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Warning Notes

Esta é uma obra de ficção, sem fins lucrativos, apenas para divertimento e contém: sexo consensual e não consensual (entre pessoas do mesmo sexo e de sexos diferentes), violência, tortura e escravidão. A leitura desta estória por pessoas com sensibilidade aos temas mencionados e menores de 18 anos, não é aconselhada.

Com as quatro comandantes indo ao templo, restavam vinte e uma amazonas para garantir o conforto e a segurança de Gabrielle e Leah organizou a espera com cuidado.

Agora este contratempo e Leah estava inconsolável. Devia ter espalhado mais a guarda, colocado escoteiras avançadas e a cada pensamento, a culpa crescia e a engolia mais um pouco. Estava furiosa consigo, furiosa que estes homens tenham chegado tão perto de Gabrielle e agora estavam presas nesta armadilha. Tomou uma decisão. Procurou um canto menos habitado da caverna e lentamente sacou sua espada curta, apoiando-a na base de uma rocha na parede encostou-a no estômago e fechando os olhos elevou uma prece a Artemis, balançou-se pra trás pra pegar impulso e ia lançar-se quando uma batida seca fez o cabo de sua espada deslizar e esta ir parar no chão.

Abriu os olhos apenas para encontrar a mão de Solari em seu rosto três vezes seguidas, parando de girar ao apoiar-se na parede. Um soco em seu estômago a trouxe próximo do rosto da comandante escoteira que lhe chutava sem contemplações. A chuva de golpes foi tão rápida quanto violenta.

— A teus pés covarde. Levanta para que eu possa continuar o que comecei!

Solari foi levantando Leah pelos cabelos lentamente, porém esta não tomou nenhuma medida pra se proteger, sendo lançada nas rochas próximas. A agitação trouxe a atenção das demais amazonas e Eponin segurou Solari enquanto Iodia foi verificar Leah que estava no chão encolhida, com um lábio sangrando e uma ferida na perna direita que havia raspado em uma pedra mais afiada.

Leah não falava nada e Solari respirava como se tivesse corrido de Maratona a Atenas. A raiva evidente em seus olhos não dava margem pra duvidas , ela estava furiosa.

— O que está acontecendo aqui Eponin?

— Não sei Ephiny .

— Leah, o que está acontecendo?

Leah apenas olhou para o chão e não disse uma palavra.

— Solari, o que houve? O que ela disse? O que ela fez pra você reagir assim? Solari, fala alguma coisa!

— É uma covarde, isso que ela é. Canalha, incompetente e covarde!

— Mas o que houve?

Olhando de uma pra outra sem entender nada, Ephiny recebe de Eponin a espada de Leah.

— Ela te atacou Solari? Isso é loucura, ela é uma escoteira qualificada, sob teu comando!

Eponin tenta argumentar com Solari.

— Se você não disser nada, é insubordinação ! Grande Deusa Solari, é da vida de Leah que falamos!

Solari dando as costas ao grupo embainha sua espada saindo a passos largos buscando a boca da caverna. Precisava de ar. Estava quase lá quando ouve chamarem suavemente seu nome.

— Solari, o que aconteceu?

Parou nos cascos como congelada, pensando seriamente em fingir que não ouvira, mas era impossível. A voz suave de Gabrielle havia feito uma pergunta e Solari sabia que não tinha alternativa a não ser responder.

Caminhando até onde a princesa estava sentada, tentou conter a raiva e a decepção que tomavam todo seu corpo. Chegando na frente de Gabrielle toda sua determinação virou fumaça e as lágrimas corriam soltas por seu rosto. Ela não se importava.

— Solari, o que aconteceu ali? Tu agrediste Leah, por que?

— Ela é uma covarde, isso que é.

— Mas o que aconteceu? O que ela fez que te deixou assim?

— Ela é uma covarde.

Solari repetia esta frase como se isso explicasse tudo e Gabrielle sabia que não conseguiria melhor explicação no momento.

— Vai até a piscina e toma um banho frio, talvez isso faça melhorar as coisas e tua forma de ver. Ajudará a esfriar um pouco esta cabeça quente.

