No início da manhã Ephiny reunira todas ao nascer do sol e determinara novas diretrizes.

– Agora vamos fazer a primeira etapa do último teste e será um teste da força amazona. Sua trial realizará este teste juntamente com Xena, Karin. As chances serão as mesmas para todas. Vocês entenderam, estão de acordo?
– Sim comandante!
– Sobre a pedra vermelha estão cinco sacas com marcações de seus nomes, cada uma com quatro pés de altura e algumas cordas. Vocês deverão ir até a curva do rio e enche-las com pedras maiores que suas duas mãos unidas e menores que sua cabeça, até a altura de dois pés e meio, preenchendo o restante com areia. Amarrem a saca de forma a não caírem os elementos guardados e mergulhem-nas inteiramente no rio. Entenderam?
– Sim comandante.
– As regras são simples: deverão levá-las até a fogueira do campo antes do carro de Apolo iniciar seu declínio. Mulher e equipagens deverão chegar juntas ao destino, não sendo aceito apenas uma delas. Tenham sucesso e seguirão nos testes finais, porém fracassem e estarão para sempre longe da guarda e talvez da Elidia de defesa. O julgamento será individual e não da Trial por inteiro. Comecem!

Ephiny embrenha-se na mata e subindo na aponia mais alta tornando-se invisível para as outras amazonas, encontra uma Taíra observando.

– O que você pensa Taíra?
– Os termos são fortes e talvez Lara e Karin não consigam devido a sua pouca idade e tamanho, mas o coração delas está no lugar correto capitã. Darão um jeito, apenas não acredito que este animal conseguirá agir como uma mulher de honra. Ela não pensa como uma amazona comandante.
– Vamos ver. Aproxima-te da margem ao alcance da voz, mas longe dos olhos. Desejo saber como se deram as decisões entre elas.
– Certo Ephiny.

Observando o afastar da amazona que instruiu a Trial em toda sua formação, Ephiny não se volta ao perceber a presença de alguém mais na aponia, apenas cumprimenta reconhecendo sua presença.

– O que você pensa Daiki?
– Xena ajudará as meninas. Ela já está com o espírito no grupo e irá vencer esta etapa, embora o seu teste não esteja em sua saca de pedras.

Enquanto isso, no rio as cinco amazonas começaram a buscar rochas do tamanho indicado até que passada uma marca de vela, Deian chama suas irmãs com uma ideia.

– Perderemos muito tempo assim, as rochas que descarto serviriam para Lara ou a Conquistadora. Proponho cada uma de nós fazer cinco grupos de pedras, relativos aos tamanhos indicados para nós e as outras. Assim as que encontrarmos úteis para outra irmã já ficariam selecionadas e não voltariam para a margem ou leito do rio.
– Concordo contigo, mas o que pensam vocês?
– Acredito que todas nós concordamos Lara. Você também Xena?
– Sim Dieynisa, vai nos economizar tempo na procura das rochas. Muito boa ideia Deian, mas se permitem uma sugestão, seria melhor se todas estendessem os braços com as mãos unidas, para termos um padrão adequado de tamanho Karin.
– Certo Xena, mostremos as mãos e vamos ao trabalho.

O sol já começou a se fazer sentir inclemente e o trabalho não dava tréguas. Já estavam a quase três marcas e de vela selecionando pedras. Resolveram encher as sacas e cada amazona ia até o monte correspondente a si e guardava as pedras. Já era momento de conduzi-las até o rio e preencher os espaços com areia, quando as cordas seriam usadas para fechar e lançar para submergi-las completamente nas águas.

Com muita dificuldade Karin e Lara conseguiram levar suas sacas com pedras e areia até o rio, pois embora o tamanho de suas pedras fossem relativamente menores que os de suas irmãs a quantidade era maior, tornando assim o peso a ser carregado aproximadamente o mesmo, com alguma diferença para cima ou para baixo.

A distância que separava o rio naquele ponto da fogueira do campo era consideravelmente grande e para o alto da colina. Tendo enchido sua saca com areia Deynisa observou suas pequenas irmãs fazerem o mesmo e se apercebeu que seria praticamente impossível para ambas chegarem a bom termo neste desafio.

Karin percebeu o mesmo e assumindo de alma leve sua decisão, abandonou sua saca e foi ajudar Lara a puxar a dela para fora do rio. O esforço máximo das duas conseguiu mover a saca com a marca LR até a beira do rio, pois a água tem o poder de aliviar o peso, no entanto não conseguiram move-la mais que dois pés fora d’água.  Respirando com dificuldade pelo esforço, sorriram uma para a outra e Lara foi buscar a saca de Karin, onde a marca KR flutuava indicando o lugar.

