Fanfics sobre Xena a Princesa Guerreira

    I started to cry which started the whole world laughing

    If I’d only seen that the joke was on me

    I looked at the skies running my hands over my eyes

    And I fell out of bed hurting my head from things that I said

     

    Ela se afastou, e eu não consegui segui-la. Ela desapareceu de vista, me deixando à mercê de mim mesma. Ela não está mais lá para me segurar, minhas pernas cedem lentamente e eu colapso no chão.

    Nunca chorei em minha vida, mas agora eu choro, e eu não sei o porquê.

    Não é raiva, não é alegria, não é tristeza. É a reação automática de um corpo em desordem. Me sinto fragmentando.

    Fecho meus olhos, tento controlar pelo menos minha respiração. Aos poucos, os pedaços de meu corpo parecem voltar ao lugar.

    Toco meu rosto, meu pescoço, meu peito, meus braços, minhas pernas, me certificando que ainda sou real. Sinto as reentrâncias do chão, as folhas caídas, formigas sobre mim, o barulho do vento.

    Me restabeleço, e consigo abrir os olhos novamente.

    Estou aqui para matá-la, finalmente consigo pensar. Mas o pensamento parece puído, opaco.

    Apenas a lembrança daquele beijo ameaça me desintegrar novamente. Enfio minhas unhas na terra, não querendo me perder de mim novamente.

    – Estou aqui para matá-la – murmuro. Meus lábios mal articulam as palavras. Soam como ruído.

    Sinto alguma energia voltar para mim e consigo me levantar. Consigo dar passos. Vacilantes, cambaleantes, mas existentes. Volto ao acampamento como um fantasma bêbado, eu, que nunca encostei em uma gota de álcool.

    Suponho que um beijo pode ser embriagante também.

    Entro na minha tenda e há uma nota sobre minha cama.

    Durma bem, virgenzinha.

    A odeio.

    Amasso a nota. Encosto o papel em meus lábios. Cheira como ela. Caio nas peles em que durmo. Fecho os olhos. Deslizo aquele papel em todas as partes de meu rosto, que não estão cobertas.

    Em algum momento meu corpo cede e se entrega à inconsciência. Mas nem lá eu estou livre da inebriante aflição. Todos os meus sonhos são ela.

     

    ***

     

    Nos dias que seguem, eu não sou nada, novamente. Ela me observa, mas não há nada em seu olhar. Nada que indique que ela entenda a destruição que causou. Ela fala comigo assuntos de guerra. Me chama para dar opiniões sobre um cerco numa reunião com oficiais. Mas eu não sou uma oficial. Por que estou aqui?

    Eles me ouvem. O tabuleiro de guerra me acalma. É lógico, objetivo. Sei exatamente como mover cada peça, como enxergar as pequenas falhas nos planos. Percebo que eles estão desconfortáveis comigo. Além de Xena, sou a única mulher ali.

    Ouço minha própria voz como um eco distante.

    Quando todos saem, a voz dela tem a concretude das pedras.

    – Callisto, hoje à noite.

    Tenho certeza que meu coração desapareceu do meu peito.

    – Certo – respondo, sem olhar para ela.

    Ela vai treinar comigo, ela vai levar alguém para a cama dela, vou ouvir e sentir dor. É a rotina nefasta da minha alma. É como se eu me alimentasse de veneno.

    Mas aquela noite é diferente.

    Estou prestes a sair da minha tenda, quando ela entra. Não está de armadura. Está com a túnica vermelha. Eu recuo.

    – Vai ser aqui mesmo – ela fala.

    Sacudo a cabeça para os lados. Não. Não. Ela vai me destruir. Não tenho como sobreviver aquilo.

    – Então você não quer? – ela pergunta.

    Fecho os olhos, vê-la é demais para mim. Continuo balançando a cabeça para os lados.

    – Não.. não… – sussurro de um jeito que só eu posso ouvir. Dou mais passos para trás – vamos lutar, só lutar.

    – Não estou entendendo – ela diz – fala mais alto.

    Não consigo falar mais alto. Não consigo falar.

    As mãos delas estão em meus braços e basta aquilo para meu corpo começar a se desintegrar. Coloco minhas mãos no peito dela, quero empurrá-la, mas não consigo.

    – Se não quiser, vou embora – ela continua – não tenho o hábito de forçar ninguém a nada.

    Continuo de olhos fechados, o rosto voltado para o chão. Minhas mãos que estavam no peito dela sobem até seu rosto, traçando seus contornos. Murmuro coisas sem sentido, não sei o que sai da minha boca.

    Ela me puxa gentilmente contra si, meu rosto de repente está no pescoço dela, os lábios dela estão em minha orelha.

    – Não sinta medo – ela sussurra – não vou machucar você. Vou fazer você se sentir bem.

    Minha boca tateia o rosto dela, encontro os lábios, tento beijá-los como aprendi e ela corresponde de imediato.

    Minha mente e meu corpo não tem preparação alguma para essas sensações. Me sinto lançada num mar revoltoso, à deriva, me afogando. É maravilhoso e é terrível demais.

    Ela faz tudo muito devagar. Com um choque absurdo, percebo que ela está cuidando de mim. Me levando lentamente pela mão para um abismo desconhecido.

    – Confie em mim – ela diz.

    Eu confio.