Solari olhou para Gabrielle e colocando o punho direito sobre o coração, encaminhou-se para a piscina e todas abriram caminho para ela, deixando o final da piscina para seu uso privativo.

Levantando lentamente, Gabrielle foi até Leah, que já tinha sido atendida por Iodia e estava sentada no chão com a cabeça entre os braços apoiados nos joelhos. Leah não tomava conhecimento das pessoas ao seu redor, simplesmente se balançando pra frente e pra trás ignorando a tudo e todos.

Uma mão tocou seu ombro. Uma mão pequena.

— Leah, o que aconteceu?

Como Solari, Leah sabia que não tinha alternativa a não ser responder. Uma pergunta direta era um comando real e seu treinamento levou a melhor sobre ela. As palavras foram surgindo sem que ela tivesse controle ou pensamento de mascarar ou ocultar a verdade.

— A comandante Solari ficou furiosa com minha tentativa de expiar meu erro com minha vida.

— Expiar seu erro? Que erro? Do que você está falando?

— Estes homens chegaram até você por minha culpa. Eu devia ter espalhado melhor as sentinelas, visto que eles fossem detectados mais cedo e estabelecido rota de fuga. Está em perigo por minha causa princesa, então eu tomei minha espada e procurei uma rocha com base saliente, estando para lançar-me sobre ela quando a espada foi golpeada escorregando da base. A próxima coisa que lembro era a comandante furiosa sobre mim.

— Tu ias te matar? Solari estava furiosa por que tu ias te matar? Então devo dar uma fortuna a ela. Que absurdo tudo isso!

Abaixando-se na frente de Leah, Gabrielle levanta-lhe o queixo com a mão fazendo com que a fite nos olhos.

— Leah, não é culpa tua. O que está acontecendo não é culpa de ninguém. Seja quem for lá fora, não há nada que qualquer uma de nós pudesse fazer pra evitar. Estes homens estão aqui por que estão aqui. Não fizeste nada de errado. Tu não os trouxeste aqui.

— Mas é minha culpa! Eu estava tão preocupada com a caverna que não garanti os acessos. Isso é básico no treinamento de escoteira e na guarda real! Garantir rotas de fuga é básico e é por isso que foi minha culpa. Era tudo que me importava no momento, punir meu erro e de alguma maneira pagar por minha estupidez.

— Vejo. Bom, já que estás tão determinada e convencida que teu sofrimento irá trazer algum bem sobre tua culpa, por momento vou comprar esta ideia e nisso posso te ajudar melhor do que tua espada.

Leah olhou para Gabrielle num misto de respeito, medo e ansiedade. Aceitaria qualquer coisa que a princesa determinasse. Sua vida não era mais sua e agora nem sua morte.

— Ephiny !

— Sim Gabrielle.

— Avisa Solari de minha decisão e diz que se ela estiver pensando em dispensar, que recusa não é uma opção. A partir deste momento, Leah fica com guarda dever todo o tempo em que estiver acordada. Será a segunda para Solari devendo atender a todas as necessidades da comandante. Dormirá , trabalhará, descansará, falará ou se alimentará quando e se Solari permitir.

— Ao seu comando.

— Leah, tu vais servir a comandante Solari até que eu determine o contrario pessoalmente. Ela está no banho, talvez precise de alguém para esfregar suas costas… Dispensada.

Enquanto observava Leah encaminhar-se para junto de Solari, como quem vai ao cadafalso, Gabrielle pensou que nunca uma força de expressão ficou tão perto da verdade quanto esta.

— Ah … Ephiny . Diga a Solari que desejo falar com ela após o seu banho e peça para Assoyde vir aqui um instante. Obrigada.

— Certo.

— Mandou me chamar Gabrielle?

— Sim . Assoyde, quero que reúna as arqueiras e tentem reestabelecer o número de flechas e setas que temos e como ficariam melhor distribuídas. Podemos aproveitar melhor o tempo do que agredindo umas as outras. Combine com Eponin atividades para manter todas ocupadas e formulem uma escala de descanso verdadeiro, quero todas dormindo ou descansando pelo menos duas marcas de vela inteiras durante do dia.

