No local onde a figueira deita sobre o rio, no meio da tarde a capitã da guarda real amazona reuniu-se com a treinadora específica da Trial, chamando-a para dar seu parecer de forma muito objetiva.

– Qual o veredicto? Merecem ir até o fim? Venceram ou fracassaram nos testes de formação? Devem permanecer na guarda ou encaminharemos nossas irmãs para o exército regular, escoteiras, arqueria ou casa de armas Taira?
– Acredito sinceramente que reprova-las seria um erro Ephiny. Foram corajosas, leais, incansáveis nas tarefas de vigilância e cumpriram fielmente todas as ordens com energia. Xena me surpreendeu principalmente nesta última prova realizada. Nunca imaginei que a Conquistadora se deixaria tocar daquela maneira e muito menos cairia a seus joelhos e suas mãos imediatamente como o fez. Sua obediência foi sem correções a fazer Ephiny e sua habilidade ficou claramente demonstrada ao levar tua espada.
– Tu viste?
– Claro que sim. Eu estava observando a Trial do alto da aponia. Ela realmente foi muito eficiente e a maneira como surgiu do lado oposto foi magistral.

Ephiny olha para cima e parece considerar a opinião de Taíra, quando para surpresa de sua irmã, pede o parecer para o alto das árvores.

– Daiki?

O fato de a mestre da guarda estar no acampamento era desconhecido por Taira que imediatamente se coloca em pé e leva o punho direito ao peito, curvando levemente a cabeça. Era o sinal de respeito e mais que isso era demonstração de gratidão, pois Taira fora uma das amazonas treinadas por Daiki que obtivera êxito nos testes da Guarda e a treinadora carregava um shuriken tatuado em alusão a este fato.

Daiki reconhece o cumprimento ao juntar-se as duas descendo das árvores.

– Elas foram perfeitas em seu sentido de grupo e mesmo desejando ajudar, se abstiveram de colaborar para que Xena tivesse sucesso na condução do cervo, no entanto negaram-se o direito de chegarem antes e descansarem, acompanhando-a todo o trajeto. Foram eficientes na caçada demonstrando ótima coordenação, merecendo estar na Guarda e mais que isso: a Trial será um acréscimo importante para o sentimento de grupo. Gostaria de parabenizar sua orientadora.
– Obrigada mestre.
– Quanto a Xena, ela encontrou o espírito do grupo quando abriu mão de vencer sozinha com suas pedras do rio e certamente demonstrou respeito quando foi atacada no posto de vigilância e nesta penúltima prova, realmente estava concentrada em não permitir ao seu corpo reagir quando não deveria e em não assumir o comando. Creio que devem ser aprovadas para o teste final.
– Concordo com vocês. Após o jantar daremos a decisão neste local. Você poderia estar conosco? Daiki?
– Sem problemas comandante, depois do jantar estarei aqui.

Após o jantar as amazonas estavam sentadas em círculo no local onde a figueira deita sobre o rio com uma fogueira ao centro. Cada uma contava um episódio de caçada e quando Daiki chegou e aguardou no espaço vazio, frontal à capitã da guarda real, todas as amazonas, exceto Ephiny se levantaram ao perceberem a presença da mestre da guarda.

– Seja bem-vinda Daiki, por favor, sente e beba conosco.
– Obrigada Ephiny. Todas vocês, sentem-se, por favor.

A prova final seria a mais simples de todas e também a que mais diria ao coração das aspirantes. Ephiny falou diretamente a todas com uma irmã mais velha faria: com amor.

– Entre todas as amazonas há o elo da irmandade e cada uma das Elidias possui os segredos de sua atividade. A Elidia de defesa estabelece que tenhamos união e confiança entre nós e na guarda Real, para que possamos desempenhar com maestria nosso objetivo, se faz necessária intimidade. Assim cada uma de vocês está convidada a contar sobre sua vida, sua crença, seus segredos e o motivo real de escolher a Guarda. Quem desejar desistir desta etapa tem livre arbítrio e pode retirar-se para o acampamento e nada será segurada contra ela, porém aquela que permanecer estará na guarda para sempre, imediatamente e para a eternidade. Vocês foram aprovadas para esta última atividade que sendo mais que um teste, vai cumprindo um completo acolher.