    Ela se afasta de mim. Permaneço de olhos fechados, mas sinto a mão dela desatando cada presilha da minha armadura. Minha cabeça cai para trás. Os dedos dela roçam meu pescoço. Sorrio. Amo quando ela me toca ali. Se ela um dia me matar, espero que seja assim. É tão íntimo.

    Agora nada me cobre além da escuridão da noite.

    Ela pega meu rosto em suas mãos e o endireita.

    – Preciso que abra seus olhos – ela diz.

    O faço e a imagem dela me lanha como um chicote. Ela está nua também, deve ter se despido enquanto me despia e nem percebi.

    – Se deite – ela comanda.

    Eu não me deito, eu caio em cima das peles. Não entendo essa incapacitante lassidão.

    Ela não se deita ao meu lado. Ela fica em pé e me circula, me observa, me desenha com seus olhos. Não sei o que ela está procurando. Não sei o que as pessoas procuram em corpos nus.

    Quando olho para ela, ela me entra nas órbitas tão inteira que demoro a perceber as partes. Eu tento decompô-la, para entender. Ela tem pernas longas, robustas. O sexo escondido em um manto de pelos escuros. Braços fortes, seios grandes, mamilos escuros. Cada parte do corpo esculpida com perfeição. Uma infinidade de cicatrizes.

    Eu entendo, finalmente. Quero tocar tudo aquilo. Quero beijar tudo aquilo.

    Ela vê as mesmas coisas enquanto me olha?

    Ela tem um sorriso arisco. Ela lambe os próprios lábios.

    Minhas mãos apertam com força as peles sob mim.

    Ela se ajoelha ao meu lado. Se estende sobre mim e seus lábios encontram os meus novamente. Lentos e cuidadosos. Aos poucos, o corpo dela vai encostando no meu e é como se eu estivesse sendo espancada. Golpes que não doem, mas que derrubam e desestabilizam.

    As pontas dos dedos dela acariciam lentamente meu rosto, descem por meu pescoço, por meu colo.

    – Callisto – meu nome na boca dela sempre parece um soco – você pode me tocar, se quiser.

    Não sei se sou capaz de mover meus braços. Os lábios dela beijam meu queixo. Arrisco tocar os braços dela. Seus ombros. Com a ponta dos dedos, como ela está fazendo comigo.

    – Isso mesmo – o ar quente sai da boca dela e acaricia meu colo – me toque enquanto te toco.

    Como ela consegue ser tão suave? O que está acontecendo?

    Ela beija meus seios e um som inesperado sai de mim. Minhas mãos descem pelas costas dela. Não porque ela pediu que a tocasse, mas porque não consigo mais não tocá-la.

    Ela continua beijando meus seios. Meu corpo e minha voz me desobedecem. O que tem naquela parte específica de mim que me causa isso? Minha carne se revela para mim como nunca antes. Acho que é a primeira vez que percebo que eu tenho seios, que sou uma mulher. Que não sou o espírito desencarnado da vingança e sim uma mulher. Uma pessoa. Um ser humano.

    A língua dela sobe entre meus seios, meu pescoço, minha orelha. Ela me beija de novo, menos suave, mais faminta. A aperto contra mim. Quero desaparecer nela. Quero que ela me aniquile.

    – Eu sabia que você ia ser deliciosa… mesmo para uma virgenzinha… tão sensível… tão responsiva.

    Só consigo grunhir. Perdi a capacidade da linguagem.

    A boca e as mãos dela se tornam mais impiedosas. Continuo tocando e agarrando tudo que consigo dela, ela é minha âncora diante de tudo aquilo que desconheço.

    A cabeça dela está entre minhas pernas agora e ela me beija ali.

    Cubro minha boca num instinto protetivo, pois o que saiu dali foi o grito de uma besta. Não sou só um ser humano e uma mulher, percebo. Também sou um animal. Enquanto ela se afunda entre minhas pernas é o que sou.

    Ela está falando algo, mas sou incapaz de ouvir. Deve ser as coisas sujas que fala para outros. Não consigo ouvir ou entender.

    Reconheço a sensação. É a mesma dos sonhos que tenho com ela. Mas ampliada em milhares, porque é real.

    Perco a força de tapar minha boca e meus uivos escapam. A mão dela substitui a minha, abafando meus sons. Eu consigo ouvir algo:

    – Porra, Callisto… eu não vou aguentar.

    Um dedo entra em mim. Profundamente. Sou partida. Dói. Eu quero mais.

    Não sei se só pensei aquilo ou se falei. Devo ter falado, pois outro dedo vem.

    Os dedos se movem devagar, mas com pressão. A boca dela junto deles.

    Tudo desaparece. Meu corpo se inverte. Eu não vejo nada. Tudo em mim perdeu o controle. Eu parei de existir. A outra mão dela aperta minha boca com tanta força. É preciso, o que sai dali é o rugido da própria terra quando se abre.

    Demoro a perceber que os dedos e a boca dela já não estão em mim. Acho que morri, devo estar morta. Me sinto vazia, mas de um jeito preenchido, e rio sem saber porque.

    Não estou morta. Estou insuportavelmente viva. Volto a perceber meu corpo. Volto a percebê-la. Olho para ela. Meus olhos se arregalam quando percebo uma vermelhidão de sangue em seu rosto.

    Estou feliz. Achei a rachadura. A falha fatal.

    Eu sei como matá-la.

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