O primeiro dia fechada nessa casa não havia sido tão fácil como Gabriela chegou a pensar baseando-se em sua facilidade de se relacionar com as pessoas de mais difícil trato. O fato de estar rodeada às 24 horas do dia por seis pessoas das quais não conhecia, se somava à presença de câmeras captando cada um de seus movimentos. Há tempos odiava esse pequeno grande detalhe, não tinha nada que esconder, mas o que tanto queria mostrar? Outras vezes era consciente delas, e era ainda pior, se sentia atuando, e antes que ser falsa preferia mil vezes ser ridícula.

Só sabiam de um lugar onde não havia câmeras e isso era dentro do banheiro. Se é que havia câmeras nos quartos, não tinham idéia, mas o mais provável era que sim.

Não podiam sair do lugar, só ao jardim o qual era o suficiente amplo para que tivesse uma piscina, uma mesa de ping- pong, uns balanços, e bastante espaço. Se haviam ajeitado câmeras no jardim, Gabriela não tinha idéia, nem o resto tampouco, mas seguramente até dentro da piscina deveria haver algumas, disso não havia dúvida.

-E, como é que seus pais deixaram um bebê tão lindo com carinha de inocência como a sua participar em algo assim? – A voz de Andrés meio bocejando chegou a seus ouvidos, enquanto via como o rapaz coçava a cabeça e se agasalhava entre as mantas da cama em frente a sua.

-Vai ver porque um bebê de dezenove anos que se mantém e é independente, não tem que pedir permissão a ninguém para nada. – Era incrível, que de todas as seis pessoas que havia nessa casa, calhou dela ter que compartilhar o quarto justamente com esse personagem em sua primeira semana. Como ninguém entrou em acordo sobre quem compartilharia o quarto com quem, tiveram que tirar na sorte e assim iriam rodando cada semana ou semana e meia, o qual significava que estaria ali dormindo com esse vaidoso pelas próximas seis noites.

-As mulheres nunca se mantêm sozinhas, ainda que trabalhem, ou tenham a idade que tenham, sempre haverá um homem que irá mandar nelas, aceite bonequinha.

-Talvez no seu mundo, no meu é uma história completamente diferente, o seu calendário está atrasado vários anos na sua cabeça. Não se deu conta disso? Ah, não, eu não agüento isto, à noite não pude pregar o olho, dormindo ao lado este energúmeno, eu não posso viver assim.

-Ra, ra, ra, sim, sim, como queira, agora, por favor, feche a porta quando sair, e me deixe seguir dormindo.

-Isto é genial, não há como despertar junto a um tipo como este. Mencionei por acaso que cheira mal como um condenado?- Saiu do quarto pela primeira vez essa manhã, e em vez de usar seu costumeiro pijama curtinho havia tido que optar por um grande com mangas e calças compridas, e havia praticamente se assado.

-Hey, bom dia. Como dormiram? – Sebastián e Isabel apareceram pela porta de seu respectivo quarto, e responderam a sua saudação alegremente. Eles compartilharam o quarto com a muito simpática…

-O que tem de bom? – Carla apareceu imediatamente detrás deles vestindo um babydoll que a simples vista parecia ser cinco números a menos que o seu. Passou por entre os dois jovens e olhou os três com cara de despeito. – Dá licença, preciso de uma ducha.

Antes de entrar no banheiro voltou e dirigiu ao rapaz mais gordo.

-Se esta noite voltar a roncar, vou lhe asfixiar com um travesseiro sem se quer pensar. Captas? – Os três ficaram parados tentando decidir se ela estava falando sério ou era uma brincadeira.

-Rarararara. Será que nessa casa ninguém tem senso de humor?-Piscou um olho para Gabriela, e fechou a porta.

-Ela não me agrada nem um pouquinho, espero que na próxima semana não seja eu quem vai dormir com ela, não seria nada agradável.

José saiu nesse momento de seu quarto, vestia um cômico pijama com ursinhos carinhosos e seu cabelo era um caos total. Ao caminhar se enroscou em sua própria calça que era muito comprida e caiu de boca no chão.

-Ouch! – Todos se olharam entre si e caíram na gargalhada. – Ui, mas que amáveis, não corram tanto para me ajudar.

Gabriela olhou para o interior do quarto, a cama de Xênia estava impecavelmente estendida e ela não se encontrava dentro do quarto. José do chão adivinhou o que estava perguntando a jovem loira.

-Quando despertei já não estava, talvez se arrependeu e fugiu daqui. – O jovem encolheu os ombros.

O pensamento de que isso fosse certo fez que seu estômago se apertasse. Na tarde anterior havia conseguido cruzar três palavras com ela, a jovem havia se mantido afastada do grupo e podia perfeitamente ter ido embora dali.

-Bem, que acham de tomarmos café em família? – José levantou em um salto e seguiu os outros três jovens até a cozinha. Ao passar em frente a uma janela, Gabriela conseguiu ver Xênia no jardim, parecia estar lendo, desta distância seu rosto parecia sereno e despreocupado, a ficou olhando, ma Xênia levantou os olhos justo nesse momento para olhá-la diretamente. A jovem de olhos verdes disfarçou e esquivou o olhar, sentindo-se extremamente envergonhada.

Estúpida, deve ter pensado que a estava espiando. Saco…

 

 

Será que tem medo de mim? Claro que sim, apenas cruzei quatro palavras com ela, e nem sorrir, ela deve pensar que sou uma ogra. A alta jovem levantou a vista ao céu, era uma manhã quente, os raios de sol acariciavam sua pele. E que me importa o que ela pense o deixe de pensar, não estou aqui para fazer amizades. Sua primeira noite na casa havia sido horrorosa, estava envergonhada de cair tão baixo para ingressar em um programa desse tipo. Em primeiro lugar estava sua privacidade, o que mantinha um sólido muro entre suas emoções e a gente que a rodeava, era algo conhecido e aceitado por seus amigos, ninguém havia conseguido derrubá-lo e agora como podia impedir aquilo? Sua vida privada seria conhecida não só pelas pessoas mais próximas, mas também por aqueles que a odiavam, e até aqueles que jamais ouviram falar dela. Havia decidido manter-se o mais afastado possível do resto das pessoas com quem estaria vivendo esse par de meses. As pessoas poderão me ver, mas não lhes darei a satisfação de saber nada importante sobre mim. Baixou os olhos azuis para o livro e esteve assim por alguns minutos, ao terminar percebeu que não tinha nem idéia do que acabava de ler. – Merda, nada como me desconcentrar. Levantou da cadeira onde estava descansando, apagou o cigarro, estirou os músculos e se dirigiu para o interior da casa.

Uma vez dentro e depois de alguns segundos conseguiu distinguir as quatro figuras que estavam sentadas ao redor da mesa, enquanto sua vista ofuscada pelo sol matutino ia se clareando, encontrou com uns olhos verdes observando-a interessadamente por sobre a xícara da qual estava bebendo certamente café.

-Olá. – Saudou a todos enquanto se dirigia a cozinha.

-Sempre é tão madrugadora? – José estava passando manteiga em uma torrada para logo dar uma feroz mordida.

-Depende. Quanto mais tarde eu durmo mais cedo desperto. – Se aproximou da mesa com uma xícara de café na mão, e se apoderou de umas torradas e um potinho de manteiga.

-Isso sim que é diferente. – Sebastián disse observando Isabel que estava preparando um sanduíche de presunto e queijo.

