ATAQUE A BRIONTIS

O campo de Briontis era na extremidade sul do espaço de manobras, junto ao lago, com sua tenda de comando colocada não ao centro como seria de esperar, mas mais ao sul e próxima à mata, pois sendo a última divisão na beira do lago, não haveria o que temer vindo de baixo , considerando que todos os outros estavam a norte de sua posição. A chuva forte faria com que os adversários se movessem mais lentamente, dando-lhe maior vantagem no uso do plano inclinado e todo o campo estava desperto organizando os grupos de ataque e defesa.

Chegaram ao campo pelo norte e as amazonas, contornando-o pelo leste em nado silencioso, saíram do lago e subiram nas árvores por detrás do perímetro sul, onde os guardas eram poucos. Subindo rápida e silenciosamente movendo-se com cautela nas árvores escorregadias, por sobre os homens em sentinela escorados nas árvores conversando despreocupadamente, espalharam-se de forma a ter uma visão completa do campo, fechando o lado sul. Os Falcões em duplas, se posicionaram estrategicamente cobrindo os lados oeste e norte assegurando uma rota de fuga para os cavalos.

Briana, Kleith e Leah avançaram por sobre as árvores em linha reta para oeste e desceram bem próximas ao curral do campo, buscando a confiança daquele cavalo que liderava a manada, foram soltando todos os animais que estavam amarrados e retirando o cercado do lugar, montaram de lado, refugiando-se nas costelas de forma a não serem vistas pelos homens de dentro do campo. Em um movimento sólido vagarosamente foram aproximando da porta aberta na cerca e ao ouvirem o sinal ser dado, repentinamente saem em disparada na direção do campo da Conquistadora e quando os homens de Briontis começam a persegui-las são recebidos com uma saraivada de flechas sem conseguirem precisar a origem, pois parecem vir de todas as partes.

Ao mesmo tempo que esta fuga espetacular estava para acontecer, um grupo atento de três amazonas estava se posicionando para atacar a tenda de comando de Briontis, com a responsabilidade de dar o sinal para a fuga dos animais e início do tumulto.

Algum tempo antes, quando se aproximaram do campo Karin conseguiu divisar um buraco cheio de água, que a erosão tinha produzido sob a raiz de uma aponia gigante, razoavelmente coberto por um arbusto. Apontou para Dieynisa e Solari que sinalizando com um leve movimento de cabeça continuaram em frente. Do alto de seu ponto de observação notaram que a guarda usava o sistema de passos cruzados, onde uma dupla fazia o sentido leste e a outra o oeste, perceberam que havia um espaço de onze contagens de ponto cego no lado sul próximo à mata, totalmente sem vigilância no momento em que as duplas se cruzavam.

Dieynisa posicionou-se um pouco mais a leste de frente para a bandeira, de maneira que poderia ver o cruzar da guarda e o ponto cego por onde Karin entraria. A um sinal de Solari, Karin penetrou na barraca de comando de maneira rápida e silenciosa, esperando que Dieynisa cortasse a corda e esta ficasse mais solta em sua mão, quando puxaria a bandeira para baixo e sairia por onde entrara . Por alguma razão os guardas resolveram parar naquele ponto do trajeto para conversar sobre o que fariam caso ganhassem os jogos. Sua conversa podia ser ouvida por todas as três , parecendo não ter fim e algo tinha de ser feito para impedir que eles olhasse o tecido atentamente pois elas não podiam arriscar que Karin fosse pega.

Solari deu o sinal que desencadearia todo o caos e os gritos de batalha ecoavam por todo o campo em que os homens de Briontis corriam num frenesi com os oficiais tentando organizar a defesa. Os guardas da tenda de comando foram para a frente da barraca verificar o que havia, buscando evitar qualquer abordagem pelo centro do campo posicionaram-se de costas para a barraca.

