Fanfics sobre Xena a Princesa Guerreira
Chapter Index

Os soldados do Império marcharam metodicamente esparramando-se pelas ruas de Amphipolis e tomando posições sobre telhados, dentro de celeiros, currais e junto aos poços. Por ordem da Conquistadora andavam em trios ou no mínimo duplas com comando de auxiliarem a população no que fosse necessário ao mesmo tempo em que patrulhavam as ruas, resultando em falcões carregando baldes, cortando lenha, pregando tábuas o manejando forjas e malhos .O controle do porto foi reforçado e quando a Conquistadora desembarcou no meio da manhã, Amphipolis estava dominada.
A taverna de Cirene estava tomada por amazonas devidamente sentadas aguardando o serviço para o almoço enquanto bebiam cerveja. Elas se revezavam no contribuir com a limpeza e auxiliar na manutenção da propriedade em itens como cuidar de cercas, pomares, criações e mesmo a horta ou o herbário.
Xena dirigiu-se com Gabrielle à propriedade de Xilant e resolveu dar uma inspeção no arsenal, na guarnição e observar o treinamento com o oficialato. No quinto dia Gabrielle, Ephiny, Eponin, Solari e a Trial de Karin cavalgavam para o centro da cidade num passo lendo e cadenciado contribuindo para o emocional da princesa amazona ser posto no lugar certo. Estavam sendo aguardadas na taverna e todas as amazonas levavam um jogo completo de armas e como sua princesa estavam mascaradas.
Cirene e seus funcionários se desdobravam para atender seus clientes que haviam pagado regiamente para terem exclusividade nas acomodações em todos os quartos da pousada e inclusive trouxeram caça em grande quantidade. Normalmente ela não aceitaria que clientes fornecessem mantimentos ou auxiliassem na confecção dos pratos, mas a taverna estava completamente lotada, lembrando os tempos em que Gabrielle atuava no pequeno palco ao fundo da sala principal. Nestas noites ela de antemão providenciava cedo a preparação dos alimentos para guarnecer a audição dos contos. Agora ela abriu uma exceção vista a argumentação de uma jovem arqueira que salientou a presença em breve de sua princesa, aguardada para o dia seguinte com objetivo de estabelecer tratados de comércio e possível protetorado à taverna, oferecido pelas amazonas alegando a existência de uma divida de vida. Assoyde não deixaria por menos o cumprimento das ordens reais.
As amazonas chegaram com caça, frutas , peixes e frutos do mar. Cirene aceitou hospedar as guerreiras na pousada e as demais no celeiro ou estábulo e preparou seu melhor quarto para a tal princesa, mas exigiu que um grupo de mesas ficasse livre para seus clientes tradicionais e que eles estivessem com livre transito pelo estabelecimento. Ela não iria deixar seus amigos e clientes sem acolhida em função de uma estrangeira. Acertado isso, Cirene ficou cuidando da função na cozinha com sua rotina habitual, deixando para as amazonas apenas a tarefa de preparar as caças na mesa auxiliar do pátio interno perto do forno, cortar lenha, buscar água ou eviscerar o pescado, porém ninguém a não ser ela e suas serviçais tocariam no forno, fogo ou panelas.
Desde o início daquela quinta manhã os soldados da guarnição que se espalharam pela cidade dobraram seus esforços para que o povo fosse bem atendido e o templo de Atena guarnecido de operários para sua manutenção, com uma importante participação dos militares no organização do espaço externo. Supreendentemente nas

últimas quarenta e oito marcas de vela nenhum se aproximou da taverna de Cirene . Uma jovem amazona de cabelos negros curtos e outra com longos cabelos loiros presos chegaram apressadas dando conta de que a princesa estava a um quarto de marca da taverna. Ambas extremamente jovens, mas com aquela argúcia no olhar que caracterizava as guerreiras precoces. A arqueira que negociara com Cirene passou a palavra de que a Casa Real estava chegando e em pouco tempo as amazonas reforçaram as posições de vigilância, arrumação do quarto, do banho, dos estábulos,
dos trajes e armaduras colocadas a prumo.
