Esta história contém um baixo teor de violência. Se isso lhe incomoda por favor não siga com a leitura.
Uma Guerreira em Sua Essência – Parte 2
por Melissa Good“Quem eram, Jess?” Deggis questionou, com um grunhido, ao avistar o primo cruzando o córrego. “Não é hora para estranhos descobrirem a localização da nossa terra.” O mais baixo desviava o olhar, cauteloso, enquanto ambos seguiam pelo caminho em direção à aldeia.
Com uma pitada de irritação, Jessan encarou o primo. “Calma.” Exalou fundo. “Eles me salvaram dos humanos e me trouxeram de volta. Isso não basta?” Olhou por sobre o ombro. “Quanto a identidade delas, prefiro que meu pai seja o primeiro a saber.” E acrescentou, em tom irônico, “Ah, e Deggis, aquela era a Xena… a guerreira conhecida pelo massacre no vale vizinho, lembra-se?” “O que está acontecendo?”, indagou, percebendo a gravidade do que Deggis dissera sobre estranhos.
Deggis exalou pesadamente. “O príncipe humano da região, Hectator, nos viu caçando.” Murmurou sombriamente. “Estão se preparando para atacar a floresta.” Seus olhos fixaram-se na espada de Jessan. “Ei! De onde veio essa espada?” Admirou. “É magnífica…”
“Uma longa história.” Jessan desviou o olhar, direcionando-o para a casa familiar. “Pensando bem, deveria ter convidado minhas salvadoras. Sua ajuda seria bem-vinda agora.”
A expressão de Deggis era de incredulidade. Humanos? Amigos? “O quê?” Sacudiu a cabeça, confuso. “Como humanos poderiam nos ser úteis?”
Jessan o ignorou e acelerou os passos até chegar em casa. Como esperado, seus pais e os principais líderes guerreiros reuniam-se ao redor da grande mesa. A surpresa foi geral quando ele adentrou o recinto.
“Jess!” Wennid exclamou, visivelmente abalada. “Nós…” Ela trocou olhares com Lestan, confusa. “Tínhamos notícias de sua captura.”
Um vislumbre de alívio suavizou as feições endurecidas de Lestan. “Feliz por ver que eram infundadas.” Comentou, lançando olhares céticos para alguns guerreiros mais velhos que haviam espalhado a notícia, encontrando neles uma perplexidade semelhante.
“De fato fui capturado.” Jessan começou, com uma calma surpreendente, dada a situação. “Estava amarrado e sendo espancado até a morte.” Arrependeu-se imediatamente ao notar a reação de sua mãe. “Às vezes sou um tolo.” Com essa reflexão, aproximou-se para um abraço reconfortante. Curioso, pensou, essa busca por contato físico em um povo tão guerreiro. Mas era real. Autêntico.
Jessan olhou por cima do ombro de sua mãe e encontrou os olhos de seu pai. “Não.” Ele fechou os olhos e saboreou o momento, ouvindo o estrondo dos cascos. “Não, eu fui resgatado.” Ele sorriu seu sorriso selvagem. “Por um humano.” Ele sentiu sua mãe enrijecer em seus braços. “Dois deles, na verdade.” Ele olhou para baixo para o rosto confuso dela. “E um cavalo.”
Ele percebeu, olhando ao redor, que estava sendo encarado por todos. Lestan hesitou, então fez um gesto para o resto das pessoas na sala… “Nos deixem.” Ele colocou os planos de batalha sobre a mesa. “Sei que temos pouco tempo, mas preciso falar com meu filho.”
O silêncio era ensurdecedor depois que todos saíram. Jessan soltou sua mãe e sentou-se à mesa, apoiando o queixo nas mãos. “Um humano.” Wennid repetiu, ocupando-se com uma jarra e um copo do outro lado da mesa. Suas mãos tremiam.
“Duas deles.” Jessan respondeu, quietamente, observando o rosto de seu pai de canto de olho. Lestan estava franzindo a testa. “E um cavalo.” ele acrescentou.
“Não brinque.” Lestan rosnou, sentando-se no canto da mesa. “Como elas te resgataram?” Ele se inclinou para frente. “E qual foi o custo?”
Ai. Jessan fez uma careta. “Eles dispersaram os aldeões, me soltaram e me tiraram de lá.” Ele fez uma pausa e tocou gentilmente a cabeça. “Então cuidaram dos meus ferimentos e cuidaram de mim até que eu pudesse viajar.” Ele olhou para cima. Isso está indo como eu esperava que fosse. “Quanto ao que custou…” Minha raiva? minha desesperança? meu desejo de morrer e me juntar à minha amada? Um pedaço do meu coração é o que eu deixei com elas. Barato pelo preço. “Eles não pediram nada em troca.” E eu daria a elas… qualquer coisa.
“Você os deixou vivos?” Lestan perguntou, horror começando a surgir em seus olhos. “Você os trouxe aqui e os deixou VIVOS???”
Ele bateu com o punho bom na mesa, derrubando a jarra e derramando água na superfície. “Eu não posso acreditar!” Ele se levantou e começou a andar até a porta, para frente e para trás, e para frente novamente.
Jessan suspirou suavemente. “Oh sim.” Aquele último abraço. “Muito vivos.” Ele sorriu silenciosamente para si mesmo. Papai… como você poderia entender? Quem teve que deixar a floresta vermelha com o sangue delas? Até mamãe, que tem paz em seu coração, não suporta a ideia delas. Mas… elas não são tão diferentes de nós. Não tão diferentes mesmo.
Wennid observou o semblante de Jessan em um silêncio pensativo. Havia uma transformação evidente nele, ainda que ela não pudesse precisar sua natureza. Desde que deixara sua terra natal, uma sombra se abatera sobre ele, um véu escuro forjado pela perda de Devon. Raros eram os momentos em que um sorriso ousava atravessar sua face marcada, sua essência vibrante parecia ter se esvaído na dor. No entanto, o homem que retornara trazia consigo vestígios do filho que ela recordava. Um sorriso sutil dançava em seus lábios, ecoando a leveza em seu olhar. Uma serenidade, há muito ausente, emanava dele. Contudo, o que intrigava Wennid era a fonte dessa paz inesperada. Como poderiam ser os humanos a lhe oferecer tal dádiva? Apesar dos rumores de que alguns rompiam com suas limitações e preconceitos, a dúvida persistia, marcando profundamente seu coração com uma inquietação palpável. Ela lançou um olhar a Lestan, cuja paciência claramente se esvaía.
Lestan cruzou até a mesa e segurou o queixo de seu filho, forçando contato visual. “Quem eram eles?” ele perguntou, sua voz plana. Como se já não tivéssemos problemas suficientes agora, que eu tenha que enviar guardas atrás desses dois. Sua mente rugia. Como Jessan poderia fazer isso com seu povo? Ele sabia quais eram os riscos. Criança idiota.
Jessan se levantou, sacudindo a mão de seu pai, e se ergueu à sua altura total, alguns centímetros mais alto que Lestan. Ele usou isso a seu favor, ajustando seus largos ombros e respirando fundo. Esta era a parte que ele temia. “Pai…” Ele umideceu os lábios nervosamente. “Eles não nos farão mal. Você não, você não pode entender…” Ele caminhou em direção à parede, voltou novamente. “Eu…eles são família para mim.” Ele ignorou a surpresa de sua mãe. “Se você os ferir, eu também sangro…eu não posso…eu…” Ele engoliu em seco. “Me desculpe…eu sei como você os odeia, mamãe, papai…mas…” Um estalo agudo quando Lestan o esbofeteou com as costas da mão em seu rosto com o braço bom. Ele não recuou e teve a satisfação de ver o olhar momentaneamente surpreso nos olhos de Lestan.
“Odeio eles…” Seu pai rosnou, horrendamente baixo. “Tolo! Você não faz ideia de como essa palavra é inadequada para como me sinto.” Ele agarrou o lado do pescoço de Jessan e o empurrou contra a parede. “Tenho o sangue de milhares de nosso povo que tenho que pisar lá fora naquela floresta todos os dias da minha vida por causa da incapacidade dos humanos de viver em paz.” Ele engoliu em seco, empurrando Jessan contra a parede novamente. “Como você poderia nos trair assim?” Ele aproximou o rosto. “QUEM FOI??”
“Eu não posso. Eu não vou.” Foi a resposta de seu filho, quieta, gentil, inflexível como granito. “Eles arriscaram suas peles para salvar a minha. Cuidaram de mim. Me ofereceram sua amizade. Me trouxeram para casa.” Ele agarrou a mão de seu pai e a removeu de seu pescoço. “E você quer que eu os entregue por sua raiva? Eles não fizeram nada além de bem para mim, somos tão ruins quanto eles? Retribuir mal por nada? Não.” Ele lançou um olhar para o rosto perturbado de sua mãe. “Não, eu não farei isso.” Jessan olhou de volta nos olhos raivosos de seu pai. “Eu não farei.”
Silêncio na sala. Wennid atravessou o chão até o lado de seu filho. “Deixe-me ver o seu coração.” Ela disse, colocando uma mão plana em seu peito. Ela olhou para cima nos olhos salpicados de ouro de Jessan, sentindo… ah. Ela fechou os próprios olhos, em profunda dor. Que tipo de humanos eram esses, para fazê-lo sentir assim? Ela mergulhou mais fundo agora, capturando vislumbres dos pensamentos passando pela mente dele, como só podia fazer com seu filho e com seu companheiro de vida. Um pôr do sol. Água. Uma humana de cabelos loiros-avermelhados com olhos verde-mar, rindo. Água novamente, desta vez sobre sua cabeça. Wennid arfou, eles tentaram afogar seu filho? Não… mãos fortes, braços, levantando-o para fora da água. Outra humana. Cabelos escuros e olhos azuis penetrantes. Ela sentiu o calor trocado entre eles, viu a humana sorrir para seu filho, sabia que era real. Sabia que reconhecia a segunda humana, a tinha visto de pé com as mãos ensanguentadas sobre uma comunidade saqueada no vale ao lado e novamente liderando um bando de saqueadores contra pastores a leste. “Oh Jessan.” Wennid chorou suavemente, enrolando os dedos no pelo de seu peito. “Diga-me que estou errada.” Ela olhou nos olhos dele, desolada. Diga-me que o que vi ela fazer naquele vale, com aquelas pessoas, não é verdade. Ah… mas você não pode, pode, meu nobre filho. Porque eu a vi. Eu mesma. Você não pode me convencer de que a pessoa que fez isso vale o seu… Oh Jessan… Não.
