Foram seis noites sem incidentes, com a parte marítima não trazendo surpresas, desembarcaram no porto de Luna e cavalgando em boa marcha, após um dia e uma noite, no próximo por do sol se encontrariam em terras amazonas, viajando mais três noites e três dias entrariam na aldeia. Eram vinte e seis amazonas, duas Falcões e quatro mulheres que a muito não andavam livremente, cavalgando pelo vale preferencialmente evitando estradas, seguindo por elas apenas quando era inevitável, como naquele início de dia nas Colinas das Oliveiras , numa curva que ficava a duas marcas de vela depois da enorme Oliveira onde se entrava no espaço neutro, consagrado a Atena entre as terras de Ceósia e o porto de Luna, a leste das montanhas de Kirnato.
As colinas a leste faziam divisa com o rio Olietier e indicavam o início do território centauro, na faixa sul da floresta que paralela a costa, acompanhava-a das montanhas de Kirnato até o noroeste de Abdera e se estendiam dali para o noroeste, até o sul da cidade de Naidalônia, cidade fundada por Naida, uma capitã do exército

da Conquistadora que fincou as bases de uma guarnição para resguardar a fronteira noroeste da Trácia. Esta floresta abrangia o leste e oeste do rio Olietier. Naquele ponto, do outro lado do rio, doze marcas de vela de galope a nordeste eram as terras do povo de Artemis, as amazonas da Trácia e da Rainha Melosa, o mesmo rio que marcava a divisa das terras centauros e amazonas mais ao norte.
Tomando o caminho pelo alto do campo que acompanha o rio, o grupo de Gabrielle esperava encurtar em dezoito marcas de velas a jornada, uma vez que a rota dos penhascos estava inviável devido às fortes chuvas. A trial de Karin havia sido enviada a frente como batedoras e Dieynisa retornava com Lara a galope, avisando que existiam problemas mais a frente. Um grupo de renegados estavam atuando sobre os centauros mais abaixo, e do alto, mesmo antes de conseguir ver, ouviram os gritos de batalha e o som de luta, onde doze homens estavam cercando um centauro e dois meninos, com dois centauros feridos no chão, ficando evidente que a dor era muito grande no centauro que ainda estava em pé e procurava a todo o custo proteger os garotos.
– Ephiny , o que está acontecendo é grave.
– Problemas centauros Gabrielle. Vamos em frente sem barulho, com sorte ninguém olhará pra cima.
– Mas são dois jovens e três centauros, com dois caídos que estão sendo atacados por um bando, Ephiny !
– Não é problema nosso Gabrielle, vamos em frente.
– Quando covardes atacam indefesos em nosso caminho, comandante o problema se torna nosso e nós devemos intervir. Vamos intervir agora! Assoyde, Nieira e Leah chamem seus arcos e se possível não os matem. Ephiny ataque agora!
– Grande Artemis!! Não, Gabrielle! Não podemos nos arriscar assim e também não sabemos se são somente estes homens ou tem mais a caminho daqui.
– Não compro esta conversa de segurança Ephiny , eu irei e você pode ficar aqui se quiser.
Gabrielle já estava fazendo um desvio, levando sua montaria para descer a colina, quando Ephiny segura a brida de sua montaria e a olha de frente. Novamente aquela sensação de que Gabrielle agigantava-se e por alguns segundos, como nas cavernas de Tahal, Ephiny pensou ver a própria Caçadora.
– Sim, alteza !! As guardas ficam com Gabrielle, as outras comigo.
Gabrielle não aceitaria isso, Ephiny tinha certeza de que ela iria descer a colina assim que virasse as costas, mas não havia nada que pudesse fazer quanto a isso. Afinal, ela era a Casa Real presente.
Quando chegaram perto as arqueiras já haviam neutralizado cinco homens, acertando seus joelhos e coxas e os sete que restaram em pé foram rapidamente dominados por Eponin, Solari, Ephiny e as demais escoteiras .

Gabrielle desmonta rapidamente indo verificar os centauros caídos e os dois apresentavam ferimentos graves nas patas dianteiras com uma seta nas costas e alguns ferimentos de espada, aquele que ainda estava em pé tinha uma seta em seu ombro e um corte na altura das costelas, aparentando ter sido feito por uma lança.