Acostumada a hospedar nobres, Cirene não se deixa intimidar por esta situação tratando de não alterar seu proceder e estava decidida a tratar tudo com natural normalidade embora as amazonas fossem bem vistas aos seus olhos pela independência, traziam em seu modo guerreiro lembranças que ela preferia esquecer. Enquanto avançavam em direção à cidade, memórias intensas vão tomando conta de Gabrielle e pela primeira vez ela faz um balanço de tudo que acontecera, percebendo repentinamente sua vida com a mente barda e tecendo peça completa de sua própria história. Lembrando com carinho de sua atuação junto ao sanador de Amphipolis, pastoreando no campo, cuidando do pomar, de seu trabalho na limpeza da pousada ou nas mesas da taverna e no palco como contadora, não esqueceu as noites de tristeza e melancolia pela ausência de notícias de sua casa e gostava de pensar que foi falta de condições que afastou sua família dela e não de interesse.
Pouco a pouco a caravana se aproxima da taverna e a emoção ia tomando conta cada vez mais de Gabrielle, intensificando nos dois últimos estádios percorridos não apenas com o que seria o resultado das negociações, mas o que Cirene pensaria de revê-la ou perceberia sua posição na Nação e como receberia a real possibilidade de reencontrar sua filha. Xena havia prometido que faria tal encontro acontecer e nunca viu a Imperatriz voltar atrás em sua palavra ou fracassar em um empreendimento. Gabrielle foi recordando a despedida na aldeia, quando as ordens de Melosa foram explicitas.
“Amphipolis deve conhecer e respeitar a Nação como aliada e perceber a disciplina e honra do nosso povo. A guarda real viajará em regime de Zorah de forma inalienável, estando suspensa a condição da capitã em negar provimento a qualquer determinação da princesa. O entendimento será de total formalidade e em estado de guerra. Você minha irmã segue como Embaixadora e leva todo poder e autoridade para abrir e fechar negociações em meu nome e da Nação, devendo estabelecer o que sua mente e seu coração comandar, resgatando também uma parcela de nossa dívida de vida com a taverneira. Transmita a Cirene que terá sempre em nós amizade e todos os recursos de que necessitar para sempre.”
Uma voz firme e compassada tira Gabrielle de suas recordações, trazendo-a de volta para a situação em mãos e ela dá toda sua atenção para a amazona ao seu lado.

– Como desejas proceder alteza?
– Por favor, entre nós e sem observadores chama-me por meu nome Ephiny e deixes as formalidades para quando forem necessárias. Vamos nos instalar na pousada com toda a ritualística para que Amphipolis nos conheça e depois faça Cirene saber que solicito sua presença em meus aposentos em uma marca de vela. Preciso de um tempo para colocar os pensamentos em ordem e um banho quente ajudará nisso.
– Certo. Mais alguma coisa?
– Faça estabelecerem Brisa no estábulo e que seja lavada, escovada e alimentada. Sejamos um exemplo de eficiência. Organize uma reunião como governo local e a liga de comerciantes para o meio da tarde e mande escoteiras visitarem os agricultores mais afastados ao norte, próximos da montanha e encomende cinco cestos de maça, três barris de retsina e quatro carneiros para o jantar desta noite. Montem fossas no pátio e comecem os assados assim que chegarem. Diga a Karin que vá a loja de Climenia no lado sul da Ágora e traga velas de canela, cravo e jasmim. Seis de cada.
– Sem problemas. Nieira mais quatro farão isso e certamente Eponin conseguirá uma carroça com a dona da taverna.
– Vamos entrar e que Artemis me ajude fazendo com que tudo corra bem. Tenho medo de não conseguir manter a formalidade que Melosa determinou. Por favor, assuma as formalidades nas apresentações Capitã.
-Sim Alteza.