“Mamãe, não… não conte a ele, por favor por favor por favor… oh, por favor… não…” A mente de Jessan uivava. Sua mãe era o único fator que ele sabia que não tinha controle. Ele procurou os olhos pálidos dela, implorando. Ela tinha mais motivo do que a maioria para odiar o tipo de Xena, e agora ela conhecia o rosto de sua salvadora. Não havia muitas lutadoras femininas, e Wennid a tinha visto, pelo menos uma vez. Os traços de Xena não eram facilmente esquecidos. Ele observou Wennid lutar com seu dilema, prendendo a respiração. Por fim, ela suspirou e estendeu a mão para acariciar gentilmente o rosto de seu filho. Em pedido de desculpas? Aceitação? Ele estremeceu ao pensar.
“Lestan… meu amor.” Ela virou a cabeça e fez contato visual com seu companheiro. Seu vínculo transformou até mesmo aquele olhar casual em algo mais íntimo, enquanto suas almas se tocavam, e ela se sentiu flutuando em seu olhar mogno. “O que ele sente é… verdadeiro.” Ela fez uma careta. “Eu acredito… eles não são um perigo para nós.” ela sorriu para cima para seu filho, que fechou os olhos em alívio exausto. “Mas Jessan… você deve contar ao seu pai quem foi essa pessoa.” Ela tocou gentilmente a bochecha dele. “Ele precisa saber. Pois se você estiver errado sobre eles, eles são um inimigo terrível para o nosso povo.”
Ele a olhou, confuso. Ela não entendia? Ele pensou que ela tinha… “e expor ela à sua vingança ?” ele perguntou suavemente. “Mamãe, eu não posso.”
“Ela??” Lestan interrompeu, pela primeira vez em horas e horas. Algo da raiva selvagem tinha desaparecido de sua voz, drenada pelo olhar de Wennid. “Ela??” Sua testa se franziu enquanto ele olhava para seu filho. “Ares, filho – o que você está me dizendo, que uma mulher humana te salvou?” Sua testa se franziu em irritação. Ele não acreditava em matar mulheres, mesmo humanas, elas eram tão indefesas quanto filhotes. “Tudo bem, tudo bem…. você pode me contar. Você sabe como me sinto sobre isso.” Ele fez uma careta e apoiou o queixo em sua mão boa. Wennid atravessou atrás dele, inclinou-se sobre o pescoço dele e o envolveu em seus braços. Jessan respirou fundo. “Foi Xena.” Então ele fechou os olhos e esperou pela explosão. Quando ela não veio, ele abriu um olho e espiou seu pai. Lestan estava olhando para ele com uma estranha mistura de choque, incredulidade e, mais curiosamente, intriga. “Ela é realmente legal.” Jessan acrescentou cautelosamente. “Lembra que ouvimos que ela havia parado de saquear… agora ela só anda por aí ajudando as pessoas…. é verdade.” Ele olhou ansiosamente para sua mãe, que fez uma careta, sombriamente.
“Legal.” Lastan disse em tom de deboche. “Jessan, há muitos termos que ouvi para descrever Xena. Legal, não tem estado entre eles.” Ele tamborilou os dedos na mesa, intrigado apesar de si mesmo.. “Eu mal posso acreditar. Ainda… aqui está você.” Ele tentou esconder sua curiosidade repentina. “Xena, huh?” Jessan teve uma súbita suspeita de que seu pai não estava nem de perto tão desaprovador de sua nova amiga quanto ele pensava que seria. Deve ser a coisa guerreira, ele sorriu secretamente para si mesmo.
Wennid levantou o rosto em direção ao filho. “E-eu já vi os pesadelos que aquela humana causou. Agora você espera que eu acredite que ela se tornou algum tipo de heroína? Jessan, você se iludiu.” Ela apoiou a bochecha no cabelo de Lestan e continuou. “Certamente você vê o quão impossível isso é.”
” Mamãe…” Jessan hesitou. “No começo, eu também não pensava assim…” Então ele parou e examinou sua memória. “Não. Isso não é verdade.” Um sorriso curioso moldou seus lábios. “Meu coração sabia no momento em que a vi que ela não representava perigo para mim. Mas levou um tempo para minha mente concordar com isso. Eu não tinha a minha Visão para confiar… quando você a encontrar, você verá.” Ele levantou as mãos diante de seus olhares surpresos. “Oh… não agora… mas um dia, eu a trarei aqui. Eu quero que vocês vejam por si mesmos… mas deixe-me contar toda a história.”
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“Então.” Gabrielle questionou. “Para onde agora?” Ela olhou adiante, onde a estrada parecia estar ficando mais larga e melhor definida na grama.
Xena estudou o horizonte pensativamente. “Bem, poderíamos fazer uma visita a Hectator. Ouvi dizer que sua nova capital é bem grande.” Ela lançou um olhar para sua companheira e deu-lhe um sorriso astuto. “Eu ouvi dizer que as compras são bem boas também.” Ela inclinou a cabeça de lado e estudou a barda por um momento. Um pensamento ocorreu a ela. “Sim, na verdade, vamos fazer isso.”
Gabrielle ergueu uma sobrancelha para ela. “Parece ótimo, na verdade.” O que Xena está tramando agora? Ela tinha aquele pequeno sorriso no rosto quando estava planejando alguma coisa. Ah, bem, eu acho que descobrirei em breve. Ela estava prestes a continuar avançando quando Xena se lançou para cima na sela de Argos e estendeu o braço.
“Vamos.” Xena insistiu. “Gostaria de chegar à capital antes do anoitecer.”
A testa de Gabrielle se franziu em confusão, mas ela deu de ombros e avançou para pegar o antebraço oferecido. Xena puxou Gabrielle para cima atrás dela e incentivou Argo com um leve toque do joelho.
Suspirando, a barda passou a correia de seu cajado sobre o ombro e segurou a cintura de Xena com os dois braços. Deuses, eu odeio andar a cavalo, mas pelo menos andando juntas tenho algo sólido para segurar. Ela sorriu de leve. Argo se acomodou em um ritmo de trote, e depois de um tempo, embalada pelo ritmo e pelo sol, Gabrielle cochilou contra as costas de Xena.
“Isso é uma novidade.” Xena murmurou para si mesma, divertida. Ela segurou um braço contra os dois que a barda tinha enrolado ao redor dela, para evitar que ela escorregasse, e riu. Eu posso me divertir com isso mais tarde.
Xena esperou até estarem se aproximando da cidade antes de diminuir o ritmo de Argo para uma caminhada e virar a cabeça para olhar sobre o ombro. “Ei, Princesa.” Ela chamou sua companheira e sentiu Gabrielle se assustar quando acordou.
“O quê?” ela olhou ao redor com perplexidade. “Onde… há quanto tempo estive dormindo?” Ela perguntou, captando o sorriso divertido de Xena. O sol estava se pondo sobre os pináculos da cidade. “Não me diga que dormi nesse maldito cavalo e estive dormindo por horas, Xena, por favor.”
“Um par de horas”, confirmou a mulher de cabelos escuros alegremente, rindo suavemente da expressão envergonhada de Gabrielle. “E eu achando que você não estava confortável em cavalos.”
Gabrielle suspirou e deixou sua cabeça cair contra as costas de Xena. “Como pude fazer isso? Deve ter sido o sol.” De repente, ela percebeu que ainda abraçava a mulher mais alta, e que seus braços estavam sendo firmemente segurados. “Pobre Xena – ela até teve que me impedir de cair.” Gabrielle se repreendeu. “Desculpe por isso”, murmurou, mudando de posição e soltando seu aperto. “Não sei o que deu em mim.”
Xena olhou para trás sobre seu ombro mais uma vez. “Não se preocupe com isso. Você parecia precisar do sono, e já passei por situações piores.” Ela deixou Argo trotar alguns passos a mais, então olhou para o rosto de Gabrielle, ainda fechado e silencioso. “Gabrielle”, disse gentilmente, virando-se meio na sela. “Está tudo bem. Não é grande coisa; então você dormiu em cima de Argo. E daí?”
“Desculpe”, murmurou Gabrielle, franzindo a testa. “Eu nunca te vejo tirando cochilos sem motivo.”
Xena resmungou. “Bem, não, mas uma de nós sempre alerta é mais do que suficiente, não acha?” Ela estudou os portões da cidade que se aproximavam. “Parece que há muita atividade.”
A barda espiou em torno do ombro alto de Xena e examinou o portão. Atividade, sim. Homens e cavalos entravam e saíam com um ar determinado. “Parece…”
“Problemas”, Xena concluiu sombriamente, com um suspiro profundo. “Não podemos simplesmente ir a algum lugar, em algum momento, quando nada estiver acontecendo?” Balançando a cabeça escura, ela fez Argo retomar o trote, fazendo Gabrielle voltar a se agarrar.
Eles trotaram pelos portões, desviando-se de soldados correndo e carruagens de batalha em movimento. Não havia dúvida sobre a atividade – as preparações para a guerra eram evidentes. Por toda parte, soldados se preparavam, afiando armas, reparando armaduras. Mal lançavam um olhar para a égua dourada trotando propositadamente e suas incomuns passageiras. Eventualmente, Xena avistou alguém que conhecia. “Ei, Alaran…” Ela desmontou de Argo, fazendo um gesto para Gabrielle ficar onde estava.
O soldado grisalho olhou surpreso. “Xena!” ele resmungou. “Bem, isso é uma surpresa.” Ele deu um passo à frente e segurou o braço dela. “Faz tempo. O que te traz por essas bandas? Boa hora para aparecer… você parece ótima.” Ele sorriu. “um alívio para os olhos cansados.”
Xena riu e deu um tapinha na barriga dele. “Você parece que não tem trabalhado muito.” Ela fez um gesto para o pátio movimentado. “O que está acontecendo?”
