Fanfics sobre Xena a Princesa Guerreira

Longe dela, consigo pensar.

Estou no cômodo ao lado, mas num canto onde posso ficar de olho nela.

Ela está inconsciente de novo. Pálida, mas vejo o peito subir e descer.

Fumo o que Salmoneus me deu, e a dor em meu corpo realmente alivia.

Por ela, só posso fazer o que estou fazendo. Trocar as bandagens e esperar.

O cigarro quase cai de minha mão quando lembro.

Ela caindo no chão. O rosto encharcado de sangue. A morte que iria chegar em segundos, se eu não agisse.

Eu agi. Eu simplesmente larguei tudo e agi. Por que merda eu fiz isso?

Perdi o trabalho de malditos onze anos. Por essa maldita pirralha.

E não hesitei por um segundo.

E nunca estive tão assustada em minha vida.

Ela não pode morrer, não pode. Ela está proibida de morrer.

Nunca imaginei que ela seria atingida em batalha. Ela, que é tão boa, talvez melhor, que eu mesma.

Mas porra, o mundo sempre precisa nos lembrar que somos pacotes ambulantes de carne e sangue. Que somos brinquedos dos Destinos. Parabéns, Conquistadora.

Poderia ter sido eu. Poderia ter sido qualquer um. Mas foi ela.

A única pessoa que não podia ser.

Sinto tanta raiva que apago o cigarro no meu braço. Como se eu precisasse de mais feridas. Mas o efeito anestésico de seja-lá-o-que-for faz com que eu mal sinta.

Será que posso fazer ela fumar isso? Para ela sentir menos dor?

Porra, eu sei que não. Não se arrisca com feridas assim.

Você só espera. E se for desses, você reza.

Eu não sou desses. Os deuses que se fodam.

Ela não devia estar assim, fraca, inconsciente, numa cama, com a morte à espreita.

Devia estar ao meu lado num campo de batalha, nós duas lutando. As mestras da morte, não suas escravas.

É tão errado. E ainda assim, está acontecendo.

Entro de novo no quarto. O sol está sumindo e já não consigo vê-la bem.

Deitada, pálida, tão quieta que, por um instante, o pânico volta a me moer.

Mas o peito ainda está se mexendo. Irregular, mas está.

Me ajoelho ao lado dela. Eu só quero olhar para ela.

Eu provavelmente nunca direi. Por demais covarde. Por demais orgulhosa.

Mas agora eu realmente sei o que significa amar alguém.

Desistir de um reino por uma pessoa. É assombrosamente fácil. Não devia ser. Por que é irracional.

Mas é como se eu nunca tivesse tido um exército. Já parece um pesadelo de outra vida, e foi só uns dias atrás.

Só quero que ela abra os olhos.

Como a grande covarde que sou, minha mão trava um segundo antes de encostar na testa dela.

Está fria.

Deuses, não sei o que fazer. O que posso fazer?

Como posso trazê-la de volta só com meu querer?

– A qualquer um que esteja ouvindo – me ouço sussurrar – por favor, por favor. Não a deixe morrer.

Estremeço inteira ao perceber que rezei pela primeira vez na vida.

Se existe um poço da patetice, estou afundada nele.

Ela abre os olhos. Apenas frestas. Mas vislumbro o castanho.

– Bom dia – digo.

– É noite – ela responde.

Como sempre, me desafiando em cada respiração. Amo tanto isso.

– Não seja uma espertinha – digo – sua cabeça ainda está rachada.

Ela resmunga e se vira na cama. Tão adorável. Os olhos se abrem mais.

– Hum – ela leva os dedos à própria cabeça – as coisas estão girando mesmo.

O alívio que se espalha por mim é quase demais e eu escondo o rosto nas mãos.

Ela tenta se levantar e a seguro.

– De jeito nenhum. Quer estragar todo o trabalho que estou tendo?

– Não aguento mais ficar aqui deitada.

– Não tem nem uma semana que está aí.

– Tempo demais.

– Se reclamar, te amarro aí.

O sorriso dela quase me derruba no chão.

– Uma promessa ou uma ameaça?

Ah, não. Não me venha com provocaçõezinhas. Não nesse estado. Mesmo sendo impossível naquele momento, aquele monstrinho em mim que tem fome por ela se retorce.

– Mais um motivo para você se aquietar e ficar boa logo – eu respondo.

Nunca em minha vida achei que seria tão insaciável por uma única pessoa.

– Estou com fome – ela fala.

Mais um bom sinal, penso.

– Vou pegar algo para você comer.

Vou na cozinha. Tento ser rápida. Não estar com ela debaixo dos meus olhos me deixa nervosa. Salmoneus deixou um bom caldeirão de caldo de galinha pronto. Encho um prato e volto quase correndo.

A encontro sentada na cama.