– É inútil Lara, vamos nos concentrar em você. Eu ficarei bem.
– Não! Faremos isso ou fracassaremos juntas, mas pretendo ir o mais próximo que conseguir do objetivo e que você faça o mesmo.

Sorrindo resignada, Karin concorda e se levanta indo ajudar sua pequena e corajosa irmã. Deian e Dieynisa chegam ao mesmo tempo e auxiliam as duas pequenas a colocar suas sacas uma ao lado da outra.

– Vamos com vocês até onde forem. Chegamos unidas neste ponto e iremos unidas até o fim.
– Isso não é necessário Dieynisa. Vocês tem maiores chances se forem adiante sem nós.
– Não existe Trial sem vocês Lara. Somos um grupo e iremos como um grupo.
– Deian isso não é verdade. A capitã foi clara de que o julgamento será individual!
– Já resolvemos Karin.
– Eu posso falar?

Parada atrás delas estava a Conquistadora totalmente molhada com dois galhos de aponia relativamente grossos e de bom comprimento.

– Você é bem-vinda Xena. Diga.
– Posso fazer uma estrutura semelhante a que eu fiz para transportar o cervo e cada uma de nós puxará por uma corda. Concordo com vocês sobre chegarmos juntas ou não chegarmos ao fim.

As jovens entenderam e ficaram gratas e surpresas, pois a Senhora do Mundo se dispunha a ajudá-las e era óbvio que Xena não necessitava delas para lograr êxito. Amarraram as cordas de forma a poder ser puxada, deixando cinco cabos trançados de maneira a ter quatro vezes a força de uma corda normal e colocando as sacas molhadas sobre os troncos, amarrando-os como se fosse uma rede, se puseram a puxar marcando o passo para que o movimento fosse uniforme.

O almoço já estava preparado com o vinho esfriado segundo técnicas antigas, usando as águas correntes do rio. As cinco amazonas chegaram ao acampamento cansadas, mas com a sua carga intacta e dentro do prazo marcado. A Conquistadora não conseguiria ir muito mais longe, pois carregara a corda do meio, arcando com a maior parte do peso, mas estava feliz que suas pequenas irmãs não haviam sido excluídas, pois eram mulheres de valor e ainda teriam a possibilidade de entrar pra guarda real quando chegasse o momento.

Aproximando-se de Ephiny, todas reconheceram sua posição e apresentam o item solicitado.

– Comandante!
– Coloquem as sacas umas sobre as outras próximas ao carvalho e busquem descansar um pouco. O almoço será servido e apenas uma de vocês receberá permissão para buscá-lo, então decidam qual receberá alimento e reúnam-se sob a hitínia mais ao leste, aproveitando para organizar suas armas e cordas. Vocês estão cheirando mal. Após o almoço assumam seus postos de vigilância do campo imediatamente.

Xena foi a escolhida e com seu imenso senso de equilíbrio conseguiu carregar mais alimento do que duas delas conseguiriam e guardadas as proporções foi um verdadeiro banquete para as cinco amazonas famintas.

No meio da tarde as amazonas foram autorizadas a descansar e buscando uma sombra acolhedora adormeceram incontinenti. Ephiny surpreendeu-se com o semblante da Conquistadora e o quanto ela relaxou estando completamente tranquila e confiando em suas irmãs para garantir sua vida.

Algo estava mudando em Xena e talvez Gabrielle tivesse razão. Era uma grande aquisição da Nação a Conquistadora da Grécia. Tudo indicava ela estar de espírito franco se dispondo a respeitar e buscar cada norma, cada técnica e cada ordem. Com um sorriso a capitã da guarda real se afastou para não atrapalhar o sono das cinco amazonas que venceram com louvor a primeira parte da ultima etapa de testes.

No princípio da noite Xena e a Trial de Karin foram acordadas por Taíra que não perdeu tempo em dar as ordens competentes.

– Apresentem-se junto a fogueira e levem seus arcos e seus punhais.

As cinco amazonas correram ao encontro da capitã com o corpo ainda cansado, mas espírito renovado.

