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Warning Notes

Esteja ciente de que esta parte da história pode conter momentos emocionais, incluindo a perda de um personagem. A história explora rituais e crenças das Amazonas, que são essenciais para o enredo. Embora haja menção de violência, ela não é retratada de forma gráfica. As emoções retratadas nesta seção são intensas, esteja preparado para uma narrativa impactante. Se você tiver preocupações ou sensibilidades relacionadas a esses temas, prossiga com cautela.

 

Na manhã seguinte Ephiny acordou cedo e colocou um cobertor na proa, com algumas almofadas. Terreis e Gabrielle sentaram-se observando o mar, enquanto Assoyde conversava animadamente com Solari e Eponin sobre o rebanho durante um jogo de lançar um punhal em um caixote deixado na coberta. Jogo este no qual Assoyde lançava sem maestria, apenas o suficiente para não errar o caixote.

Como combinado, Ephiny fez várias vezes o caminho das cozinhas, ou de sua cabine, quase não sentindo mais as pernas após várias idas e vindas. Depois de pouco menos que duas marca de vela e meia nisso, Terreis resolveu voltar para a cabine com Gabrielle, pagando o valor combinado aceita ter perdido a aposta deixando para Eponin, Assoyde e Solari a tarefa de fazer Ephiny sucumbir.

Guardando o dinheiro e colocando a caixa no outro lado da proa cuidando para manter um espaço livre de vinte pés de distância, Eponin propõe um novo jogo.

– Vamos praticar o tiro mais longo e você vai buscar o punhal no caixote e entrega-lo com muito cuidado para nosso lance. Se eu não gostar da forma que carrega o punhal, o segura ou simplesmente caminha, vou esfolar você e lavar com água do mar, então sugiro que pense muito bem como vai faze-lo.

– Sim, senhora.

Após algum tempo, praticando no caixote, Solari acha por bem lançar seu punhal mais acima no mastro, fazendo com que Ephiny tenha de subir no cordame para buscar os punhais. Os dois homens que Gabrielle havia identificado resolveram puxar assunto com Eponin.

– Sou Talante de Arcádia, de onde vocês são?

– Tracia. Me chamo Eponin e esta é Solari.

– Vocês manipulam bem este punhal. Aceitariam uma aposta?

– Depende do valor da aposta.

– Você pertence ao exército da Conquistadora , Eponin?

– Não, já pensei nisso, mas não sou muito de obedecer ordens, portanto vendo meus serviços a quem pagar melhor. Os pais desta jovem pagam bem por atuar como guardiã da moça em seus deslocamentos e somos mais que capazes para dar conta dos problemas que surgem no caminho.

– É uma pena, gostaria de lhe oferecer um trabalho relativamente simples se você me vencer no jogo. Uma aposta de cem dracmas.

– Estou ouvindo.

– Se eu vencer, passo uma hora com sua escrava ali e levo seu dinheiro. Se eu perder, você leva meu dinheiro, uma proposta de trabalho e os dois punhais novinhos.

– Infelizmente a escrava não me pertence, mas aceito a aposta. Cem dracmas, a proposta de trabalho e os punhais para o vencedor. Aceita vinho?

– Certamente.

– Ephiny, busca vinho para meus camaradas. Vamos ter uma disputa honesta, aqui. Como vamos determinar o vencedor?

– Começamos com um alvo grande e diminuímos o centro. Aquele que lançar o punhal mais perto do centro vence.

Seguem rindo, conversando e lançando os punhais. Ephiny já não consegue dar mais um passo e a competição está empatada por quatro rodadas, então Eponin faz uma proposta.

– O quanto seu amigo acredita na sua pontaria?

– Muito, por que?

– Proponho que ele e minha amiga aqui segurem o alvo em suas mãos e nós lancemos os punhais no mesmo momento. Aquele que conseguir cravar o alvo na caixa de forma mais limpa é o vencedor.

– Por que não usamos ela como apoio?

– Ela não me pertence, e se um de nós a ferir, eu terei de dar muitas explicações e eu não gosto de me explicar pra ninguém.

– O que usaremos como alvo?

– Ephiny traga as uvas.

– Um cacho de uvas?

– Não. Uma uva. Aceita?

– Claro, se Diomar concordar.

