Parte V
por Fator X - LegadoPARTE 5
Deidre indicou o sofá, com um gesto.
-Sente-se, senhor Talbot, vou examinar sua mão.
Vivien sentou e Deidre sentou ao seu lado. Vivien sentiu um suave perfume de gardênia que ela exalava. Era um cheiro de sabonete, um cheiro que se misturava com o aroma da pele de Deidre, que Vivien achou altamente erótico.
Vivien suspirou. Estava mesmo precisando ter alguém em sua vida. Há tanto tempo não beijava sequer alguém, que um simples perfume a excitava. Teve medo de Deidre perceber .
Deidre olhou para sua mão, preocupada.
-Está doendo muito? Logo Genie trará a a caixa curativos.
-É uma dor suportável, senhora Mackena.
Deidre sorriu, mostrando os dentes perfeitos.
-É um homem muito educado, sr. Talbot. Qualquer outro estaria nervoso e xingando-me.
-Seria um sacrilégio xingar uma dama como a senhora – Disse Vivien, sem pensar muito.
O sorriso de Deidre se ampliou e ela enrubesceu encantadoramente.
-Obrigada, senhor. É muito gentil.
Vivien arrependeu-se da frase que dissera. Deidre iria pensar que estava cortejando-a. Mas já estava dito.
A criada chegou com a caixa de medicamento, entregou à Deidre e saiu. Deidre abriu-a e retirou algodão, mercúrio cromo e gaze. Olhou para Vivien, molhando um chumaço de algodão no alcool.
-Dê-me sua mão. Vou desinfetar as feridas.
Vivien estendeu a mão. Felizmente as feridas da mordida do cão eram pequenas, apenas dois furos minúsculos.
Deidre segurou na mão de Vivien delicadamente, passando o algodão na ferida com cuidado. Reparou naquela mão de dedos longos e elegantes, de unhas cuidadosamente aparadas. Era uma mão grande, mas delicada, quente e macia.
Deidre sentiu um arrepio percorrer seu corpo.
Com halilidade, passou também mercúrio nos ferimentos e depois colocou uma pequena gaze e esparadrapo, para proteger o curativo.
Vivien sentira uma estranha perturbação com o toque da mão de Deidre. E notou que sua mão tremia com o toque de Deidre. Suas mãos estavam trêmulas, denunciando que estava nervosa, por mais que tentasse se mostrar tranqüila. Diabos, o que estava acontecendo? Estava nervosa por quê? Estava acaso atraída por Deidre? Como podia isso acontecer, se estava apaixonada por Audrey?
-Pronto, acabou – Disse Deidre, erguendo a vista, guardando os medicamentos na caixa – Procure não molhar o ferimento, pelo menos até amanhã.
Vivien fez menção de erguer-se.
-Obrigado. Agora, devo ir-me.
Deidre a segurou pelo braço, sorrindo.
-Antes, tome um chá comigo, sr. Talbot. É o mínimo que posso fazer para reparar o mal que meu cão fez ao senhor.
Vivien retribuiu ao sorriso, voltando a sentar. Surpresa, descobriu que não estava com vontade de ir embora. Mas perguntou, preocupada:
-Não vai haver problema? A senhora está sozinha em casa… não é muito apropriado uma senhora sozinha em casa receber um homem que acabou de conhecer… não quero que arruine sua reputação por minha causa.
Deidre fitou Vivien com um sorriso tranqüilo.
-Senhor Talbot, sou uma mulher que não se prende à convenções que cerceiam a liberdade da mulher. Eu vivo de acordo com minha consciência, e não acho que estou fazendo nada condenável em oferecer ao senhor um chá. Fique tranqüilo, não me abalo pelo que as pessoas falam de mim.
-Oh… eu apenas … bem… está bem, aceito o chá.
Deidre sacudiu um sinete de prata e a criada apareceu, pressurosa.
-Sim, madame?
-Getie, sirva-nos um chá com biscoitos.
-Vou providenciar, madame – Disse a criada, se retirando.
Deidre olhou para Vivien avaliadoramente. As roupas eram elegantes, caíam bem naquele corpo esguio e alto. O aroma da colônia de Vivien penetrou em suas narinas deliciosamente.
Vicent Talbot era um homem raro, pensou Deidre, que se importava em estar exalando um aroma agradável, e não cheiro de suor. Mais um ponto à favor dele. Iniciou a conversa, querendo matar sua curiosidade:
-Mora sozinho em sua casa, ou com sua família, senhor Talbot?
-Moro apenas com minha criada, senhora Mackena.Como deve ter notado por meu sotaque, sou sulista e saí de Charleston fugindo da guerra.