– Vocês passaram com louvor no primeiro bloco de testes. A força da Nação consiste na equipe e na Guarda isso é muito mais evidente. Esta noite será uma noite de alegria e vocês são aguardadas para comerem conosco o fruto da caçada de Kleith, Salina e seu grupo, logo após experimentarem sua coragem e sua destreza.
– Sim comandante!
– Coloca as sacas de areia sobre aqueles tocos e fica na frente delas sem mover um músculo. As tuas irmãs necessitam experimentar a mão Xena.

Xena percebeu onde aquilo iria dar, porém não se furtou e calmamente foi cumprir o determinado. Uma a uma as amazonas do grupo de caça lançaram seus punhais e setas sem tocar na Senhora do Mundo e depois deste exercício a Conquistadora foi convidada a participar com o grupo e experimentar da caça, onde contou com detalhes a história da caçada que fizera e que terminara na propriedade de Heidi de esparta sem que nenhum nome real fosse pronunciado.

Naquela noite, Xena e a trial de Karin ficaram com a sentinela do campo de último turno, saudando o surgir do carro de Apolo.

O dia seguinte foi usado em jogos de vigilância, onde se alternavam os papéis de vigias e atacantes entre todas as amazonas do grupo. Quase ao final da manhã Xena foi extraída do jogo e mandada para a clareira do outro lado do rio, onde uma Daiki a esperava pacientemente e a escolhida de Atena teve muitas decisões a tomar algumas marcas de vela depois.

Era no meio da tarde quando Daiki olhou para a Senhora do Mundo com um olhar parado, quase transparente e totalmente sem luz. Xena por algumas batidas ficou preocupada se não havia extrapolado em muito os limites da abertura que lhe fora dada e imaginava que castigo sua treinadora estava engendrando por sua impertinência. Mas tinha de fazer algo para trazer sua treinadora de volta para a vida, ela tinha que desejar viver.

No final daquela manhã estavam ambas em uma excursão de treinamento longe de todas, quando resolveram saltar na cachoeira. Daiki batera com a cabeça em um tronco que não devia estar ali, mas estava submerso e não tinha como divisá-lo do alto. Tudo que Xena conseguiu fazer foi buscá-la nas águas e levá-la para a beira, na relva sob as sombras das aponias gigantes.

Daiki começou a delirar em seu sono.

– Riki, deixe as armas e venha. Vamos logo! Temos de passar antes que a ponte caia!
– Não! Somos as responsáveis pelas armas sagradas e eu não vou deixar que se percam.
– Nós temos de ir agora!
– Leve o punhal sagrado e as taças que eu levo a espada. Vamos!
– Rikiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii  !!!

Em seu sono Daiki não conseguia distinguir o que era sonho de realidade e continuava a chorar lágrimas torrenciais, acompanhadas por convulsivas aspirações de ar. Xena ficou apenas observando quando repentinamente seu movimento cessou, parando também todo choro e já era perto do carro de Apolo iniciar seu declínio quando a Mestre de Xena sentou-se e ficou parada olhando para o nada. Xena aguardou pacientemente, mas passadas duas marcas de vela resolveu tentar algo para tira-la de seu estado.

– Quem é Riki?

Por muitas batidas parecia que ela sequer tinha ouvido, mas reagiu ao nome.

– De onde você tirou este nome Jun’Ichi?
– Falaste em teu sono Yuu.
– Riki é meu coração, um que eu não soube guardar e proteger como devia quando a aldeia onde morávamos foi atacada por um exército há muitos anos atrás Jun’Ichi e até hoje sua lembrança é o que faz meus dias mais suaves e as noites amenas.

Levando a mão à cabeça, tocando o local onde batera Daiki rapidamente se recompõe e busca voltar ao seu foco.

– Traga água e busque alguns peixes Jun’Ichi. Temos muito que fazer antes de voltarmos para a comandante Ephiny esta noite, depois vá até nossas coisas e traga meu embornal.

Não era nada surpreendente que Daiki soubesse que ela havia buscado os equipamentos, considerando estar com seus cobertores e mantas. Rapidamente buscou o que fora pedido.

Daiki mexeu em suas coisas e pegou uma planta que Xena conhecia muito bem, pegou três folhas de liótia e ginco, colocando-as na boca e mastigando pausadamente. Depois pegou uma folha que Xena nunca vira e realizou o mesmo processo.

– Passe a água Jun’Ichi.

Após beber alguns goles, a mestre da guarda real indagou.

– Você sabe o que aconteceu Jun’Ichi?
– Ao que parece você bateu em um galho submerso indecifrável do alto Yuu.
– Vamos recomeçar seu treinamento e desculpe por atrapalhar seu momento de lazer Jun’Ichi.
– Sem problemas Yuu, mas seria mais aconselhável você continuar descansando por mais algumas marcas.
– Seria mais aconselhável se você mantiver cuidando de não fracassar ao invés de tentar fazer o meu trabalho.

