Capítulo Único
por DietrichEu já conhecia minha fama de dorminhoca, então não me surpreendi quando caí no sono em poucos minutos, mesmo sabendo que o maníaco Atiminius estava à solta no mundo dos mortais e não era de forma alguma nosso amigo. A tensão do dia também contribuíra para meu cansaço. Ver Xena mergulhar naquele lago profundo sem ter qualquer garantia que ela fosse retornar tinha mexido bastante comigo. Tinha ficado bastante assustada com a perspectiva de perdê-la. Já fazia cerca de um ano e meio que eu a acompanhava e me sentia bastante ligada à ela, e eu podia perceber que ela já se afeiçoara a mim também. Mas graças aos deuses ela retornara, e ainda trouxera com ela Marcus, o homem que ela amava. Tinha ficado feliz por ela, mas por algum motivo, a presença dele me incomodou um pouco. Não conseguia entender bem o porque. Talvez eu sentisse que ele atrapalhava um pouco aquela camaradagem cotidiana que eu e ela tínhamos desenvolvido ao longo do nosso tempo juntas. Mas tentei apoiá-la e não reclamei, afinal ela era minha amiga.
Justamente por costumar dormir tão bem independente das circunstâncias, estranhei quando abri os olhos repentinamente e vi que ainda era noite fechada. A lua brilhava forte e estava bem alta no céu. Já haviam-se passado várias horas desde que eu havia adormecido, mas ainda estava longe do amanhecer. Olhei ao meu redor, meio sonolenta e percebi que Xena não estava em lugar nenhum. Será que tinha saído para dar uma volta com Marcus? Por algum motivo o pensamento não caiu bem em meu estômago, e mesmo sabendo que eu provavelmente devia deixá-los em paz, levantei-me e muito sorrateiramente tentei encontrar rastros de Xena, já me sentindo bastante desperta.
Não tive que procurar muito para encontrar indicações do local por onde eles tinham seguido. Eu já tinha alguma habilidade em seguir rastros e me esgueirar furtivamente. Sabia que o que estava fazendo era bastante errado e até certo ponto uma invasão do espaço da minha amiga. Mas a curiosidade tinha ganhado, e o estranho desconforto que eu sentia só iria se acalmar quando eu descobrisse o que Xena estava aprontando com aquele homem.
Foi quando ouvi um barulho que só podia ser a voz de Xena, mas soava tão diferente.
Eram suspiros e gemidos baixos que eu ouvia, e imediatamente senti o sangue subir até o meu rosto. Parei no lugar, sem coragem de avançar. Dentro de mim lutavam a curiosidade, uma espécie de raiva fora de lugar, e outro sentimento que ainda não tinha coragem de admitir, mas que certamente estava sendo causado pelo modo que a voz de Xena soava naqueles arquejos entrecortados que só podiam significar que ela e Marcus estavam aproveitando muito bem o tempo que ele tinha como mortal.
“Isso é completamente errado Gabrielle” minha consciência me dizia, enquanto o pensamento de dar uma espiada nos dois crescia dentro de mim. “Ela é sua amiga, ela está tendo um momento completamente íntimo com o homem que ela ama e com certeza espera que você respeite isso. Controle-se, dê meia volta e vá dormir”. Mas na mesma hora que esses pensamentos terminaram de passar pela minha mente eu sabia que não tinha chance de eu voltar, muito menos dormir. Me amaldiçoando por dentro mil vezes, me aproximei cada vez mais na direção dos sons que os dois faziam.
Foi quando vi um relance deles que me escondi atrás de um arbusto. Me estiquei muito silenciosamente para dar uma boa olhada.
Eles estavam completamente nus, sobre um lençol esticado na folhagem. Não podia ver Xena muito bem pois ela estava sob o corpo dele e ele a beijava enquanto investia vigorosamente dentro dela, e ela fazia sons cada vez mais altos e suspirava cada vez mais profundamente.
Me senti completamente paralisada e sem reação e meus olhos começaram a ressecar de tão arregalados que estavam. Eu não era nenhuma garota experiente, na verdade, era totalmente ignorante quando o assunto eram os apetites carnais das pessoas, e a visão daquilo me deixou meio estupefata. Parecia algo violento, e até doloroso, mas se Xena não estivesse desfrutando certamente Marcus estaria levando uma bela surra, e não tendo-a em uma posição tão vulnerável.
Arregalei ainda mais os olhos quando, num movimento que mal pude perceber, Xena trocou de posição com ele, montando-o e fazendo um movimento de cavalgar. Eu agora podia vê-la inteiramente, parecia que luz da lua tinha resolvido cair justamente sobre ela. Pude ver que seu rosto estava molhado de suor, tanto que brilhava, e a franja colava na testa. Seus seios balançavam com o movimento, numa cadência rápida marcada pelo ritmo dela. As mãos de Marcus seguravam firmemente sua cintura e senti minha respiração parar quando ela começou a tocar os próprios seios enquanto se movia de forma cada vez mais descontrolada, e seus gemidos e arquejos aumentavam de intensidade e volume. Cada um deles parecia penetrar meu corpo como uma onda de calor e percebi que minha própria respiração já não tinha muito controle. Até que ela gritou de uma forma que deve ter acordado cada pássaro a uma milha de distância da floresta.