Posicionando-se na frente do caixote, deixam apenas dois dedos segurando uma uva entre eles, de maneira a proporcionar um alvo onde o punhal poderia passar e cravar a fruta no caixote.

– Na terceira contagem?

– Certo. Um, dois, três !

Ambos acertam a uva, mas Eponin crava a sua bem no meio, enquanto Talante apenas arranha a sua, sem crava-la no caixote. Eles reconhecem a coragem dos companheiros e a vitória de Eponin é saudada com mais uma caneca de vinho.

– Então, qual é a proposta de trabalho?

– Caçar centauros e amazonas. Para cada amazona capturada recebemos dois talentos de prata, são doze mil dracmas para cada levada viva e a cabeça de uma amazona morta vale um talento de prata, o mesmo para um centauro mas estes basta levar a cauda que tem o centro da base diferente da cauda dos equinos.

– Mas como saberão que é uma amazona e não uma mulher qualquer?

– Acontece de ser algo identificável, parece que elas têm uma marca na coxa direita.

– Não dá pra falsificar a tal marca? Seria mais simples pegar uma miserável qualquer e colocar a marca.

– Seria, mas a constituição física não iria condizer. Os que nos contratam são pessoas poderosas com olhos e ouvidos em toda parte m então é melhor a gente não tentar enganar e como as prostitutas são devotas de Artemis, estes barcos para Éfeso são a melhor forma de caça-las , pois andando em bandos elas facilitam nossa vida.

– Acredito. Eu vou pensar. No momento tenho esta tarefa em mãos, estou presa como babá desta mimada, mas assim que terminar e entregar ela aos pais estou livre e poderei aceitar sua oferta. Como encontrarei vocês?

– Aqui ou nos portos. Somos fáceis de misturar ao povo, mas você se destaca e nós te acharemos. Foi um bom jogo, bom dia Eponin.

– Bom dia pra você Talante e boa caçada. Sirva mais vinho, imbecil.

– Sim, senhora.

– O que você achou da proposta dele Solari?

– Muito interessante. Você sabia isso das amazonas terem tatuagem na coxa direita?

– Não, mas com certeza é uma informação que quase não circula sobre elas. Já ouvi que cortam os seios, matam os homens, torturam prisioneiros, principalmente escravagistas, são tolerantes com as escravas e ferozes na batalha, mas isso de tatuagem na coxa eu nunca tinha ouvido falar.

– Deve ser pra não esquecerem quem são.

– Vamos descer e verificar se a jovem está bem.

– Com certeza está ouvindo uma nova história de Héracles , esta contadora só sabe isso.

Elas descem para a cabine e relatam a “proposta de trabalho” recebida.

– Parece que conseguimos despistar estes caçadores, mas temos de investigar melhor quem está por trás disso.

– Não vais investigar nada agora, tu deves dormir um pouco Ephiny .

– Eu mal consigo sentir minhas pernas. O que está havendo?

– Quando trabalhei com o sanador de Amphipolis, tratei muitos casos assim. São movimentos involuntários que os músculos fazem por estar muito tempo em uma mesma posição e esta dor na coxa é por subir e descer escadas o tempo todo, diferente de caminhar um dia inteiro, este subir e descer é muito mais pesado. Uma boa massagem com óleo e um período de sono irá resolver

– Nós temos óleo, mas a massagem que faço não está resolvendo, Terreis.

– Deixe comigo Assoyde e, por favor, apenas deite e relaxe Ephiny , sei como se sente depois de umas rodadas de apostas.

– Obrigada, Gabrielle.

– Você foi muito corajosa Ephiny e você também Solari, ao segurar aquela uva.

– Era certo que Eponin conseguiria, Gabrielle. Ela nunca errou um tiro com uvas menores que aquelas.

– Depois contarei a história de quando Héracles convenceu Deméter a permitir que Perséfone fosse viver com Hades. Afinal, vocês precisam ter o que falar de minha atuação.

Assim, conseguiram ludibriar os bandidos sobre suas identidades e desembarcar em Éfeso sem mais problemas. Apenas Ephiny teve de engolir seu orgulho uma dezena de vezes, Assoyde recordar seu tempo na Elídia da criação, Solari ser mais arrogante que de costume e Terreis e Eponin continuaram apenas sendo elas mesmas.