“Ah”, Alaran resmungou. “encontramos um ninho de… não sei, criaturas, eu acho que você chamaria assim. Meio humanos, meio não sei o quê, e maldosos pra caramba. Hectator está reunindo uma grande força para acabar com eles.” Ele olhou para cima, notando finalmente a expressão no rosto de Xena. “O que foi? Qual é o problema?”
“Eu tenho que ir ver Hectator”, rosnou Xena. “Ele está prestes a cometer um grande erro.” Ela se levantou de volta em Argo e virou a cabeça na direção do castelo, encorajando-o a avançar com o joelho. “Bom te ver, Alaran”, ela chamou de volta por cima do ombro.
“Não tão bom quanto é te ver, Xena”, o veterano gritou atrás dela, balançando a cabeça. Zeus, aquela era uma mulher linda, mas perigosa. Ele se perguntou o que ela estava planejando.
Gabrielle pigarreou. “Eu não sabia que você tinha velhos amigos tão felizes em te ver”, ela disse, sorrindo, antes de perceber como isso deveria soar. “uhm… Quero dizer, bem, não era isso que eu queria dizer.”
Xena resmungou. “Sim, foi.” Ela deu um tapinha na perna de Gabrielle. “Mas tudo bem, geralmente é verdade. Alaran foi uma exceção. Ele e eu temos uma longa história juntos.” Ela suspirou. “Duvido que Hectator será tão amigável.” Ela dirigiu Argo em direção ao portão do castelo. “Espero conseguir convencê-lo a acabar com isso.”
Ela puxou a égua para uma parada e desmontou, estendendo a mão e pegando Gabrielle enquanto ela fazia o mesmo. A barda estava prestes a protestar que era capaz de desmontar de um cavalo quando atingisse o chão e teria caído se Xena não a estivesse segurando.
“Ui”, Gabrielle fez careta. “obrigada.” Ela levou um momento para esticar suas pernas doloridas, então acenou para Xena. “Estou bem”, disse, quando a guerreira soltou sua mão e deu um tapinha em suas costas.
O castelo era de tamanho médio, mas bem feito, e o portão estava guardado. Xena parou na frente do guarda do portão e esperou pela atenção dele. Após um momento, ele olhou para cima e recuou surpreso. Ele não esperava ver uma mulher guerreira, que o superava em vários centímetros, parada em seu portão, isso é certo, pensou Xena. “Preciso ver Hectator.” Ela manteve sua voz no registro mais baixo e imponente.
O guarda engoliu em seco. “Ele está ocupado”, arriscou. “Ele está muito ocupado.”
“Ele vai ficar muito mais ocupado se você não me deixar entrar para vê-lo”, Xena rosnou, adicionando uma dose de olhar à demanda e dando um passo mais perto. Vamos lá, amigo, me deixe entrar. Não me faça te nocautear, certo? Foi um dia longo. Ela murmurou para si mesma. “Só desta vez? Por favor?”
O guarda a examinou de cima a baixo, levantou as mãos e balançou a cabeça. “Senhora, sou inteligente o suficiente para saber que não posso te impedir, então vá em frente. Mas espero que você realmente precise vê-lo. Estamos no meio de preparativos para a guerra aqui.”
Xena levantou os olhos e agradeceu a quem estava ouvindo. “Não se preocupe. Não vou contar a ninguém que você me deixou entrar.” Ela passou pelos portões, seguida por uma Gabrielle silenciosamente rindo. Xena tentou reunir um olhar sombrio, mas falhou, e transformou a tentativa em um sorriso irônico. “Que bom que pude te proporcionar algum entretenimento”, comentou.
Encontrar Hectator foi fácil. Chamar sua atenção foi um pouco mais difícil. Líderes de batalha estavam se movendo por todo o seu salão de conferências, arrastando mapas e planos de batalha. Hectator ele mesmo, um homem alto e bem feito com cabelos e olhos escuros, estava indo de um grupo para outro, emitindo ordens.
Após várias tentativas de interrupção, Xena finalmente perdeu a paciência e decidiu agir drasticamente. Ela pegou uma ponta da enorme mesa de conferências e a lançou para o lado, fazendo com que mapas, líderes de batalha e destroços voassem para todos os lados, junto com o estrondo horrendo quando a mesa tombou. O silêncio se seguiu. Xena se aproximou do centro agora limpo da sala e cruzou os braços. “Olá, Hectator”, ela disse de maneira arrastada. “Precisamos conversar.”
Eu acho que ela gosta disso. Gabrielle considerou, enquanto observava a reação. Acho que ela realmente gosta de ficar ali, no centro desta sala cheia de homens armados, sabendo que é a coisa mais perigosa ali, e sabendo que todos sabem disso. Ela sorriu para si mesma. E acho que eu gosto de assistir a isso. Isso é terrível, não é? Mas é verdade.
“Uh… Vocês todos podem nos deixar, por favor?” Hectator limpou a garganta e disse. “Olá, Xena. Eu não te vi entrar.” Ele fez um gesto para seus homens, que saíram apressadamente da sala, deixando os dois em pé, frente a frente. Havia respeito cauteloso em seus olhos enquanto ele olhava para sua convidada inesperada. “Suponho que você tenha ouvido falar do nosso pequeno problema… você quer ajudar?” Ele levantou uma sobrancelha questionadora para ela. “Aceitaríamos a ajuda, é claro.”
Xena caminhou em direção a ele, segurou seu braço e o guiou até um assento próximo. “Sente-se”, ela mesma se sentou na mesa ao lado dele. “Gabrielle, venha para cá.” A barda atravessou a sala e se instalou em um banco. “Escute. Você está cometendo um grande erro.” Ela olhou nos olhos dele. “Esses monstros com quem você vai lutar não são monstros.” Gabrielle sempre está me pedindo para tentar conversar primeiro. Ok. Então eu vou tentar.
Hectator resmungou. “Vamos lá, Xena. Eu os vi. Você não pode me dizer que eles não são perigosos.” Ele cruzou os braços sobre o peito e balançou a cabeça.
“Perigosos?” Xena levantou uma sobrancelha. “Claro que são perigosos. Você é perigoso. Eu sou perigosa.” Ela o encarou com seu olhar frio. “Na verdade, eu sou muito mais perigosa do que eles.” Ela pousou uma mão em sua manga. “Olha, eu os conheço. Eles estão bem se você deixá-los em paz. Eles fizeram algo contra você? Mataram alguém?”
Hectator se levantou abruptamente e começou a andar de um lado para o outro, agitado. “Eu não sei qual é o seu propósito aqui, Xena – você não pode esperar que eu deixe animais perigosos em minhas fronteiras, nem mesmo se fossem agricultores e não guerreiros, como eles claramente são. Agora, se você não vai ajudar, por favor, deixe-me terminar o que preciso fazer.” Ele franziu o cenho para ela. “E fique fora do meu caminho.”
Xena suspirou e virou-se para Gabrielle. “Sabe, eu realmente queria que essa ideia de resolver conversando funcionasse. Estou cansada, foi um dia longo, e pensei que talvez, apenas desta vez, eu tentaria.” Ela se levantou, a tempo de encontrar Hectator se aproximando dela. Com uma mão, ela segurou a gola dele. Sua outra mão fechou-se em um punho e conectou-se com um alto estalo contra o lado de sua mandíbula. Ele caiu sem som. “Acho que meu timing estava errado.”
Abanando a cabeça, Xena pegou seu casaco e cinto, erguendo-o em um movimento poderoso e jogando-o sobre seus ombros. “Vamos.” ela disse, fazendo sinal para Gabrielle ir na frente dela. “Vai ser uma noite longa.”
“Para onde estamos levando ele?” Gabrielle perguntou, curiosa.
“Para a vila de Jessan.” Xena respondeu, ajustando Hectator para uma posição de transporte mais confortável. “Talvez eu consiga fazer com que ele e Lestan conversem. Se não der certo, talvez eu consiga fazer Hectator perceber que eles não são animais estúpidos em suas fronteiras.”
“Hmm.” Gabrielle comentou. “E se eles decidirem apenas se livrar de mais três humanos?” Sua voz estava leve, mas ela não conseguiu evitar um tom de preocupação na pergunta.
Xena olhou para ela, um pequeno sorriso tocando os cantos de sua boca. “Você está preocupada?”
“Sim.” A barda respondeu, honestamente. “Jessan estava realmente ansioso com a gente perto do território de seu povo.”
“Bom, Gabrielle.” Xena murmurou, enquanto desciam a escadaria, mantendo-se nas sombras escuras agora caídas sobre o castelo. “Hectator não me preocupa tanto. Mas…” ela pausou e sorriu, “Para chegar até você, eles teriam que passar por mim.”
Gabrielle sentiu o fôlego prender momentaneamente. “OK. Me sinto melhor agora.” ela disse, um pouco rouca. “Tenho certeza de que vai dar tudo certo.” Ela lançou um olhar de soslaio para Xena, que observava sua reação com um leve sorriso. Que mistura estranha de reações. Quero dizer… é verdade. Eu sei disso. E eu me pergunto se ela percebe o quanto isso me assusta. Ou por quê?
A barda seguiu Xena e sua carga de volta ao pátio do castelo, feliz agora por ter tido a chance de dormir mais cedo. Quatro horas como desculpa para um abraço seria mais adequado. Ela riu de si mesma, por reflexo. Coitada da Xena. O contato físico era uma parte muito importante da vida familiar de Gabrielle. Em casa, nunca era tarde demais para um abraço entre todos eles. Isso era tão natural quanto respirar para ela. Infelizmente, Xena tinha uma atitude muito diferente em relação a isso – ela gostava de distância e realmente não gostava que as pessoas invadissem seu espaço pessoal, muito menos a tocassem. Isso a deixava muito nervosa, e pessoas com reflexos rápidos e muitas armas afiadas são alguém que você não quer nervoso perto de você.
