Fanfics sobre Xena a Princesa Guerreira

    PARTE  2

    Elas ficaram se fitando como que em um transe, até que Vivien reagiu. Ela se voltou para ir embora.

    -Espere!… – Pediu Audrey, com voz alterada por emoção – Eu quero conhecê-la melhor! Fique! Eu sou Audrey, a noiva de seu irmão!

    Vivien se virou para ela e a fitou, enquanto mil pensamentos passavam por sua mente. Que loucura havia feito! Aquela moça iria contar ao seu irmão ou ao seu pai que a vira ali, observando o salão pela janela, escondida. E seu pai iria ficar furioso pela sua desobediência.

    Não que tivesse medo dele, mas temia que ele passasse mal.   O médico aconselhara à ela, seu irmão e sua madrasta, que evitassem aborrecer o velho Talbot. Isso era perigoso para sua saúde. Esse aviso a fez ficar mais cordata com as vontades do seu pai. Faria tudo para não aborrecê-lo,  menos usar um vestido ou se casar.

    O melhor a fazer era ir embora. Já havia conhecido a noiva de Vicent, sabia como era, e isso era o suficiente. Era melhor ir embora antes que as coisas se complicassem. Estava fascinada pela beleza de Audrey Lancaster, e isso não era bom.

    Assim, se voltou mais uma vez e se afastou quase correndo. Desamarrou o cavalo da árvore e pulou na montaria com agilidade, saindo em disparada. Saiu evitando mais uma vez a saída principal, galopando entre as árvores e sumindo na noite de lua cheia.

    Audrey suspirou tristonha com a atitude da irmã de seu noivo, mas sorriu quando pensou que quando se casasse, iria conhecê-la    melhor. Deus, ela era muito parecida com Vicent! Mas ela tinha graça nos movimentos, um porte de rainha, o que faltava ao noivo. E aqueles belos cabelos compridos, suavizando seus traços marcantes e fortes…ela era linda!

    Voltou para dentro de casa e logo Vicent se acercou dela com olhar preocupado.

    -O que estava fazendo lá fora sozinha?

    Ela o fitou indecisa. Devia contar que estivera com a irmã dele? Não. Vicent já havia lhe explicado que sua irmã não havia vindo à festa por ter sido proibida pelo seu pai. Não havia explicado o motivo e Audrey não havia perguntado. E se contasse que Vivien estivera lá fora, ela  poderia  ser castigada pelo pai. Então, olhou para o noivo com ar inocente, dizendo:

    -Fui tomar ar fresco. Aqui dentro está fazendo calor.

    -Minha princesa, não fica bem deixar o seu noivo sozinho no salão – Disse ele, pegando a mão dela.

    Ela o fitou com frieza.

    -Eu sempre andei pela propriedade de meu pai sem ser censurada. Não será você que vai impedir-me dessa liberdade.

    Vicent ficou vermelho. Já havia bebido duas doses de uísque e seu temperamento habitualmente pacato estava um pouco agressivo, pelo ciúme que sentia da bela Audrey. A alegação dela o irritou. Puxou-a pela mão até  à pequena biblioteca da casa e fechou a porta, voltando-se para encarar a noiva.

    -Audrey, por que você não gosta de mim? Qualquer moça de Charleston estaria feliz se eu a escolhesse para casar, mas você se comporta como se eu fosse o pior pretendente da cidade!

    Ela o encarou, intimamente concordando com ele. Realmente, qualquer mocinha na cidade estaria nas nuvens por ser a escolhida de Vicent Talbot. Ele era bonito, rico, filho de uma família tradicional. Então, por que não estava feliz por ser a escolhida? Antes do pedido de noivado, pensava que a sua falta de interesse no rapaz se devia ao fato de considerá-lo um conquistador barato que  queria que ela fosse mais uma de suas conquistas, mas ele já havia provado que realmente estava sendo sincero com ela, tendo pedido sua mão em casamento. O que a impedia então de gostar daquele rapaz? Não sabia.

    Vicent a fitava impaciente por uma resposta.