Xena não disse mais nada. Apenas ficou olhando aquela pequena guerreira levantar-se ainda inteiramente tonta e com algo de náusea.

– Não podemos permitir que algo assim se repita. Retire o galho das águas Jun’Ichi.

Xena apenas escuta e sai correndo para remover o galho solicitado e Daiki volta-se de costas para o lago, começando a executar complexos movimentos muito lentamente, acompanhados de uma forma específica de respirar utilizando o diafragma e não o peito para fazer o ar entrar nos pulmões. Seu ventre expandia e recolhia-se com o movimento do músculo e tudo que havia eram a harmonia e o silêncio.

Xena iniciou sua luta com o galho. Ao que parece alguma hitínia que nascera na beirada das rochas não venceu sua luta contra a tempestade e despencou, pois se apresentava com raiz e tudo, justamente estas ficavam presas sob algumas rochas.

Xena não conseguia se furtar de pensar que Daiki estava superestimando sua força de “dez homens” como rezava a lenda mais comum a seu respeito. Já ouvira até doze vezes este número. Os bardos realmente gostam de exagerar.

Subiu para respirar oito vezes, mas não conseguiu mudar o tronco de lugar. Foi até a superfície e pegou um galho quebrado já a algum tempo que havia visto caído na beira. Voltando para o tronco em questão com um equipamento que acreditava que solucionaria o problema. Firmou a madeira sob as rochas que trancavam a movimentação da hitinia, tentando colocar todo seu peso nesta alavanca rústica. Sua estratégia funcionou, mas não como esperava.

Colocando dois pés nas rochas e jogando seu peso para baixo com toda dimensão possível, conseguiu mover a grande rocha que fazia a maior pressão, mas trancou um dos pés no processo e com o movimento da hitinia as outras rochas se moveram prendendo o pé da Conquistadora.

Xena estava presa e não tinha o que fazer a não ser observar o tronco de hitinia subir até a superfície.

Mantendo seus exercícios em foco, Daiki percebeu que fazia muitas contagens que Xena não subia para respirar. Saiu correndo e lançou-se na água e rapidamente localizou Xena e verificou a situação. Com suas mãos aplicou um ponto de pressão na perna da Conquistadora neutralizando aquele membro.  Segurando nas mãos de Xena, utilizando seu próprio corpo como um aríete, toma impulso toca seus pés nas pedras que impediam o livre movimento do pé da Senhora do Mundo.

Impulsionando-se para a superfície buscam o ar onde o tronco de hitinia ironicamente aguardava para ser usado como suporte por uma Xena cansada pela resistência sob a água. Daiki liberta o ponto de pressão e ambas com muita calma se dirigem para a beira onde estavam seus cobertores e dois coelhos que Daiki capturara pela manhã já assavam na fogueira.

Enquanto comiam nada era comentado sobre a experiência na qual receberam de longe a visita de Celesta e por providencia de uma e de outra tal visita não chegou a se concretizar. Daiki quebrou o silêncio, conduzindo o foco novamente para o treinamento da Senhora do Mundo.

– Esta noite você deverá atender a capitã em seu leito. É necessário aprender como deixar a Casa Real confortável em todas as dimensões, sendo claro para a capitã que não haverá dificuldades. Tuas peripécias no reino de Afrodite são por demais conhecidas e cantadas pelos bardos em todo Império.

Xena empalidece, mas não diz nada. Daiki estranhou não haver nenhuma resposta e observando as alterações na respiração da amazona percebe que algo não está certo.

– Há algo errado Jun’Ichi? Diga-me o que está alterando teu espírito.
– Eu não poderei realizar esta tarefa Yuu, lamento. Não posso servir a comandante Ephiny em seu leito.
– Seu orgulho não deve interferir em sua missão Jun’Ichi. Você é muito melhor que isso.
– Não é orgulho Yuu. Farei qualquer coisa que me for ordenado sem pensar uma batida, mas isso eu não posso fazer. Juro pela Caçadora Yuu.
– Então acredito que devo me desculpar com você Jun’Ichi, pois eu falhei em minha missão e não soube detectar esta sua dificuldade para resolve-la a tempo. Este impedimento quanto à ação ou sentimento irá criar uma barreira para a obtenção de seu propósito. É claro que provavelmente estás acostumada a dirigir o jogo e Ephiny quer ter certeza que saberás colocar os interesses daquela que cuidas acima dos teus.