-Oh… tem família grande lá em Charleston, senhor?
-Não. Meus pais são falecidos e tenho apenas um irmão gêmeo que está lutando na guerra – Respondeu, sem mentir – Eu vim para New York cuidar dos negócios da família.
Deidre sentiu surpresa com a resposta de Vivien. Sabia que em tempo de guerra, muitos homens jovens se casavam com as noivas ou namoradas, querendo possuí-las logo, porque talvez não voltassem mais e queriam deixar uma descendência. Era a afirmação da vida diante da ameaça de morte. Mas Vicent Talbot fizera algo diferente: viera para New York cuidar dos negócios da família. Não havia se juntado às tropas confederadas em um impulso de patriotismo impensado, como os outros. Isso acirrou sua curiosidade:
-Por que não se alistou para a guerra, senhor Talbot? É por acaso um pacifista?
Os olhos de Vivien encararam Deidre com gravidade e disse com voz contida:
-Não sei se posso ser chamado assim, senhora Mackena. Para mim, um pacifista é alguém que defende ardorosamente seu desejo de paz, participando de movimentos para esse objetivo. Eu apenas considero essa guerra uma grande loucura, compatriotas se matando por uma causa que poderia ser resolvida com negociações. Ninguém é vencedor de uma guerra, porque em todas as facções há perda de vidas. Por não acreditar nessa guerra, vim para New York cuidar dos negócios.
Deidre sorriu suavemente, encarando aqueles magníficos olhos azuis.
-Você é um pacifista, Vicent Talbot! Somente com essas poucas palavras, disse um eloqüente discurso sobre a guerra. E é isso que os pacifistas fazem, tentam mudar mentes com palavras, não com armas.
Vivien sorriu.
-Bem, nunca pensei nisso. E a senhora? É também contra a guerra?
-Todas as pessoas sensatas são sempre contra a guerra, senhor Talbot.Aliás, posso tratá-lo por Vicent? Você é tão jovem, deve ser da minha idade, para eu ficar tratando-o tão formalmente.
Vivien a fitou surpresa. Era totalmente inadequado uma mulher tratar um homem que não fosse seu marido ou namorado pelo primeiro nome, mesmo sendo de idades próximas, como elas pareciam ser. Mas isso a agradou em Deidre. Ela mesma detestava o excesso de formalidade de sua época.
-Bem… pode, senhora Mackena. Mas também permita-me tratá-la apenas por Deidre. Mas com uma condição: somente quando estivermos à sós. Não quero comprometer sua reputação.
Deidre sorriu encantadoramente, os belos olhos verdes brilhando.
-Eu não ligo muito para o que pensam de mim, Vicent. Sou assim, detesto hipocrisia e as convenções de nossa sociedade. Muita gente na cidade que resido acham que sou louca, porque vivo além de nossa época. Dirijo os negócios de meu falecido marido, escrevo poesias, saio sozinha e defendo o voto para as mulheres. Eu acho que as mulheres são muito oprimidas pela sociedade, sem nenhum direito.
Vivien a fitou cheia de admiração. Uma sufragista! E uma mulher que lutava contra a opressão masculina, que agia como desejava, mesmo se expondo à críticas! Mais corajosa que ela própria, que havia se escondido sob uma identidade falsa para ter liberdade. Na pele de Vicent, ela não estava exposta às críticas e condenações, como Deidre. Comparando-se com ela, sentia-se uma covarde.
Deidre entendeu mal o seu silêncio. Fitou-a meio decepcionada.
-Está chocado com minhas idéias, não é, Vicent? Eu estou acostumada à essa reação dos homens. Eles se afastam de mim, quando exponho minhas idéias.
Vivien, em um impulso, segurou a mão de Deidre e a apertou suavemente, fitando-a com um sorriso.
-Não estou chocado, Deidre, mas sim cheio de admiração pela sua coragem. É uma mulher excepcional e a admiro por suas idéias, com as quais concordo plenamente. A mulher, em nossa sociedade, é muito oprimida. Somente o fato de não poder recusar o homem que seus pais aprovam para ser seu marido, é uma prova do que digo.
Deidre a fitou com olhar espantado, enrubescendo. A mão dela tremeu dentro da mão de Vivien, que era maior. Vivien soltou a mão dela, sorrindo. Deidre suspirou e falou, cheia de admiração:
-É o primeiro homem a quem exponho minhas idéias e não me recrimina, Vicent! Oh, ainda há uma esperança para mulheres como eu! Devem haver outros homens como você, de mentes abertas!