    -Por que, Audrey? Por que não gosta de mim? Exijo uma resposta!

    Ela o encarou franzindo o cenho.

    -Não pode exigir-me nada! Não o incentivei a ser meu noivo!

    Vicent foi tomado por uma súbita raiva. Pegou-a entre os braços e a puxou contra o peito, apertando-a contra seu corpo.

    -Talvez você precise de ser domada! – Disse ele, descendo a boca e beijando Audrey violentamente nos lábios. Ela tentou soltar-se, fazendo força para empurrá-lo, mas ele era mais forte. Ele a prendeu em um abraço e  tentou enfiar a língua entre os dentes dela, para sugar sua boca, mas Audrey trincou os dentes, impedindo a tentativa.

    Audrey sentiu uma sensação de profundo asco quando sentiu o membro duro do rapaz contra ela. Em reação, abriu os dentes e mordeu o lábio inferior de Vicent com força, fazendo-o empurrá-la e gemer alto. Eles se fitaram à um passo de distância, ambos agora irados e  respirando fundo.

    Vicent colocou a mão na boca e a olhou, ficando mais encolerizado ao ver o sangue que saía de seu lábio. Olhou-a com a face vermelha de raiva.

    -Sua gata selvagem! Você vai pagar-me por isso! – Disse ele, pegando um lenço no bolso do terno e apertando contra a boca.

    -Seu bastardo! E você não é um cavalheiro, desrespeitando-me como se eu fosse uma das mulheres da Casa Vermelha! – Retrucou Audrey, em tom revoltado.

    Nesse momento, a porta da biblioteca abriu e o pai de Audrey entrou, olhando-os suspeitosamente.

    -O que estão fazendo sozinhos aqui?

    Os jovens não responderam, constrangidos. O velho Lancaster, que não era nada bobo, percebeu que algo havia acontecido. Percebeu o sangue nos lábios do rapaz, seu rosto vermelho. O olhar desceu para o volume na calça de Vicent, e depois para o ar culpado de Audrey, evitando seu olhar, baixando os olhos.

    O velho encarou Vicent com ar ofendido.

    -Saia, Audrey. Eu preciso falar com esse rapaz à sós.

    Ela olhou para o pai com receio.

    -Pai, não é o que pensa…

    -Eu disse para sair! Vá!

    Audrey baixou a cabeça e saiu rapidamente. O velho Lancaster fechou a porta com o trinco e voltou-se para Vicente, que o fitava nervoso.O sinal de sua excitação se fôra por encanto.

    -Bem, Vicent Talbot, não tenho nenhuma dúvida do que aconteceu aqui. Você desrespeitou sua noiva, querendo possuí-la à força. Debaixo de meu teto, fez esse ato indigno, lançando a desonra em nosso nome!

    Vicent o fitou com medo no olhar.

    -Senhor Lancaster, eu apenas a beijei… não houve nada além disso…

    -Meu rapaz, o modo que você a beijou já foi o suficiente para tirar a inocência de minha filha! Um tipo de beijo que só se dá à uma rameira! Eu vi sua excitação, rapaz, estava evidente!

    Vicent ficou vermelho e baixou os olhos.

    -Eu… peço desculpas… – Balbuciou o rapaz – Ela foi a culpada de fazer-me agir assim, senhor Lancaster! Audrey parece ter nojo de mim! Eu… eu forcei o beijo…porque ela  irritou-me com suas palavras…

    O astuto velho viu que tinha o assustado rapaz nas mãos. Se ele não fosse o herdeiro de Charles Talbot, teria mandado os criados expulsá-lo dali como um cão sem dono. Mas aquele rapaz medroso era uma mina de ouro. Ele ter escolhido sua filha única para se casar era como se ele tivesse ganho na loteria. E esse casamento tinha que se concretizar à qualquer custo. Suas finanças andavam de mal a pior e esse casamento era sua única esperança de não ser arruinado.

    Assim, falou com falsa compreensão:

    -Que palavras ela falou, meu rapaz?