-E vocês como dormiram? – Seu olhara pousou fugazmente em Gabriela que nesse momento estava mordendo uma torrada que estalou entre seus dentes.

-Eu não preguei um olho em toda à noite, não estou acostumada a dormir com estranhos, muito menos com essa classe de estranhos. – A loira mostrou um a expressão de cansaço que foi substituída em seguida por um grande bocejo. Xênia observou divertida como a jovem freqüentemente gesticulava para falar parecendo fascinantes e até hipnóticos seus movimentos faciais.

Hipnóticos? Esta gente que entendida do assunto lhe daria razão, ao estar fechada nessa casa talvez algum dano poderia ser causado ao seu cérebro, e isso em apenas um dia aqui…

-Pode dormir uma cesta logo. – Disse Isabel.

-Nunca faço isso, depois acordo com dor de cabeça, prefiro passar o dia bocejando.

-Bem, as deixo, vou ver um pouco de tv. – Xênia lhe fez um gesto com a cabeça e se dirigiu a sala com sua xícara de café e suas torradas.

Sentou-se no meio do sofá, agarrou o controle remoto e lhe deu o power, para logo se concentrar em untar uma torrada com manteiga e levá-la a boca. Este sofá sim que está cômodo, vou passar o resto da tarde sentada aqui. Sua atenção se dirigiu à tela do televisor, na qual estava passando um vídeo musical que não era precisamente de seu agrado.

-O que está vendo? – Se sobressaiu um pouco ao ouvir a voz tão próxima de si, ao girar o rosto se encontrou com Gabriela agachada atrás do sofá apoiando seu queixo sobre seus braços cruzados e seu olhar atento ao televisor.

-Daria está para começar. – Tomou um gole da xícara de café e sua vista retornou a tela.

-Eu gosto! – A voz de Gabriela soou com entusiasmo Posso ver com você? – A jovem deu um salto por sobre o sofá e se deixou cair nele.

-Não, não pode. – Girou a cabeça até Gabriela, a qual lhe devolveu um olhar surpreendido e a fez parar. –Estou brincando, pode estar onde quiser, não tem que me pedir permissão.

Nesse momento começou apresentação da série e ambas dirigiram sua atenção à tela. Xênia podia ver pelo canto do olho como a jovem loira seguia o ritmo da canção com o pé, enquanto sua boca se movia sem emitir som.

-Lhe ajudo com isso? – Gabriela apontou um dedo para as torradas.

-Tem instinto maternal? Ou eu faço tão mal que você quer passar a manteiga no meu pão?-Observou minuciosamente a torrada em sua mão.

-Na realidade me referia a lhe ajudar a comer, não a pôr a manteiga. Gabriela põe a mão sobre o estômago e deu pequenas palmadinhas com um sorriso que Xênia a olhou de forma terna.

È divertida. Sua boca começou a curvar mostrando um pequeno sorriso ao qual se apagou de imediato ao se perceber dele.

-Afaste suas mãos de minhas torradas, você não comeu as suas? – Xênia levantou um dedo ameaçadoramente.

-Ok, vou me lembrar que você se negou a compartilhar comigo quando eu tiver algo bem gostoso para comer. – Gabriela cruzou os braços e dirigiu sua atenção à frente depois de ter dedicado um pequeno desprezo à morena.

-Está bem, uma só.- Lhe advertiu como se estivesse compartilhando algo muito importante. Estou brincando com ela? Eu não brinco com ninguém…Deve ser pelo fato de estar fechada aqui.

-Obrigada. – Gabriela sorriu satisfeita enquanto dava uma grande mordida no pão.

-Olha, Gabby, você é uma mal-educada, chega e sai e nos deixa aqui na metade do café, estou chateado com você. A voz de José chegou até a sala.

-Não meu querido, é que necessitava urgentemente ver um pouco de tv. – A jovem loira apoiou a cabeça nas costas do sofá enquanto alçava a voz até José. – Que culpa eu tenho de ter sido criada em uma sociedade onde se sentam horas diante deste aparelhinho? – Gabriela voltou a pôr sua atenção na tela do televisor, com um sorriso no rosto. Xênia fingia estar atenta ao que passava na série.

-Sim, claro. – Disse o jovem.

-Eu gosto mais da Jane, é mais sociável, não acha? – Xênia viu de rabo de olho a pequena mão de Gabriela se aproximando dissimuladamente de seu prato de torradas.

-Jane está bem, mas Daria é sem dúvida a melhor. – O pulso de Gabriela se viu aprisionado entre as firmes mãos de Xênia.

-Como…? – Xênia sentiu o olhar cravado em seu perfil.

-Disse uma, não duas nem três, uma. – Indicou com seu dedo indicador, enquanto cravava o olhar nos olhos verdes da jovem. Se via muito engraçada quando se assustava.

-Ah, ah, desculpe. – Xênia percebeu como Gabriela corava um pouco enquanto dirigia seu olhar até sua mão que ainda estava aferrada em seu pulso. Soltou o agarre em seguida.

-Pode comer, de toda maneira não quero mais. Encolheu os ombros, e voltou seu olhar para frente, percebeu um sorriso no rosto da jovem a seu lado.

-Mas, na realidade de quem eu mais gosto é da Quin, não sei, me identifico mais com ela, loira, linda, loira. – Gabriela acariciava o cabelo com uma fingida expressão de vaidade.

-Quem? É brincadeira? Verdade?- Seus olhos olhavam incrédulos à outra jovem. Porque a imagem que tenho de você, não se parece em nada a essa sem cérebro. Embora na beleza poderia ser…

-E que imagem você tem de mim? – Gabriela girou até ela apoiando a cabeça na palma de sua mão.

Merda…Seus olhos azuis se cravaram nos olhos verdes que esperavam sua resposta interessados.

-A imagem de alguém que pelo menos tinha neurônios, algo que não se pode dizer de Quin.

-Ah bem. – A voz da loira soou com um fingido alívio.- Por um momento pensei que me diria que eu era feia.

Olhou para Gabriela com uma expressão de incredulidade, esta estava mordendo tranqüilamente um pedaço de pão.

-Já, sei é brincadeira. – Sentiu a mão de Gabriela dando-lhe um palmadinha no braço.

Que merda está acontecendo comigo? Está me fazendo hesitar, a mim ninguém me faz isso, deve ser minha debilidade por olhos verdes…

-Deixo isso para você, pode comer tudo se quiser, vejo você depois, bye. – Xênia se levantou e se dirigiu a cozinha com a xícara na mão.

-Mas…- Ouviu a voz de Gabriela, mas não prestou atenção.

Isso, que bonito, deveria sentir-se orgulhosa, escapando assim da jovem.

 

 

-Como é que escolheram a você? Olha pra você e não entendo em que se baseou essa gente.- Andrés estava deitado no sofá fumando um cigarro. José olhou para o resto pedindo ajuda com o olhar.

-Você tem que ser sempre tão desagradável? – Gabriela lhe indagava os abusos que ele gostava de dar aos mais fracos.

-E você quem pensa que é? Sua maldita defensora? Ai, sim, é que o boboca do Zezinho não sabe se defender sozinho?- Dois dedos grandes golpearam a fronte do pálido jovem, que não mostrava reação alguma diante da violência.