– Puta que pariu! – eu quase derrubo o caldo de tanta raiva – será que dá para ser mais teimosa?

Ela só revira os olhos para mim. Quero empurrá-la de volta na cama. Mas só me sento, fumegante, ao lado dela.

– Toma, bebe a porra do caldo.

Ela pega o caldo de minhas mãos e vai bebendo devagar. Faz uma careta.

– Tá gelado – ela fala.

É de propósito. Não pode ser. Olho de lado e tem um sorrisinho de canto na boca dela.

Claro que é de propósito.

– Será que dá para deitar de novo quando terminar de comer? – pergunto.

– Acho que sim – ela responde. Noto cansaço na voz dela e toda raiva some. Estou morta de medo de novo.

Mas ela vai ficar bem. Ela está sentada. Está comendo. Está me torrando a paciência.

Ela vai ficar bem.

Ela termina o caldo e me entrega a tigela vazia, o corpo já começando a pender para o lado de novo.

Seguro-a antes que tombe.

– Devagar, cabeça dura.

– Queria que fosse mais dura – ela resmunga.

Deito-a de novo, ajeito o travesseiro, cubro até o queixo.

Ela me encara, os olhos semicerrados de exaustão, mas vivos. Mais vivos que nunca.

Em segundos ela dormiu de novo.

Talvez seja minha chance de amarrá-la.

Me divirto imaginando o que ela faria se eu realmente fizesse isso.

Acho que não sobraria um pedaço de mim quando ela se libertasse.

Deito ao lado dela. Estou precisando desesperadamente dormir.

Mas tenho pavor de acordar e ela não estar mais ali. Ou estar fazendo bobagens, tipo tentar se levantar.

Mas estou devastada de cansaço.

Então faço meu melhor para garantir que ela não me dê nenhuma surpresa desagradável.

Entro debaixo do lençol com ela e amarro em meus braços.

Ela acorda por uns segundos, mas logo se enlaça em mim e dorme de novo. A seguro com um pouco mais de força do que devia.

Sinto a respiração dela em meu pescoço e comando meu corpo a acordar se aquela respiração sumir.

Mesmo exausta, o medo quase não me deixa dormir.

Mas uma hora sou levada pelo sono. Inquieto e tenso, mas é o melhor que posso no momento.

Quando abro os olhos no outro dia, ela ainda está em meus braços. Não só está respirando como está bastante acordada e olhando para mim.

Aquele olhar que me adora, mas sempre com um toque de despeito.

As pupilas dela reagem corretamente à luz do sol. Mais um alívio.

– A gente realmente precisa de um banho, sabe – ela fala – não to mais aguentando esse seu cheiro azedo.

E é assim que ela me dá bom dia.

– Eu queria tomar um banho. Mas se eu saio daqui você começa a dar cambalhotas e todo meu trabalho vai por água abaixo.

– Prometo ficar quietinha – ela fala – se for para fazer você parar de feder.

– Você sabe tá coberta de merda também né? Só a parte da ferida tá limpa.

– E nem posso me mexer para tomar um banho – ela faz um beiçinho – o que significa que você vai ter que se dar ao trabalho… de me dar um banho aqui mesmo.

Deuses, ela continua. Eu não consigo acreditar.

Xena, ela está doente, lembre-se.

– Isso, continue se aproveitando se sua condição. Sabe que não posso revidar, né? Já devia ter te dado uns tapas.

Ela ri de novo.

– Uma promessa ou uma ameaça?

Eu me levanto rapidamente e ela ri alto.

– Pelo amor de todos os deuses, Callisto, não sai dessa cama. Tô falando sério.

– Já disse, vou ficar quietinha. Quando menti para você na vida?

Nunca, a verdade é essa. A filha da puta mais honesta que já conheci.

Ela não precisa de mentiras. Se ela quer te ferrar, te ferra na cara dura. Sem subterfúgio.

Tomo meu banho o mais rápido possível e volto para o quarto com um balde de água.

A maldita já está nua e descoberta.

– Sabe, Salmoneus poderia ter entrado aqui e visto essa cena.

Ela dá de ombros, indiferente. Mas dessa vez eu fecho a porta do quarto. Ela pode não se importar, mas não quero ninguém vendo ela nua. Exceto eu.

Começo a limpá-la. Óbvio que ela faz de tudo para aquilo ser um tormento para mim. Mas eu resisto. Tenho certeza que um orgasmo não é a melhor coisa para a cabeça dela naquele momento.

– Sua putinha maldita – resmungo. Acho que ela nunca me irritou tanto na vida.

– É sua culpa. Eu era só uma virgem e você me arruinou. Minha doce inocência…

Vou te mostrar o que é arruinar… quando você melhorar. Penso, mas não falo. Seria minha derrota falar.

Nota