Vivien sentiu uma grande vergonha por estar enganando aquela moça com sua falsa identidade. Pobre Deidre! Não havia homem algum que desse razão às idéias dela. Porque também era uma mulher, e não um homem de mente aberta, como ela pensava.
-É uma luta difícil a sua, Deidre. Vai encontrar sempre muita incompreensão em seu caminho, mas faço votos que consiga o que quer.
-Eu sei que é difícil ser como sou, Vicent. Mas não é um sonho impossível. Um dia as mulheres serão livres para trabalhar fora de casa, votar, ter sua opinião respeitada e escolher seu próprio destino, além de um casamento.
-Sim, acho que no futuro isso será possível. Mas em nossa época, acho pouco provável. O homem só vê a mulher como uma pessoa para ser a mãe de seus filhos, serví-lo e obedecê-lo. Isso é lastimável – Disse Vivien, com sinceridade.
Deidre a fitou cheia de admiração.
-É um homem raro, Vicent, com idéias liberais e avançadas. A mulher que for sua esposa será uma mulher muito feliz!
Vivien enrubesceu e baixou os olhos, sentindo-se envergonhada de receber aquele elogio que não merecia. Deidre pousou a mão em seu braço.
-Não fique encabulado, Vicent. Você nem imagina como é horrível para uma mulher ser casada com um homem que detesta, devido à um casamento imposto!
Vivien ergueu os olhos, fitando-a com curiosidade.
-Você era feliz em seu casamento, Deidre?
A criada chegou com uma bandeja, depositando-a sobre a mesinha de chá. Deidre despediu a criada e ela mesma serviu Vivien.
-Açúcar? – Perguntou ela, com voz suave.
-Não, está bom assim, obrigado.
Deidre estendeu a xícara de chá para Vivien e seus dedos se tocaram. Vivien sentiu-a estremecer, tremendo também. Deidre enrubesceu, baixando os olhos para a xícara, enquanto colocava açúcar e mexia.
-Respondendo sua pergunta, devo dizer que não era feliz. Eu casei-me sem amar o meu marido.
-Por que casou-se sem amar ao seu marido? Casou-se por imposição de seus pais? – Perguntou Vivien, sabendo muito bem que aquelas perguntas eram inapropriadas para um homem perguntar à uma mulher que mal conhecia. Mas Deidre não era uma mulher comum, ligada às convenções.
Deidre ergueu os olhos, fitando-a. Agora parecia calma e controlada.
-Sim, como a maioria das mulheres de nossa sociedade, casei-me por imposição dos meus pais. Jefferson era um homem rico e meus pais acharam que era o melhor partido que eu poderia arranjar. Não tive chance de recusar. Eu era uma mocinha de dezessete anos que temia o pai. Mas eu aprendi que ser subserviente não é a melhor forma de ter algum direito.
-Oh… deve ser horrível ser casada dessa forma, não?
Deide tomou um gole de chá, antes de responder, com olhar pensativo:
-Realmente. Meu marido era o oposto do homem que eu sonhava encontrar.
-E como era o homem que sonhava, Deidre?
Os olhos verdes se fixaram nos de Vivien com um brilho súbito.
-O homem de meus sonhos era um homem que me considerasse um ser igual à ele em inteligência e direitos. Um homem terno, compreensivo, sem a arrogância masculina de achar que as mulheres só existem para procriar e serví-los. E meu marido não era nada disso. Era autoritário, arrogante, sem sensibilidade.
-Oh… lamento ouvir isso.
Deidre sorriu, fitando-a nos olhos.
-Não lamente, Vicent. Eu acho que a experiência foi importante para mim e o saldo foi positivo. Eu deixei de ser uma garotinha amedrontada. Cresci como mulher. Meu marido era um homem cheio de arrogância, mas quando ficou doente, reconheceu os seus erros e pediu-me perdão. Ele morreu em meus braços, vítima de pneumonia.
–
Vivien achou que já havia demorado ali o bastante. Ergueu-se.
-Bem, agora devo ir-me, Deidre. Tenho coisas a fazer em casa.
Ela ergueu-se também, fitando Vivien com um sorriso encantador.
-Hoje à noite irei à uma festa de amigos. Será uma festa com poucos convidados, devido à guerra. Não gostaria de acompanhar-me, Vicent? Garanto que se divertirá, meus amigos são pessoas muito inteligentes e divertidas.
-Bem… não sei… seus amigos não me conhecem e sou um sulista…
-Oh, tenha certeza que meus amigos não se aborrecerão com esse detalhe, eles são todos pacifistas e contra essa guerra insana. Por favor, quer fazer-me companhia?