Gabrielle desmonta e todas fazem o mesmo, com Ephiny se adiantando para o alpendre da taverna e encarando todo o entorno, aguardando o que sabia que iria seguir, esperando para ver qual seria a reação de Gabrielle e como poderia auxilia-la para a formalidade ordenada ser atingida.
Todas as amazonas colocam o punho sobre o peito em saudação e Gabrielle se vira e repete o gesto, saudando todas que estavam à vista, seguindo Ephiny que estava na taverna, após ter determinado as diretrizes para as acompanhantes propositalmente alto o suficiente para ser ouvida por quem estivesse interessado, sendo seguida pela guarda real.
As amazonas presentes na grande sala se levantaram e colocaram um joelho ao solo, enquanto a guarda real que havia chegado com a princesa se espalhava pelo salão em atenção completa.
Cirene aguardava dentro de seu estabelecimento que a realeza amazona chegasse, pois tinha muito o que fazer e não iria ficar parada esperando. O silêncio repentino no ambiente faz com que ela entrasse vinda da cozinha. Por mais acostumada que estivesse com as formalidades e protocolos para com autoridades ou nobres ficou surpresa com a aura de poder que emanava das figuras mascaradas à sua frente e a emoção foi tão forte que Gabrielle segurou-se na mesa ao seu lado, quando Ephiny não perdeu tempo, agindo prontamente.

Erguendo a máscara, Ephiny faz um sinal discreto para Assoyde apresentar a Taverneira.
– Capitã, esta é Cirene.
– Eu sou Ephiny, capitã da guarda real. Permita que eu apresente nossa princesa. Princesa, esta é Cirene de Amphipolis, nossa anfitriã. Cirene , esta é a princesa das amazonas trácias, Embaixadora da Nação junto ao Império.
– Seja benvinda alteza. Faremos o possível para sua estada ser a mais agradável possível. Não posso falar pelos comerciantes ou o governo local, mas meu estabelecimento está à sua disposição.
Ephiny responde por Gabrielle, dando a entender ser este o protocolo da Nação.
– Nós agradecemos Cirene e a princesa gostaria de se recolher por algum tempo.
– O banho já está preparado e o almoço será servido em uma marca de vela após o Carro de Apolo estar no seu ponto mais alto. Suas amazonas são extremamente eficientes capitã e fizeram questão de participar embora eu tenha deixado claro não ser necessário.
– Obrigada Cirene . Taíra, por favor siga na frente e mostre o aposento para a princesa. Solari averigue o perímetro e estruture as patrulhas enquanto Eponin determina a equipe que ira buscar alguns itens. Você poderia nos ceder uma carroça Cirene ? Pagaríamos é claro.
– Não há necessidade de maiores pagamentos capitã. Fale com uma das moças da cozinha no pátio interno que concederá o que precisar. Agora com sua licença tenho que organizar o almoço. Capitã, Princesa.
Gabrielle segue Taíra para o aposento que sabia ser o principal da pousada.
– Seu banho está preparado na sala ao lado e ser precisar de alguma coisa, estarei à porta princesa.
– Obrigada Taíra .
O quarto era como recordava, com uma sala de banho adjacente, uma grande cama confortável com dossel, duas cadeiras e uma mesa, um pequeno banco, uma pequena bacia com água sob da janela e uma pequena varanda com vista para o nascente. Abaixo ficava o quarto lacrado onde somente Cirene podia entrar. Gabrielle sabia que pertencera à filha perdida e enquanto mergulhava seu corpo nas águas quentes perfumadas, fechando os olhos, sorria pensando na felicidade que proporcionaria. Deixou o momento de ansiedade acalmar e após o banho deitou-se na cama, adormecendo com um sorriso nos lábios. Uma marca de vela depois Taíra acordava Gabrielle com muito cuidado, pois podia ser ouvida no corredor e não desejava que a taverneira soubesse algo indevido por um erro seu.
– Princesa… princesa… a senhora desejava ser acordada alteza. A taverneira está no corredor para lhe falar. Princesa…
Gabrielle abre os olhos observando o entorno e ao ver Taíra toma ciência da situação com mais agilidade. Ergue-se e busca sua máscara, fazendo sinal para abrir a porta.