Enquanto falava, Daiki ia afiando sua espada, mas pegou a súbita mudança no semblante de Xena. Sua palidez tornou-se extrema e um suor começava a brotar em sua testa.

Xena começou a não saber mais como explicar e não tinha ideia se caberia revelar sua condição para Daiki. Em silencio eleva seu pensamento para a Deusa da Sabedoria e para a Caçadora.

– “Atena, patrona do Império e em tudo acompanha minha vida desde o juramento de fidelidade em Eiraskan, Artemis Protetora, guia das amazonas e padroeira de minha nação. Guiem meus pensamentos para que consiga ser clara sem comprometer minha princesa e não usar minha posição, mantendo-me fiel ao propósito de ser uma guarda real digna da Representante de Artemis e possa honrar a casa de minha mãe, ser digna da Caçadora, honrar meu grupo e minha capitã”

Brevemente um sentimento de paz envolveu a Senhora do Mundo e a voz de Artemis  se fez ouvir em sua mente:

– “ Atena levou a mim seu parecer sobre teus pensamentos e angústias Xena e acredito que tu tens a resposta em teu coração, pois sabes que o treinamento de uma Guarda Real é de livre arbítrio da Capitã e assim tem sido desde o inicio dos tempos. Não irei interferir nele, mas diga o que está te preocupando realmente.”
– “Caçadora, não me é estranho estar em leito de mulheres, pois conhecido é este aspecto da minha vida por todo o Império e certamente não me furto de servir a capitã por orgulho. O que realmente me preocupa é tudo estar mudado e eu não ser digna daquela que me acolheu em seu coração de espírito livre e mente limpa, mesmo sendo quem sou e quem fui. Sou casada agora Artemis  e não iria trair sua Escolhida de livre mente. Não estou encontrando caminho para servir à capitã e me manter fiel a minha esposa. Ajuda-me caçadora, pois sou pequena frente a este desafio.”
– “Lembra-te das palavras de Daiki quando te uniste a ela e dos termos de tua aceitação neste propósito Xena e age em conformidade. Fica bem filha de Cirene”.

Xena então recorda-se das palavras da mestre na guarda real e dos termos utilizados:

“…se me aceitares, esta parte de tua vida me pertencerá”.

Daiki apenas aguarda pacientemente que Xena se manifeste e rompendo o silêncio, com a decisão tomada Xena olha para sua treinadora, procurando transmitir toda angústia de seu coração, sabendo que apenas a verdade poderia circular entre elas, diz apenas três palavras, esperando que fossem suficientes:

– Sou casada Yuu.

Daiki ouve e fica olhando para a Senhora do Mundo, tentando medir a sinceridade das palavras e mais que isso, do tom com que foram proferidas.

– Já eras casada quando aceitaste teu treinamento e vocês conversaram sobre isso ou não terias aceitado. Tua esposa certamente sabe das condições em que ele se daria. Ela consentiu Jun’Ichi?
– Sim Yuu.
– Então não há razão para uma recusa Jun’Ichi. Qual a verdadeira razão? Aceitaste livremente os termos e estes não são negociáveis. Incluíam claramente tua liberdade, teu corpo, tua vida e tua alma. O princípio do treinamento é preparar-te para servir e proteger Jun’Ichi e tu sabias disso. A Conquistadora não aceitaria menos daqueles que a servem, ficando claro que a Casa Real merece o melhor de cada súdita e isso se torna mais verdadeiro quando falamos da Guarda Real. Explique-se com cuidado Jun’Ichi pois esta será tua última chance antes de eu tomar uma decisão definitiva quanto ao teste a partir deste pensamento de recusa.

Confiando nas palavras de Artemis, Xena decide dar a Daiki a única resposta que sua treinadora aceitaria: a verdade total.

– Se eu deitar com a comandante ou qualquer amazona, estaríamos cometendo crime de alta traição Yuu e além da dor que este ato causaria, destruiria minha esposa ordenar nossas execuções. Atena, Afrodite e Artemis efetuaram nosso casamento. Minha esposa é a princesa das amazonas trácias.

Daiki percebeu mais que as palavras ditas em uma respiração. Viu o sorriso involuntário nos olhos e o brilho que o acompanhou num misto de alegria e resplandecente devoção imensurável, pois em toda a linguagem corporal Xena demonstrava exatamente a mesma coisa.