    -Bem…ela disse-me que eu não posso exigir nada dela, porque não me incentivou em nada para eu ser seu noivo. Eu me senti desprezado por ela… e a beijei pensando que ela precisava ser domada… – Disse Vicent, sem encará-lo.

    O velho sorriu. Seria fácil persuadir aquele idiota a casar logo. Pousou a mão no ombro de Vicent, falando gentilmente:

    -Rapaz, eu entendo você, porque já tive a sua idade. Se fosse um pilantra, eu já teria mandado o meu capataz lhe dar uma boa surra e expulsá-lo daqui a pontapés.

    Os olhos de Vicent se arregalaram e ele empalideceu, engolindo em seco.

    -Sr. Lancaster, eu amo sua filha! Ela quem não gosta de mim!

    -Meu rapaz, você é jovem, e ainda não entende as mulheres, como eu. Uma mulher   joven  é igual à uma égua chucra: precisa ser domada para obedecer ao marido, para procriar e cuidar da casa. Você tem que ser forte e rigoroso com sua mulher, quando casar-se. Então, ela aprenderá a respeitá-lo e fazer o que você mandar.

    Vicent ergueu o rosto, fitando o rosto do velho.

    -Senhor, eu quero uma mulher que me ame, e não que   tenha medo de  mim!

    -Bobagem! – Disse o velho, acendendo um charuto e dando várias baforadas, deixando Vicent tonto – O amor vem com o tempo! E Audrey acabará se apaixonando por você! Mas agora, acho que vocês devem se casar o quanto antes! Você ultrapassou os limites da decência com ela! E se você não quiser casar, meu rapaz, vai se arrepender amargamente!

    -Senhor! – Disse Vicent, pálido de medo – Eu me casarei com Audrey o mais breve possível!Prometo!

    -Muito bem, rapaz, cumpra seu dever de cavalheiro! Vamos marcar a data com seu pai! Fique aí, vou chamar seu pai para combinarmos.

    Vicent olhou o velho com o coração disparado. Ele tinha razão. Audrey iria aprender a amá-lo, depois do casamento.

     Bertran Lancaster chamou Charles Talbot para uma conversa reservada na biblioteca e em poucas palavras explicou o que havia acontecido. O pai de Vicent olhou para o filho com preocupação.

    -Você confirma o que Lancaster relatou, Vicent?

    Vicent baixou os olhos, envergonhado.

    -Sim… eu… perdi a cabeça, meu pai… eu … sinto muito…

    Charles Talbot fez um gesto com a mão erguida.

    -Pare de se desculpar. Você apenas agiu como o macho que é, meu filho! Eu faria a mesma coisa, se minha noiva me falasse o que Audrey Lancaster falou à você! – Disse Charles Talbot, com altivez. Ele encarou o velho Lancaster e falou com orgulho:

    -Meu filho é um gentleman, Lancaster, e certamente não fugirá de suas responsabilidades como noivo! A sua filha é quem foi atrevida e desrespeitosa com o noivo, falando palavras de desprezo e o mordendo!

    -Meu pai, eu amo Audrey, e continuo querendo casar com ela!

    Charles Talbot fitou o filho.

    -Eu sei que você ama essa moça,  Vicent. Por isso eu apoiei esse casamento e continuo apoiando. Mas se você não a quisesse mais, não haveria ninguém no mundo que o obrigasse a casar com ela por causa de um beijo mais impetuoso!

     O velho Lancaster olhou para Charles Talbot com o cenho franzido.

    -Senhor Talbot, minha filha é uma moça direita! Seu filho foi o primeiro homem que a beijou e ficou sozinho em um aposento com ela! Se ele não se casar com ela, nenhum outro rapaz honrado vai querer, porque ela  será o alvo dos comentários maliciosos da cidade!

    Charles Talbot se levantou do sofá. Era alto como o filho, um pouco mais corpulento, de olhos azuis. Uns dois palmos mais alto que o velho Lancaster, que era baixinho e gordo. Fitou-o estreitando os olhos.