– Iodia, veja o que pode fazer por estes dois.
– Não cuido de animais Gabrielle, isto é departamento da minha irmã que cuida dos cavalos.
– Você e Zenit cuidem deles em sua parte humana então e depois apense as feridas destes cretinos e não me faça perder a paciência. Leah, Deian e Kleith verifique as patas atingidas e façam o seu melhor.
– Sim Gabrielle.
– Eu sou Gabrielle, qual seu nome?
– Eu sou Istarion, tenente de Kaleipus e não vou me entregar sem luta, amazonas.
– Não estamos aqui para lutar com você, Istarion, apenas estávamos de passagem quando vimos esta covardia acontecendo neste campo sagrado e isso não é correto. Vamos ajudar você e seus amigos e entregar estes animais à justiça da Conquistadora .
– Eles devem ser julgados pelas nossas leis e não acredito que você está aqui para ajudar, mas na certa pretende algum tipo de recompensa por nossa captura e não vou deixar vocês machucarem os garotos.
– Não vou machucar ninguém, mas você está perdendo muito sangue e já vi este tipo de ferimento ser grave, principalmente se atingiu o pulmão ou algum órgão interno. Deixe que eu olhe, por favor. Lara, Karin! Quero que me entreguem seus punhais.
Ambas cumprem o determinado, sem saber onde Gabrielle iria chegar e Gabrielle alcança um punhal para os meninos e outro para Istarion, sem comentar nada quanto ao fato de um dos meninos ser um jovem centauro.
– Vou dar uma olhada em seu ferimento e você me terá ao alcance de sua mão, sendo garantido que nós não vamos fazer nada para machucar nenhum de vocês. Juro em nome da Caçadora que nossa intenção é ajuda-los.
Quando Ephiny consegue chegar perto de Gabrielle, após prender os atacantes tudo que consegue perceber é que sua princesa está deliberadamente se colocando nas mãos de um centauro armado enquanto examina seu ferimento.
– Aparentemente é superficial, não tendo nenhum dano interno. Lara! Vocês e estas quatro, rasguem todas as túnicas que trouxeram de Corinto e providenciem faixas para que possamos firmar e proteger este ferimento depois de costura-lo, pois estas túnicas certamente terão mais serventia aqui do que junto a Melosa.
– Certo!
– Terei de fechar e vai doer, mas vai impedir que você continue sangrando ou alguma sujeira entre. Iodia prepare alguma infusão com salgueiro e me mande aquele

pó cicatrizante, agulha e linha para sutura.
– Você é muito confiante, amazona. O que me impede de fazer você morrer aqui?
– Não gosto de covardia Istarion e creio que você também não. Centauros não são covardes, esta é uma verdade cantada por toda a Grécia e eu sei disso porque como uma barda cantei muitas vitórias de teu povo contra os homens e junto aos Deuses, continuo a fazer o mesmo dentro da Nação. As outras vão tratar de teus amigos e faremos nosso melhor para que vocês possam voltar para junto dos seus em segurança. Os pequenos estão feridos?
– Nós estamos bem, obrigada.
– Como estão estes centauros Iodia?
– As flechas estão próximas a escápula, tendo atravessado para frente naquele loiro e parado no osso do moreno, os ferimentos de espada onde começa o corpo animal é pela lateral, então tem chance de não afetar nenhum órgão, se considerarmos que sua anatomia é humana nesta linha. Devem ser costurados e a flecha transpassada, mas a outra cravada no osso apresenta grave risco de infecção, pois teremos de cortar mais para tirar.
– Solari, que as escoteiras providenciem uma fogueira e vou precisar de água. Eponin recolha os punhais e afie o máximo que conseguir, deixando um pouco na chama para limpar com o fogo alguma impureza do metal. Ephiny , estabeleça perímetro de segurança e não iremos acampar esta noite ou pela tarde. Iodia, preciso de algo para amortecer a dor. Vinho ajudará e acredito que foram enviados três barris para Melosa, tenho certeza que ela não se importará de abrirmos um.
– Sim Gabrielle. Zenit, você ouviu Gabrielle então providencie a mistura conforme sabe.