Vivien não resistiu à aquele olhar implorativo. Sorriu, pegando a mão dela entre as suas.
-Está bem, você venceu… a que horas devo vir buscá-la?
Deidre sorriu deliciada, apertando sua mão suavemente.
-Às sete e meia da noite, eu já aluguei uma carruagem que virá me buscar essa hora.
-Está bem. Estarei aqui.
Deidre a levou até a porta e Vivien se foi, pensando se fizera a coisa certa. Mas estava cansada da solidão em que vivia. Deidre viera colorir seus dias.
Vivien chegou à porta da casa de Deidre pontualmente. E ela veio recebê-la linda, em um vestido de veludo verde, com um belo chale de lã branco, os olhos luzindo como estrelas.
-Boa noite, Deidre – Disse Vivien, se inclinando galantemente, pegando a mão enluvada que lhe foi estendida – Devo dizer que está encantadora, esse vestido é de muito bom gosto e lhe cai divinamente.
Deidre fitou o jovem que lhe sorria, sentindo uma doce emoção. Ele estava impecável em seu terno de tweed escuro, camisa de seda branca e chapéu de feltro negro, de abas curtas, a última moda vinda de Paris. Vicent Talbot era um homem elegante, e um gentleman.
-Oh, obrigada, Vicent! E você também está muito elegante. Entre, a carruagem não deve demorar, mas está frio aqui fora.
Eles iam entrar, mas nesse momento a carruagem chegou e parou diante da casa. Deidre apanhou sua pequena bolsa de veludo rapidamente na sala e saiu com Vivien, que galantemente lhe ofereceu o braço, para ela caminhar até a carruagem. Deidre pousou a mão em seu braço e Vivien sentiu pela primeira vez a deliciosa emoção de conduzir uma bela mulher para uma carruagem como qualquer cavalheiro de boa educação.
Eles embarcaram na carruagem e ela saiu, levando o casal para a festa.
Vivien mergulhou em um silêncio cheio de nervosismo, sentada ao lado de Deidre. O que dizer, como se comportar? Não tinha nenhuma prática em manter conversa com damas em uma carruagem, sentada tão próxima! O que um homem faria, nessa situação? Sobre o quê conversaria? Não queria parecer um idiota.
Mas Deidre logo a deixou à vontade, falando sobre seus amigos. Contou que eram pessoas ligadas de alguma forma à arte, que se conheceram em eventos culturais e se reuniam uma vez por mês para falarem sobre isso, dançar, ler poesias e cantar. Ela os conhecera ainda solteira, havia se afastado do convívio quando se casara e fôra para Massachusetts, mas agora estava voltando ao convívio deles.
-Eu pretendo voltar a morar aqui em New York, depois que vender minha casa em Massachusetts – Completou Deidre – E comprar uma aqui.
-A casa em que está não é sua? – Perguntou Vivien.
-Não, é de uma amiga, que emprestou-me para passar alguns dias.Vim passar as festas com meus pais, mas preferi ficar hospedada fora da casa deles. Eu e meu pai não nos damos muito bem, ele desaprova totalmente minhas ações. Acha que é uma vergonha eu estar dirigindo os negócios de meu falecido marido.
-Qual o tipo de negócios de seu falecido marido?
-Uma fábrica de tecidos. Com a guerra, os negócios se ampliaram.Fabricamos por encomenda os tecidos dos uniformes dos soldados. Mas eu pretendo vender a fábrica e montar uma escola, quando a guerra acabar.
Pouco depois, chegaram à casa onde haveria a festa. Era uma casa grande e confortável em uma rua arborizada. Foram recebidas por uma mulher magra de cabelos grisalhos, muito simpática. Deidre fez as apresentações e a mulher sorriu para o belo e elegante rapaz que a cumprimentou beijando sua mão galantemente.
-Entre, meu jovem rapaz, esteja à vontade – disse a mulher, fazendo um gesto com a mão.
Vivien entregou o chapéu à criada e Deidre o chale. Avançaram para o salão, onde grupos de pessoas conversavam e bebiam.
Vivien foi apresentada à várias pessoas, sendo acolhida com cordialidade, o que a aliviou. Os homens eram todos bem mais velhos que aquele “rapaz” ainda imberbe e as mulheres beiravam os trinta anos. Então, Vicent e Deidre eram o casal mais jovem e não representavam ameaça para ninguém.
