Aviso: Violência leve, Intriga, Disfarce, Jogo psicológ! — Você pode ocultar o conteúdo sensível marcado ou com a opção no menu de formatação . Se conteúdo alternativo for fornecido, será exibido em seu lugar.
Notas de advertência
Algumas cenas de violência leve e jogo psicológico podem estar presentes. Intriga e disfarce são elementos centrais da trama.
23 – Descobertas
por MNSEnquanto falava, o olhar de Gabrielle viajava de Terreis para Ephiny e retornava inquisitivo.
– Ela não irá fazer nada contra você Gabrielle.
– Terreis, não quero criar problemas pra vocês, eu ficarei na coberta descendo apenas para dormir.
– Na coberta não é seguro estar sozinha Gabrielle, nisto Ephiny tem razão. Não será necessário que você fique alijada da luz do sol ou do ar puro, nem da segurança da cabine. Espero que aceite ser minha convidada nesta viagem não só no navio, mas todo caminho até o templo e de volta à sua casa.
– Agradeço tua preocupação, no entanto acredito que seria demasiado. Tenho uma tarefa a cumprir e não gostaria de ser um fardo pra mais ninguém.
– Eu insisto, Gabrielle. Uma mulher que procura a Caçadora sempre terá de nós todo apoio possível, sendo este apoio parte de nosso legado por gerações. Não é nenhum fardo, mas uma honra colaborar no que pudermos para que tenhas sucesso em tua empreitada. Por favor, aceite.
– Se colocas desta maneira, eu aceito sim, obrigada.
Voltando-se para Ephiny , Terreis deixa claro que não aceitaria argumentos.
– Ficas responsável pela segurança dela como se fosse a minha, daqui pra frente considere-a minha convidada pessoal.
Ephiny apenas balança a cabeça e sai da cabine, fazendo um sinal a Assoyde que a seguisse, vai dirigindo-se às cozinhas onde adquire algumas frutas, queijo, pão, fatias de cordeiro, um odre de vinho e um odre de água .
– Leva isto para a cabine e verifique se a “convidada” de Terreis está confortável. Eu estarei na coberta se precisarem de mim.
Assoyde retorna para o quarto com sua encomenda, dispondo as frutas e o restante do almoço para uso de todas.
– A refeição esta servida, Terreis.
– Obrigada, Assoyde, fala com as outras e certifica-te que elas compreendam as mudanças ocorridas. Venha Gabrielle, vamos verificar que tipo de alimento teu estômago aceitará.
– Terreis! Isto é muito, quero dizer que eu agradeço, mas não tenho como pagar por refeições assim!
– Como minha convidada pessoal você não precisará pagar nada, Gabrielle.
Pegando uma maçã, Gabrielle fica olhando para Terreis, procurando definir algum tipo de armadilha naquele sorriso franco da ruiva.
– O que foi Gabrielle? Os alimentos escolhidos não te agradam, então nomeia o que gostaria e será providenciado.
– Está tudo ótimo, obrigada. Estava apenas tentando entender qual o interesse de vocês. Por que eu? Com tantas pessoas neste barco, por que eu recebi tanta atenção?
– Acredito que nada acontece por acaso ou por engano e tudo é como deveria ser. Conseguimos a passagem, mas só havia lugar nesta cabine, com você que está se dirigindo para o mesmo lugar e prestar respeitos à Caçadora. Veja-nos como sua escolta particular, enviada por Ártemis, com este encontro sendo para acontecer e assim, é nosso dever protegê-la.
– Posso fazer uma pergunta, Terreis?
– Claro.
– Vocês são amazonas?
– Sim.
– Amazonas de verdade? Como Pentesileia, Antíopa, Menalipe e Hipolyta?
– Somos de outra tribo, mas sim, somos do povo escolhido de Ártemis.
– Sagrada Atena!! Isto é incrível ! Nunca em minha vida imaginei realmente conhecer uma amazona de verdade. Em minha aldeia, até duvidavam que existiam, pois não era natural mulheres sobreviverem sem precisarem do governo dos homens.
– Como você pode ver, isto não é verdade.
– Parece que sua amiga loira não gostou da ideia de vocês me terem por perto, menos ainda de me ajudarem. Ela não vai brigar com você? Você não vai ficar encrencada?
– Não Gabrielle, fique tranquila que não ficarei encrencada e não leve para o lado pessoal, ela é assim desconfiada com tudo e todos quando saímos de nossas terras. Na verdade ela é assim em nossas terras também, mas ela fará todo o possível para proteger você e que tenha todo o conforto que conseguirmos proporcionar. Pode confiar sua vida nela, completamente.