– A princesa a aguarda senhora, entre por favor.
– Taíra , por favor providencie uma cidra refrescada para nós e bloqueie o corredor. Minha conversa com Cirene deve ser privada e ninguém deve passar, nem Ephiny.
– As suas ordens alteza.
Em poucas batidas de coração Taíra está de volta com uma jarra de cidra e duas taças, serve ambas e sai discretamente para impedir qualquer acesso ao piso superior.
– A senhora desejava me ver princesa?
– Sim, tenho ordens e mensagens de nossa rainha para você Cirene. A rainha Melosa solicita que lhe entregue esta bolsa contendo ouro para pagar auxiliar em qualquer dificuldade que tenha tido , lembrando-a de uma dívida de vida que temos com você ao ajudar uma de nossas irmãs e junto trago a garantia de que qualquer coisa que venha a precisar, a qualquer tempo sempre terá acolhida na Nação. Estamos em dívida eterna com você, Cirene de Amphipolis.
– A amazona que fez a negociação das acomodações também mencionou esta dívida e sinceramente eu não tenho nada a cobrar de seu povo. São muito benvindas em minha casa e nada me devem princesa. Existe mais alguma coisa que gostaria? Posso ser útil de alguma outra forma?
-Agradeço suas palavras, mas as ordens da rainha foram inequívocas. Seria de grande ajuda para mim se você aceitasse Cirene , pois não nos é permitida desobediência. Talvez possa usar para ajudar outra pessoa perdida e tenho certeza de que os recursos serão bem empregados.
-Como disse antes, não é necessário que me paguem nada e se por ventura eu auxiliei uma de vocês, foi apenas por que era a coisa certa a fazer e não visando uma recompensa posterior, no entanto não quero criar problemas e aceitarei este gesto de sua rainha, pois sei o quanto aos governantes é dado serem obedecidos. O almoço será servido em breve princesa. A senhora gostaria de algo em especial para beber? Decidindo que já havia cumprido com todas as formalidades exigidas pelo protocolo e determinadas por Melosa, Gabrielle dá vasão ao seu coração e retira a
máscara para poder novamente ser a barda que Cirene conhecia e acolheu.
-Apenas a cidra que sempre tomamos antes de servir o almoço e nos dava certo conforto para as marcas que permaneceríamos em trabalho sem paradas até o meio da tarde Cirene .
– Gabrielle!!! Mas como… quero dizer… é você mesmo?? Como ? Uma amazona!!!
Sagrada Atena !!!
-Espero não estar decepcionada comigo. Muito aconteceu… Venha sentar comigo. Tenho tanto que contar a você.

– Claro. Mas espere, isso merece uma comemoração.
Cirene vai até a porta e chama Taíra , que vem correndo preocupada que algo tenha acontecido com Gabrielle, mas apenas consegue colocar um pé dentro do aposento e perceber que sua princesa está bem e sorridente.
-Você deve descer a cozinha e diga para Kasha que envie imediatamente meu vinho especial, guardado onde ela sabe estar.
Taíra olha para Gabrielle que faz sinal afirmativo e sai em disparada escadas abaixo para cumprir o determinado.
– Você não mudou nada, ainda tem este tom de comando que faz todos se moverem conforme seu desejo.
-E você não perde este sorriso ao ver todos agir desta forma. Mas me conte como tudo isso veio a acontecer!
Uma discussão se ouviu no corredor, mas foi perdendo a força. Gabrielle ia começar seu relato quando Taíra entrou correndo com o vinho solicitado.
– Que altercação foi esta?
– Peço seu perdão se interferi com sua conversa alteza, mas uma serva da pousada chamada Zulkar ficou alterada quando eu disse que ela não poderia entrar no corredor alteza, insistia em visita-la pessoalmente com a encomenda. Algo sobre ter sido prometido que poderia assistir a senhora em sua máscara junto à Cirene neste primeiro momento, pois não conseguiu estar presente no salão onde entramos porque providenciava a arrumação da cozinha com Cirene .