— Certo.

Dentro da caverna a rotina de providenciar os almoços tardios e organizar a preparação do jantar foi tomando conta de todas e a espera se tornou mais suportável com os afazeres de cada uma. Cereais foram providenciados e a carne salgada desempacotada que juntamente com as bagas colhidas no dia anterior, pão e queijo faziam as refeições do grupo . Todas fizeram o possível para descansar, pois não sabiam quando seria possível novamente.

Solari se apresentou a Gabrielle conforme ordenado.

— Querias me ver Gabrielle?

— Uhun… olha Solari, Leah está muito abalada com o que está acontecendo. O desespero está vencendo o bom senso e eu gostaria que você a ajudasse a passar por esta etapa difícil. Estava havendo uma questão levantada de insubordinação, se ela teria te atacado o que resultaria em crime nas fileiras. Sei que ela não te atacou e que tu impediste ela de se matar. Então a questão criminal está descartada . Não se fala mais nisso.

— Isto é tudo?

— Não, ainda não . Queria agradecer tua intervenção providencial. Irmãs devem se apoiar nestes momentos de fraqueza que todos temos Solari. Mesmo a mais valente das amazonas já teve momentos de dúvida e desespero. Gostaria muito que você considerasse ajuda-la quando tua ira estiver mais amenizada. O importante é que conseguiu parar de acontecer o pior e por isso sou grata.

— Não precisa agradecer Gabrielle. Eu não permitiria que ela tivesse esta saída fácil. Não fiz pra facilitar ou ajuda-la, mas ela terá de responder por sua falha de avaliação se sobrevivermos a este episódio. De mesma maneira, o que ela ia fazer é uma forma de deserção, pois nós estamos na beira da batalha e ela ia fugir. Isso não vai ficar assim. A questão criminal continua, a menos que tu decidas perdoa-la. Ser escoteira é mais do que rastrear marcas no chão e Leah devia saber disso. Um suicídio seria uma mancha na nossa linhagem e ela não tinha o direito de desrespeitar nossas antepassadas desta maneira. Nossa mãe morreria de vergonha.

— Bom, de qualquer maneira designei-a como segunda pra ti. Ensina o erro de seus modos e a importância de manter firme a convicção de que unidas conseguiremos superar tudo. A vida dela e sua morte agora estão em tuas mãos Solari. Podes trata-la com a energia que julgares necessária, ninguém vai intervir, mas lembra sempre que o exemplo e a misericórdia são mais poderosos que o discurso e o açoite. Estás dispensada de qualquer outro dever pelas próximas marcas de vela. Lembra de quando eras inexperiente, vai e cuida dela.

— É uma ordem Gabrielle?

— Não, é um pedido sincero de uma amiga que te quer muito bem.

— Era só isso?

— Sim, obrigada Solari.

Solari saúda Gabrielle colocando o punho direito sobre o coração e erguida em toda sua altura, a passos largos volta para a piscina para ensinar o erro de seus modos a uma escoteira assustada.

Ephiny se aproxima de Gabrielle e suavemente deixa sair o fôlego que nem percebeu que estava trancado.

— Vai ser muito duro pra ela Gabrielle.

— Cuidar de Leah? Ela faz isso o tempo todo!

— Não, eu me referia a ficar afastada de suas responsabilidades. Deve estar creditando a Leah esta tua atitude. Sente que falhou contigo, conosco. No fundo ter escolhido Leah para assumir na nossa ausência foi uma decisão dela e ela se responsabiliza por isso, sentindo se tivesse espalhado melhor as sentinelas poderíamos estar mais protegidas. Eu não queria estar na pele de Leah nas próximas luas.

— Elas consertarão isso, elas têm que consertar Ephiny . Silenciosamente Gabrielle lança uma prece a Artemis para que as duas irmãs consigam se entender novamente.