Gabrielle respeitava isso, mas era impossível lembrar o tempo todo, especialmente depois de viajar com Xena por um tempo e se sentir mais à vontade tanto com a guerreira quanto com seu ambiente. E pelo menos Xena já havia parado de se encolher ou ficar tensa quando Gabrielle esquecia e usava um toque para fazer um ponto ou apenas casualmente. Sua testa se franziu em pensamento repentino. Na verdade, ela percebeu de repente, com um sobressalto, que começou a esquecer de não fazê-lo. E ultimamente, a barda percebeu com algum divertimento, que Xena havia baixado um pouco a guarda e se permitido fazer contato casual em troca, um tapinha nas costas, ou um aperto de ombros, ou um abraço gentil quando Gabrielle mais precisava. Não que ela ousasse mencionar, é claro. Oh, não. Um sorriso puxou seus lábios.
Eles esquivaram-se dos guardas apressados no pátio do castelo, a escuridão escondendo o que Xena carregava sobre o ombro. Argo relinchou quando os avistou e, obedientemente, trotou até eles ao som de um assobio suave. Xena carregou Hectator sem cerimônia para as costas da égua, cobrindo-o com um pedaço de manta, e eles passaram pelo portão e começaram a descer a longa trilha de volta para a floresta antes que alguém pudesse pensar em impedi-los. Ou perceber o que a égua carregava.
Hectator estava amarrado pelas mãos e pés, e quando recobrou os sentidos, não estava nada agradável. Ele praguejou por alguns minutos. “Xena, você não vai se safar dessa. O que você pensa que está fazendo? Meus homens nos encontrarão pela manhã, e eu vou te colocar em correntes!” Ele se retorceu furiosamente em suas amarras, encarando com raiva o perfil dela mal visto na escuridão.
Xena bocejou. “Você terá que esperar na fila. Há pelo menos um deus e inúmeros homens mais perigosos do que você que fizeram essa ameaça específica.” Ela riu cansada. “Quanto ao que estou fazendo, estou tentando fazer você ver a razão e evitar que vidas inocentes sejam perdidas, então me dê um tempo, tudo bem?” Ela o olhou, divertida. “Você não será machucado. Eu só quero que você converse com eles.”
Hectator ficou em silêncio por um momento. “Você realmente acha que eles vão me deixar sair daquele buraco vivo…” O sarcasmo transbordava de sua voz. “Você ficou mole da cabeça, Xena.”
Xena revirou os olhos para ele. “Sua maior preocupação deveria ser se eu perdi a firmeza em qualquer outro aspecto.” Ela o observou, divertida. “Hectator, eu não vou deixar que façam nada com você, eu prometo.”
“Você tem tanta certeza de que está certa, não é.” Ele comentou, virando a cabeça no pescoço de Argo para observá-la.
“Não, Hectator. Eu só te sequestrei e estou te levando à força para o acampamento base do que você percebe ser seus inimigos porque não tinha nada melhor para fazer esta noite.” Ela retrucou. “Acredite em mim, eu preferiria estar sentada em uma de suas estalagens, contribuindo para a economia local.”
Gabrielle alcançou Xena e entregou-lhe um cantil de água que Xena não havia percebido que precisava até aquele momento. Ela olhou para a forma sombria de sua companheira e sorriu. “Obrigada.” ela sussurrou. “Será que pareço tão cansada quanto me sinto?” A luz da lua era apenas o suficiente para ela ver o sorriso de resposta de Gabrielle. “Pensei que sim.”
“Você quer parar por um tempo?” a barda murmurou de volta.
“Não.” Xena suspirou. “Não há tempo, infelizmente.” Ela olhou em volta para observar o caminho que acabavam de percorrer. “Os guardas dele estarão atrás de nós… assim que perceberem que ele foi levado.” Ela olhou sorrateiramente para Hectator. “E superarem seu embaraço.”
Gabrielle assentiu, então ofereceu-lhe pão e queijo. “Pode ser bom jantar então.”
Xena olhou para ela com um sorriso irônico e cúmplice. “O que mais eu poderia querer?” Ela aceitou a comida e começou a mastigar. Gabrielle caminhou em silêncio ao lado dela, mastigando sua própria porção. Hectator também estava em silêncio, tentando encontrar uma posição confortável nas costas de Argo. Xena teve pena dele e cortou as cordas que prendiam suas mãos, com um aviso de que uma tentativa de fuga resultaria em ele passar o resto da viagem embaixo de Argo em vez de em cima.
“Então, elas me deixaram perto do riacho e continuaram seu caminho.” Jessan terminou, sua boca sentindo como se um rato tivesse corrido desenfreado por ela. A água não tinha ajudado – sua língua doía de tanto falar. Wennid e Lestan tinham ouvido em silêncio, com algumas perguntas pertinentes, até o final. Agora, eles olhavam pensativamente um para o outro. Jessan suspirou… eles conseguiam se comunicar mais com um olhar do que a maioria de seu povo com uma conversa inteira. Em momentos como este, o vínculo deles era quase tangível. Ele os invejava… ele tinha amado Devon, é claro, mas não tinha sido um vínculo de vida.
“Bem.” Lestan finalmente suspirou. “Isso é uma história e tanto.” Ele se afastou da mesa e tomou um longo gole de hidromel. “Não posso dizer que teria feito como você fez, Jessan…” ele o olhou fixamente. “mas está feito agora… não posso mudar isso.” Ele olhou para sua companheira de vínculo, sentada com as mãos musculosas entrelaçadas diante do rosto, perdida em pensamentos. Deuses, ela é linda. Lestan pensou, enquanto a observava carinhosamente, esperando o julgamento dela sobre o relato de seu filho.
“Estou apenas feliz que você tenha chegado em casa.” Wennid finalmente disse, o mais próximo da aceitação que estava disposta a chegar agora. Ela ergueu a cabeça, assim como eles, ao som de passos correndo em sua direção. Sons terrenos, então um baque quando o corredor saltou para a varanda.
“Lestan!” Deggis ofegou, ao aparecer na porta. “Humanos. Vindo para cá.”
Lestan amaldiçoou. “Quantos?” Sua mente já estava se voltando para manobras defensivas. Tão rápido! Mas como?
“Uh… três.” Deggis respondeu. “E um cavalo.”
Todos o encararam. “Três?” Lestan perguntou, confuso. Isso não era uma festa de guerra então.
“Descreva-os.” Jessan de repente pediu, virando-se para o primo. “Como são?”
Deggis se virou para ele. “Há um homem amarrado ao cavalo, e duas mulheres caminham ao lado dele. Uma é alta, de cabelos escuros e com uma espada. A outra é mais baixa, de cabelos claros e com um bastão.” Ele olhou para o Lestan e Wennid paralisados. “Por quê?”
Jessan olhou para cima para seus pais e acenou em confirmação. “São elas.” ele se virou para Deggis. “Alguém está amarrado nas costas do cavalo?” Seu primo assentiu. “Me pergunto o que isso significa.” Então uma ideia lhe ocorreu, que ele não articulou. E se Xena e Gabrielle tivessem ouvido sobre o ataque planejado de Hectator? E se eles estivessem fazendo algo a respeito? Ele não duvidaria disso. Ele se inclinou para frente. “Deixe-as vir.” Ele instou seu pai.
Lestan sorriu. “Oh, eu pretendo.” Ele olhou friamente para seu filho. “Eu pretendo.” Ele se levantou e alcançou suas armas. “Na verdade, eu mesmo vou encontrá-las.”
Ohh… não…. a mente de Jessan gritava. Má ideia. Mas como fazer seu orgulhoso pai entender isso. Para ele, eles eram apenas um par de humanos, facilmente manejáveis. “Deixe-me ir com você.” Ele implorou. “Por favor…”
Lestan nunca poderia resistir a um desafio, mesmo com um braço ele era um dos maiores campeões vivos deles… e Xena era um desafio longe de ser ignorado. Havia apenas um pequeno problema… uma pequena coisa que apenas ele e seu pai sabiam; que entre os dois, Jessan era o melhor lutador. Eles descobriram isso numa clareira da floresta não muito longe daqui numa manhã de primavera não muito distante.
De muitas maneiras, tinha sido sua passagem para a idade adulta, e ele se lembrava disso com muito orgulho e um pouco de tristeza. Lestan poderia lidar com ser derrotado por seu filho. Ele não podia, não devia lidar com ser derrotado por uma mulher humana. Seria o fim dele. E Jessan sabia, tão certamente quanto o sol surgia no céu todas as manhãs, que ele seria derrotado, a menos que tivesse muita sorte tocada pelos deuses, ou Xena tivesse pena dele.
“Não.” Lestan rosnou. “Você fica aqui. Sua mente está turva nisso.” Ele jogou um leve casaco de batalha sobre os ombros, então passou rapidamente por Wennid para um abraço rápido. “São apenas três deles. Isso não vai demorar.”
Ares. Jessan gemeu para si mesmo. Por que tudo tinha que ser tão difícil? “Pai”, ele latiu, chamando a atenção de todos. “Ela é… perigosa. Por favor… não brinque… com ela.” Sua respiração se acelerou.
Lestan bufou. “Vou desafiar o blefe dessa humana, meu filho. Mas vou tentar não causar muitos danos, visto que ela nos fez um grande favor ao ajudá-lo.” Ele lançou um olhar exasperadamente carinhoso para seu filho, que, ele sabia, havia herdado o coração de sua mãe, juntamente com sua intuição única.
Jessan suspirou internamente. Às vezes… Ele se levantou e bloqueou o caminho de seu pai em direção à porta, ignorando a raiva nos olhos de Lestan. “Pai, por favor… você não entende.”
“Entendo que você está no meu caminho, filho, e é melhor sair dele.” Lestan rosnou, sério agora. “Acho que posso lidar com uma guerreira humana sozinho. Se ela quer vir nos visitar – bem, veremos se eu a deixarei.”
“Pai, não a desafie.” Ela vai vencer, sua mente uivava, e não posso dizer isso a ele diretamente. “Ela é…” ah, uma saída. Embaraçosa, mas uma saída, e uma maneira de avisar seu pai sem fazê-lo perder a face. “Eu lutei com ela.” Ele riu brevemente. “Várias vezes. Eu dei tudo de mim. Tentei… de tudo.” Agora ele tinha a atenção de Lestan. Bom. “Eu não consegui tocá-la.” Incredulidade em todos os olhos. “Ela pegou minha espada e me deu um tapa com ela.” Incredulidade total. “Ela não blefa.” Ele terminou quietamente. “Ela não precisa.” Ele olhou para cima para Lestan, nos olhos dele. Ah… ele entende. Espero.