-Realmente eu prometi a ela Gabrielle, mas não imaginava que seria você nem que seria em privado.
– Não podemos deixar que você passe por mentirosa. Taíra chame Zulkar e diga que ela tem minha autorização para entrar e beber uma taça de vinho conosco. Depois ela voltará aos seus afazeres e continuaremos nossos assuntos.
Gabrielle volta a recolocar a máscara e aguarda junto a Cirene .
-Ela e sua irmã chegaram aqui pouco tempo depois de você ter partido Gabrielle e ambas tem me ajudado na taverna e na pousada. Inclusive um ano atrás tive alguns contratempos com rufiões e Kasha interferiu prontamente. Você vai gostar delas.
-Se foram úteis a você, já gosto.
Taíra entrou com a acompanhante e um tanto desgostosa novamente assumiu sua posição no início do corredor.
– Soube que queria me ver pessoalmente. No que posso ser útil a você?
– Apenas queria vê-la pessoalmente alteza e saber que não é um sonho.
Realmente aquela que representa Artemis está aqui e Cirene está feliz.
Uma desconfiança foi se formando no espírito de Gabrielle. Que esta jovem e sua irmã não eram uma coincidência, mas a providencia de uma rainha que honra suas dívidas de vida.

– Como vocês vieram parar aqui na taverna de Cirene Zulkar ?
-Precisávamos de um lugar para morar princesa e Cirene precisava de ajuda na taverna. Foi uma troca justa.
-Realmente elas são muito trabalhadoras e dignas da confiança que depositei nelas Gabrielle.
-Espero que sua confiança não se abale ao saber que são amazonas. Vocês são amazonas de que tribo Zulkar ?
Sabendo que seu disfarce havia sido descoberto, Zulkar coloca um joelho ao solo e saúda sua princesa como é devido.
– Da sua alteza, da tribo da rainha Melosa. Assim que ficou sabido da importância que Cirene teve em sua vida a rainha solicitou voluntárias para a missão de proteger e servir em Amphipolis. Muitas se voluntariaram, mas a honra foi concedida a nós, pela graça de Artemis .
-Eu não aceitarei isso Gabrielle. Isso é quase escravidão e vocês não me devem nada. Diga a esta Melosa que não quero este tipo de agradecimento! Eu não negocio vidas humanas. O que ela está pensando que é?!Já não bastasse uma Imperatriz, agora outra soberana resolve que pode ditar como viverei minha vida!
– Com sua permissão alteza, eu gostaria de explicar a Cirene .
-Cirene , por favor acalme-se. Ninguém quis ofender ou ditar sua vida. Por favor, ouça o que Zulkar tem a dizer. E você levante-se! Não gosto de pessoas ajoelhadas aos meus pés mais do que o necessário para cumprir as formalidades. Vamos tomar nossa taça de vinho e talvez nossa história possa começar pelo relato de Zulkar .
-Está certo, mas eu e você vamos colocar um termo nisso de servidão em minha casa ou dívidas.
-Certo. Explique sua presença nesta casa Zulkar .
-Quando as cinzas de Terreis chegaram na aldeia e a rainha tomou conhecimento de sua posição e todo o acontecido ela recebeu da capitã a noção da dívida que tínhamos com Cirene . Foi colocado em assembleia que Amphipolis seria espaço adequado para aprendizado. Muitas se inscreveram, mas nós duas fomos a escolha da Casa Real . Eu estava em treinamento de caça com minha trial e por isso eu não a conhecia ainda princesa, mas minha irmã nos inscreveu e foi aceita.
-Por que você não recusou?
– Era uma oportunidade rara alteza, ter a permissão de viver no mundo dos homens e aprender seus costumes, permanecendo amazona e com a benção da Casa Real . Com todo o respeito, eu não perderia esta chance por nada e nós mantivemos nossas habilidades de caça e lutas exercitando na floresta, conseguindo bons jogos para servir na taverna.
