinais indicavam estarem próximos do seu objetivo quando encontraram um acampamento deserto, atacado por um grande urso. Os cavalos saíram carregando pessoas e não havia nenhuma a vista no campo. As amazonas cercaram a área e as caçadoras empunharam com mais firmeza suas lanças e arcos, mantendo o cerco de tal modo que o  animal não sairia daquele espaço. Havia movimento numa das barracas indicando que o urso ainda estava ali. Os olhos de Cyane não se enganaram quando ela divisou movimentos no catre da quarta barraca e ela não esperou mais. Invadiu o espaço agitando os braços e fazendo a maior algazarra. Gritava, assoviava e saltitava buscando chamar a atenção da fera que começou a se incomodar com ela. O urso disparou em sua direção e Cyane se preparou para desviar no último momento. Seis flechas cravaram-se no pescoço do urso, quase ao mesmo tempo que 3 lanças fixaram-se na costela. O animal enfureceu-se erguendo-se em toda sua altura e Cyane virou-se imediatamente para as arvores estendendo o braço. Uma lança cruzou o espaço caindo na vertical próxima de sua mão. Era o tempo exato. Firmando o pé da lança no solo e mirando sua ponta no plexo do Urso que insistia em lançar seus braços para alcançá-la com suas garras ela esperou. O próprio peso o traía e ele tombou varado pela lança da amazona que girando rapidamente saía de baixo deixando a terra receber esta força da natureza. Cyane não esperou para ver o resultado. Correu para a barraca onde jazia uma mulher em estado avançado de gravidez. Sua testa estava muito quente e seus tornozelos inchados. A coleira em seu pescoço presa por uma corrente à estaca no chão declarava seu status: escravidão. Examinando-a Cyane percebeu que não iria demorar muito para o nascimento e rapidamente buscou em sua bolsa as folhas que macerou com um pouco de água fria. Suas irmãs começaram a cavar ao redor da estaca para soltar a corrente do chão enquanto ela fazia o que mais gostava: tirar a dor. Ergueu a cabeça da mulher e instou-a a beber engolindo também as ervas que eram maceradas. Imediatamente a mulher engoliu e voltou a ficar com a consciência enevoada. Suas irmãs arrancaram a estaca deixando-a livre e sua comandante rapidamente foi dando ordens sobre quebrar o acampamento e organizar a caça.
– Não podemos removê-la agora. Teremos de pernoitar aqui comandante.
– Isso não é aconselhável Cyane e sabes disso. Não apenas por que os que abandonaram essa aí poderão voltar, mas é fora de nossos limites.
– A caçada teve sucesso. Despachemos alguém para buscar auxilio e levar o resultado como o novo tapete pra cabana da rainha. Devemos ficar aqui até ela voltar a si. A criança está em risco e não podemos permitir uma piora.
– Ela está quase morta Cyane e não vejo sentido em arriscar nossas vidas por um cadáver.
– Ela tem chances e a criança dentro dela também.
– Os que prenderam esta mulher podem voltar e embora os sinais indiquem serem poucos ainda são em maior número que nós.
– Em nome da Caçadora peço permissão para ficar. Artemis não levará de espírito leve uma afronta aos princípios que nos guiam apenas por uma questão de comodidade e segurança comandante.
– Não ficaremos Cyane. Atenda-a como quiseres, mas as amazonas voltarão para sua trilha antes do esconder do carro de Apolo e isso está encerrado.
– As filhas de Artemis nunca foram conhecidas por covardia. Eu não retornarei sem que ela esteja segura e seu destino conhecido e se eu tiver que pagar com minha vida toma-a agora comandante, mas eu não agirei de maneira covarde. Não vou abandoná-la!
Poderia ser pelo findar do dia e os reflexos vermelhos da luz solar ofuscar a comandante da partida de caça, ou o tom firme com que aquela jovem menina proferia palavras de força tão antiga. A voz de Cyane soou como um rosnado e o vento surgiu com força tão rápido quanto cessou. A comandante tomou sua decisão de maneira inequívoca, deixando para a rainha decifrar os caminhos da Caçadora que ela apenas intuía.
– Acalma-te pequena e não seja tão pronta a julgar tuas irmãs quando estão pesando entre várias leis e a situação em mãos. Tomem a guarda de perímetro em três estádios, montem fogueiras e tu Dylina vai buscar ajuda para levarmos nossa carga para a aldeia amanhã. Fica com tua paciente Cyane e que a rainha ouça e meça tuas palavras.
Assim era o agir daquela que se tornou a mais grandiosa rainha amazona depois de Mirinia que suplantara a grande Pentesileia que participou da Guerra de Troia.
Cyane das Estepes se tornou uma lenda e seu exemplo ainda hoje é seguido em fazer valer os ditames da Caçadora, deusa protetora das crianças, do parto, das mulheres e das amazonas.
Os ditames de Artemis, deusa da lua.”

– Tres contos já estão suficientes por agora, o quarto contarão no jantar. Depois serão informadas do resultado. Por favor, sigam esta noviça que lhes mostrará seu quarto.

Nota