“Vou me lembrar disso.” grunhiu o líder alto. “fique aqui.” E saiu com Deggis o seguindo, confuso. Wennid encarou a porta por um longo tempo, depois voltou seu olhar afiado para seu filho. Ela acenou para ele e sorriu um sorriso conspirador. “Isso foi algo gentil que você fez, Jessan.”
“Você não acredita.” Jessan suspirou. Claro que não. Eles eram apenas humanos, certo?
“Muito pelo contrário.” Sua mãe respondeu. Ela se aproximou dele e segurou seu rosto em suas mãos gentis. “Você é meu filho, assim como ele é meu marido.” Ela o beijou na cabeça. “Só espero que você esteja certo sobre elas.” Ela o estudou pensativamente. “Você ama essa humana, esse… monstro?”
Jessan fechou os olhos e baixou a cabeça, e não respondeu. Ele não precisava.
——————-
Estava amanhecendo quando eles alcançaram o riacho que marcava a fronteira da terra natal do povo da floresta. Xena parou antes de chegar à margem, tomou um longo gole de água e reajustou sua armadura e armas novamente. Ela esperava ter uma chance de conversar com o povo da floresta antes que qualquer luta começasse, mas nunca se sabe… Jessan poderia estar fora, ou dormindo, ou o que quer que fosse. E ela sabia que teria muito pouca chance de explicação depois de cruzar este riacho. Ela olhou para trás para Gabrielle, que estava conversando com Hectator, mas vasculhando a linha das árvores mesmo assim. Deveria mandá-la de volta. A mesma história de sempre, não é? Mas não há tempo agora, e ela só ficaria muito brava se eu tentasse. Xena suspirou. Espero que esse pequeno plano funcione.
“Tudo bem”, ela disse friamente. “Vamos.” Ela segurou a rédea de Argo e adentrou o riacho. A água estava gelada e a despertou completamente, como ela esperava. Gabrielle caminhava ao seu lado montante, tateando com seu bastão. A barda escorregou um pouco nas pedras arredondadas e teria caído se não fosse pelo rápido braço de Xena em seu ombro. “Cuidado”, ela advertiu, deixando o braço ali para garantir sua segurança até que cruzassem para o outro lado.
Assim que pisaram na outra margem, a audição altamente sensível de Xena começou a captar movimentos muito tênues e sutis ao redor deles. “Eles estão aqui”, ela disse quietamente. Ela fez Argo parar e se colocou à frente do cavalo, mantendo as mãos longe de suas armas. O sol estava apenas começando a nascer, lançando as primeiras cores rosadas no céu. O vento da alvorada era vigoroso e balançava seus cabelos escuros enquanto ela esperava, sentindo-os cada vez mais próximos. Ela fixou seus olhos onde sabia que o mais próximo estava e finalmente falou. “Você pode se mostrar.”
Uma forma escura surgiu imediatamente da alta grama à beira do rio, assustando Hectator, mas não Xena ou Gabrielle após sua jornada com Jessan. Seu casaco era mais escuro do que o do amigo deles, e talvez um pouco mais baixo e mais pesado. Ele usava um conjunto completo de armas e segurava habilmente uma longa espada em uma das mãos enormes. Seus olhos, um tom mais escuro de ouro do que os de Jessan, buscavam os dela, intensamente. Xena o estudou atentamente e notou que ele favorecia o braço direito. Ela sorriu levemente. “Lestan?”
Surpresa se mostrou em seus olhos. “Sim”, ele finalmente respondeu. “E você deve ser Xena.” Ele acenou com a cabeça para ela, depois inclinou a cabeça na direção da mulher loira atrás dela. “E Gabrielle.” Ele voltou os olhos frios para a carga de Argo. “E isso é?”
Xena deixou os braços caírem ao lado do corpo e se aproximou dele, puxando as rédeas de Argo. “Isso é Hectator. Acho que vocês dois precisam conversar.” Ela parou a uma distância de ataque dele e apenas esperou. Gabrielle ficou alguns passos atrás, apoiada em seu bastão, observando alternadamente o rosto dele e o dela.
Lestan a observou com perplexidade. “Você traz o grande inimigo do meu povo para o meu acampamento e me diz que preciso conversar com ele? O que te faz pensar que eu não cortaria a cabeça dele?” Ele moveu sua espada nua em um arco que a aproximou, observando seus olhos, não encontrando nada do que procurava.
“Duas coisas”, Xena declarou, olhando para cima para ele com total confiança. “Primeiro, eu conheço seu filho.” Ela soltou as rédeas de Argo e se aproximou dele, ignorando a espada desembainhada e seu tamanho imponente. “Segundo, dei minha palavra a ele de que o manteria seguro aqui.” Ela pausou e esperou.
“O que sua palavra vale para mim, humana?” Lestan debochou, em um tom frio. Ela ousa! “Você acha que poderia me impedir?”
Xena sorriu e ficou muito quieta. “Eu acho?”, ela perguntou suavemente, depois balançou a cabeça negativamente. “Eu sei.” E estava ciente de todos os seus sentidos se aguçando, a sensação afiada enquanto seus reflexos se preparavam para agir ao menor movimento dele. Eles nos julgam tão mal quanto nós os julgamos. Ela pensou, casualmente. Interessante.
A mulher estava louca. Lestan pensou consigo mesmo, incrédulo. Será que ela realmente acredita no que diz? Ele observou aqueles olhos azuis de gelo. Ele viu a crença sem questionamentos. Ares, o que ela estava pensando? Ele se erguia sobre ela e passara uma vida em guerra. Ele conhecia suas próprias habilidades, mesmo com um braço, eram formidáveis ao extremo. Certamente, ela sabia disso, e ainda assim…
Ela realmente tinha derrotado Jessan? Como ela poderia? Ela era apenas uma humana, e uma humana mulher… certamente… mas Jessan não teria mentido. O olhar nos olhos de seu filho tinha sido de verdade, e admitir a derrota diante de seus pais e primo… não. ele tinha dito a verdade. Mas como??? Sua testa se contraiu, e ele deu mais uma olhada nela, desta vez vendo-a como uma guerreira, como olharia para um de seus próprios.
Ah… humana, sim, mas havia grande força ali, e coragem nos olhos pálidos, e o inconfundível selo de Ares naquela postura. Ela estava tensa para responder ao menor movimento dele, e ele teve a sensação desconfortável de que não conseguia prever o que aconteceria se ele fizesse um movimento. Ele queria arriscar? Arriscar-se com ela? Nem um piscar de olhos, nem um único movimento de seu olhar para ele. Lestan não teria vivido tanto tempo sendo um tolo. Ele saboreava, com cauteloso interesse, o conhecimento de que estava tão próximo da morte neste momento silencioso quanto jamais estivera, enfrentando essa humana que era mais do que parecia e menos do que suas muitas lendas.
Então. Esta era Xena, que não precisa blefar. De quem meu filho pensava bem o suficiente para chamar de família. Que passou de queimar e saquear para defender os desamparados. Inacreditável. Lestan deu-lhe um pequeno aceno com a cabeça e, lentamente, embainhou sua longa espada. “Meu filho me contou muito sobre você”, ele olhou para dentro de seus olhos. “Mas vejo que ele não me contou tudo.”
Ele indicou a floresta. “Venha. Vamos conversar.”
Gabrielle soltou um longo suspiro silencioso. “Por pouco”, sussurrou para si mesma, lançando um olhar para Xena, que agora caminhava calmamente ao lado de Lestan, ouvindo-o. Ela estava muito feliz por Lestan ter escolhido deixá-los visitar – ela não tinha desejo de ver o pai de Jessan ferido, e se ela interpretasse corretamente as reações de Xena, ele teria sido ferido, e provavelmente Xena também. Gabrielle não era muito de apostar, mas…um sorriso relutante brincava em seus lábios. Admita… você se diverte tanto quanto ela em assistir ela executar essas coisas. A barda resmungou baixinho. Uma montanha de músculos e presas, sua aposta teria sido em Xena.
À frente deles, a linha de árvores escuras esperava.
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A ansiedade de Jessan o consumia enquanto ele trilhava pequenos círculos, impaciente. Crescendo em altura, esforçou-se para enxergar melhor… Será que eram eles se aproximando? Uma pontada de medo o acometeu.
Então, um vislumbre de pelagem dourada cortou sua preocupação. Argo, sem dúvida alguma. Agora, seu pai surgia à vista, avançando com solenidade ao lado da silhueta ágil e sombria de Xena, que, com a cabeça inclinada, conversava animadamente, suas mãos acompanhando as palavras. Uma onda de alívio o inundou. Gabrielle também entrou em seu campo de visão, caminhando ao outro lado de Xena, absorta na conversa. Montado em Argo, estava… Hectator. Inacreditável. Assim, ela confirmava mais uma vez a fé que depositara nela. Com um suspiro contente, Jessan deixou-se sorrir, absorvendo a cena que se desenrolava diante de seus olhos.
Deggis cutucou suas costelas. “Então… esses são seus novos… amigos?” Ele sussurrou para Jessan, abaixando-se enquanto o guerreiro maior se virava com raiva. “Espere até todo mundo ouvir que você foi derrotado por uma delas….” Ele sorriu sombriamente. “Não é que elas sejam tão feias, para humanos” Ele esticou o pescoço curto e observou com interesse. “Isso é… não… não pode ser… é… é Hectator!” Ele jogou a cabeça para trás e deu uma risada curta. “Nos poupe do trabalho de sair e pegá-lo. Bons amigos que você tem aí, Jess.”
Xena ouviu a voz grave de Lestan enquanto caminhavam em direção à floresta. Era uma distância razoavelmente curta até as árvores, e eles tinham conseguido uma escolta no caminho. Formas sombrias moviam-se de árvore em árvore, e vários dos enormes habitantes da floresta se agruparam ao redor deles. Todos tinham uma certa semelhança superficial com Jessan, mas cada um tinha diferenças individuais, na cor do pelo, altura, maneirismos. Não foi até que estivessem à beira da própria aldeia que uma das formas paradas se transformou em um rugido estrondoso e avançou em sua direção. Xena ouviu Hectator arfar, e ela sorriu para si mesma, enquanto Jessan avançava em direção a eles e puxava as duas mulheres para seus braços.