-Mas como aceitam vir para cá? Abandonar sua família, seus amigos e trabalhar pesado pra mim todos os dias?? Eu não entendo.

-Nossa educação nos forma em vários conhecimentos Cirene , mas em nossa Elídia temos pouco contato com o resto do mundo. Encaramos como uma forma de escola e posso garantir princesa, que Cirene é uma ótima mestre.
– Sim, ela é em todos os sentidos. Vocês fizeram um ótimo trabalho Zulkar e estou lisonjeada com sua eficiência. Agora, por favor, deixe-nos e transmita a sua irmã meus respeitos, diga-lhe que gostaria de conhecê-la pessoalmente mais tarde.
-Certamente. Alteza, Cirene .
Zulkar desce as escadas feliz, sabendo que viu a representante de Artemis e falou com ela, tendo sido elogiada por seu desempenho junto a Cirene .
– O que ela quis dizer com Elidia?
-É a forma como nossa sociedade se organiza pelas funções na tribo. Mas me diga como você está? Não houve um dia que não tenha pensado em você.
– Eu estou bem Gabrielle. Pensei muito em ti e sempre tenho colocado seu bem estar em minhas orações , minha filha.
– Cirene eu preciso falar contigo sobre sua filha, a sua verdadeira filha.
-O que tem ela?
-Você havia me dito que ela tinha sido perdida. Encontrei-a. Bom na verdade, a Conquistadora a encontrou e vai trazê-la aqui em breve.
-Como assim? O que esta mulher vem fazer aqui Gabrielle? Ela tinha dito que jamais voltaria a Amphipolis! Bem que eu devia ter desconfiado quando aquele oficial se hospedou aqui e montaram uma guarnição, eu sabia que ela logo iria inventar alguma inspeção para se aproximar. Ela não é benvinda nesta casa Gabrielle!
-Por favor, Cirene ! Eu fiz com que ela realizasse uma busca e encontrasse sua filha com a promessa de trazê-la novamente aqui. Ao menos a receba e escute o que ela tem a dizer. Não sei o que aconteceu entre vocês, mas seja o que for, tudo pode ser perdoado. A própria Conquistadora cometeu crimes impensáveis contra as amazonas e a Deusa Artemis em pessoa cobrou o preço. A Imperatriz fez o impossível para que este preço fosse cobrado apenas sobre ela e não sobre toda sua família como reza a lei. Sua filha não pode ter feito algo pior, por favor, apenas escute-a, dê uma chance!
– A Conquistadora lhe disse isso? O que vou dizer agora deve se manter entre nós Gabrielle pois se ela souber, apenas desconfiar, Amphipolis estará condenada e ela assistirá das colinas a fumaça erguer e os gritos desesperados de dor. Ela pessoalmente me prometeu isso e eu acredito nesta promessa. Ela é mentirosa e manipuladora Gabrielle. Seja o for que tenha dito é grande a chance de ser mentira e ínfima a chance de ser verdade. A Deusa Artemis não falaria com tal criatura!
– Cirene , a Conquistadora é cruel, mas nunca mentiu pra mim. Eu pessoalmente vi a ira de Artemis e te digo que foi real a cobrança e o preço. Acredite em mim.
– Minha filha não existe mais Gabrielle e foi a Conquistadora que a destruiu quando tomou o caminho da conquista, da vingança e do poder. Agora você quer

me convencer que esta harpia irá trazer minha menina de volta? Eu confio em você Gabrielle e apenas por você vou permitir a entrada deste animal em minha casa. Ela sabe que não é benvinda e acredito que apenas você a faria cruzar novamente aquela porta.
-Eu fui escrava dela Cirene e sei do que é capaz, talvez mais que qualquer pessoa, no entanto te garanto, dou minha palavra de que ela irá trazer tua filha. Juro por Artemis e que Atena seja minha testemunha.
– Não deves fazer juramentos tão sagrados contando com aquela Besta, pois as Deusas não serão fáceis se não cumprires o que dizes minha filha. Eu acredito em você e na sua intenção, no entanto temo que seja impossível a Conquistadora trazer aquela que amei de volta a vida.