-E ninguém lhe ensinou a respeitar os outros? – Ouviu estalar os ossos de sua mão, enquanto encontrava um par de olhos azuis que o estavam fulminando com o olhar. Andrés lhe sorriu aflito, mas não recebeu emoção alguma do rosto da jovem.

-Vai, vai, está bem, foi só uma brincadeira minha rainha de olhos azuis. – Piscou o olho, enquanto apalpava a mão. – Como é que tem tanta força esta mulher? Gabriela observou a cena com um sorrisinho de satisfação.

-Tomava leite na infância. – Xênia encolheu os ombros enquanto se dirigia a seu quarto, antes de entrar se virou.-Ah sim, não é só minha força, é que você é um fracote. – E entrou fechando a porta.

-Aiiiii, que malvada é esta mulher. – disse olhando para todos fingindo uma dor. – Mesmo assim gosto dela.-Aumentou a voz, embora temesse que a jovem saísse e lhe rompesse algum osso de verdade.

Gabriela havia tentado voltar a conversar com Xênia, mas não havia conseguido encontrá-la sozinha, sempre Xênia conseguia escapar, e a curiosidade de saber sobre ela, estava se tornando insuportável. A jovem seguia mantendo-se a margem de todos, não compartilhava muito, salvo pelos olhares que às vezes ambas cruzavam, e que faziam Gabriela corar sem exceção, não haviam mantido uma conversa mais do que de coisas triviais. Mas havia algo, algo diferente nela, era diferente de todos os que estavam na casa, diferente de todas as pessoas que ela havia conhecido, não era só o fato de ser enigmática. Havia uma eletricidade especial quando se olhavam, um diálogo sem palavras, algo que ela deveria averiguar.

Sebastián e Isabel eram os mais unidos da casa nesse momento, os jovens eram muito parecidos, e compartilhavam os mesmos gostos, ambos estavam estudando administração de empresas, e conversavam horas sobre temas que só eram interessantes para eles.

-Sabiam que vocês compartilharam muitas vidas juntos? – Olharam para Gabriela que lhes sorriu vendo algo que eles não podiam ver.

-Perdão? – disseram os dois.

-Isso, verão. – disse acomodando-se na cadeira. – Vocês já se conheciam de outras vidas, já compartilharam muito, e mais, posso lhes dizer que são almas gêmeas. Será que não se deram conta? Não conseguem sentir? – Ambos jovens se olharam incrédulos.

-Almas gêmeas? Como é isso de almas gêmeas?

-Dois seres que compartilham uma mesma alma e se encontram vida atrás vida, se ajudam mutuamente em sua evolução, até que finalmente voltam a se unir em um mesmo ser.

-Você diz que somos isso? – Sebastián indicou a si mesmo e a Isabel com o dedo. Como pode ser algo assim?

-Ela está certa disso porque é uma “bruxa”. Captan? Aí anda carregando uma bola de cristal para todo lugar. – Gabriela olhou para Carla com fúria esta estava apoiando a cabeça em seu ombro. Era desagradável a sensação que lhe produzia aquele contato, essa mulher tinha uma vibração muito negativa.

-De fato não é necessário nem uma bola de cristal nem nenhum oráculo para se saber, basta ver como se olham.

-Sim, se você diz. A ruiva lhe deu um sonoro beijo muito perto da boca, e se lançou na piscina salpicando água até onde eles estavam. Gabriela limpou o rosto com o dorso de sua mão.

-Continua. – disse a jovem magra. –Sempre me interessei por estes temas, mas meus pais criaram a mim e meus irmãos com uma educação católica muito forte, que o fato de só pensar em outras vidas, é uma blasfêmia para eles.

-É tudo o que posso lhes dizer, tenho esta habilidade para reconhecer almas gêmeas quando as vejo, e é isso que vejo em vocês. Os jovens se olharam tentando encontrar algo mais ali do que seus olhos podiam ver, e se sorriram timidamente.

-E a sua? Já a encontrou? – Gabriela se virou para encontrar-se com Xênia apoiada na parede fumando um cigarro e esperando por sua resposta.

-De fato não.- Disse hesitando um pouco e sorrindo timidamente. Quando se trata de mim mesma, me bloqueio, não posso ver mais, talvez não esteja nesta vida. –Terminou a oração com um leve suspiro.

-Isso soa a uma excusa. Na realidade crê mesmo nisso? Ou é que tem medo de enfrentar-se com a outra metade de sua alma e que talvez não seja o que você espera ou que você não seja o que ela espera de você? –Os olhos verdes ficaram pensativos. Pela primeira vez não sentiu a necessidade de fugir do olhar e o manteve apesar de sentir que a jovem era capaz de ler seus pensamentos.

-Talvez tenha razão. – Desta vez seu olhar se dirigiu à frente sem objetivo fixo, quando voltou a olhar para parede onde segundos antes estava Xênia, encontrou o lugar vazio.

-Este bebê não termina nenhuma maldita conversa? – Carla saiu da piscina escorrendo água por todo seu corpo e seu minúsculo biquíni negro, escorreu o cabelo e se sentou de frente a Gabriela.

-Talvez tenha coisas mais importantes para fazer. -Um toque de desilusão se notou em sua voz.

-Mais importante? Esta jovem está brincando? Verdade? – Se dirigiu ao par com um gesto de incredulidade no rosto. – Estamos fechados nessa maldita casa, que coisas mais importantes teria que fazer do que falar com um bebê como você? – A jovem ruiva prolongava as sílabas dando um toque lascivo a sua voz, colocando um tanto nervosa Gabriela. Que houve? Estou lhe incomodando?

-Não.

-Eu diria que sim, está muito tensa querida. – Se aproximou lentamente de Gabriela. – Que coisas tem feito a noite com Andrés? Não tem perdido seu tempo, eh… – Lhe piscou o olho sedutoramente.

-Se perguntam a mim, digo que os cavalheiros não têm memória. – Andrés apareceu e agarrou a Carla pela cintura puxando-a até ele.

-Aiiii, imbecil! Quer deixar marcada minha cintura com seus dedos asquerosos? – Gritou a ruiva cheia de fúria.

-Primeiro você não é um cavalheiro, segundo não tem nada que recordar, por favor…- Gabriela o olhou com fastidio.

-Como quiser princesinha. E você não se queixe tanto fraquinha, porque se quisesse poderia deixar marcas em muitos mais lugares que somente na sua cintura.- Agarrou mais forte a cintura de Carla, que já não lutava mais para se soltar do agarro. – Estes dois aonde vão? Não sejam mal-educados.

-Vamos por ali onde há mais sombra. – Sebastián e Isabel partiram rumo a outro lado do jardim, buscando certamente paz longe desses dois.

-Aí, por favor, estes dois acreditaram no que lhes disse esta bruxa. Deveria ter cobrado pelo serviço. – Carla estava apoiada no corpo de Andrés que não mostrava intenções de soltá-la.

-Acreditaram em que? – O jovem tinha a cabeça no ombro de Carla e estava dando pequenos beijos no ombro dela.

-As histórias dela, os deixaram convencidos que tinham não sei que vínculo dá no mesmo.

-Encheram esta casa de gente estúpida.

-Vou embora, não vou ficar escutando seus insultos. – Gabriela se levantou e se dirigiu ao interior da casa.

-Uiii, mas que delicada ela. – disse a ruiva alçando a voz até que a jovem loira que já se perdia pela porta. Ai! Você me mordeu seu imbecil! – Começou a dar golpes em Andrés no peito.