    -Muito bem, o que quer de meu filho?

    -Quero que se case o quanto antes com minha filha. A honra dela…

    -Não comece a cantilena, Lancaster. Vamos marcar o casamento para daqui dois meses, está bom? Sua filha tem que mandar fazer o vestido de noiva, os convites…

    O velho Lancaster sorriu astutamente.

    -Dois meses está ótimo, Sr. Talbot! Eu sabia que o senhor entenderia o problema, pois é um gentleman, como seu filho!Posso anunciar o evento para os convidados?

    -Sim.

    -Então, vamos lá!

    Eles foram para o salão. Alguns pares dançavam ao som  que três músicos produziam, com uma acordeon, um banjo e um trompete. Outros convidados conversavam em grupos. E Audrey conversava com duas amigas de infância.

    O velho Lancaster pegou a filha pela mão e a levou até onde estavam Charles Talbot e o filho, falando alto:

    -Atenção todos!

    Os músicos pararam de tocar e todos olharam para o velho Lancaster. Ele pegou com a mão livre a mão de Vicent.

    -É com prazer que anuncio o casamento de minha filha Audrey com Vicent Talbot para dentro de dois meses! Vocês receberão depois o convite com a data exata! Estou orgulhoso e feliz pela união de nossas famílias! Obrigado pela atenção!

    Audrey olhou para o pai atônita. Depois, para Vicent. Ele sorriu para ela e tomou sua mão, sob aplausos dos convidados. Os músicos recomeçaram a tocar, dessa vez uma animada valsa. Vicent enlaçou a cintura de Audrey e começaram a dançar.

    Ele a fitou nos olhos e falou com determinação:

    -Aceite o fato, Audrey. Você será minha!

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    Deitada em sua cama, Vivien lembrava do momento em que vira Audrey Lancaster.

    Tão linda e fascinante, naquele vestido azul! Parecia saída de um sonho, ou de um conto de fadas.Aquele rosto angelical, aqueles olhos verdes a tinham cativado instantâneamente.E aquela boca vermelha, de desenho perfeito, parecia um morango maduro e saboroso, tentadora para ser provada…

    Vivien suspirou. Ela nunca tinha visto uma mulher tão fascinante, que a atraísse tanto. Vicent tinha razão em estar tão apaixonado. Ela era simplesmente encantadora! Audrey Lancaster era uma mulher para tornar um homem seu escravo. Ela não devia ter mais que dezesseis anos, uma flor desabrochando sua beleza esplendorosa.

    Audrey. A noiva de seu irmão. Não devia apaixonar-se por ela, mas já estava. Como o destino era cruel! Apaixonar-se por uma mulher que jamais poderia ser sua. Não tinha a menor chance de competir com seu irmão, nem queria. Amava muito seu irmão, para pensar em traí-lo. O que devia fazer era se acostumar com a idéia de ser apenas a cunhada de Audrey, mesmo que seu coração sangrasse de paixão.

    Duas lágrimas escorreram de seus olhos azuis.

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    Charleston, 12 de abril de 1861

            O dia amanheceu  como outro qualquer na fazenda de Charles Talbot. Mas nesse dia iria acontecer algo que faria  nada ser  como antes.

            Vivien ainda  dormia quando ouviu vozes agitadas fora de casa. Ela saltou da cama e foi até a janela, abrindo-a e olhando para baixo. Douglas Masterson falava com o capataz, mostrando um papel na mão, agitado.

            -Vá acordar seu patrão, John! Quero dar a notícia à ele!

            -Vou fazer isso, mister Masterson! – Disse John, entrando na casa correndo.

            -Mister Masterson! – Gritou Vivien, debruçando-se na janela – O que está havendo?

            Ele ergueu o rosto excitado e gritou com orgulho na voz:

            -É a guerra, miss Vivien! Começou hoje! Agora os ianques vão sentir a força e a coragem dos   sulistas! A artilharia confederada está bombardeando o  Fort Sumter, em Charleston Harbor, desde às 4:30 da madrugada!

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