– Venha comigo Gabrielle.
Entrando na cabana real estava organizada uma mesa de frutas, queijos e pães, com especial ênfase em pão de nozes, o preferido de Gabrielle. Melosa lhe serve um copo de vinho com leve fermentação.
– Obrigada, majestade, mas peço que me perdoe. Fiz meu melhor para que nenhuma das nossas irmãs perdesse a vida, porém devo ter cometidos muitos erros. Certamente cometi muitos erros majestade. Ephiny está furiosa comigo em não atender suas recomendações e Solari quase mata Leah. Por favor, me perdoe!
– Calma Gabrielle, haverá muito tempo para repensar o ocorrido e julgar adequadamente. Agora isso não é importante, eu simplesmente quero saber como você está.
Então o que não havia acontecido nestes verões todos em que está na Nação, ocorreu. Gabrielle viu à sua frente, não uma Rainha, mas uma irmã preocupada e carinhosa. Abrindo os braços Melosa a chamou para junto de si, com ternura insuspeita ofereceu seu carinho, confortando-a e amparando seu desespero.
– Shh… calma pequena, hoje é dia de festa e de descanso. Amanhã vamos falar, agora se recomponha e vamos ao seu banho.

A cabana real tinha comunicação para as termas e uma câmara possuía uma piscina natural em uma formação no solo, separada da casa de banho comunal por uma parede de rocha lisa e alta com comunicação pelo subsolo em uma passagem estreita nas rochas.
– Quando cheguei de minha primeira batalha, minha mãe me recebeu aqui, com esta mesma água e este sabão a base de ervas especiais, fazendo toda dor ir embora. Nesta água a Casa Real deixa toda dor, medo, angústia e tristezas Gabrielle. Venha, deixe que eu lave você, não pense no que passou, mas na alegria de estarmos todas juntas novamente, porque mais importante do que aquilo que perdemos são as coisas que permitimos com nossa ação, continuarem a existir minha irmã. Você é a barda da Nação, mas deixe te contar uma história conhecida apenas pela sacerdotisa e a Casa Real , pois é sabido que desde tempos imemoriais nosso povo tem vivido sob a proteção e normas de Artemis, mas poucos sabem que houve um tempo em que a filha da Caçadora viveu entre nós.
Venha, Gabrielle, não fale mais nada apenas venha aqui e ouça.
“A virgem Caçadora avistou um lindo corcel negro inquieto, com um aparato em suas costas indicando que não era selvagem embora tenha deixado uma trilha nada intocada na mata. Um bom espaço adiante encontrou aquela mulher caída cercada por um vento insistente e constante, o cheiro úmido da mata se confundia com a respiração pesada e lenta da jovem, enquanto a vida ia escoando a medida que o sangue se misturava com as pedras daquela parte da floresta.
O coração da Caçadora foi capturado por um olhar doce e cheio de dor ao mesmo tempo em que um sorriso iluminado de esperança acudia naquele rosto. Em vias de parto, como uma corça assustada aquela jovem confiou no semblante calmo e tranquilo de Artemis, pedindo que ela cuidasse de sua filha, pois fugira do acampamento de seu povo, sabendo que matariam a criança assim que chorasse pela primeira vez e sem saber que estava na presença da Deusa protetora das mulheres, da vida livre e dos animais, implorou em nome da Caçadora que sua criança recebesse amor e apoio pela vida que levaria.
A menina nasceu após um longo tempo e a lua iluminava os últimos momentos em que sua mãe acariciava seus cabelos pretos, morrendo logo a seguir. Artemis providenciou uma pira e tomando a pequenina nos braços , velozmente correu para deixa-la a salvo no templo das amazonas da Trácia e em sonho orientou a sacerdotisa de que a criança, surgida do ventre da floresta, deveria ser adotada pela primeira amazona que cruzasse os umbrais do templo e apenas a sacerdotisa e a Casa Real saberiam ser a filha adotiva da Caçadora, devendo ser criada como qualquer outra menina da aldeia.
Acontece que naquele tempo, não era costume visitarem a casa da Deusa pela manhã, mas a filha mais jovem da Rainha resolveu fazer uma cavalgada e parando