-Eu? Mas se não fiz nada…

Odiosos…

-Eh José? Como você está? – O jovem estava concentrado na tela do televisor, com um joystick na mão, no qual não deixava de ranger.

-Mmmmm bem, tento me manter afastado desse par que já sabe quem é. – A olhou por um instante e voltou imediatamente sua concentração na tela. -Você já viu a quantidade de jogos que nos deixaram aqui? – sua voz soou emocionada, enquanto indicava com o queixo uma pilha de caixas.

-Não gosto muito desse tipo de jogos, na verdade. Mas por outro lado a este senhor aqui sim que vou usar muito. – Gabriela abraçou alegremente o monitor do computador. – Claro não quero dizer que saiba muito disto, mas tem Internet, e para usá-lo não se precisa ser gênio.

Gabriela olhou para a porta do quarto de Xênia, esta estava fechada.

-E Xênia? – se perguntou usando um tom de voz mais casual que pôde reproduzir, enquanto tirava uma crosta de poeira. O jovem indicou com o dedo para cima.

 

 

-Sempre costuma abandonar as conversas pela metade? Ou é só comigo? – Xênia estava apoiada na grade do terraço olhando o horizonte, o fato de que estivesse de costas nesse momento, deu coragem suficiente a Gabriela para perguntar aquilo.

-Só com você? Isso soa um pouco egocêntrico? Não lhe parece? – A jovem alta não mostrou intenção de virar. Daquele ângulo Gabriela podia observá-la em toda sua altura que era bastante, vestia uma calça esportiva de cor lilás e uma blusa azul. Sua postura embora relaxada, ainda mostrava sua habitual segurança.

-Tomando em quanta que a primeira vez que nos vimos você se foi quando me dirigi a você, e que essa atitude não mudou cada vez que cruzamos alguma palavra, então pode se dizer que pelos menos comigo isso acontece.-Gabriela pareceu tomar mais confiança, embora permanecesse no mesmo lugar sem avançar nem um centímetro mais próximo da alta jovem. Parecia estar esperando que a outra jovem lhe desse a autorização para fazê-lo, não estava certa que ela a queria ali.

-Vai ficar ai parada o dia inteiro? Creio que se escorregasse eu ouviria. Não teria medo caso você tivesse alguma doença contagiosa ou que se fosse saltar em mim.

-Saltar em cima de você? Como que saltar em cima de você?- Ohh me acertou, ridícula. Por que me sinto tão nervosa? Ou seja, ela é intimidante, isso é obvio, mas tampouco é para ter medo, é só uma garota.

A jovem de olhos verdes, caminhou até a jovem alta e se apoiou na mesma grade a um metro de distância. Ambas permaneceram na mesma posição com o olhar a frente por vários segundos. Gabriela não estava olhando a nenhum ponto fixo, em vez disso buscava em sua cabeça algum tema de conversa porque o silêncio estava se fazendo realmente incômodo.

Saco. Por que me custa tanto dizer algo, nunca tive esse tipo de problemas, vamos você é Gabriela, as pessoas tem que lhe pedir para ficar quieta, que está acontecendo?

-Assim que almas gêmeas, não? – A voz de Xênia chegou a seus ouvidos tão suave e segura como na primeira vez que a ouviu.

 

-Almas gêmeas? – Por fim virou a cabeça até o rosto da pessoa que estava junto a ela, e ficou hipnotizada pelo perfil que se oferecia a vista. Xênia mantinha o peso de seu corpo sobre seus braços os quais estavam cruzados sobre a grade do terraço, seu rosto estava sereno, e seu olhar fixo a frente, não piscava, sua pele mostrava uma cor perfeita e seus lábios estavam levemente abertos, pelo que Gabriela supões que estava relaxada, um pequeno raio de sol caia em seu cabelo negro. Gabriela tinha que levantar o olhar já que a outra jovem era mais alta que ela pelo menos quinze centímetros.

-Gosta desse assunto? Verdade? – Um par de olhos azuis a golpearam, porque assim foi como se sentiu quando Xênia se voltou até ela olhando-a diretamente nos olhos, embora talvez tenha sido mais uma caricia que um golpe…

-Sim, eu gosto desse assunto. – Conseguiu responder quando conseguiu finalmente escapar desses olhos, olhando rapidamente para frente, com um tímido sorriso em seu rosto. -E você, acredita nisso? – Olhos verdes ascenderam o olhar hesitando, e se encontraram novamente com o perfil de Xênia.

-Na realidade não me preocupo em pensar se existe alguém especial para cada um, se o fizesse terminaria decepcionada com cada pessoa que se aproximasse de mim.

-Então não acredita que não exista, simplesmente não pensa nisso, certo?

-É algo assim. Nunca descarto nenhuma possibilidade na vida, gosto de ser flexível, qualquer coisa pode ser.

-Então, talvez tenha medo de encontrar sua alma gêmea, que talvez não seja o que você espera ou que você não seja o que ela espera. – Gabriela levantou novamente o olhar até a jovem de cabelo escuro. E novamente foi fulminada por esses olhos.

-Talvez…Ambas mantiveram o olhar por vários segundos, embora talvez fosse menos ou mais. Gabriela não sabia por que tinha essa sensação de que tudo paralisava ao seu redor quando unia seu olhar a olhar dessa pessoa. Desta vez foi Xênia quem o afastou em primeiro lugar.

Ganhei dessa vez, ganhei? Na realidade se ganha ou perde o olhar de semelhantes olhos? Aii, que estou pensando? Este lugar não está me fazendo nada bem, meu deus.

Ambas se voltaram ao ouvir o som da porta dando um golpe seco contra a parede.

-Ui, mas que românticas a loirinha e a morena juntinhas no terraço, qualquer um diria que tentam ficar sozinhas. – A desagradável voz de Carla chegou aos seus ouvidos, enquanto a figura se ia aproximando das duas jovens caminhando lentamente, em seguida apareceu Andrés carregando varias latas de cerveja nas mãos.

-Não ponha essa cara de criança, o terraço não é só seu. Quer uma?

Gabriela negou com a cabeça ao oferecimento, e sentiu o olhar de Xênia em seu rosto.

Tenho de deixar de ser tão expressiva.

 

 

 

Logo depois da conversa que tiveram no terraço aquela tarde, não havia conseguido estar próximo de Xênia, a intrigava o fato de que as últimas noites terminou dormindo com imagem de Xênia na cabeça.

Aquela manhã despertou com vozes cantando no quarto próximo.

-Iaaaa, me deixe dormir. – Cobria a cabeça com o travesseiro com a esperança que este funcionasse como isolante contra semelhante barulho.

-Feliz aniversário! É o que lhe desejamos…- As desafinadas vozes cantavam palavras que começavam a ter sentido.

Aniversário? Como, quem faz aniversário…Ai José. – Dei um salto e foi correndo em direção do quarto do jovem pálido, e quase escorrega ao sair pela porta. Auuu que saco, saco e meio.

-Felicidades! Agarrou-se nos braços de José que não estava preparado para tal demonstração de carinho, caindo este de costas na cama com Gabriela grudada em seu pescoço.

-Ia, ia, que sou de carne e osso. – O pálido jovem se afastou um pouco e logo devolveu o abraço com o mesmo entusiasmo. Obrigado amigos. – Tinha um sorriso pintado no rosto.