“Jessan, Jessan.” Xena riu. “Vai com calma, vai?” Sua devoção aos abraços a fez suspeitar que ele e Gabrielle tinham um ancestral em comum. “Aposto que você não pensou que nos veria novamente tão cedo”, ela lançou olhares para a multidão chocada e desaprovadora de habitantes da floresta ao redor deles.
“Xena,” ele gaguejou. “Eu te disse para me dar uma chance de acostumá-los com a ideia. Isso não era o que eu tinha em mente.” Ele riu e envolveu um braço em cada um dos seus ombros enquanto continuavam a caminhar para o centro da aldeia. “E vocês trouxeram um convidado também…” Ele sacudiu a cabeça para elas. “Aqui eu passei tanto tempo pensando em como ia contar aos meus pais que não só conhecia vocês duas, mas que as considerava família… e pronto, vocês aparecem na floresta, assustando todo mundo pelo caminho.” Ele olhou para trás para Argo, que seguia pacientemente. “E trouxeram Hectator com vocês.”
Xena se virou para Hectator, cujas amarras nas pernas ela havia cortado antes de atravessar o riacho com um aviso sombrio para ele não correr, ou causar problemas, ou atacar alguém ou algo. “Hectator, este é nosso amigo Jessan.”
Hectator estudou o alto habitante da floresta com interesse cauteloso. Ele não era um homem estúpido, apenas limitado na visão, e tinha sido consideravelmente tranquilizado pelo fato de esses habitantes da floresta não o terem machucado de forma alguma. Ainda. Embora admitisse que a cena entre Lestan e Xena o intrigara, e lhe dera esperança de que Xena pudesse realmente cumprir sua promessa de proteção. Ela certamente fizera o muito maior Lestan hesitar. Interessante. Então, talvez ela tivesse um ponto, e eles não eram animais. Ele sorriu para si mesmo. Normalmente, quando se pensava em Xena, pensava-se em sua destreza em combate. Ele havia esquecido, como muitos frequentemente faziam, que ela também era inteligente o suficiente para ter liderado um dos maiores exércitos que esta parte da Grécia já vira. Havia inteligência astuta naquela cabeça escura, e mais do que um toque de genialidade tática. Seu erro. Ele tentou não cometer o mesmo duas vezes, e se Xena considerava aquele ser da floresta um amigo, bem… Além disso, ele massageou a mandíbula ternamente. Ela tinha um soco que poderia derrubar um cavalo e ele não tinha absolutamente nenhum desejo de ser reapresentado a ele.
“Olá.” Ele finalmente disse, e após um longo momento, estendeu a mão para Jessan. O guerreiro de pelagem dourada inclinou a cabeça em certa surpresa, mas pegou a mão de Hectator e apertou.
Argo parou do lado de fora da casa de Jessan, onde Wennid estava esperando, e os olhos de Xena passaram por ela, absorvendo informações sem ofender ao olhar abertamente. A mãe de Jessan era um exemplo menor, de cor amarela pálida, dos habitantes da floresta, mas mantinha o grande porte e a força intimidadora. Ela tinha um rosto doce, e seus olhos eram da mesma cor que os de seu filho. Neste momento, esses olhos estavam estudando seus convidados com um cálculo inquietante.
Xena esperou enquanto Hectator desmontava de Argo, então enviou a égua em direção a um riacho próximo. Ela virou-se e observou enquanto Lestan e Hectator se estudavam, então sorriu em particular quando ambos deram um leve aceno, quase imperceptível. “Eu acredito”, ronronou Lestan. “que você e eu podemos conversar. Você gostaria de entrar, compartilhar minha hospitalidade e discutir nossas diferenças comigo?”
Hectator respirou fundo. “Eu irei.” Ele lançou um olhar para Xena e Gabrielle. “Sim, eu irei”. Ele esperou que Lestan o precedesse pelos degraus da pequena escada e o seguiu para dentro da cabana.
Enquanto essa troca acontecia, Wennid estudava as duas mulheres. Então esta era Xena. Ela não parece tão temível como eu me lembro. Talvez fosse o sorriso… ela não sorriu depois de arrasar a vila no vale seguinte, nem na única outra vez que Wennid a viu. A mulher matava crianças e mulheres indefesas e idosos em ataques lendários. E aqui ela estava, de pé na minha porta da frente, como se não fosse nada para ela aparecer em acampamentos desconhecidos com príncipes territoriais amarrados nas costas de seu cavalo. O que Jessan viu nesta mulher, este monstro do passado? Tomando uma respiração firme, ela fechou resolutamente os olhos e, temendo o pior, estendeu seus sentidos. Momentos depois, ela abriu os olhos, sentindo o espanto se desdobrar sobre ela como uma onda de chuva suave. Então. Mais havia mudado do que o sorriso. Inesperado. Muito inesperado. E Jessan tinha visto, mais… tinha entregado seu coração a esta… humana.
Xena observou Lestan e Hectator entrarem na casa com uma grande satisfação. O plano ocorreu a ela, como frequentemente ocorriam, no calor do momento enquanto ela e Gabrielle estavam entrando no castelo. Ver as coisas funcionarem como planejado lhe deu uma sensação de realização calorosa, rara, quando a maioria de suas vitórias envolvia violência de algum tipo. Ela sentiu o sorriso de Gabrielle mesmo antes de virar para olhá-la, e a barda piscou quando seus olhares se cruzaram. “Jessan,” Xena disse. “Acho que podemos deixá-los por enquanto.” Ela suspirou profundamente. “Mas eu ficaria de olho em sua guarda – tenho certeza de que nos seguiram.”
Jessan voltou seu olhar dourado para ela e assentiu. “Vamos ficar de olho.” Ele retomou seus braços ao redor delas, exibindo um sorriso para sua mãe. “Mãe, gostaria de apresentar minhas amigas Xena e Gabrielle.” Ele sorriu. “Pessoal, esta é minha mãe, Wennid.” Seus olhos cintilaram para sua mãe, lembrando-se da bronca severa que ele havia sofrido delas na noite passada. Vingado, ele não estava disposto a deixá-la esquecer, tampouco. Ele tinha visto sua mãe fechar os olhos e sentiu que ela estendeu sua Visão para ver por si mesma o que ele, ele mesmo, sabia além de qualquer dúvida. A expressão de Wennid disse a ele tudo o que ele precisava saber. Ela havia Visto.
Wennid, após uma vida inteira convivendo com Lestan, era uma mulher muito teimosa. No entanto, ela também era incrivelmente justa e tinha a habilidade admirável de admitir quando estava errada. “Sejam bem-vindas, ambas.” ela murmurou, serenamente. “Meu filho me contou tanto sobre o que vocês fizeram por ele. Por favor, sentem-se à mesa juntos e deixem-me ouvir..” ela lançou um olhar malicioso para o filho. “a verdadeira história.”
Gabrielle explodiu em risos, e até Xena riu. Eles subiram os degraus e entraram nos aposentos da família na casa de Jessan. Xena estava bem ciente de que a mãe de Jessan, apesar de toda a sua simpatia, não confiava em nenhuma das duas. Não que eu a culpe. A mulher mais velha os conduziu para uma grande área de estar confortável e os indicou os lugares. Ela entrou na próxima sala, e reapareceu vários minutos depois com uma bandeja cheia de comida e bebida.
“Aqui estão.” Wennid deslizou a bandeja sobre a mesa e sentou-se em uma grande cadeira bem estofada. “Acredito que todos nós somos carnívoros aqui, não é?” Ela perguntou educadamente. “E Lestan se orgulha de seu hidromel. Por favor, sirvam-se.”
Xena riu. “Já me acusaram de muitas coisas, mas ser vegetariana não é uma delas.” Ela pegou alegremente um pedaço de carne da bandeja e deu uma grande mordida, mantendo contato visual com Wennid. A carne estava grelhada, tinha um leve sabor de ervas e provavelmente era de veado. Ela escolheu um copo de hidromel e se acomodou na cadeira, com um olhar divertido no rosto. Testes. Eles sempre têm que fazer testes. Serei civilizada? Aceitaremos a hospitalidade? Um dia desses, vou dizer a alguém que só bebo sangue e exijo dois baldes de leite cheios por dia. Humana. Ela trocou olhares com Jessan, que, pelo movimento em seu rosto, estava tentando não rir. Você acha isso engraçado? Espere até Gabrielle começar. Você vê o brilho nos olhos dela? Espere só.
“Isso está realmente bom.” Gabrielle comentou, mastigando com entusiasmo. “E você tem uma casa adorável.” ela acrescentou, olhando ao redor apreciativamente. “Eu gosto dos chifres de veado.” Ela virou seu olhar brilhante para Wennid. “Você os capturou pessoalmente?” Ela teria percebido o desafio de Wennid mesmo sem conseguir ver o brilho nos olhos azuis de Xena, mas a troca de olhares divertidos entre a guerreira e a barda a havia assegurado de que Xena, também, estava ciente e provocando Wennid de volta.
Wennid se viu, forçada a reconhecer, profundamente perturbada. Avaliar humanos sempre se revelava uma tarefa árdua – ela nutria a esperança de ensinar ao filho a cautela necessária, demonstrando como eles poderiam desdenhar dos conceitos de lar e modos de vida alheios. E, no entanto, ali estavam eles, dois humanos, desfrutando alegremente de sua refeição, rasgando carne com as próprias mãos e curiosos sobre a caça ao cervo. E para aumentar a surpresa, Xena parecia entender perfeitamente as intenções ocultas de Wennid. Isso ficava evidente pelo seu sorriso solto e pelas trocas de olhares cúmplices com a jovem loira ao seu lado. Havia uma cumplicidade quase palpável entre as duas… Os olhos de Wennid se afunilaram em suspeita, e um olhar inquisidor foi direcionado ao filho. Não, aquilo seria inimaginável.
