19 – As filhas de Artemis

Ficando sozinha, Xena decidiu fazer uma ronda de inspeção no campo enquanto aguardava o momento da reunião com os dois capitães de defesa e as amazonas. Indo até o perímetro subiu na primeira arvore e foi pelo alto verificar as condições dos sentinelas. Todos estavam alertas para possíveis espiões vindos de fora, mas não se preocuparam em monitorar o próprio campo.

Aqui e ali as duplas e trios conversavam sobre os últimos acontecimentos , não havendo manifestação de desagrado com a convocação das amazonas. A vitória de Eponin sobre Dietar tinha dado aos homens uma ideia mais aproximada do valor das amazonas como guerreiras e a presença de Atena não era mencionada.

Descendo próximo ao lago, caminhou tranquilamente para o carvalho, onde estava sendo aguardada por seus dois capitães e as amazonas.

Conquistadora.

– Comecemos a reunião. Alceu, ficaste responsável pelo perímetro interno e Xilant pelo externo. Colocaste a guarda da bandeira a cargo de Leander esta noite, como solicitei?

– Sim, Conquistadora.

– Manda chama-lo e que Sincinato venha também. Ephiny quero Karin trazendo agora o resultado de sua missão pessoalmente, acompanhada pelas três Falcões e Leah.

– Sim, senhora.

Em pouco tempo os dois capitães e as mulheres chamadas estavam presentes na frente de Xena .

– Mandou chamar, Conquistadora.

– Sim Capitão. Você mencionou ontem uma certa descrença na capacidade das amazonas de cumprirem com suas missões, uma vez que foram facilmente capturadas pelos Falcões . Estou correta?

– Sim, senhora.

– E você também fez coro a esta ideia, Sincinato?

– Sim, senhora.

– Esta é Leah e gostaria de apresentar Karin, uma jovem escoteira amazona. Elas ontem pegaram em uma marca de vela, algo que me pertence e seus homens deveriam ter guardado Leander, quando Karin pessoalmente entregou em minhas mãos, na frente da tenente Dinia e das sargentos o objeto de nossos esforços daqui pra frente. Entregue ao capitão, Karin para que ele possa recolocar de forma mais segura.

Karin aproximou-se de Leander e colocando a mão em sua sacola retira dali a bandeira que devia estar tremulando na tenda de comando. Sem acreditar, automaticamente os olhares dos quatro capitães se volta para o alto da barraca e encontram o mastro principal vazio.

– Mas, como… quero dizer… majestade, nada foi relatado como alterado!!!

– Explique ao capitão, Karin.

– O corte na barraca foi feito na dobra da costura, próximo ao chão, de maneira que estando a lona estendida não seja percebido a não ser com uma vistoria minuciosa. E sentinelas raramente olham pra baixo. Entrei na lacuna de tempo da passagem das sentinelas e a corda foi cortada com precisão por Leah, utilizando um arco de média distância e uma flecha de ponta simples.

– Entendo agora a importância de usarmos correntes e não cordas, Conquistadora. Os homens responsáveis serão devidamente punidos por esta falha, majestade e gostaria de parabenizar a comandante amazona pela eficiência de suas guerreiras. Formalmente peço desculpas por minha atitude indevida em duvidar das suas técnicas, comandante.

– Não há necessidade de punir seus homens capitão, não foi uma falha deles. Agradeço seu reconhecimento à Karin e Leah e espero que possamos trabalhar unidos para a vitória da Conquistadora.

Xena rapidamente retoma o comando da reunião.

– Solari, tu mostrarás a Leander como evitar esta manobra de invasão da barraca de comando, as formas de camuflar os homens e o nosso estábulo de segurança com os homens de Alceu.

– Sim Conquistadora.

– Assoyde coordenará com Xilant as armadilhas e arqueiros sobre as árvores, tu Eponin cuidará das armadilhas de solo e Ephiny assumirá a confecção das balsas e os piques na base do morro. Dispensados.