Em Éfeso as amazonas conseguiram uma audiência particular com a Grande Sacerdotisa de Artemis e Terreis saiu da audiência com uma tristeza melancólica que a acompanhou nos próximos dias. Quando perguntaram o que a Sacerdotisa havia dito ela apenas mencionou que a Nação seria próspera como nunca antes na história e que a convivência com outras sociedades seria possível de forma pacífica se mantivessem o cuidado com as leis de Artemis.

Gabrielle apresentou seu caso e obteve como resposta que seu sonho significava ser este momento o inicio de um novo tempo para o povo de Artemis, mas deveria submeter-se ao Falcão e unidos expulsarem a Grande Serpente de volta pro mar.

Assim seria o futuro da Nação Amazona, não mais ninhos isolados pela terra, mas um grande povo unido e coeso, sob uma grande rainha que finalmente levará Atena e Artemis no governo da Grécia e isto não poderia ser dito a ninguém , sendo somente no devido tempo revelado.

Andando nas matas próximas ao templo as cinco mulheres resolveram dormir na pousada do porto enquanto aguardam o próximo embarque para a Macedônia. Após cinco dias, conseguem passagem num navio cargueiro que zarparia a duas marcas de vela da alvorada.

A viagem foi sem incidentes maiores, mas na noite seguinte, após deixar o porto de Samos, quando não se via terra no horizonte pela grande neblina, o céu escurece repentinamente e o mar fica agitado, fazendo ondas enormes balançarem o barco corajoso a cavalgar sua crista, com a chuva castigando impiedosamente, o capitão do navio manda arriar as velas e prepararem-se para o pior.

O navio é jogado sobre uns recifes e todos sobem a coberta para tentar verificar as possibilidades de salvação. Um pedaço do mastro se solta, caindo violentamente no piso, com o cordame arrastando quem estivesse pela frente, jogando Terreis para as águas escuras.

Sem pensar em nada mais que a jovem princesa, Gabrielle se lança atrás da amazona, mergulhando próximo ao mastro que descia, soltando Terreis que estava desacordada e a puxando-a para a superfície da água a tempo de ver Ephiny , Assoyde, Eponin e Solari se lançarem às águas para tentar localizar sua amiga.

Uma enorme onda se ergue desabando sobre o navio, fazendo-o sumir nas águas, iluminado pelos raios e relâmpagos que surgiam no céu de quando em quando. Com muito esforço, arrasta Terreis para cima de uma tábua que passava e puxa-a para o meio desta jangada improvisada no meio do nada.

Em duas marcas de vela a tempestade desaparece, deixando apenas um caminho desenhado pela lua e as estrelas brilhantes no céu. Gabrielle faz uma oração a Atena que proteja suas amigas e a Artemis que guie o seu povo escolhido nas águas como o faz em terra, para que aquelas valentes amazonas não pereçam e com todo o fervor e magia das palavras, lança uma oração ao Todo Poderoso das águas.

“ Poseidon, sacudidor da terra, senhor dos mares, irmão poderoso de Zeus Tonante ouvi minha prece. Sei que sou indigna perante seus olhos e insignificante frente a majestosa grandeza do oceano, mas estas mulheres tem honrado as leis universais de amor e companheirismo, força e garra, valentia e constância que tanto lhe apraz. Tem misericórdia destes seres tão maravilhosos que somente fazem resplandecer a virtude da dignidade, na guerra e na paz, que possuem seus méritos de hospitalidade e compaixão, faz que sejam reconhecidos e que minhas palavras encontrem eco em seus ouvidos divinos. Salve minhas amigas, senhor das ondas, mestre dominador dos mares, mestre dos oceanos. Nada tenho de meu, mas cantarei vossa divina sabedoria toda alvorada e farei poemas e odes em vossa honra até o fim de meus dias”.

Estava orando initerruptamente para as três divindades quando ouviu o chamado das quatro amigas sobre uma balsa improvisada numa porta do navio. O amanhecer foi encontra-las náufragas em uma terra estranha, desconhecida, que Assoyde imaginou ser a costa de Samos novamente.

Com a luz do dia, todas ajudaram a colocar Terreis o mais confortável possível e Gabrielle pode então examinar melhor seus ferimentos não tendo nada que pudesse fazer ali na praia.