-Que significa esta desordem? –Andrés entrou no quarto com seu usual ar de superioridade.

-José está fazendo aniversário. – Sebastián disse meio bocejando.

-Assim aniversário, eh, então estão celebrando, vamos pôr um pouco de vida nisso, que está me dando fome. Venha cá fracote. – Agarrou José e o apertou dando palmadas nas suas costas com força.

-Ei, isso dói.

-Aii não pode ser tão fraco, se apenas lhe toquei, é delicado como uma menina. Os seus dedos podem beliscar a pálida pele do jovem.

 

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-Chegaram às coisas, venham meninos, depressa. – Isabel abria os pacotes onde havia desde bexigas até garrafas de aguardente.

-Isso! Adoro festas! – Andrés havia começado a beber um pouco antecipadamente. E você bonequinha? – Acariciou o rosto magro da jovem, esta se esquivou do toque. Aii não! Será que temos uma freira nesta maldita casa? Hey Carla minha vida venha aqui e me ajude com isto.

-É brincadeira? Não acredita que vou gastar meu tempo enchendo estas estúpidas bexigas. – A ruiva apontou com a mão até seu peito.

-Então vai a merda. – Levantou o dedo médio para a jovem e seguiu revirando os pacotes, com entusiasmo.

-Não meu amor, não vou me aproximar de você, bye. – disse a ruiva com tom zombador e virou-se depois para jogar um sonoro beijo para Andrés indo para o corredor.

-Cachorra, vai ver como cai hoje. – Gabriela estava sentada em frente ao computador e lia com concentração algo na tela, ao ouvi-lo se virou para o jovem com um gesto de reprovação.

-E você? Não se preocupe minha princesinha, tem Andreszinho para todas. – Virou-se para ela e se tocou entre as pernas.

Gabriela voltou sua concentração para tela novamente, com uma expressão de asco. Porco.

-O que você está fazendo? – Isabel se aproximou dela olhando com atenção a tela. “Não o suporto”.- Gabriela leu os lábios da jovem gesticulando exageradamente.

-Chateo um pouco, tenho uns amigos e estou conversando com eles há vários dias. – Sorriu para jovem que a olhava com atenção sem entender muito. Quer tentar?

-Não sei como, nunca fiz isso antes.

-Nunca? – Gabriela a olhou surpreendida. –Perdão. –Disse ao ver que a jovem intimidava.- É que eu faço tantas vezes que me parece um pouco estranho que alguém não chatee, é algo genial, tem que tentar. Você quer tentar?

-E se eu não conseguir falar nada? – Isabel falava com as mãos trêmulas.

-É só manter uma conversação normal, só que não vê a pessoa, inclusive é mais simples, já sabe, como não estão lhe vendo você se abre mais facilmente, embora cá entre nós, às vezes se diz umas bobeiras que seriam incapazes de dizê-las diretamente.

-Melhor outro dia, sim? Queria lhe perguntar uma coisa. – Isabel falava em voz baixa enquanto olhava para todos os lados.

-Sim, pode dizer. –Gabriela tirou sua atenção do monitor para se concentrar na jovem.

-Sei que lê o tarot, e eu gostaria que…Já sabe, tenho que…Ou seja, eu gostaria…

-Que esclarece algumas dúvidas? – Gabriela sorriu diante da hesitação da jovem.

-Sim.

-Claro, vamos a meu quarto, está bem?

 

 

Isto não está mal, tenho máquinas para me divertir, e assim me mantenho longe do resto, até o momento está funcionando, salvo com ela…

Xênia estava pedalando com vigor sobre a bicicleta, uma das tantas máquinas de exercícios com as quais contavam na casa. Uns fones de ouvidos cobriam suas orelhas, enquanto umas gotas de suor escorriam por sua fronte. Vestia uma calça esportiva e uma blusa de algodão que já começava a pegar-se a seu corpo devido ao suor.

Espero que passem logo estes malditos meses para me afastar daqui. Girou sua cabeça até a porta ao ver que se abria.

-Olá, amor. Ui, quanto tempo está sentada aí? – Leu os lábios de Carla que a estava olhando atentamente. Tirou os fones de ouvido com fastidio.

Merda.

-O suficiente para pensar em terminar minha rotina de exercícios já. – A jovem de olhos azuis fez um gesto de abandonar a máquina.

-Mas que coincidência. Eu chego e você vai? –Qualquer um diria que você não gosta da minha presença, a qual me doeria muito vindo de você. – A ruiva levou a mão a seu peito com fingida dor, para logo se colocar diante do aparelho e pôr suas mãos sobre as mãos de Xênia.

-Poderia tirar suas mãos daí?-Seus olhos azuis mostravam impaciência enquanto os cravava na pessoa que tinha em frente.

-Não sei querida. – A voz de Carla soava sedutoramente. – Você tem umas mãos muito suaves.- Seus olhos vagavam pelos dedos da jovem mais alta. – E na realidade estou tão cômoda aqui. – Levantou o olhar, ladeando a cabeça enquanto percorria o corpo de Xênia com total descaramento.

 

Xênia se levantou da máquina enquanto tirava as mãos dela de cima das suas.

Que merda quer esta? Atirando-se assim sobre mim diante de todo o Chile?

-Dá licença.

-Que foi Xênia? Não me diga que lhe deixo nervosa? Que desilusão, não pensei que era do tipo falso beato.

-Pense o que quiser. –Xênia estava secando o suor com uma toalha.

-Então o que é? Não me diga agora que tem um namorado, porque isso não vou acreditar.

-E por que não poderia ter um namorado? – A olhou com rosto impassível.

-Aiii Xênia, não preciso que leiam a sorte entre alguma cigana, eu sei bem de que tipo você gosta.- A boca de Carla se curvou em um sorriso de zombaria.

-E de que tipo eu gosto segundo você?

Era o que me faltava…

-É necessário que eu diga por acaso? Sabe bem a que me refiro. – Carla estava parada com as mãos na cintura observando atentamente os movimentos da morena.

-Sabe, Carla, é certo, há um tipo que eu gosto e outro que eu não gosto, e você…- Cravou seus olhos azuis nos castanhos de Carla. – Não é o meu tipo, certo? A ruiva a olhou quase com fúria.

-Como quiser Xênia, vejamos quanto tempo dura essa sua atitude de menina boa.

-Se já terminamos aqui, vou tomar um banho. – Xênia se dirigiu à porta e antes de sair se virou até Carla. – Tente fazer algum exercício, vai fazer com que gaste energias. – Xênia a dedicou um pequeno e fingido sorriso e se afastou do pequeno ginásio.

 

 

 

-Está completamente segura? É que não gostaria de me equivocar. – Isabel a olhava com um gesto de total ilusão.

-As cartas não mentem, confia em mim, logo verá.

-Que genial, ou seja, você sabe tudo o que vai acontecer na sua vida, se algo vai funcionar ou não, e tudo isso.

-Não leio as cartas para mim mesma, embora possa, é um pouquinho mais complicado, porque não é sempre objetiva, entende? Além disso, o tarot não é para se seguir ao pé da letra, não é uma sentença, serve mais como uma orientação, é como um conselho para mudar alguma situação negativa antes que aconteça.

-Ah, sim, entendo. Ui que emoção, bem muito obrigada Gabby, creio que deveríamos nos ajudar um pouco quando estivermos lá fora. Não acha? – Deu-lhe um abraço e saíram juntas para a sala.

