Gabrielle tinha escolhido o salão de recepções mais intimo para receber a sacerdotisa de Artemis e demais convidadas em Corinto. Menor que o salão principal, em nada ficava devendo em comodidades e decoração, necessitando de menor numero de serviçais e com o espaço para apresentação dos bardos proporcionando um melhor acolhimento.

Em um dos cantos do salão, onde realçava a dispersão dos sons estavam as musicistas e cantoras num plano mais elevado. Havia apenas mulheres nesta sala e com uma característica: eram todas livres, pois não há espaço para escravidão no reino da Caçadora.

As três bardas de Atenas chegam junto com Vidioni e Aurea e tudo olhavam com interesse e franca curiosidade. Tamar de Ítaca era mais comedida em suas observações e mais do que a tapeçaria ou estátuas era uma apreciadora da fauna humana que se apresentava ao local. Seus olhos brilharam quando encontrou Assoyde e algumas das amazonas que conhecera no templo e sem demora buscou saber da jovem menina por quem intercedera.

– Boa noite . Eu sou Tamar de Ítaca e muito me alegra ver que não estão cerradas em alguma cela dos calabouços. Fico feliz de vê-la aqui. Estão bem?
– Felizmente a Sacerdotisa encontrou mérito e justiça em nosso caminho Tamar e fomos bem acolhidas junto à Caçadora.
– Onde está a pequena corajosa? Ela veio com vocês?
– Breve ela estará aqui. Gostaria de agradecer seu empenho e por ter falado a favor dela. Ela é muito especial e importante para nós.
– Era o justo. Vejo que suas amigas também estão livres. Quantas estão aqui?
– Todas nós Tamar. Se me dá licença, tenho algumas tarefas a desempenhar. Breve ela estará conosco. Por favor, aproveite a festa.
– Obrigada e boa festa pra vocês.

Assoyde deslocou-se pelo salão buscando as escadarias que conduziam aos aposentos no terceiro piso. Gabrielle estava vestindo seu traje cerimonial que consistia em uma saia e top brancos com detalhes em preto e vermelho, cingindo-se por um cinto vermelho que caia a frente com pequenas moedas douradas. Seus braceletes vermelhos com metal dourado brilhavam à luz das velas e archotres e as botas de meio cano deixavam na lateral dois sais visíveis como a recordar que havia uma guerreira presente.

– A última convidada acaba de chegar Gabrielle.
– Obrigada Assoyde. Por favor, mantenha a guarda baixa e passe a palavra que estamos entre amigas.
– Não vamos negociar sua segurança Alteza. Sabe que eu não posso fazer menos do que Ephiny exigiria, mas prometo que seremos o mais discreta possível.

Assoyde dava mostras da grande preocupação que sentia e não era sem razão. Gabrielle havia convidado a Sacerdotisa de Corinto, as bardas de Atenas, Tamar de Ítaca e seus acompanhantes para um jantar onde ouviria o caso de cada uma e daria seu parecer. Xena havia posto sua confiança nela e ela não iria decepcionar a Senhora do Mundo, mas o mais importante: não iria decepcionar sua esposa.

A justiça amazona se faria ouvir nas questões levadas ao templo da Caçadora.

Gabrielle observou com carinho a capitã interina e percebeu os pequenos sinais de cansaço. Assoyde não diria nada e certamente levaria a bom cabo suas funções até a volta de Ephiny. A princesa trácia facilitaria para sua irmã em tudo que não interferisse com seus objetivos.

– Organiza a guarda como melhor te parecer Assoyde, apenas cuide para que nossas convidadas não se sintam demasiado intimidadas a ponto de não participarem dos eventos da noite. Descerei em meia marca.

Um sorriso abriu no rosto da mestre dos arcos e mentalmente reorganizou a guarda. Sua princesa tinha confiança no seu julgamento e agora tinha a certeza de que Ephiny nada teria a condenar.

As convidadas conversavam animadamente sobre o que as trouxera naquele evento. Todas estavam curiosas sobre os rumos que suas vidas tomariam a partir desta noite em que a Lua guiaria os caminhos.

Um corredor formado por cinco pares de amazonas se instalou na porta de entrada e a musica cessou repentinamente.

Gabrielle entrou e assumiu sua posição de anfitriã da noite, dando às bardas de Atenas a oportunidade de suas vidas.

– Sejam bem vindas entre nós. Aguardaremos com ansiedade a palavra que nos trazem de Atenas. Fica posto que ouviremos com a devida atenção.

Sentando-se ao centro da grande mesa ladeada por seis convidadas de cada lado Gabrielle retira a máscara entregando-a à Cora e sinaliza para que a escolta erga as suas. As convidadas para a recepção amazona no Palácio de Corinto ficaram assombradas ao verem a jovem a quem acusaram ou intercederam no Templo de Artemis, mas nada foi ponto para revoltas.

Apontando para o centro da sala deixa para as bardas a ocupação de seu palco.

Ylevana de Atenas levanta-se e vai à frente ocupar o espaço indicado. Sua voz segura e firme em nada deixava transparecer a ansiedade que sentia ao segurar em sua apresentação o futuro de suas irmãs e por consequência de todas as mulheres que desejassem estudar na academia.

– Traga-nos uma história que mostre a força da Caçadora e que tuas palavras carreguem a verdade da coragem e de sua sabedoria.