– Cirene , eu não tenho ideia como a Imperatriz encontrou sua filha, mas como uma filha que não vê sua mãe a muitos verões te peço que a receba e escute. Seja o que for que ela tenha feito de errado deve ter tido suas razões. Fazer a coisa errada pelo motivo certo é tão cruel quanto fazer a coisa certa pelo motivo errado Cirene .
-O que ela fez é imperdoável Gabrielle. Muitos jovens da cidade perderam a vida em virtude de suas atitudes, inclusive o meu amado filho mais novo. É preciso ser uma mãe para compreender este tipo de perda Gabrielle.
-Eu não sei da perda das mães Cirene , mas posso te falar da perda das filhas. Meus pais me lançaram para o tablado e eu aceitei porque acreditei que seria a coisa certa a fazer e no processo, de alguma maneira acabei perdendo minha irmã e morri pra eles, pois nunca me procuraram aqui e não carrego mais a esperança que venham a querer saber de meu destino. Fui apenas um acordo para mais luas de refeição na mesa, como algum gado ou outro item de criação. Dê uma segunda chance Cirene
, pelo menos a receba e tente entender o que aconteceu pelos olhos dela. Nem tudo é o que parece.
-Não te prometo nada minha filha. A Conquistadora sabe de nossos sentimentos e sempre evitou Amphipolis, assim como nós evitamos chamar o Império aqui , mas sempre pagamos os impostos e tudo mais que é solicitado como mantimentos ou efetivo para que a harpia do tártaro não tenha que dar o ar da graça.
– Eu fiz uma barganha Cirene e ela terá de vir com sua filha. Ela não tem escolha quanto a isso, pois juramentos sagrados foram feitos.
-Parece que eu também não tenho escolha Gabrielle. A Conquistadora prometeu a você que traria a minha menina de volta. Se aquele animal disse que viria não há nada que possamos fazer para evitar sua presença indesejável, mas não vamos mais perder tempo com isso agora. O que está feito está feito minha filha e devemos realizar as primeiras coisas primeiro. Me conte isso de você ser uma princesa amazona e o que é esta dívida de vida que todas falam.
– Bom, você lembra do meu sonho e de minha viagem para Éfeso no dia que

você me libertou?
-Claro!
-Eu dividi a cabine com outras cinco mulheres que iam para o mesmo destino e na viagem houve um acidente na tempestade e uma delas que foi levada ao mar pelo cordame. Eu mergulhei para salvar Terreis e consegui coloca-la em uma balsa improvisada para chegarmos à praia. Atendi a moça o melhor que pude, mas ela não resistiu aos ferimentos e eu acho que algo havia rompido dentro.
-Elas eram amazonas?
-Sim e a jovem era uma princesa, que antes de morrer me passou seu título, direitos e posições em algo que chamam Direito de Casta. De lá pra cá tenho vivido entre elas e procurado ajudar em tudo que posso.
-Você princesa poderia me dizer o que é a tal dívida de vida? Já estou começando a ficar constrangida com isso.
-É um costume da Nação, quando alguém faz algo que é realmente significativo estabelecemos isso. Realmente quer dizer que você pode contar conosco para qualquer coisa que precisar de nós.
-Quando eu fiz algo pelas amazonas?
-Eu não sei Cirene , mas suspeito ter algo a ver com você me ajudar quando precisei, a maneira que me libertou e possibilitou minha ida a Éfeso e tudo o mais.
– Como você pretende levar as coisas aqui em Amphipolis? O governador e a liga de comerciantes estão com os pelos em pé na possibilidade de um acordo com a Nação Amazona. Tome cuidado com Antinelus ele ainda é o guacil e a mesma raposa para negócios de sempre, mas tenho certeza que você conseguirá acordos justos e os metais que sua Nação pode fornecer são os itens mais interessantes para ele. Use isto, minha filha.