A expressão de prazer e abandono em suas feições atravessou minha mente como um raio. Sem pensar muito bem, me virei e sai quase correndo, esperando que eles estivessem distraídos o suficiente para não ouvir meus passos apressados.
Cheguei arquejante na clareira onde estávamos acampados e me joguei no pano que era meu colchão, sem saber muito bem por onde começar a organizar meus pensamentos. Me sentia quase febril, meu corpo parecia estar pegando fogo e meu baixo-ventre latejava de forma dolorida. Certo que eu era virgem, mas não era tola o bastante para não saber que estava completamente excitada pela visão da nudez da minha amiga, e que aquilo era provavelmente muito errado. Eu teria que pensar bastante sobre aquilo depois, mas o forte pulsar entre as minhas pernas me impedia de pensar com clareza. Tinha que resolver aquilo antes de tudo.
Agucei os ouvidos e não percebi nenhum sinal de que Xena e Marcus poderiam estar voltando. Lentamente escorreguei meus dedos até o meio das minhas pernas e eu mesma me surpreendi um pouco com um tanto de umidade que encontrei lá. Imagens de Xena começaram a surgir na minha mente, embora de um tanto diferentes do que eu tinha acabado de ver. Na minha imaginação meus dedos eram os dela, seus olhos azuis penetrantes estavam bem abertos e olhavam pra mim cheios de desejo. Fechei os olhos e comecei a tocar também meus seios, mas no meu devaneio eram as mãos dela que os tocavam, grandes e fortes, e era sua voz lânguida e macia que dizia coisas em meu ouvido, coisas que eu nem sabia que existiam em minha mente.
“Xena…” suspirei suavemente, repetidas vezes, meu corpo se contorcia, minha voz tremia e imaginava que ela me beijava e sua boca me percorria, até que finalmente alcancei o prazer num grito estrangulado, meus dedos encharcados, meu corpo molhado de suor como vira o de Xena agora a pouco. Minha mente não conteve nada além do rosto dela enquanto minha respiração lentamente voltava ao normal. Quando as batidas do meu coração estavam compassadas novamente foi que eu me dei conta do que tinha acabado de fazer, e uma onda de vergonha se apossou de mim. O que significava tudo aquilo? Eu realmente tinha acabado de me tocar pensando na minha amiga? De que forma aquilo não era completamente errado e até mesmo uma violação?
“Calma Gabrielle” comecei a ponderar. “Você acabou de ver duas pessoas fazendo amor e isso a deixou excitada, é normal, você não é mais uma criança. Quanto ao fato de ter pensado em Xena… hum… é só porque é ela que você conhece melhor”.
Parecia uma boa explicação, mas eu não estava nem um pouco convencida. Seja qual fosse o motivo, eu certamente não poderia continuar usando a imagem de minha amiga em fantasias sexuais. “Foi apenas essa vez Gabrielle” prometi a mim mesma com convicção. “Nunca mais vai acontecer”.
Foi apenas o momento de eu tomar a minha decisão, pois logo após ouvi passos que indicavam a volta dos dois amantes. Imediatamente fingi estar adormecida mas espiei brevemente para ver que apenas Xena havia voltado. O que será que Marcus tinha ido fazer?
Meu estômago despencou meio quilômetro quando a ouvi me chamar.
“Gabrielle? Sei que ainda está acordada”.
“Hum… um sapo me acordou. Algum problema?”
“Nenhum, só estranhei você estar desperta e imaginei se você não estava com algum problema. Está preocupada com o Atiminius?”.
Aproveitei a deixa e me virei pra ela.
“Pra falar a verdade estou um pouco preocupada sim. Também está um pouco mais frio hoje. Onde está o Marcus?”.
“Foi dar um volta noturna. É uma coisa que ele gostava muito de fazer quando estava vivo da última vez”.
“Porque você não foi com ele?”
“Não queria deixar você aqui sozinha por muito tempo”.
Era muito bobo, mas uma parte de mim ficou feliz por ela ter deixado de passear com ele por preocupar-se comigo.
“Vem pra cá” disse ela casualmente batendo no lugar ao lado dela no lençol “realmente está bem frio hoje”.
Hesitei bastante pois apesar de termos o hábito de dormirmos perto nas noites mais frias, não sabia se aquilo era uma boa idéia depois do pequeno affair imaginário que eu acabara de ter. Minha hesitação deve ter transparecido em meu rosto porque ela levantou uma sobrancelha. “Qual o problema?” Ela perguntou.
“Nenhum” respondi rapidamente, o que fez ela ficar ainda mais desconfiada, “só imaginei que talvez você quisesse dormir perto do Marcus hoje”.
Ela sorriu suavemente.
“Não se preocupe, o Marcus não vai dormir, quer aproveitar todas as horas que lhe restam bem acordado. Agora deixe de coisas e venha” ela falou enquanto ela mesma se esticava em cima do pano e puxava uma pele grossa sobre ela. Corri para debaixo da pele e me aconcheguei perto dela. Podia sentir seu calor e uma felicidade estranha e inesperada se apossou de mim e senti meus lábios se esticarem num grande sorriso.
“Boa noite Gabrielle”, ela disse nume voz sonolenta.
“Boa noite Xena”, eu respondi também com sono, sentindo-me em paz, como se eu estivesse no exato lugar em que eu devia estar, como se eu estivesse em casa. Quaisquer pensamentos ou reflexões teriam que ficar para depois, pois naquele momento eu tinha tudo que eu precisava.
FIM
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