– Vocês quatro parem de olhar como parvas, coloquem vinho nos odres e ofereçam a nossos pacientes, Iodia e Zenit devem fazer com que bebam e também lavar os ferimentos com vinho, vai prevenir as infecções, quanto aos homens creio que Assoyde, as arqueiras e as Falcões podem garantir que não se moverão de seus lugares.
– Como estão as patas feridas, Leah?
Leah apenas faz sinal de relativo e Gabrielle perde a paciência.
– Solari, determine que ela responda, agora! Estou sem tempo ou paciência para jogos.
– Leah, sem mais delongas, responda à Gabrielle sempre!
– O loiro apresenta a direita quebrada, não sendo possível sustentar o peso do corpo, já o moreno apenas tem um corte mas nenhum dano na estrutura.
– Certo. Salina e Squiona, façam uma grande cova em qualquer canto que achem apropriado e escondido, peguem outras para ajudar e descarreguem a carroça enterrando tudo, vamos precisar carrega-los até seu povo. Vamos costurar

os ferimentos que precisam ser fechados e retirar as flechas, façam talas imobilizando os membros quebrados e oito destes idiotas montarão em dupla, colocando os cavalos extras para puxarem a carroça, uma vez que os centauros feridos não devem fazer esforço físico.
– Você está pretendendo ir a vila centauro com eles Gabrielle?
– Não, claro que não estou pretendendo, estou ordenando e será isso que vamos fazer capitã.
– Gabrielle, o decreto de Melosa proíbe entrarmos no campo de caça centauro, este é o tratado.
– Não estamos caçando e não quero mais nenhuma palavra sobre isso.
– Sim, alteza.
Esta pequena discussão ocorre longe dos ouvidos e olhos de qualquer guerreiro homem ou centauro, mas as crianças não estavam ocupadas com algo ou sentindo dor e captaram as palavras e principalmente o tom em que foram ditas.
Gabrielle voltou para junto dos centauros e começou a costurar as feridas.
– Eponin, você empurrará a seta e vamos cauterizar a entrada e a saída, colocando um cataplasma, você finalizará Iodia, imobilizando o braço.
– Quanto a esta seta encravada no osso, talvez fosse melhor deixar como está e eles removerem na aldeia centauro, Gabrielle.
– Não Iodia, quanto mais tempo fica ali, mais expõe à infecção, então vamos remover se Istarion estiver de acordo.
– Certo, amazona, nós faremos do seu jeito, mas se não der certo você responderá a Kaleipus.
Utilizando os punhais que Eponin havia afiado, Gabrielle vai removendo a seta, colocando o emplastro a seguir e vendando a ferida.
– Nosso próximo desafio será coloca-lo na carroça.
– Acredito que se quebrarmos a lateral da carroça poderemos fazer uma rampa por onde ele subiria com ajuda dos amigos e depois poderíamos recolocar a lateral.
– Boa ideia Leah.
– E estes imbecis?
– As Falcões e as arqueiras são suficientes pra lidar com eles. Retirem as flechas das pernas enfaixando com as ataduras e ao mesmo tempo ministrem salgueiro concentrado. A que distância estamos de sua vila Istarion?
– Se formos em passo lento , para o norte e após a terceira colina na direção noroeste, estaremos em nossas terras três marcas de vela antes do por do sol, depois é só seguir novamente para o norte e chegaremos à vila quando a lua estiver iniciando seu declínio.
– É o que faremos então. Os meninos estão com fome ou precisam de algo?
– Eles estão bem.

Solari começa a recompor o avanço.
– Vocês quatro que iam na carroça, passam todas para a boléia, Tarin e Squiona assumirão a frente com a Trial de Karin fazendo a varredura.
– O que faziam tão longe de casa em tão pouco número Istarion?
– Era tempo de Megliopo e Solan prestarem respeitos a Atena, protetora de meu povo, junto à oliveira sagrada. Esta seria uma excursão de aprendizado e reverencia que o povo de Ceósia sempre respeitou, com espaço de trégua para qualquer desavença. Estes homens queriam algo e não era um acordo de paz.
– Tudo pronto? Então vamos e se você ou seu jovem amigo cansarem Megliopo, avise e pararemos, está bem?
– Sim, entendido.
– Vamos.