Solari aproxima-se de Leah que estava onde a deixara. Em pé de frente para a parede ao lado da piscina, numa saliência nas rochas , para não ofender as verdadeiras amazonas com sua cara de derrota. Tirando seu punhal, encosta-o no lóbulo da orelha esquerda arrastando-o em direção da garganta deixando claro que não seria fácil demover sua raiva.

— Você pode ter tocado o coração de Gabrielle e isto está bem, pois é assim que ela é, mas não será tão simples assim entre nós. Agora que estamos nesta situação e Eponin precisa de cada braço e cada arma disponível, você ia sair de cena, deixando minhas irmãs pra resolver sua bagunça. Ia desertar frente a batalha de forma covarde, canalha sem respeito e nós sabemos o que você realmente ia fazer, fugindo da responsabilidade e da situação, jogando o nome de minha mãe, de minha vó e o meu na lama. A partir de hoje não tem nome, história , não tem honra. Você não tem nada, você não é nada.

A medida que falava Solari ia passeando com a ponta do punhal pelo rosto e pescoço de Leah e sua raiva ia levando a melhor requisitando todo autocontrole para não esfolar aquela imbecil ali mesmo. Seria muito agradável, mas havia o pedido de Gabrielle e ela não iria desconsiderar os sentimentos de confiança que estavam depositados naqueles olhos verdes e francos. Fazendo uma profunda respiração segura sua mão de aprofundar o fio na pele de Leah afastando-o levemente e tomando sua decisão, chega por traz aproximando ainda mais a boca do ouvido de Leah.

— Você não vai mais falar, nem mesmo para responder a quem lhe pergunte, não vai emitir nenhum som a menos que seja para avisar alguém de um perigo iminente. Vai obedecer qualquer ordem que receba de qualquer amazona, mesmo as meninas que estão formando trial e fará isso como um cão bem treinado, sem choros, cansaços, caretas, gemidos ou lamentações. Eponin está organizando treinos mão a mão, de bastão e de espadas. Vai te apresentar pra ela como companheira de treinamento totalmente disponível. Se e quando alguém ainda quiser treinar com uma cadela sem respeito, na qual não se pode confiar. Lutará com alguém e ou então realizará treino pessoal individual. Ficará ali disponível até que eu te chame para outra coisa. Agora some de minha frente. Vai!

Eponin estava focada em observar e corrigir, tendo organizado o grupo em três duplas. O treino era fixado em uma marca de vela para cada arma e a primeira arma usada era o corpo. No treino da sequência de golpes e bloqueios mão a mão o primeiro grupo atacava e o segundo bloqueava, fazendo isto por dez contagens, invertendo-se os papéis.

Leah não sabia como explicar sua presença, optou simplesmente por ficar ali parada a seu lado observando as atividades.

Todas tinham sua dupla, não havendo parceira a vista. Já ia desistir e iniciar o treino individual quando Zenit parada ao seu lado tranquilamente se posiciona para treinar.

— Eponin não facilita nada né, mas acho que o inimigo também não vai facilitar, por isso que ela age é assim.

Surpresa que alguém estivesse falando com ela, sacode a cabeça concordando sem tirar os olhos do treinamento.

— Gostaria de treinar?

Olha fixamente para Zenit e se dirige ao grupo de treino. Tomando suas posições iniciam a sequência de ataque e bloqueio .

Passada mais meia marca de vela, Eponin para o treino mão a mão e busca a espada.

Todas fazem o mesmo e recomeçam o treinamento, agora numa sequência de ataque e defesa. Lado direito, lado esquerdo, superior, direito , esquerdo e estocada. Alternando os papéis por quase uma marca de vela segue este bailar do aço. Eponin busca o bastão e começa a sequência superior direito, superior esquerdo, inferior direito, inferior esquerdo e vertical. Novamente alternando papéis de ataque e defesa.

Precisando encerrar o treino, em meia marca de vela, Zenit agradece a companhia e busca as águas relaxantes . Leah segura seu bastão firmemente, estando novamente sem parceira de treino se posiciona na linha que será atacante, para realizar de forma alternativa o treino individual mão a mão.