-Hey garotas venham me ajudar com estas bexigas. – José encheu os pulmões de ar e o soltou dentro da bexiga verde que tinha em suas mãos, o objeto cresceu consideravelmente e estourou em sua cara.

-Será que esse imbecil não pode fazer nada certo? – As gargalhadas de Andrés retumbaram na sala.

-Ali há uma boa quantidade de discos, alguém que entende de música veja se há alguma que sirva. –Sebastián estava chegando com uma travessa de batatas fritas, em tirinhas e suflês.

-Isso eu faço, dá licença. – Gabriela se aproximou da pilha de discos dando pequenos saltinhos.- Vejamos que temos aqui. – disse com tom entusiasta. – Eu gosto, não gosto, detesto…

-Precisa de ajuda? – Se virou surpreendida ao som da voz.

-Sim…Claro, me ajude. – respondeu duvidando de estar vendo corretamente. Xênia se sentou junto a ela, concentrando sua atenção na pilha de discos.

Por que sempre tenho que formar frases tão estúpidas quando falo com ela?

-Você gosta de música? –Ouviam-se os passos e as vozes dos outros jovens, enquanto ordenavam e moviam móveis e outras coisas, para abrir espaço.

-Se eu gosto de música? Gostar é pouco, eu amo música, ah bem a boa música somente. – Gabriela movia as mãos dando-lhe mais ênfase a suas palavras.

-Claro, só a boa música. – Xênia deu uma fugaz olhada acompanhada com algo que Gabriela interpretou como um pequeno sorriso, e decidiu que definitivamente gostava dessa expressão em seu rosto.

-Sip, só a boa, já sabe, diga-me que escuta e lhe direi que você é.

-Espera um momento. Por acaso não é diga-me com quem anda e lhe direi quem você é? – Xênia levantou uma sombracelha.

-Se você quer que lhe ponham no mesmo saco que seus amigos, então lhes diga essa frase.

-Pois não vou.

-Então?

-Você é muito engraçada. – Gabriela corou levemente ao ver o sorriso de novo no rosto da jovem mais alta.

-Isso é um elogio?

-Deixo que você decida.

-Hum.-Gabriela golpeava o queixo com um gesto pensativo no rosto. –Então o tomarei com um elogio.

-E o que você chama de boa música?

-Red Hot Chili Peppers. – disse sem pensar, enquanto suspirava. – É o melhor que já vi em matéria de música.

-Assim que Red Hot Chili Peppers, está bom suponho.

-Bom? Como que somente bom? São os melhores dos melhores, têm os melhores músicos, as melhores canções, os melhores discos. – O dedo de Gabriela se agitava apontando até Xênia.

-Hey, cuidado com esse dedo, pode arrancar um olho de alguém. – Xênia usou suas mãos simulando um escudo.

-Não terei cuidado até que aceite que meus Red Hot sejam definitivamente mais que bons.

-Ok, ok, admito, mas não porque esteja me ameaçando. Mas porque é verdade. – Ao dizer verdade, seus olhos se encontraram com os de Gabriela, a eletricidade voltou.

-Bom,…Assim que eu gosto.- disse a loira rompendo o momento. –E qual é o seu tipo de música?

-Mmm deixe-me ver, não sou fanática de nada, mas creio que se me pergunta por um, lhe diria que Fiona Apple, sim, definitivamente ela.

-Fiona Apple? A mulher que toca piano e que está casada com o diretor de magnólia?

-Casada com o diretor de magnólia? – desculpe, mas vou consertar sua oração, o tipo esse é que está casado com Fiona Apple, que é diferente.

-E ainda me diz que não gosta de fanatismo, não? – Gabriela sorriu ao ver a expressão de Xênia tentando desesperadamente se colocar séria e indiferente.

-Bem, só estava brincando.

-Eu também, na realidade acho que o casamento para ela foi péssimo, já que desde 1999 não lançou nenhum disco, só esse com título interminável. Gabriela sorriu ao ver Xênia fixando-lhe os azuis, mas decidiu não girar a cabeça até ela, por medo de se colocar nervosa diante deles uma vez mais. -Sim, eu também gosto dela, se quiser pode ir ao meu quarto e procurar entre minhas coisas, ali eu tenho discos dela.

-Só se você for ao meu quarto e procurar entre os meus discos dos Red Hot. – Xênia se levantou e elevou uma sombracelha ao ver o olhar de Gabriela. Creio que já terminamos aqui, não é?

-Mas…

-Sim, é certo. – disse Xênia afastando-se do lugar. Gabriela já começava a se acostumar com as costas da alta jovem.

Deve estar muito orgulhosa de suas costas ou seu traseiro já que é o que mais tem me mostrado durante todos estes dias. Seu olhar viajou ao longo do corpo da morena. Por acaso fiquei olhando seu traseiro? Virou rapidamente enrubescendo.

 

 

-Como estou? – Carla disse sedutoramente. A jovem saiu de seu quarto vestindo uma mini blusa de couro curtíssima, uma minissaia curtíssima também de couro, umas meias bordadas, e umas botas com plataforma e saltos enormes. Seu cabelo vermelho caía liso cobrindo parte de seu rosto branco, uma corrente enfeitava seu pescoço, tinha nas bochechas um rubor carmesim, seus olhos cobertos com sombra escura, e os lábios exageradamente vermelhos.

Esqueceu o chicote no quarto. Foi o primeiro pensamento de Gabriela ao vê-la.

-Wowww minha vida, está…Está…Deliciosa. – Andrés vestia uma camisa e jeans pretos ajustadíssimos, seu cabelo negro desordenado caía sobre seu rosto. Chegou em um salto ao lado da ruiva agarrando a mão da jovem e dando-lhe uma volta.

-Obrigada, tesourinho, agora afaste suas mãos sujas de mim antes que eu fique cheirando mal. – Carla afastou o jovem com um empurrão e se dirigiu com passo seguro até o bar, tirou um copo e o encheu com pisco sour(aguardente de uva). Seus olhos pousaram na figura de Gabriela.

Gabriela vestia um vestido de cor vermelha e preta de fino tecido, que deixava ver suas torneadas pernas, seus pés cobertos por uma sandália preta com uma pequena plataforma. Seus pés eram incapazes de suportar a incômodos saltos altos, embora isso significasse ficar com a estatura com a qual havia nascido. Seu cabelo loiro estava preso por um laço de fita, o leve toque de maquiagem não a fazia ver mais adulta do que era, uma das coisas mais características nela era seu doce e terno rosto que a fazia parecer ainda mais nova do que realmente era.

-Que comece a festa! – José chegou na sala vestindo uma camisa com um enorme beavis e butt head estampados, e uma calça muito larga acompanhando-os. – Onde estão os outros?

-Sebastián e Isabel estavam um pouco afastados, o jovem com sua habitual vestimenta clássica, calça de cor bege e camisa azul clara, a jovem com uns jeans café que ficavam ainda mais folgados com uma blusa preta.

Gabriela piscou o olho dissimuladamente quando Isabel a olhou e logo se virou até a porta do banheiro de onde saia nesse mesmo momento Xênia.