– Como você disse, as negociações devem ser produtivas para ambos os lados. Pretendo firmar uma boa safra de trigo e outros grãos em troca de algum minério e proteção. Sei que Amphipolis possui uma boa milícia e com um destacamento do Império aqui são remotas as chances de ataque, mas não podemos esquecer que a Tracia e a Macedonia são o caminho natural para quem pretenda invadir a Atica por terra. Sempre poderemos ser a primeira defesa de Amphipolis se necessário.
-O que teremos pra almoço?
-Eu fiz pão de nozes, frango, tubérculos e algo de cenouras cruas. Está bom para a princesa ou agora necessitas de algo especial?
-Está ótimo. Posso ajudar na cozinha enquanto você me conta as novidades da cidade e eu te conto o que mais andei fazendo.
-E estas mulheres? Elas estavam que pareciam enlouquecidas com tua presença.
A pousada está mais limpa agora do que quando eu a construí!
-É da natureza do encargo delas, mas elas não te incomodarão mais. Mandei

buscar alguns animais e preparar o jantar no pátio, mas fique tranquila que nenhuma tocará em tuas panelas ou no teu forno. Isso é sagrado. Há algo que você precise e ainda não foi providenciado? Aproveite que estamos por aqui, pois terei de partir em algumas noites para atender negócios da Nação em Corinto .-Já que você mencionou
! Existe o bosque ao sul que seria interessante ter algumas árvores derrubadas para secarem e serem úteis como lenha em uma lua ou duas.
-Temos um sistema na Nação que é plantarmos duas árvores cada vez que derrubamos uma, assim sempre haverá um bosque.
-Ótima ideia! Façam isso então e podem cortar algumas tábuas também que ficariam prontas para uso em pouco tempo.
-Certo. Será providenciado. Vamos?
-Vamos. Mas você vai deixar esta máscara aqui porque ela irá ficar suja na cozinha.
-Sem problemas, eu só a uso em cerimoniais e atividades diplomáticas.
-E desde quando ocupar uma pousada é atividade diplomática?
-Desde que eu estava cumprindo uma função de mensageira da rainha. Agora que está tudo certo eu adoraria estar novamente na cozinha com você.
Cirene e Gabrielle surgiram no alto da escada abraçadas e Taíra imediatamente tomou seu lugar na entrada do quarto principal, afinal a máscara da princesa não poderia ficar sem vigilância e os aposentos da realeza sempre deveriam ter um membro da guarda real para impedir a entrada de estranhos e elas estavam ali para garantir o conforto e a segurança de Gabrielle e assim que a princesa dobrou na curva da escada Salina assomou para lhe fazer companhia. Este era o protocolo de guerra e assim seria feito.
Quando Gabrielle adentrou na sala principal todas as amazonas pararam em suas conversas e levantaram ao mesmo tempo.
-Sem exageros vocês. Quem está na responsabilidade da organização da pousada?
-Sou eu princesa.
-Então Assoyde organize as mesas na forma que usamos no Conselho e formem duas crescentes frontais entre si, com a parte côncava se tocando deixando depois do almoço cadeiras apenas no lado convexo e providencie bebidas refrescadas. Acredito que sidra irá servir bem. Todas vocês almocem e ocupem seus quartos se quiserem afiar suas armas porque não quero nenhuma ostentação de hostilidade durante a reunião com a liga de comerciantes e o governante local. Alguém localize Ephiny e diga que ela se apresente a mim o mais rápido possível.
-Ao seu comando alteza.
-Cirene , podemos utilizar seu cercado para prática do grupo? Ele está vazio?
-Você pode usar o que quiser Gabrielle, os cavalos estão soltos no campo e

somente voltarão para passar a noite .
-Eponin o cercado que guarda os cavalos deve estar vazio no momento. Se você quiser poderá repassar a prática de armas ali. Gostaria que limitasse as armas ao bastão e mais alguma na sua escolha, mas sem nada que possa ultrapassar o cercado e acidentalmente ferir algum cidadão.
-Será feito alteza.

Nota