Jessan encontrou o olhar de sua mãe, adivinhando com uma precisão notável o que ela estava pensando. Sim.. possível, ó minha mãe… Olhe, e Veja por si mesma. Nós os lamentamos por sua falta… agora Olhe e veja o que é para eles serem abençoados, como você e pai são.. e sinta pena deles, mamãe… porque eles nem sabem o que é que eles sentem.. Ele os distraiu por um momento, ao ver os olhos de sua mãe se fecharem por um instante, depois se abrirem com uma expressão indecifrável. Então. Wennid deu uma pequena sacudida em si mesma. “Bem, sim, na verdade, eu capturei.” Ela respondeu à pergunta de Gabrielle. “Tão gentil da sua parte perceber.” Olhos penetrantes, aquela jovem tinha. Refletiu Wennid. Ela vê mais do que sabe. Mas não o suficiente… pobres humanos cegos. Como poderiam ter um vínculo tão forte e não senti-lo?
Ela lançou um olhar para o filho, que estava sorrindo de forma discreta, de uma maneira tranquila que só ela reconhecia. Pestinha!! Ah, bem, ela finalmente suspirou. O maldito pirralho estava certo. Eu poderia muito bem admitir e parar com esses joguinhos bobos. “Então. Agora me conte toda a história. Nenhuma parte deixada de fora!”
Para sua surpresa, foi Gabrielle quem pigarreou e começou a falar. O quê? Ah.. uma barda! Ela deu a Jessan um olhar malicioso. Ele não tinha mencionado isso. Pelo menos, se nada mais, ela teria uma nova série de histórias com isso.
Depois que a curiosidade de sua mãe foi totalmente saciada, Jessan os escoltou para uma pequena sala na parte de trás dos aposentos. “Aposto que vocês devem estar precisando de um pouco de sono.” Ele comentou, acenando com a mão em direção à cama. “Provavelmente meu pai vai ficar em conferência com Hectator pelo resto do dia. Vocês sabem, eles têm que se testar, fazer acordos… o usual.” Ele pausou, então pôs a mão no ombro de Xena. “Aliás, nós ainda não dissemos isso, mas obrigado.” Jessan olhou nos olhos dela. “Se isso funcionar, será uma primeira vez e um marco na história do meu povo.” ele sorriu timidamente. “E na sua, eu espero.”
Xena lhe deu meio sorriso e deu de ombros levemente. “Depois de todo o trabalho que passamos para te trazer para casa, parecia uma má ideia assistir sua vila ser atacada.” Ela pausou, então “mas de nada. E sim, um pouco de sono seria apreciado. Alguns de nós não conseguiram cochilar a caminho da cidade.” Isso com um olhar brincalhão para Gabrielle.
“Vamos lá.” Interveio Gabrielle, contornando Xena pelo outro lado. “Armadura.” Ela desfez uma fivela, enquanto Xena lhe lançava um olhar divertido.
Jessan riu, “Parece que você está bem cuidada.” Seus olhos dourados brilhavam com uma luz oculta por um momento, e então ele os deixou sem mais uma palavra.
“Não me olhe assim,” repreendeu Gabrielle, trabalhando em outra fivela. “Até a grande Xena, a Pacificadora, precisa dormir às vezes.” Ela desfez a última fivela e cutucou Xena no braço. “Então, durma, oh grande Pacificadora.”
Xena riu e se ajoelhou para remover a última de suas armas. Ela colocou as armas e a armadura juntas, arranjando-as ao seu gosto. “Acho que toda essa coisa pode realmente funcionar.” Ela lançou um olhar para sua companheira, que estava batendo o pé em irritação fingida. “É melhor você parar com isso, senão eu vou…”
Gabrielle estreitou os olhos em fendas. “Ou você vai… o que???” Ela avançou ameaçadoramente. “Hmm?”
“Isto.” Xena respondeu e investiu de repente, pegando Gabrielle de surpresa e pela cintura, jogando-a na cama. “Peguei você.” Ela aumentou a indignidade fazendo cócegas nela, fazendo a barda ficar com o rosto azul na tentativa de não rir. “Me ameaçar, é?” Xena rosnou, fazendo cócegas com mais força, até que Gabrielle explodiu em risadas e agitou os braços em rendição. Xena sorriu e se esticou no outro lado da cama, apoiando a cabeça em uma mão e observando sua companheira ainda rindo.
“Ohh.” a barda finalmente recuperou o fôlego o suficiente para dizer. “Ok..ok..você venceu…” Ela rolou para encarar Xena, afastando o cabelo dos olhos. “Um dia eu vou aprender a não fazer isso.” Então seus olhos brilharam. “Ou vou descobrir onde você é sensível às cócegas.”
Xena ergueu uma sobrancelha e parecia que ia fazer um comentário, mas pensou melhor. “Eu não sou sensível às cócegas.” ela declarou, mas seus lábios se curvaram em um leve sorriso. Ela se esticou e se deitou de lado para dormir, apoiando a cabeça em um braço.
Gabrielle a observou por um momento, então se acomodou para dormir ela mesma, ainda rindo um pouco. Este lado travesso e gentil de sua companheira era algo que apenas ela conseguia ver, ela percebera há algum tempo. Oh, ocasionalmente alguém mais pegaria um vislumbre, como Jessan tinha com os peixes mordendo ele, mas em sua maior parte, não.. o que todos os outros recebiam era a lutadora muito calma e em grande parte sombria. Isso a fez entender o quanto avançaram desde o tempo em que se conheceram, quando ela passava metade do tempo morrendo de medo de fazer o movimento errado e ter o braço decepado por isso.
Jessan as acordou depois que a conferência terminou, embora Xena já estivesse acordada quando ele entrou. Ela estava sentada, apoiando as costas na cabeceira acolchoada da cama, consertando uma alça de armadura enquanto mantinha um olho em sua companheira ainda adormecida. Ela levantou uma sobrancelha para ele quando ele entrou.
“Sucesso.” Foi o único comentário dele. Ele sorriu para ela.
Xena assentiu. “Imaginei.” comentou, estendendo-se para sacudir o ombro de Gabrielle, que estava próxima. “Gabrielle…” A barda piscou sonolenta para ela, então despertou completamente e virou-se para encarar Jessan.
“Funcionou? Funcionou..posso ver pelo seu rosto. Ótimo!” Gabrielle disse rapidamente em uma respiração. “Nossa..que história incrível isso vai render…” ela ficou introspectiva, começando a planejar como montar a aventura verbal, depois saiu do transe com um sorriso. “Mal posso esperar para contar ao Iolaus. Isso supera completamente a última dele.”
“Um pequeno banquete está planejado.” Jessan informou-os. “Hectator enviou uma mensagem de volta para sua guarda, dizendo que podem relaxar.” Ele sorriu para os olhos revirados de Xena. “Relaxem, não é um banquete formal, não tivemos tempo para organizar isso.” Ele olhou por cima do ombro com um medo fingido. “Sejam gratos.”
O banquete foi realizado ao ar livre, ao redor da grande fogueira no lado oposto da aldeia. Havia bancos baixos e largos dispostos ao redor dela para sentar, e muitas carnes assadas e até mesmo alguns tubérculos e vegetais para todos. O contador de histórias da aldeia levantou-se e contou o que, pelas respostas, eram histórias favoritas da tribo.
Gabrielle absorveu tudo como uma esponja do mar, seus olhos gravando avidamente não apenas as palavras, mas também a atmosfera e os movimentos físicos do talentoso contador de histórias. Ela não percebeu que ela própria estava sendo observada até que Lastan falou com sua voz profunda e retumbante. “Ah..entendo que uma de nossas convidadas, que tem apreciado nossas histórias, é ela mesma uma barda. Isso é verdade?” Ele a olhou com seus profundos olhos âmbar brilhando.
“Bem..” Gabrielle hesitou. “Quer dizer, bem, mais ou menos…”
“É verdade.” Xena interveio rapidamente, dando-lhe um cutucão. “Vai lá, Gabrielle. Você foi solicitada para uma performance especial.” Ela ignorou o olhar de indignação de Gabrielle e apenas deu outro cutucão mais firme em sua companheira. “Não me faça te carregar até lá em cima.” ela sorriu para amenizar o aviso.
Xena observou Gabrielle assumir o centro do palco, então se acomodou para assistir sua audiência observar a talentosa barda. E Gabrielle se superou. Ela os hipnotizou com três boas histórias e um poema épico. Mesmo Xena, que conhecia os finais das três histórias e tinha ouvido aquele poema mais vezes do que havia árvores nesta floresta, ficou envolvida na narrativa. Os habitantes da floresta estavam genuinamente sorrindo para ela quando ela terminou e recostou-se no banco baixo ao lado de Xena.
“Belo trabalho”, sussurrou Xena em seu ouvido. “Muito bem feito.”
Gabrielle corou, mas parecia satisfeita. “Obrigada. Achei que correu muito bem.” ela sussurrou de volta. “Eles gostaram do poema.”
“É claro que gostaram. Eu também.” Xena respondeu e estava prestes a dizer mais, quando um murmúrio baixo chamou sua atenção. Ela virou a cabeça ligeiramente para melhor captar as palavras de alguns dos habitantes da floresta, que estavam de pé atrás da fogueira. Ela avistou Jessan entre o que pareciam ser alguns dos jovens do sexo masculino. As poucas palavras que ela conseguiu ouvir a levaram a suspeitar que o assunto da conversa era ela mesma e que Jessan era alvo de um humor bastante cruel.
Gabrielle percebeu a mudança de humor e olhou para o grupo. “O que está acontecendo?” Ela espiou através da fumaça da fogueira. “Eles estão tendo algum tipo de discussão?” Ela observou o rosto de Xena, que se apertara em uma máscara sombria.
“Fique aqui.” Xena murmurou. “Parece que vou ter que fazer uma performance pessoal.” Ela se levantou, esticou-se e depois caminhou em direção ao grupo cada vez mais barulhento.
Jessan estava de costas para uma árvore, com uma expressão zangada no rosto. Ele tinha as mãos levantadas, como se estivesse tentando acalmar a multidão, quando avistou Xena apoiada em um poste próximo, observando. Então. Ela ouvira. Ele permitiu que um pequeno sorriso sombrio tocasse seus lábios. A Xena calma e relaxada que toda sua aldeia viu durante o jantar havia desaparecido, deixando em seu lugar esta lutadora tensa, intensa e perigosa.