Quando chegam às fronteiras do território centauro são recebidas com uma saraivada de flechas que caem próximo ao cavalo de Solari. Gabrielle faz menção de se adiantar, mas Ephiny impede sua passagem com o cavalo.
– Não vais tomar a frente, isso não vou permitir Gabrielle e não invoque tua posição que eu anularia. Tens minha promessa quanto a isso. Vocês quatro fechem em torno dela e não a deixem avançar.
– Ephiny isso não tem graça.
– Até sabermos como será a recepção, você não irá à frente. Uma coisa é sermos capturadas por que entendes ser o correto, outra é ser morta sem ao menos ter chance de expor seu caso. É com você Istarion.
– Saudações Kapfar, fomos atacador por homens e estas mulheres nos ajudaram. Levem-nos até Kaleipus e prendam estes homens. Deixem-nas com suas armas até Kaleipus decidir.
Quando a lua estava alta no céu esta improvável procissão entrava na aldeia centauro.
– Vou ter com Kaleipus Gabrielle e Kapfar vai leva-las até a cabana de visitantes enquanto providencio atendimento aos meus amigos, ele irá organizando para que recebam alimentos e tudo que precisarem. Obrigada e boa noite Gabrielle.
– Boa noite Istarion. Se precisar, mande chamar-me.
As mulheres seguiram o jovem centauro até uma grande cabana oitavada com telhado de palha. Todas entraram, ficando apenas Salina e Cora na porta, pelo lado de fora. Pouco depois chegam dois jovens com frutas, queijo, pão, carne e colocando as provisões sobre a mesa saem sem dizer nada.
– Vamos nos acomodar da melhor maneira possível e provavelmente em quatro noites estaremos em casa. Tudo certo Ephiny ?
Ephiny não responde, apenas deita em uma das camas e fecha os olhos e passadas duas marcas de vela Cora entra e buscando-a, comunicando que Kaleipus está

chamando Gabrielle.
– O que é, Cora?
Cora olha pra Ephiny , que responde para Gabrielle.
– Kaleipus está chamando você e você não vai sozinha. Eu, Eponin e Narda vamos com você ver o que ele deseja.
Gabrielle sabia que havia empurrado Ephiny demais e ela estava no limite, então sem mais discussões apenas concordou com a cabeça e se dirigiu até a porta.
– Vamos.
Entraram em um grande salão onde alguns centauros estavam reunidos.
– Eu sou Kaleipus, líder de meu povo. Qual de vocês é Gabrielle?
– Eu sou Gabrielle. Como estão seus amigos?
– No momento estão bem, nosso sanador avaliou os três e nenhum está em risco de morte. As feridas de flecha inspiram mais cuidados, mas o tratamento geral está com um bom encaminhamento. Istarion me disse que você salvou-os nas Colinas das Oliveiras . O que vocês faziam ali?
– Estávamos de passagem a caminho de nossas terras uma vez que o trajeto leste, pelos penhascos está impraticável. Quem são estes homens? O que desejavam?
– Ainda não sabemos, mas sua presença em nossas terras fere o tratado que firmamos com Melosa, o que tem a dizer sobre isso amazona?
-Tenho certeza que o tratado se referia a usarmos seus campos de caça, para caça e não que seria proibido ajudarmos alguém de seu povo que estivesse em dificuldades. Você é o líder, deve saber a diferença nas situações.
Dois centauros começaram a mover-se impacientemente, não era a resposta que esperavam ouvir e um deles ergue-se em toda sua altura dando dois passos a frente ameaçadoramente e as três acompanhantes de Gabrielle colocam a mão na empunhadura de suas espadas.
– Você pode não sair viva daqui amazona, deveria controlar melhor sua língua e mostrar mais respeito.
– Não tive nenhuma intenção de faltar ao respeito com Kaleipus, mas francamente não entendo este interrogatório. Nós ajudamos quem precisava de ajuda e apenas entramos em suas terras para trazê-los para casa, não gostaria que deixássemos os cinco naquele lugar com estes homens imbecis e suas péssimas intenções, apenas por que não devemos caçar aqui!
– O que uma Falcão está fazendo com vocês e porque você está liderando quando obviamente há guerreiras mais experientes no grupo?