 

Ai meu deus…

A alta jovem vestia um jeans desgastado, que parecia haver sido feitos especialmente para ela, e um top ajustado de cor negra com um pequeno decote e tirinhas amarradas na parte de trás do pescoço, seu umbigo e parte de suas costas ficavam a vista. O negro cabelo solto tinha um ar descuidado, e caia livre e brilhante, ostentava um leve toque de maquiagem. Gabriela não podia tirar os olhos de cima dela, tinha esse look como de um cantor de rock, ou talvez de estrela de tv, ou quem sabe de que coisa.

Que linda…Por que cada vez que a vejo a primeira coisa que vem a minha cabeça é essa palavra “linda”? Isto é preocupante…

 

Seus olhos pousaram em Gabriela, dirigiu uma rápida olhada ao longo de seu corpo, mas foi tão rápida e leve, que a jovem loira, duvidou ter visto esse olhar. Sentiu uma pontada em seu estômago, e um pequeno sorriso cruzou seu rosto, seu estômago estava sendo vítima de uma sensação muito estranha. Que está acontecendo? Me emociono quando ela me olha? Que saco o que está acontecendo?…

 

 

 

-Quem pões essa merda de música? – Andrés gritava tentando fazer-se ouvir por sobre o som.

-Eu, por quê? – Gabriela o encarou sem mostrar o temor que o jovem queria ver por sua pessoa.

-Você não sabe que esta porcaria não é para dançar? – Sua forma de falar mostrava já os efeitos do álcool, e avançou perigosamente até a jovem.

-Então coloque você mesmo o que quiser, e se afaste de mim, você está bêbedo.

-Está me ameaçando princesinha? Você sabe o que eu faço com as menininhas que se fazem de choronas comigo? Vou lhe mostrar, sabe? – A tomou pelos braços fortemente.

-Deixa-a em paz seu imbecil! – José tentou empurrá-lo com seu ombro e terminou no chão.

-Uii o fracote está lhe defendendo, viu? – Lançou uma risada ao jovem no chão e logo colocou sua atenção em Gabriela. – Por que não me dá um beijinho com essa boquinha que deus lhe deu?

-Esta menina é uma dissimulada amor, não se deixe enganar? Captas? – Carla olhava se divertindo com a cena.

-Eu necessito de carinhos, me sinto muito só. – Andréas fingiu uma expressão de tristeza, enquanto punha a cabeça no ombro da jovem. – Preciso de amor.

-Solte-a. – Andrés soltou os braços de Gabriela ao sentir uma forte mão apertando seu pescoço firmemente. Virou-se até a dona dessa mão e se encontrou com um par de olhos azuis assassinando-o com o olhar. Se o jovem não estivesse bêbedo haveria estado seguro que estava vendo faíscas saltando nos olhos da jovem.

-Já, já, sim era só uma brincadeira nada mais, agora poderia me devolver meu pescoço? – O jovem a olhava afligido tentando sair do forte agarro dos dedos da jovem.

-Sabe que eu também gosto de brincar. – Disse a última palavra ironicamente e seu tom de voz baixou perigosamente. Eu também quero me divertir. – Carla estava extasiada olhando a cena.

-Solte-o Xênia, está tudo bem, está muito bêbedo para saber o que faz. – A voz de Gabriela soou nos ouvidos da jovem mais alta, e esta foi soltando sua presa lentamente.

-Alguns sempre sabem o que fazem.

Nesse momento a porta se abriu de golpe e entraram cinco homens, os jovens se sobressaíram diante da surpresa.

-Que demônios crêem que estão fazendo? Estão todos bem? – Os homens olhavam ao redor.

-Sim, tudo bem. Vocês…? Gabriela falou por todos.

-Sim, nós estamos vigiando o que acontece aqui às 24 horas do dia e estamos na casa que está ao lado, e se isto voltar a acontecer vamos tirar você e você sem se quer pensar, ouviram? O homem se dirigiu a Andrés e Xênia ameaçando-os com um dedo.

-Só estamos brincando, não é para tanto. – Com o susto já havia passado quase toda a bebedeira de Andrés, embora ainda estivesse massageando seu pescoço.

-Está bem, vamos estar vigiando, vamos. – Lhes disseram os outros quatro.

-Que siga a festa! Sorry Gabby. Estendeu a mão. -Amigos?

Gabriela aproximou a mão do jovem hesitando um pouco debaixo do atento olhar de Xênia. Andrés dedicou a morena um sorriso absolutamente fingido de inocência.

-Quê amorzinho? Já pedi desculpas, não me castigue. – Passou seu braço por sobre o ombro de Xênia.

-Ponto um, não sou seu amorzinho, certo? – Xênia agarrou o braço com uma expressão de desagrado no seu rosto e o deixou cair longe dela. -E ponto dois, que isto não volte a se repetir. – Se afastou do lugar a passos seguros e se perdeu pela porta do jardim.

-Bravo! – Carla aplaudia rindo e zombando. -Mas que número mandaram os três, devia ver sua cara, mas que imbecil você é.

-Deixe de rir como uma estúpida e vem aqui, que quero dançar. Música maestro! – Andrés agarrou o braço de Carla, enquanto a jovem seguia rindo freneticamente.

 

Odiosos.

-Que aconteceu? – Sebastián chegava nesse momento junto com Isabel.

-Este tipo que fez uma de suas cenas e Xênia me defendeu, e veio esta gente que está vigiando-nos todo o tempo, e lhes advertiu a ele e a Xênia que se isso voltasse a acontecer, os tiraria do programa.

-Esta Xênia não é muito participativa, mas quando participa, sim que o faz. – Isabel disse rindo.

-Tenho vontade de dançar, vamos? – Sebastián convidou a jovem.

-Não danço muito bem, você me ensina?

-Isso, vão se divertir vou tomar um pouco de ar, e mantenham de olho nesses dois, os vigiem porque são capazes de matar José.

 

 

-Lhe aborrece um pouco de companhia? – Xênia virou a cabeça ao ouvir a voz, sabendo de antemão de quem tratava. Negou com a cabeça e com o olhar a convidou para se sentar.

-Trouxe algumas coisinhas para beliscar. – Com um sorriso travesso, a jovem mais baixa mostrou uma travessa onde Xênia reconheceu uma mistura de batatas fritas, suflês e azeitonas. Sentou na beira da piscina onde estava a morena. Seus pés estavam submergidos na água.

-Não é muito só para nós duas? –Aspirou seu cigarro.- Não deixou sem nada aos outros? Verdade? – Xênia indicou a casa, enquanto soltava a fumaça pela boca.

-Para você é muito, para mim nem tanto, me encanta comer você não se deu conta? Uma batata estalou ao ser mordida pela jovem loira.

-Seria impossível não notar. Xênia esboçou um pequeno sorriso e moveu o pé na água causando uma pequena onda.

-Perdão? Está insinuando que sou uma glutona?

-Não ponha palavras na minha boca. – Gabriela não pôde evitar dar uma olhada nos lábios de Xênia.

-Na realidade lhe importa se os outros fiquem sem comer?

-Não.

-Isso eu imaginei. Agradeci-lhe por você ter me defendido daquele imbecil? – Xênia levantou a vista ao céu, meditando na resposta. Era uma noite estrelada e de lua cheia.

-Não, não me agradeceu, mas não é necessário. – A morena estava tentando pegar uma azeitona que escapulia até o fundo da travessa.

-Como não é necessário? Para mim é sim…Obrigada… – A voz de Gabriela soou tão suave enquanto pousava a mão no braço de Xênia, e em seguida se arrependeu do gesto. Por que me acontece isto? Por que sinto algo diferente ao estar com você? Por que tenho a sensação que você sente o mesmo?