Esta foi a deixa para que Xena pudesse sair se não fosse permanecer e Ephiny estava olhando firmemente a Senhora do Mundo em franco desafio.

Todas esperavam que a Imperatriz assumisse um dos caminhos que conduzem para o acampamento e todas se surpreenderam com sua permanência no local. Todas exceto Karin que cedo tinha compreendido não ser uma aventura da Senhora da Terra, este treinamento. Lembrava-se claramente do olhar de Xena para Gabrielle no barco e tinha certeza que mesmo a princesa não ousaria colocar na guarda uma escrava, havendo então apenas o fato de que era real o empenho de Xena. Também não foi surpresa para Karin Daiki surgir no local, pois apenas a melhor treinadora da guarda se arriscaria a treinar a Imperatriz do mundo.

Xena sentou-se com o garbo de quem busca um trono e a simplicidade do descansar em um tronco numa partida de caça. Ela era por si e em tudo a Senhora da Terra e isso não estava em jogo.

Ephiny se recompôs logo, pois ainda em choque com a reação da Imperatriz e pelo que tudo indicava, era agora sua irmã e suliana o que era uma maneira de chamarem aquelas que estavam subalternas na Guarda. Duas oficiais surgiram carregando alguns odres de vinho e esta recepção na guarda seria memorável.

O vinho começou a correr e a Comandante deixou claro que estava aberta a roda de compartilhamento. Foi uma surpresa para todos quando Taira passou a relatar um momento de entrega para uma superior, subtraindo o nome da mesma, mas mantendo vívido em sua mente cada instante e característica da maior das treinadoras:

“Eu cheguei perto dela sem saber o que esperar, pois tudo que sabia era o local onde deveria estar antes do Carro de Apolo surgir. A oficial mal me dirigiu um olhar e continuou a organizar suas coisas. após meia marca de vela sem mover-me o silencio estava levando a melhor sobre mim. Finalmente ela levanta-se e chegando próximo leva sua mão ao meu rosto e a leve pressão para baixo deixou claro que continuar em pé não era uma opção. Eu não sabia exatamente o que esperar mas confiava nela com a minha vida e tinha certeza de que não seria magoada. Estava errada. A oficial não estava preocupada comigo nem com o fato de eu ser muito jovem. Seus movimentos buscavam alguém que não estava ali, para o qual eu era apenas um objeto substituto. Os beijos dela eram suaves e exploradores e repentinamente começam a flutuar com fúria como se desejasse demarcar território. Meus braços foram imobilizados e mesmo que tentasse somente conseguia girar um pouco o corpo, deixando sempre um seio a disposição e por todo o tempo nada foi dito, mas Eu tinha certeza que ela estava muito longe dali. Apegava-se ao meu corpo como se não fosse deixar que me afastasse. Pouco a pouco minha pele foi sendo marcada pelos dentes e mãos fortes fazendo com que assumisse as mais diferentes posições. Embora de maior envergadura que aquela que me guiava eu nada podia ou desejava fazer para me esquivar destas atenções quando por duas vezes tentei erguer-me e por duas vezes um tapa bem colocado lembrou-me de quem estava no comando. Novamente meu rosto foi pego e desta vez com uma dureza e rispidez que somente o olhar desafiador deixava transparecer que minha escolha e meu prazer não estavam em jogo ali. Eu deveria fazer o que fosse ordenado e quando fosse ordenado. Meu espírito revoltou-se com a situação, mas minha mente deixou-me evidente que a oficial da guarda estava no seu direito e mesmo assim, o aperto em meus braços foi relaxando e com alguma dificuldade busquei envolver o corpo de minha parceira. Era tarde. Aquela que comandava o momento já se posicionara e sua respiração aquecia o centro de prazer. Sua língua foi fazendo círculos, envolvendo-a em uma nuvem de sensações que quase eletricamente enviavam ondas de prazer e ela já não sabia mais se havia sido conduzida ou empurrada para tal posição. Era uma angústia de desejar cessar toda atividade e não querer que interrompesse. Uma sensação inexplicável de implorar por piedade e exigir maiores e mais ríspidos movimentos. Suavemente, quase de repente ela surgiu frente ao meu rosto e uma sucessão de beijos e carícias me deixou a certeza de que fora contemplada com um momento de prazer dado a poucas e tudo que senti foi uma gratidão e reconhecimento pela atenção dela. Com minha pouca experiência tentei retornar as atenções, mas fui barrada em minha intenção. Ela não desejava ser tocada. Até hoje me lembro daqueles momentos e busco uma oportunidade de novamente sentir seu toque e devolver os instantes de prazer com que fui contemplada. Este é meu segredo mais agradável na Guarda.”
– A Oficial ainda está viva e na Nação Taíra?
– Sim Comandante.
– Agora que és uma Oficial da Guarda tudo pode acontecer. Procura por ela e diz o que sentes.
– Talvez ela ainda esteja buscando aquela que substituíste Taíra e tal atenção seja pra ela uma recordação daquela que perdeu. Talvez ela não seja livre e seu coração pertença a alguém. Ela voltou a te procurar?
– Não Karin, mas espero que um dia ela perceba que estou aguardando.
– Ela com certeza sabe da possibilidade, mas entende que está respeitando-te . Não é de forma leviana que uma Oficial da Guarda usa de seu poder sobre as Sulianas. Tudo tem um propósito.
– De forma livre eu a procuraria Daiki se soubesse haver uma possibilidade apenas, mas não quero ofender.
– O amor livremente oferecido e livremente aceito é uma lisonja e carinho entre pessoas livres Taíra. Jamais ofenderia. Tenha coragem e busque.
– Pode ser Xena, vou pensar nisso.
Xena, Ephiny e Karin não perderam a troca no brilho do olhar de Taíra e Daiki e tiveram certeza de quem se tratava o conto.
Por instantes o vinho correu solto e apenas silêncio corria entre elas, com o conto de Taíra muito vívido. Repentinamente Ephiny começou a tecer a história de seu suaguini, contando sobre Terreis e toda a atenção que a princesa Trácia demonstrou com ela. Ambas descobriram os prazeres do sexo e juntas se tornaram mulheres e embora Ephiny fosse dois verões mais velha que Terreis, a princesa decretou que teriam a mesma idade dali pra frente.
Karin pensou em dividir sua experiência, mas achou melhor conter sua língua e guardar sigilo, pois sua Princesa solicitou que aguardasse até que ela mesma desse mostras de tal ter acontecido.
Xena começou de maneira tímida contando a história de uma camponesa de Amphipolis, a perda de seu irmão, a luta para evitar que tal repetisse e a construção do Império. A derrocada de César, a Conquista do Mundo Conhecido. Um encontro nas matas em Esdel, sua paixão por Gabrielle, seu crime e seu perdão por Artemis, seu filho, seu casamento pelas três Deusas e seu espírito pronto para proteger Gabrielle de qualquer coisa, mesmo que fosse dentro da Guarda Real.
Quando a Senhora da Terra silenciou a mata inteira parecia estar de acordo.
Daiki apenas sorriu satisfeita de que o espírito da Guarda foi apanhado pela Senhora do Mundo e o que era segredo compartilhado entre elas agora se fazia de domínio do grupo, com igual comprometimento em manter e proteger as informações. Nada une mais um grupo do que saber e pensar, sentir e perceber o amor em tal profundidade.
Cinco contos e dois barris depois, as amazonas foram dormir para providenciar o retorno a Corinto com mais cinco membros na Guarda de Elite: a Guarda Real.
Ephiny estava feliz, pois cumprira o prometido a Gabrielle e novamente a visão daquela que Representa Ártemis se mostrou verdadeira: Xena era por tudo e em tudo uma amazona digna da Guarda Real.