Firmando seus pés no solo, ao olhar para a frente encontra-se com Gabrielle. A princesa desejava treinar.

— Gabrielle, você não está bem. Deveria ficar descansando.

— Não vou ficar parada enquanto todas estão treinando Ephiny . Quando eu cansar irei parar, agora estou necessitando gastar energias e creio que o Bastão será adequado. Leah atenderá esta necessidade dentro de minhas condições. Tenho certeza de que ela será uma boa parceira, Eponin.

— Não posso diminuir o ritmo do treino Gabrielle, mas você irá me prometer que não fará excessos, estabeleça seu próprio ritmo . Não tente seguir o grupo se não puder.

— Combinado Eponin, nós vamos ficar bem.

— Todos em posição? Lutem!

O treino recomeçou. Uma marca de vela depois Gabrielle fez sinal para parar. Precisava descansar. De tempos em tempos Iodia ministrava o medicamento a Gabrielle , que assim conseguia se manter acordada e gerenciando a situação e recebeu um odre de água fresca de Zenit, bebeu e passou para Leah que educadamente recusou. Surpresa, Gabrielle a olha com interesse redobrado, tomando nota dos sinais de que o cansaço estava começando. Firme na promessa feita a Solari, Gabrielle não insistiu e agradecendo pela companhia, foi com Ephiny a procura de Assoyde para repassar estratégias.

As guerreiras que repassaram o treino com o trio de armas se dirigem à piscina para relaxar a musculatura enquanto Gabrielle se afasta e vê Solari de longe, observando Leah com raiva no semblante. Ainda teria muito o que trabalhar nestas duas.

Chegando junto a Assoyde, Gabrielle diz algo que ela ouve atentamente e sai, mergulhando na piscina. Após alguns minutos, nada para ao lado de Dieynisa a quem transmite um recado, continuando a ter sua diversão com o grupo permanecendo ali por um bom tempo.

Em pouco tempo Dieynisa saindo da piscina vai até o grupo que em breve iria entrar em treino e entre piadas e risos passa o comentário de que Leah precisava de uma nova parceira de treino, uma vez que a princesa estava sem resistência. Não havia nenhum desmerecimento de Gabrielle, claro, mas doente como estava não conseguiria treinar por muito tempo seguido. Era necessário substituí-la.

Surpreendentemente Eponin tem sete voluntárias neste grupo de treino, formando três duplas e uma precisou de Leah para executa-lo, sendo iniciado novamente o treinamento na rotina da luta mão a mão, espadas, bastão.

Ao final do treino de bastão, havia já cinco marcas de vela e meia que Leah estava treinando. Suas mãos pesavam e os braços estavam lentos, com o suor escorrendo . As amazonas se dirigiram às piscinas enquanto Leah se posicionava novamente para iniciar o treino mão a mão, agora individual pois estava sem parceira e concentrada na sequencia correta de movimentos básicos ela combinava ataque e defesa . Eponin apenas olhou e balançando a cabeça deu as costas e foi pra junto de Solari.

— O que tens aí pra comer Sol?

— Carne, queijo e pão. Aceitas vinho?

— Não, melhor não. Devemos estar alertas. Acho que posso descansar um pouco, já foram treze amazonas com o treinamento em dia, se somarmos Zenit e Gabrielle teremos quinze, mais esta aí vamos a dezesseis. Foi um bom dia de trabalho e nada mal pra uma tarde em que estamos cercadas. Estás olhando o treino dela com muita atenção. Ela está se esforçando, mas poderia melhorar o recuo e ainda tem dificuldades no centro de equilíbrio quando recua com bastão.

— Quando começará?

— O que?

— Você. Quando começará a campanha para que eu a deixe descansar, relaxe com seu aprendizado?

— Não vou fazer isso Solari. Isso é entre tu, ela e Gabrielle. Se te foi dado o poder de determinar sobre Leah, eu não vou me meter. O que te disse foi sobre a técnica dela e apenas por que estás a observar seu treino com olhar avaliativo. Foi só um comentário, mas aposto contigo que ela desmaia antes de pegar a espada novamente.