A notícia se espalhara via Deggis de que ele havia sido derrotado por ela…ele sabia que isso aconteceria. Agora todos os seus pares estavam se divertindo com piadas cansativas e comentários estúpidos.
“Eu sempre soube que você não tinha isso em você.” Ectran estava rindo. Ele era o maior do grupo atual, quase tão grande quanto Jessan ele próprio, não tão alto, mas com pelo muito mais escuro e um corpo mais pesado. “Como você pode sequer ficar em pé e andar pelo chão da aldeia, seu pastador.” Ele cuspiu no chão com desprezo. “Um humano! E uma mulher! Aposto que eu poderia…”
“Aposto que não pode.” Jessan sentiu um arrepio. Ali estava ela, emanando uma ameaça tão palpável que fez os pelos da nuca se eriçarem em resposta instintiva. Com uma voz baixa e envolvente que cortava o silêncio do grupo, Xena encarava Ectran. “Por que não descobrimos então?” provocou ela, com um sorriso astuto, sem desviar os olhos dos dele nem por um momento. Ele engoliu em seco, visivelmente nervoso. “Qual é, está com medo?”
A respiração de Ecton acelerou, denunciando sua tensão. Ele estendeu a mão para a espada, e ela, graciosamente, deu um passo atrás, concedendo-lhe espaço. À medida que sua lâmina deixava a bainha e ele avançava, Xena esquivou-se com elegância, permitindo que ele passasse por ela. Virando-se com indignação, ele a atacou novamente, desferindo uma série de golpes intricados. Xena aguardou até o último momento, então, com uma destreza impressionante, desembainhou sua própria espada, neutralizando seus ataques e contra-atacando com movimentos precisos e ágeis, apenas roçando a pele de seu peito. Após um breve afastamento, eles voltaram a medir forças, Ecton com renovada determinação, imprimindo força em cada ataque. Xena, imutável, parava cada investida com defesas impenetráveis, até que, num ímpeto, avançou, explorando as falhas na guarda do adversário, forçando-o a retroceder. No clímax do confronto, ela o desarmou com um golpe decisivo, cortando o ar com sua espada e arremessando a dele para longe, num gesto que selou sua vitória.
O único som acima do crepitar do fogo era a espada longa batendo na terra. Ecton segurava seu pulso com a outra mão, franzindo a testa de dor. Ele encarava Xena, que deixou sua lâmina repousar no ombro e permaneceu à vontade, observando-os.
“Quer mais?” Xena perguntou, friamente. “Ficarei feliz em atender.” Ela virou-se lentamente e observou o grupo silencioso e de olhos arregalados. “Alguém?” Ainda silêncio. “Não? Acho que não.” Uma espada lentamente embainhada, e mãos se acomodando no cinto. “Suposições são perigosas”, Xena disse suavemente, passando o olhar sobre eles. “Mas então, eu também sou”, ela concluiu, dando a Jessan um olhar e um leve piscar de olhos, depois se afastou do círculo dos habitantes da floresta em direção ao fogo. Eles se apressaram em abrir caminho para ela.
“Eu te avisei.” Jessan suspirou. “Ecton, vamos ver seu pulso.” Ele encarou o lutador mais jovem. “Você tem sorte. Não faz ideia de quão sortudo é.”
Ecton apenas o olhou, arregalando os olhos. “Nossa.” Ele finalmente gaguejou. “Sinto muito mesmo, Jessan…Quero dizer, um humano, e uma mulher humana, e cara…nossa. Eu nunca levei minha espada tão forte, nem mesmo pelo seu pai.” Ele esfregou o pulso, franzindo a testa, depois sorriu astutamente para Jessan. “Eu adoraria vê-la em ação.” Ele olhou para a multidão agora sorridente. “Desde que não fosse eu com quem ela estivesse lutando, é claro.” Ele soltou um assobio baixo e longo, então arqueou uma sobrancelha para Jessan. “Ei…pera aí. Você enfrentou ela mais de uma vez???”
Jessan sentiu o novo respeito direcionado a ele. Agora você tá marcando outro ponto, Xena. Vou ter que inventar algo realmente espetacular para agradecer. Ele riu e guiou Ecton em direção ao curandeiro da aldeia. “Sim, e cara, eu estava com medo o tempo todo, esperando não escorregar.” Ele sorriu rueiro. “Teria perdido uma perna ou algo assim.” Ele estremeceu ao recordar. “Ela é tão rápida…” Ele estalou os dedos como um chicote. “É como…é como…” Ele deu de ombros timidamente. “É lindo.” Ele olhou de relance para os olhares agora admiradores e um tanto invejosos.
Gabrielle estava sentada de pernas cruzadas na plataforma baixa, observando Xena enquanto ela voltava para perto dela após sua pequena demonstração. A barda observava com interesse os olhares que seguiam sua companheira pelo centro da vila. Quando Xena ficou novamente ao seu lado, ela deu um tapinha no banco e apoiou o queixo em uma mão apoiada no joelho.
Xena se deixou cair no banco, suspirando. Ela recostou-se e lançou um olhar para Gabrielle. “Então foi isso. Na verdade, foi mais fácil do que eu esperava.” Ela envolveu os braços em um joelho e fitou o fogo, parecendo encontrar algo de interesse em seu coração flamejante. Seus olhos ainda tinham um brilho metálico, e a tensão percorria seus ombros.
A barda esperou em silêncio até que Xena fechou os olhos por um momento, então respirou fundo e relaxou enquanto soltava o ar lentamente. Então ela percebeu o olhar de Gabrielle e inclinou a cabeça para encontrá-lo. “Um dinar pelos seus pensamentos?” ela perguntou, levianamente.
“Você realmente quer ouvi-los?” Gabrielle respondeu, igualmente leve. “Quer dizer, um dinar é um preço bem alto.” Oh, sim, Gab…e se ela disser sim? Você vai contar para ela? Melhor pensar rápido.
“Sim.” Xena prolongou a palavra. “Quero. Foi uma expressão interessante em seu rosto.”
Opa. “Uhmm…foi realmente gentil da sua parte salvar Jessan assim.” a barda limpou a garganta. “Acho que você impressionou os amigos dele.” Ela sorriu. “Muito.” Gabrielle espiou o rosto de Xena, onde havia aquele leve sorriso indulgente e sobrancelha arqueada olhando para ela. Ok, então ela não comprou. Mas ela não vai insistir. Melhor…começar a trabalhar em juntar essa história, antes que minha imaginação me leve longe demais.
“Ah, tá.” Xena comentou secamente.
“Se é o que você diz.” Ela observou a cor subir lentamente pelo pescoço de Gabrielle enquanto a olhava, então riu levemente. Às vezes…ela jurava, conseguia adivinhar exatamente o que Gabrielle estava pensando. Era…uma ideia muito estranha. Sua mente lógica ofereceu uma solução – provavelmente ela estava captando linguagem corporal subliminar da barda, o que seria natural considerando que estavam tanto tempo juntas. Ela ponderou sobre isso por alguns minutos, depois o deixou de lado e apenas ficou olhando para o fogo, sem ver.
Na manhã seguinte, compartilharam o pão com Lastan e Wennid, enquanto se aprontavam para o retorno à cidade de Hectator. Embora sua guarda estivesse segura e bem tratada, Hectator estava impaciente para regressar, desejoso de desmobilizar as forças que, provavelmente, ainda aguardavam em prontidão.
“Bem, estes foram dias inusitados, porém agradáveis,” começou Hectator, pausadamente, desviando o olhar na direção de Xena, que naquele instante adentrava o recinto acompanhada por Jessan.
Com um leve encolher de ombros, Xena exibiu um sorriso. “Eu tentei esclarecer primeiro,” ela disse, tomando assento na ponta oposta da mesa. “A culpa não é minha se você escolheu ignorar minhas palavras.”
Hectator esfregou sua mandíbula ainda dolorida. “Lições para mim.” Mas ele sorriu para ela. “Eu tinha esquecido o quão forte você bate.” Ele recebeu uma sobrancelha arqueada em resposta. “Vou tentar lembrar disso da próxima vez.”
Lestan os observava com certo divertimento. Humanos. Brincando. Em sua casa. Impossível. Ele se sacudiu e ofereceu aos convidados montarias para a viagem de volta. Eles se reuniram do lado de fora para se despedir – a guarda de Hectator, sendo mantida no riacho, estava ficando frenética. Hectator montou um belo garanhão ruão com um olhar doce e acariciou seu pescoço apreciativamente. Xena montou Argo e, ao ver a expressão muito dolorida de Gabrielle ao ver sua montaria oferecida, uma égua pintada bonita, riu e estendeu um braço. “Vamos lá.” A barda olhou para ela com pesar, mas aliviada. “Ela odeia andar a cavalo”, ela comentou com Hectator, que observava divertido, enquanto ela puxava a barda para cima atrás dela na paciente Argo. “Argo está acostumada a carregar duas.”
Jessan segurava os próprios joelhos, despedindo-se, depois de já ter distribuído abraços calorosos. “Se cuidem”, ele aconselhou. “Voltem sempre que possível.”
Lestan se aproximou do outro lado dela e colocou uma mão grande no pescoço de Argo. Ele olhou para ela pensativamente. “Como meu filho disse, voltem para visitar. Tenho a sensação de que temos muitas histórias para trocar.” Ele a olhou nos olhos. “Além disso.” Ele agora sorria e se parecia muito com seu filho. “Todos os meus guerreiros estão exigindo que eu peça a você algumas lições.” Os olhares dele e de Xena se encontraram e trocaram uma compreensão cintilante. “Por favor, venham, quando puderem.” Lastan terminou, levantando a mão para segurar a dela.
Xena assentiu para ele. “Nós vamos.” Ela virou a cabeça de Argo e a impulsionou em direção ao portão da vila.
Gabrielle trocou um piscar de olhos com Jessan e acenou para Wennid. Uma visita prolongada, com a chance de absorver as histórias de uma cultura completamente nova… ela sorriu felizmente. “Isso vai ser divertido.” ela sussurrou perto do ouvido de Xena, e foi recompensada por um riso baixo da guerreira.
“Sim.” Xena concordou, guiando Argo com movimentos práticos. “Eu tenho a sensação de que será, e não vai demorar muito para acontecer.”