Terreis abriu os olhos e falou suavemente para Gabrielle que sua ação era digna da mais corajosa amazona e somente uma verdadeira amazona faria o que ela fez, arriscar-se assim por uma irmã.

“Eu peço que aceite meu Direito de Casta , Gabrielle . Você tem que aceitar meu Direito de Casta , por favor.”

Eu aceito, mas não morra. Por favor, Terreis, não morra. Chamando as quatro amazonas, Terreis fez novamente o oferecimento e Gabrielle reafirmou aceitar, mas que ela descansasse. Ephiny ainda tentou argumentar, mas Terreis reafirmou pela terceira vez seu desejo e pela terceira vez foi aceito.

Uma gaivota pousou na praia e uma pequena pomba branca elevou-se nos céus quando a irmã da rainha Melosa fechou seus olhos para sempre.

Eponin olhando em volta, divisou uma palmeira e cortando algumas folhas fez um abrigo improvisado junto com um tronco caído e tomando o corpo de Terreis nos braços, conduziu suas amigas para um abrigo relativamente seguro. Ephiny tomou o primeiro turno e montou guarda, velando pela segurança de suas irmãs. Quatro marcas de vela mais tarde, Eponin a substituía enquanto Solari e Assoyde traziam objetos vindos até a praia, fazendo um pequeno inventário daqueles que poderiam ser uteis.

– O que você pretende fazer?

– Como assim? Vamos primeiro descobrir onde estamos e então uma maneira de voltar pra casa.

– Sobre Terreis.

– Assim que a madeira secar, vamos realizar o funeral adequado e conduziremos suas cinzas ao templo na aldeia e à rainha Melosa.

– E quanto a contadora de histórias?

– O que tem ela Eponin?

– Não está pensando a sério em passar o Direito de Casta de Terreis pra ela, está?

– Sabes tão bem quanto eu que não temos escolha nisso. Terreis escolheu por nós e sim, eu vou honrar esta escolha.

– Ela não tem ideia sobre o que estava aceitando, Ephiny .

– Ela aceitou e foi três vezes livremente dado e recebido. Agora esta criança despreparada é nossa futura soberana.

– Quando você vai dizer a ela?

– Logo após recolhermos as cinzas de nossa amiga iremos prestar juramento de lealdade e obediência a Gabrielle, princesa das amazonas da Trácia.

Após o funeral, Gabrielle ficou assombrada quando aquelas quatro guerreiras altivas e orgulhosas se puseram em um joelho na areia da praia, fazendo votos de lealdade e obediência em nome de Artemis Caçadora.

Ephiny explicou a ela sobre o que era o Direito de Casta que recebera de Terreis e que agora, como Terreis havia sido, ela era uma princesa amazona, irmã da Rainha Melosa.

Esta lembrança sempre faz Gabrielle sorrir. A cena daquelas quatro irmãs respeitando o desejo de Terreis e sendo as primeiras a recebe-la dentro da Nação.

– Gabrielle!

– Sim, Iodia.

– Ephiny solicita tua presença na tenda das amazonas, alteza.

– Obrigada, Iodia.

– Mandou chamar-me, comandante?

– Sim, alteza. Solicitamos sua benção para esta jornada.

– Ephiny , sou apenas uma escrava da Conquistadora! Não sei se posso.

– A Conquistadora disse que contanto que fizéssemos em privado, poderíamos saudá-la como sempre . Por favor.

– Está certo.

Todas se colocaram em um joelho no solo e o punho direito no peito, baixando suas cabeças, frente Aquela que representa Artemis.

–“Que todas vocês possam ir e voltar executando sua melhor habilidade, protegendo suas irmãs e honrando sua Nação. Em nome da Caçadora, sejam abençoadas.”

Elas se erguem e saem sem olhar para trás, reunindo seus cavalos e buscando lugar junto ao grupo designado de Falcões .

Canoria aproxima-se de Gabrielle para voltarem à tenda do sanador e ao chegar pergunta a Ieranus sobre o que tinha acontecido na tenda das mulheres entre os Falcões . Quem era aquela loirinha para uma comandante do grupo de elite do exército da Conquistadora se colocar em terra daquela maneira.

– Ela não te disse?

– O que?

– Ela é uma princesa e aquelas são suas amazonas.