Karin aproveitou este momento para sair por onde entrara, correndo o máximo que podia em direção ao lago com Solari e Dieynisa dando cobertura pelo alto. Ouvindo barulho de passos apressados atrás de si, Karin sabia que tinha sido vista , avaliava estar vinte contagens a frente de seus perseguidores e em sua fuga desenfreada lançou-se de corpo inteiro no esconderijo sob a aponia, respirando agitadamente buscando com calma controlar a batida do coração. Sabia que suas irmãs velavam por sua segurança mas no momento sua principal preocupação era a bandeira em suas mãos.

Os homens passaram por sua posição várias vezes, mas as marcas no chão desapareciam ao entrar na mata, Karin havia andado por sobre troncos e pedras deixando pistas que não seriam facilmente percebidas. Um pouco mais atrás, Dieynisa acertou duas flechas em seus alvos, marcando-os no peito e pelas regras deveriam considerar-se mortos, mas eles não estavam interessados em jogar limpo. Localizando a zona de origem do ataque, começaram a esquadrinhar as árvores com suas bestas preparadas , cujas setas tinham pontas claramente afiadas.

Em um clarão de raio, conseguiram visualizar Dieynisa ocultando-se atrás do tronco e miraram em seu corpo, porém ela escondeu-se ainda mais, deitando-se no galho paralelo ao solo e o tronco deu a proteção esperada , mas uma das setas cortou seu braço na altura do ombro tornando quase impossível segurar com firmeza no galho. Mordeu os dentes com força impedindo-se de fazer qualquer som que delatasse sua posição ao inimigo permaneceu imóvel enquanto os passos dos homens davam sinal de sua aproximação. Eles estavam sob ela, podia sentir seu cheiro e ouvir sua respiração.

Solari percebeu que teria de agir rápido e fazendo a volta, surpreendeu os homens por trás, jogando-se contra eles e fazendo com que batessem na árvore mais próxima. O moreno, mais baixo, ao bater a cabeça desmaiou mas o loiro alto sacou a espada e tentou corta-la em dois e apenas seu treinamento fez com que evitasse ser ferida em cada estocada. A chuva havia se transformado em uma tempestade onde as folhas no chão e o barro tornavam mais difícil manter-se em pé. Seu oponente a perseguia tenazmente e a espada sem fio que lhe mandaram usar para nada servia contra aquele gigante enfurecido.

Repentinamente, em um lance de sorte a espada dele fica presa em um tronco de árvore e Solari consegue acertar seu adversário entre as pernas, com toda força que conseguiu colocar no chute, girando rolou para a esquerda e quando o homem se curvou pela dor, Dieynisa deixou-se cair com os dois pés na nuca dele, por pouco não fraturando o pescoço de seu adversário. Pela altura que estava ao cair seu corpo tomou uma grande velocidade, multiplicando seu peso na hora do impacto, que a fez rolar para não lesionar-se na queda. O gigante caiu e não levantaria tão cedo.

Fazendo uma tipóia com a correia da besta dele no braço de Dieynisa, Solari pegou duas setas do cinto dele, guardando-as na alijava, lembrando que a tinta levaria no mínimo sete dias para sair, com a ponta da espada marcou a garganta de cada um, de orelha a orelha e foram correndo encontrar Karin na aponia para retornarem ao ponto de encontro com o resto do grupo.

Ambas auxiliaram Dieynisa a subir na árvore e com muito cuidado avançaram para o leste em busca da escuridão das águas. Juntas as três fizeram o percurso a nado, mais afastadas da beira possível, foram aproximando-se do ponto onde haviam deixado os cavalos.

Quando chegaram no campo da Conquistadora , foram recebidas com festa ao entregarem a Leander a bandeira pertencente à divisão de Briontis. Restava agora, aguardar o grupo que havia invadido o campo de Alexius e o de Gilmnyr.

ATAQUE A ALEXIUS

O campo principal era bem distribuído com o arsenal a dois estádios e meio a sudeste da tenda de comando ao centro, ao redor da qual não havia nenhum obstáculo num diâmetro de um estádio e meio, sendo cortado por duas avenidas centrais em forma de cruz que separariam as unidades por quadrantes. A cozinha estava ao norte, perto do lago e mais ao sul junto ao lago, ficavam os cavalos. As duas unidades ficavam acampadas em todos os quadrantes, deixando avenidas centrais mais amplas em forma de cruz que separariam os pelotões por função.