— Por que?

— Por que ela desmaia ou por que eu aposto? Eu aposto por que sempre apostamos em qualquer coisa , eu e tu. Ainda me deves um arco novo de quando fui a primeira a capturar o javali na última caçada. Ela vai desmaiar por que treina a mais de cinco marcas de vela e já perdeu quase toda água possível de se perder, com mais uma marca de vela de mão a mão, na hora de pegar a espada estará desmaiando.

— O que queres apostar?

— Hum… um punhal novo contra o arco que me deves. Se você vencer não precisa me pagar o arco, se perder me pagará um punhal novo no solstício de inverno.

— Concordo, mas façamos assim. Eliminamos o treino de mão e ela passa pra rotina de bastão. Pra ser mais justo chama alguém descansado pra fazer o treino com ela, coloca um ritmo acelerado pois quero leva-la no limite. Quando ela fizer o primeiro cruzar de espadas eu venci, se ela desmaiar antes de fazer o primeiro cruzar de espadas te devo um punhal.

— Feito! Squiona! Venha aqui por favor.

— Sim comandante.

— Pega teu bastão e te junta a Leah. Ela precisa de mais ênfase na defesa, então não poupa teus golpes. Usa de velocidade e força máxima contra o bastão dela, mas trava o golpe se passares as defesas. Não deves toca-la fortemente.

— Sim comandante.

— Queres acrescentar algo Solari?

— Que a faça abaixar e saltar em cada sequência e busque derruba-la sempre que possível.

— Certo.

Chegando na zona de treino Solari chama Leah. Olhando de cima a baixo diz em tom baixo: Ela vai treinar contigo. Se sabe o que é bom pra você, toma um bastão e treina sem derrota. Talvez quando terminar o treino de espadas, se me agradar seu desempenho poderá descansar e beber.

Ambas combatentes se posicionam e começam o treino lentamente. Aos poucos Squiona impõe um ritmo acelerado, fazendo com que Leah aumente a concentração. No meio do treino a sequência é quebrada e Leah é atingida nas pernas por trás, caindo no solo.

Levando alguns instantes para perceber se estava inteira, se põe em pé e recomeça o treino que agora assemelhava-se mais a uma luta , um desafio, pois Squiona não mantinha o padrão de sequencias e improvisava toda hora.

Aos poucos as amazonas foram chegando e formando um circulo ao redor das duas.

— Ephiny o que está acontecendo? Por que Squiona está massacrando Leah?

— Não sei Gabrielle, mas ela está aguentando bem, para quem está treinando a tanto tempo seguido.

— Se Squiona machuca-la vai se ver comigo, diretamente. Isso é uma covardia, Leah mal para em pé. Pare com isso Ephiny !

— Não posso. Apenas Eponin pode parar um treino depois de iniciado e parece que isso não está para acontecer tão logo. Você poderia dar uma ordem e parar tudo Gabrielle.

— Não. Eu prometi a Solari que não interferiria na maneira que ela escolhesse para lidar com Leah. Descobre o que está acontecendo, por favor. Não é de Eponin deixar uma guerreira passar do limite num treino.

Fazendo alguns questionamentos discretos, Ephiny já sabia de tudo, mas não podia acreditar.

— O que descobriu Ephiny ?

— Você não vai gostar. Eponin e Solari fizeram uma aposta de um arco contra um punhal sobre a resistência de Leah. Squiona recebeu ordens Gabrielle, não teve escolha no negócio.

— Não acredito que Eponin faria isso por uma arma . Ela tem uma cabana cheia delas!

— Acredito que os motivos de Eponin sejam honrados Gabrielle. Eu pedi para Deian ficar observando Solari durante toda tarde. Informou que ela abria um tipo de sorriso cada vez que as outras iam beber ou descansar e Leah recomeçava a treinar. Gabrielle, Leah não recebeu água desde que começaram os treinos, então talvez Eponin esteja tentando ajuda-la.

— Como? Matando-a? Mortos não sentem sede!