– Duas. Temos duas Falcões conosco e elas estão acompanhando alguns presentes que a Conquistadora envia a Melosa, devendo retornar para Corinto em poucas luas e estou liderando por que é meu destino ter a preocupação com os indefesos mais que com minha própria segurança. Eu gostaria de saber se estaremos liberadas

para seguir nossa viagem amanhã ou se pretende nos manter prisioneiras por ajudar centauros. Talvez isso seja algum crime passível de punição entre seu povo.
– Talvez seja um crime passível de punição entre o seu povo, amazona e você foi muito corajosa em tomar tal atitude considerando séculos de inimizade entre nós. Realmente gostaria de agradecer o que fez por meus amigos, sei que não foi uma decisão fácil e muitas de suas irmãs não concordariam com ela, nem tenho certeza se Melosa concordará. Você é bem vinda, Gabrielle e ficarei pessoalmente em divida com você até o final dos tempos. Amanhã pela manhã os homens enfrentarão a justiça centauro e saberemos o que faziam e por que atacaram meus amigos. Vocês serão escoltadas até a fronteira e estarão em suas terras antes do anoitecer. Boa noite Gabrielle.
– Boa noite Kaleipus.
Quando voltavam para a cabana Gabrielle resolveu dar descanso a todas suas irmãs, pelo menos por uma noite dormiriam sem se preocupar com a segurança.
– Ephiny , retire as sentinelas e mande todas dormirem, pois não tem sentido nós colocarmos guardas dentro da aldeia onde somos visitantes.
– O protocolo manda que sempre tenha uma guarda contigo.
– Dane-se o protocolo, Ephiny . Quero todas dormindo de verdade, pois se Kaleipus desejar nos atacar não teremos como realizar nenhuma defesa, seria só ele tocar fogo na cabana e nos crivar de flechas quando saíssemos. Boa noite Ephiny .
– Boa noite, Gabrielle.
– Esta escrava tem coragem, comandante.
– Você é nova nesta situação Narda , então vou dar um conselho. Nunca mais se refira a ela nestes termos enquanto estiver na presença de alguém de meu povo. Ela somente é uma escrava perante a Conquistadora ou por seu comando e nas próximas luas é uma amazona livre e em sua própria posição dentro da Nação, por seu próprio direito. Eponin mande entrar as sentinelas e vamos dormir.
No dia seguinte Gabrielle foi cedo visitar Istarion e saber como os outros estavam passando. Encontrou o jovem Megliopo e Solan conversando sob a sombra de uma bela aponia.
– Bom dia, senhores.
– Bom dia, amazona. Estávamos esperando para agradecer ter agido em nossa defesa, pois nosso pai disse que um guerreiro conhece seu inimigo, mas deve estar pronto para reconhecer nele seu amigo quando age de forma honrada. Eu nunca entendi isso até ontem.
– Não há o que agradecer jovens. Nem sempre agimos corretamente, mas em situações como aquela era fácil saber que lado a Deusa da sabedoria apoiaria, pois embora Atena seja a Deusa da guerra estratégica é também a Deusa da justiça e diplomacia. Um campo sagrado de Atena não é espaço para agressão gratuita e

covarde.
– Eu tenho algo para lhe pedir, mas preciso que fique em segredo, uma vez que não tenho autorização de meu pai para solicitar algo à uma amazona.
– Sem problemas Megliopo.
– Meu amigo que quebrou a pata, o fez salvando a vida de Solan, pois seria sua cabeça se ele não tivesse intervindo e colocado sua pata na frente do bastão, e agora a situação dele não tem cura entre nós. O sanador disse que já fez tudo que sabia e não espera que ele consiga superar, ficamos entristecidos, mas ouvimos sua amazona dizer que a amiga dela já tratou de ferimentos piores e se tivesse mais tempo e permissão poderia salvar a perna de Ixiner.
– Não sei se Kaleipus ou o sanador desta aldeia concordariam Megliopo e eu apenas poderia pedir para Kleith visitar sua aldeia a cada grupo de noites.