O campo possuía duas linhas de vigilância com quatro postos fixos na tenda de comando, sentinelas postados a cada três estádios ao redor do campo e rondas de perímetro por quadrante.

Dos mil homens, Alexius formou um grupo de ataque de quatro pelotões para marchar em direção ao norte buscando a bandeira de Icer, sendo que dos duzentos homens, cem eram a elite de sua divisão, outras duas centenas avançaram visando a Divisão de Corinto a noroeste enquanto enviava um grupo de vinte e cinco mensageiros ao acampamento de Gilmnyr propondo uma aliança para atacarem a Conquistadora, onde dividiriam por igual as bandeiras capturadas.

Entendendo que avançando seus homens ao ataque estava formando ao mesmo tempo uma primeira linha de defesa, pois impediria qualquer golpe vindo do noroeste ou do norte, deixando quase uma unidade inteira na defesa de seu campo principal e três pelotões e meio espalhados, avançando cento e setenta e cinco homens mais ao sulcampo principal e um pelotira na defesa de seuestava formando ao mesmo tempo uma primeira linha de defesa, pois impediria qualq para conter e prevenir qualquer surpresa vindo da Conquistadora.

Assim se posicionava a Divisão de Pella, da Macedonia. Sua ideia era partir maciçamente contra Xena , após garantir as duas Bandeiras, pois neutralizando os ataques vindos de cima, poderia se concentrar em capturar a Conquistadora .

Remando uma milha afastadas da margem o grupo ia passando ao largo da confusão armada entre os dois grupos que se digladiavam buscando obter o maior número de vítimas entre seus adversários. Vistas da margem, pareciam um ponto flutuando e a cobertura de folhagem colocada sobre a balsa conferia-lhe um aspecto de planta aquática. Após o escurecer, aos poucos de forma diagonal, foram aproximando-se da margem aportando a balsa sob uns salgueiros na margem do lago, onde uma após outra ocultas pela escuridão da noite subiram passando para as árvores adjacentes em seus galhos mais altos, avançando em direção ao centro do campo, paralelamente, na beirada do braço horizontal da cruz de acesso.

Na barraca de comando havia quatro sentinelas fixas e acima das barracas ordinárias as amazonas observavam o movimento do campo e as linhas de sentinelas à suas costas no perímetro sul. Este tiro de arco sem a cobertura das árvores seria o espaço mais difícil de vencer, mas esperavam que a chuva e a noite dariam a cobertura necessária. Desceram das árvores ao lado de uma barraca que contava com dois sentinelas infelizes por guardar uma barraca sem uso, uma vez que seu proprietário era um oficial que estaria em manobras, atacando a Divisão de Corinto a noroeste.

Entrando na tenda, Eponin rapidamente vestiu a armadura que estava guardada em um canto enquanto Salina e Taíra atacavam os guardas por detrás, deixando-os desacordados. Eponin assumiu a posição de um deles e Salina e Taíra vestiam suas armaduras substituindo-a como sentinelas. Estava feito, elas tinha agora uma posição centralizada e privilegiada. Eponin foi em direção à tenda de comando, enfrentando diretamente a sentinela que percebendo tratar-se de um oficial, coloca-se em prontidão não questionando o que seu superior estaria fazendo ali. Eponin o acerta com um soco violento, deixando-o desacordado e imediatamente assume sua posição. Com a chuva e a escuridão sua silhueta de costas, passaria facilmente pela do guarda, criando uma janela de tempo em que Lara poderia fazer sua mágica.

Lara foi rastejando até Eponin, tendo em vários momentos de permanecer totalmente imóvel e aproveitando as saliências do terreno para ocultar-se, entrando na tenda por sob a lona, aguarda que a adriça fique solta para puxar a bandeira para baixo. Assoyde do alto de sua posição, faz uma prece a Artemis para que sua mão fique firme e sua pontaria não falhe deixando voar a seta que atinge seu alvo com precisão.