— Não. Acho que tem mais nesta aposta do que a aposta em si. Quero dizer, de uma forma ou outra a aposta encerraria os treinos de Leah, então talvez Solari permitisse a ela descansar.

— Sobre o que é a aposta afinal?

— Pelo que entendi é sobre o tempo que Leah conseguirá ficar em pé, se chegaria ao treino de espadas depois deste com os bastões.

— Podemos fazer alguma coisa Ephiny ?

— Rezar e esperar pelo melhor Gabrielle e por favor tenha tolerância com Squiona, ela realmente recebeu ordens.

— Ela parece estar desfrutando de impor sua qualificação sobre uma irmã quase morta de cansaço. Eu não vou aprovar esta atitude.

— Está sendo injusta Gabrielle. Ela não poderia fazer menos, seria traição ao comando recebido.

— Quando isso acabar, eu a quero na minha frente Ephiny . Quero ver como ela realmente lida com ordens diretas.

Ephiny achou melhor não insistir e balançou a cabeça concordando. A marca de treino estava chegando ao fim, e Leah estava tendo êxito em manter a cabeça inteira e o corpo com poucas marcas, mas não estava mais tendo força para saltar sobre o bastão. Recebendo novamente um golpe nas pernas, cai sobre suas costas deixando o bastão voar para longe de seu corpo. Fica ali deitada por algum tempo e lentamente vai se colocando em pé. Eponin declara que o tempo do bastão passou e era o tempo da espada.

Leah segurou sua espada com as duas mãos, fortemente, mas não atacou. Ficou esperando. Eponin então determina que a ela caberia o primeiro ataque e Squiona permanece a dois comprimentos de distância. Leah deveria dar dois passos adiante e executar o primeiro ataque mas não conseguia erguer a espada. Seus braços não obedeciam seu cérebro parecia estar parado e seu corpo todo tremia. Caiu de joelhos, deixando a espada encostar no solo então lentamente se ergueu e dando um passo a frente colocou toda sua força, jogando o corpo numa estocada, Squiona desviou-se e esperou novamente. Erguendo a espada Leah olhou pra cima, sendo imitada por Squiona. Aproveitando-se desta distração Leah ergueu a perna dando um chute lateral na perna de Squiona que abriu os braços para equilibrar-se e ao levantar a perna visada, teve a ponta de sua espada atacada com toda a força que restava ao completar o giro que havia iniciado com o chute. Leah caiu deitada de lado, respirando ofegante, segurando sua espada levanta-se na posição sentada sem conseguir ficar em pé.

Eponin declarou que o treino estava acabado e Solari parou na frente de Leah. Todas as amazonas no círculo estavam a espera do que aconteceria . Solari tomou a espada e lançou-a dentro da piscina, dizendo para Leah que deveria ir buscar sua arma quando levantasse e que aproveitasse para beber toda a água que conseguisse. Por ora poderia ficar ali descansando um pouco e saiu para o lado de fora da caverna para ver as estrelas, com um sentimento misto de raiva e orgulho por sua irmãzinha.

Todas foram aguardar o jantar, enquanto a um sinal de Gabrielle, Iodia atendia cuidadosamente Leah dando-lhe pequenas porções de água com um medicamento para amenizar a dor. Como Leah não aceitava beber, Iodia insistiu , utilizando toda autoridade que ser uma curandeira lhe dava.

— Eu não estou perguntando se tu concordas. Eu disse que vais beber aos poucos e não aceito discussões. Nem a rainha se nega a seguir minhas recomendações, não vou começar contigo. Com Solari me entendo eu depois. Leah agradecida, sorvia pequenos goles de água enquanto recompunha sua respiração.

Ao por do sol é enviado um grupo de pesca que teve muito êxito e nenhum contratempo, dando a Gabrielle a certeza de que estes homens estavam aguardando algo.

Enquanto esperam o jantar ficar pronto, Gabrielle resolve contar histórias para passar o tempo e depois de passar dois clássicos sobre a guerra de Tróia e Hercules, iniciou a história do amor e a força de Ireska.