– Certo. Ela é mandona sempre?
– Só quando está no comando, sua responsabilidade raia as beiras do absurdo e como comandante desta expedição está em sua pior figura.
– Ela é a comandante? Como então eu fui aceita, quero dizer como sua convidada, ela podia simplesmente dizer não.
– É um pouco mais complicado que isso. Embora comande a expedição, sou eu que determino as relações com os outros povos, neste caso , você. Ela dirige as operações de defesa e evasão, mas as relações de nosso povo com os outros cabe a mim, sendo minha a decisão.
– Parece confuso. Eu nunca pensei em mim como um outro povo, quero dizer estas divisões políticas nunca me interessaram pois pra mim o que existe é a Grécia.
– Talvez Ephiny não esteja tão errada afinal, isto é algo que a Conquistadora diria.
– Imagino que ela pense assim uma vez que a Grécia toda pertence a ela agora. Bom, vou tentar pegar um pouco de ar puro novamente e talvez o enjoo melhore.
– Bom descanso Gabrielle. Assoyde subirá contigo. Atenda-a em tudo que precisar Assoyde.
– Sim, Terreis.
– Obrigada.
Subindo para a coberta, Gabrielle busca um canto do navio totalmente deserto neste horário e fica observando o mar, esperando que o enjoo diminua com a brisa.
– Você se importaria de me dar um pouco de espaço, Assoyde? Eu preciso pensar em tudo que me aconteceu e colocar os pensamentos em dia. Poderia me conseguir um odre de água?
– Claro, sem problemas.
Enquanto Assoyde desce para buscar o odre solicitado, uma mão imobiliza Gabrielle, enquanto a outra tapa sua boca impedindo-a de gritar e uma boca sussurra em seu ouvido.
– Se você fizer um gesto para chamar atenção, vou furar seu pulmão tão rápido que nenhuma ajuda chegará a tempo de impedir você de sufocar. Você entendeu, barda?
Gabrielle fez que sim com a cabeça e sua boca foi liberada.
– Estamos observando você desde Amphipolis. Quem são estas mulheres com quem você anda pequenina?
– Eu não sei! Embarcaram em Abdera e dividem minha cabina, isto é tudo que sei.
– Há uma recompensa pela cabeça das amazonas e elas parecem muito com amazonas. Elas são amazonas, barda?
– Não. Creio que não. Elas não ficam bebendo, brigando ou falando de batalhas. Tudo que fazem é dizer como será quando desembarcarem e comprarem ovelhas. Eu não sabia que era preciso viajar tanto para comprar ovelhas de qualidade. Não aguento mais ouvir falar em criação de ovelhas e certamente eu morreria de medo de amazonas.
– Então nenhuma palavra disso pra ninguém contadora que estaremos vigiando e se você nos enganar não viverá para lamentar.
– Eu não teria motivo pra enganar vocês, nem as conheço. Elas são mulheres que gostam de falar de suas casas, criações e educação de crianças. Nada disso daria uma boa história, no entanto a vida de vocês, por outro lado seria interessante. Quem são vocês, além de caçadores de amazonas?
– Isso não vem ao caso e não é de seu interessa saber. Não se esqueça, barda, estaremos vigiando vocês e sempre vigiamos o barco para Éfeso , buscando capturar estas mulheres. A cabeça de uma delas daria pra termos uma vida de reis por dois verões. Se souber de alguma amazona não deixe de avisar.
– Claro. É preferível vocês do meu lado a estas feras amazonas por perto.
– Lá vem sua amiga com a água.
– Não, por favor, não me deixem aqui sozinha com ela.
– Adeus barda e boa sorte na próxima viagem.
– Sua água, Gabrielle.
– Obrigada, Assoyde. Então, me conte mais sobre como é a criação de ovelha em tua casa , disse Gabrielle em tom de enfado contido, suficientemente alto para que o homem ouvisse e soltasse uma gargalhada.
Assoyde sem saber de nada, começou a contar como era o recolhimento dos animais e a contagem do rebanho, sendo aqui e ali interrompida por uma exclamação ou uma pergunta bem colocada. Após quase duas marcas de vela, passando o braço na cintura de Assoyde, Gabrielle a conduziu de volta para as escadas, buscando a cabine.
– Terreis, precisamos conversar!
E Gabrielle contou o que havia acontecido e como desviou a atenção dos homens.
– Onde aconteceu isso, que eu não vi, menina?