A festa começou com a apresentação de uma soprano cantando uma peça musical, seguida por um pianista que tocou com brilhantismo uma alegre valsa, que era a nova febre dos salões, popularizada por Strauss nas grandes cidades do mundo. Depois, Deidre foi chamada para declamar uma poesia de sua autoria. Ela tomou lugar no centro do salão e disse, com um sorriso tímido:
-Vou declamar um poema que escrevi dias atrás. Se chama “Procura”.
E ela começou, com ar sonhador, sem fitar ninguém em especial:
Quando me for, o que deixarei?
Restos de saudade, alguém que não beijei?
Encontrarei a compreensão que tanto almejei?
Um mundo de amor, que aqui não encontrei?
Serei feliz, como nunca fui em vida?
Serei lembrada por alguém, ou logo esquecida?
Serei só um nome, esquecido no tempo?
Apenas uma cruz a se desfazer no vento?
A vida só tem sentido se houver amor!
Mas eu ainda não o encontrei!
Então, quando me for, o que deixarei?
Ah, o amor… como será esse sentimento?
Como nos romances, intenso e arrebatador?
Ou apenas causador de inefável dor?
Quero sentí-lo, mesmo por um breve instante!
Amar e ser amada, quão divino deve ser!
Em um beijo apaixonado, de prazer enlouquecer!
Amor, dádiva dos deuses!
Ah, beijar o ser amado infindáveis vezes!
Lábios com lábios em um beijo sensual
Amar deve ser um prazer sem igual!
Essa última estrofe foi declamada com os olhos de Deidre se encontrando com os olhos de Vivien e se prendendo em um olhar emocionado. Ficaram se fitando como que esquecidas de tudo que as rodeavam, enquanto as pessoas aplaudiam Deidre com entusiasmo.
Voltaram para casa tarde da noite e quando chegaram já era quase uma hora da madrugada. Desceram da carruagem e Vivien conduziu Deidre até a porta dela. Voltaram-se e Deidre a fitou com um sorriso luminoso, os olhos brilhando como estrelas.
-Boa noite, Vicent. Espero que tenha apreciado a noite com meus amigos.
Vivien sorriu, pegando a mão de Deidre e a fitando nos olhos.
-Foi uma noite inesquecível, Deidre. Obrigado. Adorei conhecer seus amigos. São pessoas muito agradáveis e cultas.
-Então, quando o convidar para outras festas, aceitará?
-Com prazer, Deidre.
Deidre sorriu encantada e sem Vivien esperar, ela se ergueu nas pontas dos pés e deu um casto beijo no rosto dela. Afastou-se e entrou, dizendo com um sorriso:
-Boa noite, Vicent.
Vivien ficou ali parada por uns momentos, a mão onde os lábios macios de Deidre haviam pousado. Sorriu maravilhada, mas logo o sorriso sumiu de seu rosto. Deidre não havia beijado Vivien, havia beijado Vicent, um homem. Um bom partido para um casamento, não uma moça desajustada em sua identidade.
Caminhou para casa com ar triste, pensando que o amor não era mesmo para ela poder ter. Audrey, por quem sentira paixão, era noiva de seu irmão. Deidre, por quem se sentia cada vez mais atraída, pensava que ela era um homem. Maldição! Quando ia aprender a ser só, não esperar ter alguém para amar?
Entrou em casa e Mooke veio correndo ao seu encontro, com expressão transtornada. Vivien a fitou surpresa e preocupada.
-O que houve, Mooke?
-O sinhô Vicent! – Disse Mooke, os olhos cheios de lágrimas – Ele tá aqui, miss Vivien! Ele chegô!
No dia 1 de junho de 1863, o general confederado Robert E. Lee, após longa marcha, chega com suas tropas a Guettsburg , à procura de suplimentos para poder continuar sua ofensiva às cidades do norte. Sua brigada ataca a divisão de cavalaria da União em MacPherson Ridge, oeste da cidade. Mas as tropas da União recebem reforços e agora, em maior número, cercam os confederados e os encurralam no cemitério da cidade por 3 dias.
O general Lee decide furar o cêrco, sem saber, por deficiência de comunicação, que poderia ter recuado e se salvado do cêrco, pois a sua retaguarda estava livre.
O ataque se torna um desastre e as tropas confederadas sofrem uma grande derrota, com o general fugindo com o restante das tropas, mas tendo a perda de 5.000 cavalos, 630 canhões, 569 toneladas de munição, 3500 homens mortos, 14.500 feridos, 13.600 desaparecidos ou capturados.
Os confederados jamais se recuperaram dessas perdas, e a batalha de Guettsburg pesou grandemente para a derrota dos confederados na guerra, sendo a mais sangrenta e de maior perda de vidas de todas as batalhas.
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