– Quem mais sabe disso Jun’Ichi?
– Você é a primeira mortal, a saber, Yuu. Em tuas mãos e tua vontade deixo a decisão, mas peço que considere aquela que melhor preservar minha amada.
– Farás qualquer coisa que eu decidir sem segundos pensamentos ou argumentos, mesmo que eu determine que aceites o desafio e estejas com Ephiny?
– Sim Yuu. Juro pela Caçadora.
– Então aceitarei isso decidindo em conformidade e no futuro, quando houver algum impedimento desta ordem, manifesta-o imediatamente e não espere ser interpelada. Você compreendeu?
– Sim Yuu.
– Terminemos aqui, pois ainda tens tarefas a desempenhar.
– Sim Yuu. Obrigada.
– Volte ao acampamento e retire a espada da capitã da guarda real, trazendo-a para cá. Não se deixe ver ou seguir. Quando a capitã indagar de sua arma diga que sua espada a espera onde a figueira deita sobre o rio e apenas isso. Ela entenderá. Tome muito cuidado, pois se for pega, sete açoites serão apenas o início de seu castigo. Não utilizamos castigos na Guarda Jun’Ichi a não ser em momentos muito especiais como este, que será em sete blocos de sete punições. Suas irmãs ainda não sabem de minha presença nesta excursão e eu desejo que continue assim.
– Sim Yuu.
– Vá agora.

Xena se dirige ao acampamento e como estava ainda a uma marca da lua surgir e o carro de Apolo ser guardado, a Conquistadora mostraria o motivo de ser tão pertinente este nome. Aguardou que Ephiny saísse de sua pedra e fosse corrigir algumas posturas na luta mão a mão que as amazonas estavam desempenhando e sorrateiramente pegou a espada da capitã da guarda real que ficara escorada na pedra.
Por alguns instantes seu olhar cruzou com o de Lara, que deliberadamente voltou sua atenção para outro lado, levando um tombo providencial que conduziu a comandante da expedição para longe da pedra em questão. Xena aproveitou a oportunidade para deslizar para longe e levar a espada de Ephiny até as mãos de Daiki.

– Alguém viu você?
– Lara viu Yuu.
– Então reze para que ela não indique seu nome antes de você voltar ou não terá tempo de dizer nada.
– Sim Yuu.
– Retorne por aonde veio e envie a comandante até aqui.
– Sim Yuu.
No acampamento, Ephiny retornou para junto da pedra no mesmo momento em que Xena entrava em seu campo de visão pelo outro lado da fogueira de reuniões, distante vinte e cinco pés.
– Onde você esteve?
– Cumprindo sua ordem comandante.
– Certo. Suas irmãs estão treinando combate corpo a corpo. Aproxime do grupo e corrija suas posturas e ângulos de ataque. Use seu conhecimento Xena para que suas irmãs tenham mais chances na próxima vez que precisarem lutar.
– Sim comandante.

Dando falta de sua espada Ephiny percebe que fora objeto de um jogo muito bem feito e por mais improvável que fosse, pois seus olhos viram Xena vir da direção oposta, ela tinha certeza que a Conquistadora era responsável pelo desaparecimento de sua espada.

– Xena!

Xena vem correndo como era de se esperar e a cada passo rezava a Artemis que a capitã ouvisse sua explicação.

– Sim comandante.
– Você sabe onde está minha espada?
– Sim comandante. Sua espada a espera onde a figueira deita sobre o rio.
– Certo. Volte para sua tarefa e a desempenhe com o coração e toda sua capacidade.

Como Daiki dissera, o recado tinha perfeito significado para Ephiny e a capitã da Guarda Real não pode deixar de admitir a capacidade de surpreendê-la que a nova aspirante apresentava. Pelo visto, Xena era uma mulher de muitas habilidades.

– Desejava me ver Daiki?
– Precisamos conversar comandante.
– Sem problemas Mestre.

Sem tirar os olhos do rio, Ephiny aguardava pacientemente que a Mestre da Guarda se manifestasse.

– Jun’Ichi possui uma vida muito ampla e suas experiências no reino de Afrodite são extremamente diversificadas, porém há algo que ela jamais realizou e gostaria de sugerir esta forma para compor o treinamento, pois acredito que todo o resto já é seu conhecido e não apresentará dificuldade alguma.
– Eu estava imaginando quando tu surgirias com algo para esta etapa. Do que se trata?

Daiki explicou com pormenores como acreditava que Xena seria devidamente testada e treinada para atender a Casa Real em toda forma de conforto.