– Na proa, em sua extremidade mais externa antes do primeiro mastro, quando Assoyde desceu pra pegar água.
– Ephiny , onde você estava?.
– Eu estava em meia nau, olhando por sobre a popa, tentando ver nossa terra, Eponin.
– Quer dizer que a partir de agora, somos criadoras de ovelhas?!? Isto é um absurdo!!
– Talvez não Eponin, Assoyde e Solari entendem o suficiente de criação para estabelecerem uma conversa a ser ouvida por estes homens e Terreis passaria por uma jovem com dinheiro que faz uma viagem ao templo de Éfeso para ter orientação. Você poderia ir como uma escrava para servir as duas e eu poderia ir como uma criada ou escrava pessoal de Terreis, o que explicaria minha presença constante em sua sombra. Se Terreis for cruel o suficiente em suas observações públicas, tirará a ideia de sermos amazonas da cabeça deles. Isso poderá dar certo.
– Por que?
– Todos sabem que amazonas não maltratam mulheres, Gabrielle, nem escravas. Eu não gosto disso Ephiny , não vou maltratar você, nem mesmo para enganar estes homens.
– Sua segurança é minha função e esta é a maneira mais segura. Dois falaram com Gabrielle, não sabemos quantos mais existem e não podemos andar com nossas armas abertamente, esta é minha posição, mas a decisão é tua.
– O que você acha Gabrielle, conseguiremos enganar estes homens?
– Acredito que Ephiny tem razão e este é o melhor caminho.
– Não gosto da ideia de bater em você, Ephiny .
– Imagine que estamos treinando uma luta de mão, eu apenas não irei me defender.
– Desculpe, mas acho que vocês não andarem armadas está errado.
– Você não tem voz aqui!
– Mesmo assim vamos ouvi-la, Ephiny . Gabrielle tem mais experiência que nós do mundo aqui fora.
– Acho que Solari e Eponin poderiam andar armadas, como as muitas guerreiras que eu vi na taverna de Amphipolis que pertenciam ao exército da Conquistadora , sem haver dúvidas quanto a sua capacidade de usarem aquelas espadas. Seria muito improvável que uma família permitisse que uma mulher andasse sem proteção por aí, ainda mais com uma escrava que poderia mata-la para fugir.
– E como eu teria de me portar Gabrielle ?
– Solari, acredito que de maneira arrogante deveria se mostrar forte e orgulhosa. Principalmente não tratar Ephiny com bondade ou Terreis com deferência, ela seria apenas uma tarefa, não uma pessoa. Você Assoyde não poderia ter armas agora, mas poderia ser a compradora, a negociadora que acompanha a filha da casa ao mercado.
– Concordo, já me viram sem armas na coberta conversando com você então não caberia eu estar armada agora.
– E eu? Como eu devo agir Ephiny?
– Se a questão é demonstrar arrogância, você deverá agir como sempre Eponin. O que você decide Terreis?
– Eu concordo e peço a Caçadora que me perdoe. Muito obrigada Gabrielle.
– Era o mínimo que eu podia fazer. Contem comigo para ajudar.
– Talvez eu não consiga fazer Ephiny parecer uma escrava, pois nunca tive escravas em minha vida e ela com certeza nunca foi uma.
– Nisso posso ajudar Terreis. Escravos olham para o chão e não no rosto de seus senhores, nunca encare Terreis Ephiny e jamais eleve a voz. Faça o que ela te pedir imediatamente, sem ponderar ou discutir. Acho que assim já daria pra engana-los.
– Muitas vezes o melhor lugar para se esconder uma árvore é na floresta. Devemos subir à coberta amanhã na primeira luz e tomar nosso desjejum lá na proa para que nos vejam e não pensem que estamos nos escondendo. Isso deve bastar para retirar qualquer dúvida sobre nossa identidade.
– Eu também agradeço, Gabrielle.
– Você pode não querer agradecer amanhã, Ephiny , pois deverá atender nós quatro em nosso desjejum, quando vamos fazer um jogo entre nós sobre quantas vezes consegues ir até as cozinhas e voltar pedindo uma coisa por vez.
– De onde tirou isso?
– É algo que acham divertido sobre fazer um servo desmaiar de cansado, um jogo que alguns marinheiros estrangeiros faziam comigo quando Cyrene não estava na pousada, Terreis. Parece que se sentiam poderosos em dar ordens o tempo todo.
– Tudo bem com você Ephiny ?
– Tudo certo, mas acho que vocês cansarão primeiro que eu.
– Vamos ver amanhã.