– Não, aí não adiantaria muito se ele tivesse febre e ela não estivesse aqui pra cuidar dele, mas acho que não é a Kleith, era Leah, aquela de cabelos lisos, alta. Ouvi a comandante de cabelo preto dizendo pra ela que teria muitas explicações a dar quando chegassem na aldeia e sua ação fosse levada ao conhecimento da rainha. Eu não sei o que quer dizer, mas parecia que se ela demorar um pouco pra voltar não será ruim pra ninguém. Não escutamos conversas dos outros, Gabrielle, mas as vezes é inevitável, se as pessoas falam em nossa presença sem lembrar que estamos ali. A senhora poderia simplesmente ordenar, alteza.
– Certo, vocês sabem quem sou e se vão contar isso para Kaleipus é com vocês rapazes, mas eu não vou dar uma ordem neste sentido, no entanto há verdade no que vocês falam, então posso sugerir e autorizar que a comandante dela decida, uma vez que você tem razão e provavelmente seria melhor se Leah não chegasse conosco, Solan. Agora me diga quem é seu pai para que eu não fale ao centauro errado que me pediram isso.
– Achei que soubesse Gabrielle. Somos filhos de Kaleipus.
– Então talvez fosse melhor que ele pensasse que a ideia foi minha rapazes.
Obrigada Solan e obrigada Megliopo, agora eu poderia ver Istarion?
Sendo encaminhada ao local onde Istarion estava fazendo seu desjejum, Gabrielle o saúda com cortesia.
– Como você está Istarion? E seus amigos?
– Estamos bem, obrigado Gabrielle. Você vai assistir à justiça centauro?
– Penso que é melhor não demorarmos mais. Temos ordens de entregar os presentes da Conquistadora e realmente eu não gostaria de presenciar sentenças sendo executadas, mas preciso pedir um favor a Kaleipus. Você poderia conseguir uma audiência com ele pra mim?
– Claro, mas entre nós não existem tantos protocolos, Gabrielle. Kaleipus é um centauro como nós, se deseja falar com ele é só descobrir onde ele está e falar.

– Obrigada, mas eu me sentiria melhor se você conseguisse uma audiência com ele em privado.
– Certo, vou ver o que posso fazer.
Algum tempo depois, quando Gabrielle estava sentada em um banco observando o lago, Kaleipus chega até ela que faz um sinal afastando as guardas que a acompanhavam discretamente à distância.
– Soube que queria me ver, Gabrielle.
– Gostaria de sua permissão para uma de minhas irmãs permanecer em sua aldeia até que seu amigo fique bom da perna quebrada, uma vez que ela já recuperou vários eventos semelhantes em cavalos. Sem ofensa, apenas a anatomia é semelhante nesta parte do corpo e ela poderia ser de alguma utilidade na recuperação de seu amigo.
– Sem dúvida, se você o diz eu acredito e posso somente agradecer, mas ela concorda com isso?
Certamente que sim. Leah não é de deixar alguém sofrendo se pode ajudar e seria muito bom pra ela esperar um pouco para retornar, pois sua comandante não está muito satisfeita com um procedimento que teve a algumas luas e um tempo sem ela por perto poderia facilitar as coisas. Além disso, tenho grande interesse que o centauro se recupere totalmente daquele ato covarde. Entenda como uma oferenda a Atena e Artemis.
– Eu agradeço Gabrielle e certamente autorizo. As provisões já estão organizadas para sua viagem e tomei a liberdade de enviar um grupo para desenterrar os objetos que tiveram que esconder para trazer Ixiner até nós. Três das suas amazonas foram junto para garantir que não houve alteração em nenhum item e tudo já está encaminhado para a partida de vocês assim que desejarem.
– Obrigada, Kaleipus. Vou providenciar que se organizem para partida imediatamente e que Leah se apresente a teu sanador para acompanhar pessoalmente a recuperação de Ixiner.
– Cora!
– Sim Gabrielle.
– Chame Leah e Solari aqui, por favor. As duas chegam rapidamente.
– Mandou chamar Gabrielle?
– Sim. Solari, sei que a condução de Leah é tua responsabilidade e que não esqueceste Tahal, mas gostaria de solicitar que considerasse ela permanecer junto ao centauro Ixiner até que sua pata esteja recuperada na parte óssea e muscular. Já está tudo acertado entre Kaleipus e eu, dependendo apenas de tua aprovação. Ela apenas adiaria a chegada à aldeia em algumas noites, possibilitando que penses bem as possibilidades de correção no rumo que as coisas tomaram em Tahal, sem a

lembrança constante que a presença dela traria. Isso evitaria talvez uma precipitação de julgamento, por outro lado completaríamos o que iniciamos ao intervir naquele ataque absurdo.