A manhã passou na organização das armadilhas defensivas e posicionamento dos escudos e trincheiras camufladas e a reunião pouco antes do almoço, com os oficiais convocados e as quatro comandantes amazonas, determinou o plano de ataque.

– Bem vindos, todos vocês. Estão aqui para realizar uma façanha que entre todas as divisões, somente os Falcões se proporiam. Atacar um campo guardado por duas unidades, contando apenas com um grupo de vinte e cinco indivíduos. Vocês serão divididos em três grupos e cada grupo terá seis amazonas e dezenove Falcões para conquistarem as bandeiras de Briontis ao sul, Alexius ao norte e Gilmnyr no oeste. Darei as diretrizes gerais, devendo o comandante de cada grupo fazer as adaptações e improvisos que a ocasião solicitar.

O grupo Gama, dirigido por Xilant atacará Gilmnyr na noite de amanhã e suas amazonas ficarão responsáveis por trazer a bandeira das montanhas usando o arvorismo, os cavalos, a pé ou rastejando, mas falhas não serão toleradas. Todos os outros componentes do grupo farão uma frente em forma de cunha, garantindo que os homens de Gilmnyr não olharão para cima ou para trás, chamem a atenção deles para o ataque a seu flanco leste.

O ataque aos dois primeiros campos deverá acontecer ainda esta noite, duas marcas de vela antes do amanhecer, devendo todos que estiverem em condições de lutar complementar o grupo Gama, com ponto de encontro na oliveira ao norte do rio de Janar, para formar o ataque com Xilant de leste para oeste, penetrando diretamente pelo centro. Providenciarei uma rota por trás, pelo oeste que eles não estarão esperando.

Os grupos Alfa com Felipe e Beta com Adicles, atacarão indo até onde possam deixar seus cavalos esperando sob guarda e se deslocarão a pé ao campo inimigo. As amazonas farão a abordagem saindo do lago para as árvores por trás das sentinelas e pelo outro lado saindo da floresta os Falcões providenciarão um tumulto, onde todas, menos uma, escaparão com os cavalos, que será apenas artificio para chamar a atenção, pois a bandeira virá pela água com uma amazona a nado, que mais adiante convergirá para o local onde deixaram seus animais. Concluída esta missão deverão as amazonas garantir que os cavalos e a bandeira cheguem intactos ao nosso campo e os Falcões estarão livres para irem para o campo de Gilmnyr onde estão sendo esperados.

Quando as três bandeiras estiverem sob a custódia de Leander em nosso próprio campo, as amazonas dos três grupos que puderem agir deverão se dirigir ao campo de Icer no extremo norte e os Falcões restantes no campo de Gilmnyr irão ao campo de Dionir a noroeste. Estes dois últimos campos serão atacadas como vocês acharem melhor, porém quero estas bandeiras.

É importante buscarmos as bandeiras de pelo menos três campos e não deixarmos eles tocarem nas nossas. Vocês são a mais equipada e preparada força de ataque presente no Império e não deixaremos a vitória para as outras divisões do exército. Os cavalos e os homens capturados serão bônus neste jogo e acrescentarei as multas relativas a eles ao baú do prêmio que será dividido entre os componentes dos três grupos de igual forma, independente da atividade na missão ou patente. Todos entenderam?

– Sim Conquistadora.

Os oficiais comemoram a notícia, sabendo que seria um incentivo e tanto para seus homens, mas as amazonas ficam impassíveis, uma vez que não eram motivadas por dinheiro em suas atividades, pois não eram guerreiras por dinheiro mas por estrutura social.

Xena sabia disso e sua próxima fala colocaria mais incentivo nas amazonas do que todo o ouro que poderia ter prometido.

– Ephiny , um incentivo a mais para tuas amazonas será saber que considerando Gabrielle receber qualquer recompensa que eu resolva dar a vocês , fica decidido que ela, sozinha, receberá as consequências se estas bandeiras não chegarem em nosso campo .