O olhar de Xênia se pousou fugazmente na mão de Gabriela, e o logo em seu rosto. Gabriela rompeu o contato.

-De nada…Seus olhares ficaram cravados uns instantes.

-Xênia? – Disse a jovem de olhos verdes, enquanto tirava as sandálias e introduzia os pés na água rompendo o momento.

-Quê? – Os olhos de Xênia seguiam os movimentos de Gabriela.

-Como foi que você recuperou minha mochila naquele dia?

-Na realidade não a recuperei, o garoto a soltou e só.- A morena estava despedaçando uma folha para logo lançar os pedacinhos na água.

-Como a soltou? –Gabriela perguntou com interesse.

-Eu ia caminhando e justo ao chegar à esquina, este garoto veio sobre mim, suponho que não conseguiu frear, e terminou igualzinho a você no chão, creio que se assustou, não sei bem o que aconteceu, o assunto é que levantou deu um salto e correu sem sua mochila, assim eu a peguei e ai você apareceu em cena. – Xênia encolheu os ombros e agarrou uma batata e começou a dar pequenas mordidas.

-Assim simplesmente? – Gabriela estava concentrada na forma em que Xênia estava comendo a batata.

-Assim simplesmente, era só um garoto, talvez tenha pensado que eu fosse uma policial ou sei lá o que. – Xênia fez uma expressão de desagrado, enquanto seguia mordendo sua batata.

-Não gosta de policiais?

-Tenho um problema com uniformes, com os grupos e todas essas coisas.

-Com os grupos?

-Sabe, você está se pondo muito perguntadeira, e as perguntas me põem nervosa também.

-Está bem, só mais uma sim?

-Ok.

-Sempre come tão lentamente as batatas ou só faz isso para me irritar?

-De novo com os egocentrismos? Primeiro fujo de você, e agora a minha forma de comer a deixa irritada? Por acaso crer que o mundo gira ao redor de você? – Xênia cravou um olhar na jovem menor, enquanto aspirava a fumaça de seu cigarro.

-Eh, bem…Não quis dizer isso. – Gabriela baixou o olhar envergonhada.

-Só estava brincando. Eu também tenho uma pergunta para você. – Xênia sorriu vendo a reação da jovem.

-Diga. – Os olhos verdes se levantaram mostrando algum nervosismo.

-Sempre gesticula tanto com sua cara e suas mãos? – Xênia imitou os movimentos de Gabriela com um sorriso mais ampliado em seu rosto.

-Engraçadinha…Gabriela a olhou com fastidio. Mas sim, sempre faço isso, e deixe-me dizer que você fez uma excelente imitação de mim, logo não se queixe se eu me puser de egocêntrica, já que agora sei que você se fixa muito em meus movimentos. –Apontou até seu peito com arrogância.

-É impossível não se fixar neles. – Gabriela voltou a corar ao ouvir a resposta.

-Sabe, nem se quer me disse o que faz. Nunca diz nada sobre você a menos que lhe perguntem?

-Não faço? Pensei que se…

-Mentirosa. Então?

-Bem…

-Homem a água! Ouviu-se a voz de Andrés que nesse momento arrastava José até a piscina. O jovem pálido fazia desesperados esforços para escapar.

-Solte-me…José não conseguiu terminar a frase. A água saltou fora da piscina molhando as jovens.

-Sorry, mas creio que necessitava de um bom banho. – Andrés celebrava sua graça e lançava o que encontrava no jovem. –José saiu da piscina e começou a perseguir o moreno por todo o jardim para logo se perder a ambos dentro da casa.

-Homens, sempre brincando como crianças. – Carla se sentou em uma cadeira próximo da Xênia e Gabriela. –Não interrompo nada verdade? – Seu olhar passou entre o resto da loira e da morena.

-Não. -Claro que interrompe estúpida será que não vê que estou conseguindo que me fale sobre si mesma, e você chegou para estragar tudo.

-E por que seus olhos me dizem outra coisa darling? – Aproximou seu rosto um pouco mais até o de Gabriela. A jovem loira olhou Xênia que estava agarrando outra batata nesse momento.

-Você é livre para estar aonde quiser. – Xênia disse despreocupadamente.

-Diga-me Xênia. Já lhe disse que esta noite você está incrivelmente sexy? – Seu olhar percorreu o corpo da morena descaradamente, para logo observar a reação de Gabriela.

-Está dizendo agora. – Xênia lhe dedicou um falso sorriso e logo dirigiu seu olhar a Gabriela quem nesse momento estava sentindo uma pontada muito estranha em seu estômago.

Que está acontecendo aqui? Está paquerando Xênia? Ela gosta dela?

-Que parece meninas se dermos um mergulho? A água deve estar deliciosa, quase tão deliciosa como você Xênia. – Levantou e começou a tirar a roupa.

-Que está fazendo? Gabriela se surpreendeu ao ver o que Carla se dispunha a fazer.

-Que, não está vendo? Estou tirando a roupa para me meter na água. – Apontou com um dedo a piscina.

-Sim, estou vendo, só que suponho que tenha um biniq…- Carla terminou de tirar toda a roupa e a imagem respondeu a inquietude de Gabriela.

-Não tenho biquíni. – Caminhou lentamente até a morena e a loira, abaixou entre ambas, olhou para Gabriela e logo para Xênia com um amplo sorriso no rosto. –Venham? – Piscou um olho para jovem mais alta e se lançou na água como deus da trouxe ao mundo.

-Gabriela a olhava atônita, enquanto emergia da água e começava a bracejar em frente delas. Carla estava paquerando descaradamente Xênia, estava nadando para ela. A jovem mais baixa aventurou seu olhar até Xênia quem devolvia o olhar a Carla, Gabriela buscou alguma reação no rosto da morena, mas este permanecia impassível.

-Vamos amorzinho, por que não me acompanha aqui, me sinto tão sozinha, não gostaria de pensar que você tem medo. – Carla nadou até a borda da piscina, e apoiou seu queixo sobre seus braços, enquanto observava Xênia desafiando-a com um olhar cheio de desejo. Gabriela estava se sentindo mais do que incômoda.

Xênia estirou o corpo ao largo da borda da piscina, e apoiou seu rosto na palma de sua mão, ficando a centímetros do rosto de Carla.

-E, por que eu teria medo de você? – Xênia dirigiu seus olhos azuis até os de Carla, seu rosto permaneceu inexpressivo.

Oh oh Carlita já está carregada, vamos ver o que faz agora.

Carla deixou de sorrir e retrocedeu uns centímetros parecendo desconcertada.

-Ai meu amor, espera-me que ai vou. – Se ouviu a voz de Andrés que já começava a tirar as calças.

-Bem ai tem companhia, já não se sentirá tão sozinha. – Xênia se levantou sacudiu as mãos e encolheu os ombros para Carla. –Vamos? – Estendeu a mão para Gabriela que a recebeu de forma alegre.

Carla fez um gesto de fastidio ao ver Andrés lançando-se na água tão nu como ela mesma estava.

-Hey Xênia! A morena se voltou e Carla lhe soprou um beijo. – Na próxima não vou deixar que escape. – Xênia seguiu caminhando até a casa com Gabriela a seu lado! Ai que maldita idiota! – Andrés submergiu a ruiva na água, enquanto dava gargalhadas.