Percebendo a adriça afrouxar, Lara recolhe a bandeira e vai deixar a tenda pelo mesmo canto que entrara e aproveitando os valos feitos para drenar a chuva em torno das barracas desaparece da vista até chegar em segurança na barraca que haviam capturado. Após todas estarem sobre a árvore, Eponin calmamente se encaminha para os cavalos , como se estivesse fazendo uma ronda e aproveitando de sua condição de oficial vai verificar o estado do cercado. Fazendo um sinal para que Taíra e Salina desçam no cercado e montem com ela, Eponin monta no chefe da manada e sai a galope, levando consigo boa parte dos cavalos para o caminho mais afastado do lago possível.

Em uma curva do caminho, saltam dos animais para cima de uma árvore e deitando no galho ficam esperando o dia amanhecer para tentar encontrar o caminho para o campo de Gilmnyr a oeste de sua posição. Como Melosa sempre diz, os homens nunca olham para cima e com este pensamento em sua rainha, Eponin esperava que suas irmãs tivessem êxito em levar a bandeira conquistada para Leander no campo da Conquistadora.

Assoyde, Lara e Deian entregam a bandeira para Leander duas marcas de vela depois de Karin. Embora nenhum cavalo tenha sido capturado o campo ao norte também havia sido conquistado, restando agora descansarem e aguardar notícias da terceira bandeira.

ATAQUE A GILMNYR

Para conseguir chegar aos campos de Gilmnyr bastaria andar em linha reta a oeste por cinco marcas de vela e percorrer as vinte e cinco milhas em marcha militar e estariam lá, mas isto não seria prudente, pelo menos não para todos. Xilant faria este caminho com seu grupo aguardando reforços vindos dos grupos alfa e beta.

O plano mais elevado dava a Gilmnyr uma vantagem que não poderia ser descartada, além do mais, a floresta terminava a seis milhas do campo, sendo seguida de pequenos arbustos e vegetação rasteira até chegar ao campo do general, nas colinas que antecedem a encosta da pequena cordilheira que toma direção norte e forma o vale de Odrusal, onde fica o lago Eisdel.

Xena , Ephiny , Cora e Squiona, atravessaram o rio de Janar, que acabou em tempos antigos, recebendo este nome em homenagem a uma corajosa sacerdotisa.

– Conheces a história deste rio Ephiny?

– Não majestade.

– Como diria tua princesa?? Ah .. sim. Vejamos… “Cantam os bardos que Janar lançou-se em suas águas geladas e velozes, para resgatar o punhal sagrado do Templo de Atena, que se perdia, quando durante uma tempestade a carroça com os objetos que estavam sendo transportados quase caiu. Algumas bagagens caíram no rio e Janar mergulhou atrás da caixa dourada do Templo de Atena em Licenis, nadando contra a correnteza e nunca mais foi vista. Conta a lenda que Atena recompensou seu esforço fazendo brotar em suas margens Oliveiras que jamais perecem e transformou-a numa xironia, tipo de peixe que em determinadas épocas nada contra a correnteza nos rios, como o salmão”.

– Muito intrigante majestade.

– Este é o tipo de lealdade que é exigida dos Falcões Ephiny e não espero menos de voces.

– Certamente minha senhora, assim será feito.

As quatro mulheres cavalgaram para o sudoeste até o amanhecer, buscando contornar as colinas e então voltaram para o norte, se posicionando a oeste do campo de Gilmnyr, acampando a dez milhas do comando central, aguardando o anoitecer para fazer seu melhor lance.

Sem muito esforço, quando chegou o momento e o grande grupo atacou pela frente as quatro rastejaram até o local da bandeira e a capturaram deixando uma falsa bandeira no lugar, para que os homens de Gilmnyr não percebessem sua falta. Quando os homens de Xena se afastaram, os homens da divisão Leste comandada pelo General Gilmnyr comemoraram terem vencido a Conquistadora em seu próprio jogo sem terem tido o senso de verificarem com precisão seu precioso tesouro tremulante.