Xena se dirigiu aos seus aposentos determinada a ocultar de Gabrielle qualquer marca deste primeiro encontro com sua nova função. Certamente Ephiny não seria mais exigente em seus treinamentos do que ela era com os falcões e não seria nada com o qual não poderia lidar. Um banho frio ajudaria a não ocorrerem inchaços, diminuindo em muito as contusões e certamente a armadura proporcionará um bom escudo contra os olhares atentos da princesa amazona. Sua princesa.

Ainda não tinham retomado a intimidade que conseguiram na vila amazônica, em Amphipolis ou no navio e ela não tinha bem certeza de como isso seria feito, mas sabia que a iniciativa agora cabia à Gabrielle.
O olhar de Gabrielle veio a mente e um sorriso se abriu no rosto da Senhora do Mundo enquanto nadava tranquilamente, buscando esvaziar seus pensamentos.
Vestindo-se rapidamente encaminhou-se para o campo de treino, onde um Volair observava atentamente a sequencia de movimentos, executados por Palaemon com a espada, sobre seu adversário.

– Parece que nosso capitão adquiriu algumas novas manobras com sua espada. Este giro na empunhadura com a estocada para trás é muito eficiente para quando atacam por trás e não se tem oportunidade para girar o corpo.
– Realmente, embora não me pareça que seja útil realmente, pois deixa a frente a descoberto.
– Como todo treino, ele cobre apenas uma possibilidade. Cabe ao guerreiro verificar quando e de que forma será usado Major.
– Sem dúvidas majestade.
– Aceitaria um treino?
– Certamente.

Volair e Xena treinaram com espadas por uma marca de vela. Dois verões mais velho que a Conquistadora e de igual estatura, era um adversário digno, embora não tivesse a mesma força ou agilidade de sua oponente, compensava com seu arrojo. Ele era um dos poucos homens que não se importavam em realmente atacar a Senhora do Mundo e confiava que ela não arrancaria sua cabeça fora por algum descuido. Confiava que Xena nunca se descuidaria e se fosse arrancar sua cabeça seria por desejo próprio, caso em que ele a daria de bom grado à sua soberana.

Repentinamente Volair consegue bloquear o ataque da Conquistadora e seguindo com o giro se agacha, apoiando seu peso sobre a perna esquerda, com ambas as mãos no solo, completa o giro visando acertar seu calcanhar nas costelas de sua adversária e derrubá-la. É bloqueado por uma mão enquanto a outra aplica um ponto de pressão que paralisa sua perna, fazendo com que perdesse o equilíbrio. Ato contínuo firmando sua espada no pescoço do major a imperatriz do mundo dá por encerrada a contenda.

– Meus parabéns major! Sua manobra foi excelente! Sem meus conhecimentos e agilidade eu estaria em sérios apuros. Vamos beber a isso. Palaemon, você e seu companheiro de treino estão convidados!

Xena faz um sinal para três jovens que estavam em pé aguardando qualquer manifestação da Senhora do Mundo e ao ouvirem estas palavras e verem o sinal dado, foram correndo até onde estavam jarras da cozinha, presas por correntes de forma a não afundarem em um barril com água fria. Trazendo taças e as jarras com vinho, aproximaram-se dos guerreiros e a um sinal de Xena serviram em todas as taças e beberam até o ultimo gole.

– Meu prazer majestade. Estaremos aí no tempo de tirarmos um pouco o suor do rosto e dos braços. Vamos rapaz, que vou apresentar você para nossa soberana.

O acompanhante de Palaemon era um jovem que chamara a atenção de Xena alguns dias antes da partida para Esdel, quando o exército entrou em manobras e Dínia recebeu sua missão. Xena lembrava que o soldado chamara sua atenção por manter-se em pé contra Dínia, Milenti e Novaes.

– Majestade, este é Shuma, aprendiz de falcão. Shuma, esta é Xena, a Conquistadora.
– Você deu um trabalho considerável para Palaemon, Shuma. Estás gostando de seu novo trabalho?
– Sim majestade, mas treinar com o capitão é muito mais divertido.
– É raro um soldado que goste de limpar estrebarias e ainda tenha esta habilidade que demonstras com a espada Shuma.
– Permissão para falar livremente, majestade.
– Adiante.

Enquanto conversavam o vinho era novamente servido e entregue aos oficiais e à Xena.

– Quando fui designado para esta tarefa passei dias me perguntando o que fiz de errado para tal castigo.
– O que concluíste?
– Eu passei e repassei minha conduta senhora e não cometi nenhum deslize, então não poderia ser um castigo, mas apenas tarefas que deveriam ser feitas. Empenhei-me a realizá-las com o mesmo empenho que coloco no meu treinamento com armas, e com o tempo fui me dedicando a manipular todo e qualquer instrumento que pudesse ser usado como uma arma, mesmo os forcados ou os pequenos garfos para separar os cereais com a maior atenção e buscando vários ângulos de pegada, giros e usos. Isso ajudou a soltar meu pulso e criar outros padrões de movimentos que mais tarde, quando voltei a treinar, passei a aplicar com o bastão, a espada e a lança. Então eu entendi minha transferência apenas como ter sido enviado para um lugar muito especial de treinos. Ademais eu gosto dos cavalos e em batalha o comportamento deles pode ser a diferença entre viver ou morrer. Eles merecem o melhor tratamento que pudermos dar.
– Gostei de você Shuma. Ele será um belo falcão se aprender a voar, Palaemon.
– Também penso assim minha senhora. O senhor concorda Major?
– Talvez. Primeiro precisa chegar ao ninho.

Somente Terquien e Volair arriscavam discordar de um parecer de Xena tão frontalmente. Uma vez perguntaram pra ele por que agia tão na beira do abismo e ele respondera que já tinha feito as pazes com os destinos e era direito dela puxá-lo ou empurrá-lo no vazio se assim desejasse. Não havia então motivo para se preocupar, mas apenas em servi-la corretamente e isso incluía opiniões honestas.

– Como sempre você está descontando no rapaz sua frustração Volair. Na segunda marca antes do inicio da noite chame-o e tenha um bom tempo com ele e se depois disso você não aprová-lo, ele deverá cuidar das estrebarias e cocheiras até o próximo verão, no entanto se ele passar por tua opinião antes de voltares para Atenas, Palaemon iniciará o treinamento dele entre os Falcões já aceitos. Especializando-o em armas de curta distância. Concordas?
– Plenamente Majestade.
– Agora devo ir almoçar com certa princesa amazona e ficarei ocupada esta tarde. Leva-o para os banhos e que seja bem tratado Palaemon.  Acredito que qualquer uma das atendentes faria uma boa acolhida ao nosso jovem candidato a falcão e cuidaria de servi-lo bem. Conduza-o e faça saber meu desejo, mas elas são livres para recusar, e você também deveria relaxar até o treino desta tarde Volair. Até o jantar desta noite senhores. Bom treino Shuma.

Todos saúdam a Senhora do Mundo como é devido. Volair sinaliza à Palaemon para tocar no ombro do jovem Shuma e tira-lo de seu olhar de adoração que acompanhava o afastar da Soberana.

– Vamos rapaz e tome cuidado como olha, pois pode perder a visão desta maneira.
– Sim, capitão.