Ephiny levantou a cabeça, fixando os olhos na Conquistadora e todo seu desespero mostrou-se enquanto continha, com um gesto, Eponin e Solari de fazer qualquer manifestação.

– Sim, Conquistadora.

Neste meio tempo em que corria a reunião de oficiais, na tenda da Conquistadora uma escrava sentia-se culpada de transgressão. Acordando com a claridade do dia, uma marca de vela após o nascer do sol, Gabrielle ficou assustada com a possibilidade da Conquistadora não gostar nem um pouco de sua escrava acordar tão tarde e olhando ao redor, percebeu Yolker arrumando algumas coisas num baú atrás da mesa da Conquistadora.

Levantou-se o mais silenciosamente possível, olhando ao redor buscando a bacia para lavar-se e um pente para organizar seus cabelos, que certamente estavam completamente em desalinho não percebeu que Yolker estava olhando pra ela e vindo em sua direção.

– Bom dia, Gabrielle.

Assustada, curvando-se para ele responde rezando à Atena, ser na forma adequada.

– Bom dia, senhor. Por favor, desculpe se eu atrapalho, meu senhor.

– Não há motivo para se assustar, não vou lhe fazer mal. A Conquistadora deixou instruções para você assim que acordasse. Estás bem acordada, Gabrielle?

– Sim, certamente senhor.

– Ali, sobre a bancada tens sabão, toalha e outra túnica. Deves providenciar banhar-te e mudar de roupas, pois tua senhora deseja ao voltar te encontrar aqui dentro da tenda, vestida e de banho tomado. Tens permissão para comer o quanto quiser dos alimentos sobre a mesa e de ir livremente a qualquer lugar do campo . A sanadora amazona já esteve aqui duas vezes pela manhã pois ao que parece a Conquistadora deu permissão para ela tratar-te com o medicamento que precisares.

– Onde devo banhar-me, senhor? Quando ela retornará?

– A Conquistadora não me disse, creio que deixa isso a teu cargo. Preciso cuidar de outros assuntos. Até mais, Gabrielle.

– Obrigada, senhor.

Decidiu pegar uma sacola e colocar os itens fornecidos saindo para fora no campo, lembrou que as amazonas estavam na barraca mais próxima a direita da tenda da Conquistadora e foi caminhando para lá.

As duas sentinelas reconheceram sua presença colocando a mão fechada sobre o peito e abriram a aba da barraca.

– Bom dia, Cora. Salina.

– Bom dia, alteza.

Gabrielle verificou que haviam duas amazonas dormindo, voltando para a entrada.

– Onde estão todas? O que houve com estas duas?

Elas ficaram de sentinela a noite toda e agora estão descansando. As outras estão nadando no lago, perto dos salgueiros.

– Obrigada Cora.

Gabrielle desceu devagar o morro até os salgueiros que davam sombra avançando por sobre a água. Quatro amazonas sentadas, usavam facas para esculpir a madeira, fazendo punhais com cabos pesados e folhas largas, enquanto outras conversavam tranquilamente na sombra com as companheiras e algumas amazonas nadavam e brincavam perto da beira.

Gabrielle não sabia como seria recebida, pois embora suas irmãs a amassem, ela era agora uma escrava e isso era uma distância e tanto em um campo militar do Império. Ao chegar entre suas irmãs ficou parada olhando para elas, e ao mesmo tempo desejando contato.

Leah resolveu este dilema de forma rápida ao perceber a presença de Gabrielle se posicionou em um joelho, com a mão sobre o coração dando a ela a saudação mais formal que uma guerreira dirige a um membro da Casa Real , reconhecendo sua autoridade. Uma a uma as amazonas copiam Leah, inclusive saindo da água e saudando-a na margem.

Kleith saúda Gabrielle em nome de todos.