Solari pensa por uns instantes e percebe Leah totalmente pálida com a ideia de não voltar pra casa e ter que viver entre os centauros, cuidando de um deles por dias, talvez luas. Esta seria uma decisão fácil e estaria respeitando uma solicitação de Gabrielle, que pede, mas sabe muito bem que qualquer pedido seu estaria de antemão concedido. Gabrielle não era tola, sabia que quando chegassem na aldeia as chances de Leah seriam muito pequenas de escapar da retaliação que ela estava planejando entregar.
– Claro, Gabrielle. Leah fará o atendimento ao centauro machucado até que ele se reestabeleça totalmente, atuando de muita boa vontade. Leah! Você está a serviço de Ixiner e não saia de perto dele até que eu mande chama-la para nossa aldeia, procure saber quais são os regulamentos e leis que regem a presença de humanos aqui. Estás livre para se comunicar com quem se dispuser a isso e siga todas as regras em sua totalidade. Dispensada.
Leah apenas se vira e vai procurar o sanador local para saber como está sendo o tratamento de Ixiner e como poderia se alojar nas proximidades e Kaleipus acompanha Gabrielle e Solari até a cabana de hospedes, profundamente impressionado com a capacidadedeinfluenciardestapequenaamazonaloira,comumalógicaimpressionante e imenso respeito aos Deuses.
– Solari, por favor, organize com Ephiny para irmos agora mesmo e Cora irá te acompanhar. Adeus Kaleipus e obrigada pelo acolhimento. Por favor, se estes homens estavam em algum tipo de ação que afete nossa Nação ou a Conquistadora nos informe o mais rapidamente possível, afinal temos duas Falcões conosco e é da responsabilidade delas relatar qualquer conflito no Império que seja contrário aos interesses da Soberana.
-Combinado Gabrielle, que Atena a acompanhe e Artemis a proteja, obrigado por tudo.
O grupo estava montado e pronto seguindo os centauros que acompanhavam indicando o caminho. Andaram rumo oeste por dez marcas de vela, até encontrarem o rio onde fizeram acampamento e Kapfar, Glionis e Virto formavam a escolta de honra. Encontrando uma patrulha centauro decidiram caçar para reforçar o jantar do grupo uma vez que tinham ordens expressas de facilitarem a jornada das amazonas e até chegarem aos pontos onde seria possível vadear o rio para terras amazonas encontrariam mais quatro patrulhas, deixando-as entender o motivo de necessitarem uma escolta.
No meio da tarde seguinte ao atravessarem o rio, estavam em casa.
Aquela era uma zona da floresta que as quatro comandantes conheciam bem,

pois várias vezes ficaram de guarda na fronteira com Terreis, muito tempo antes de o tratado ser assinado e os campos de caça demarcados. Ficou acertado que se um jogo de caça atravessasse as fronteiras não seria perseguido, ficando claro que em hipótese alguma seria autorizada a caça no território além da divisa para nenhum dos grupos. Avançaram ainda por uma marca de vela quando encontraram o primeiro posto avançado de sentinelas nas árvores, que rapidamente identificaram o grupo e entre a alegria da chegada e a preocupação por notícias enviaram uma batedora descansada para dar a notícia ao próximo grupo e assim sucessivamente, chegando a noticia à aldeia de que a princesa retornara e pisaria na aldeia uma marca de vela antes do por do sol do terceiro dia, estando acompanhada por quatro mulheres de Corinto e duas
Falcões , notando-se ainda a ausência de Leah.
Sua chegada foi recebida com alegria, havendo frutas e banhos quentes aguardando todas e um jantar comemorativo estava programado para dali a quatro marcas de vela com tempo para descansar um pouco da viagem. A rainha Melosa determinou que relatórios ficariam para o meio da tarde do dia seguinte e nenhuma pergunta seria feita esta noite.
-“Que as enviadas da Imperatriz sejam recebidas entre nós como hóspedes e seus presentes guardados no almoxarifado até podermos recebê-los formalmente”.