junto ao templo para descansar, ordena à sua guarda que busque vinho frio com as sacerdotisas, pois havia deixado seu odre na cabana.
A guarda encaminhou-se para a parte residencial do Templo, mas resolveu encurtar caminho passando pela nave e como consequência recebeu a incumbência de educar a menina a quem chamaram de Zola, que na língua antiga significava “força vital”. Zola foi criada pela guarda real e tornou-se uma das maiores amazonas da história da Nação e rezam as escrituras que sempre que precisava tomar uma decisão difícil, Artemis guiava seus passos, transformando em certeza o que era sensação vaga. Quando sua guardiã morreu em combate, Zola ficou inconsolável e a Rainha foi orientada por Artemis a trazê-la aqui, nestas mesmas águas, onde a banhou. Por graça da Caçadora suas lágrimas misturaram-se quando juntas choraram como uma só fonte que unindo-se às águas conduziu a dor embora, restando apenas uma clareza, trazida pela solidez das rochas e aroma das ervas, na força restauradora das matas.” Apenas nós sabemos disso Gabrielle, e agora passo pra ti esta verdade de que somos o povo de Artemis, não por que nós a escolhemos como nossa padroeira mas por que fomos escolhidas por ela para levantar a filha de seu coração. Saiamos daqui,
com o coração leve minha irmã, que teu povo aguarda para festejar tua volta. Festejaram com música, dança, bebida e comida preferenciais do grupo.
– Eponin, onde estão as Falcões ?
– A última vez que vi estavam conversando com o grupo de guardas reais , Gabrielle.
– E as mulheres de Corinto ?
– Não sei, mas vou descobrir.
Eponin volta em pouco tempo, mas de alguma forma tinha certeza que Gabrielle não ficaria feliz com as notícias.
– Elas estão no almoxarifado. Parece que quando levaram a carroça para guardar os presentes de Melosa elas ajudaram a descarregar e ficaram lá dentro separando os itens.
– Grande Atena nos perdoe por este mal entendido! Eponin, por favor providencie que tenham um banho e possam desfrutar da festa.
– Claro, Gabrielle. Mais alguma coisa?
– Por agora não, mas assim que puder traga-as aqui, por favor.
– Certo. Fazendo um sinal à uma das guardas, Eponin emite ordens para algum tempo depois as quatro mulheres vindas de Corinto chegarem na festa.
– Por favor, Djira, desculpe nossa falha de comunicação. Tomei como certo que ocupariam a cabana de hóspedes, junto com as Falcões .
– Perdoe-nos Gabrielle, mas ouvimos que os presentes deveriam ser guardados no almoxarifado e como somos um, naturalmente nos dirigimos para lá. Não ofenderíamos as Falcões de sua majestade com nossa presença.

– Olhe Djira, a Rainha decretou que esta é uma noite de festa e somente amanhã veremos isso, então se alimentem e descansem como for de sua vontade.
Virando-se para a guarda real mais próxima, Gabrielle pede um favor.
– Nassina, por favor, peça às Falcões que venham ter comigo se puderem, pois eu gostaria de falar-lhes.
– Claro.
– Boa noite Gabrielle, queria nos ver?
– Boa noite, Narda . Por favor, recebam bem as meninas de Corinto em sua cabana, ao menos por hoje deixem-nas agirem como mulheres livres, se isso for possível.
– Ao seu comando, Gabrielle.
– Não é um comando Narda, mas somente um pedido.
Melosa estava perto e ouviu apenas as últimas trocas de palavras. Curiosa chegou ao lado para saber do que se tratava.
– Algum problema, Gabrielle?
– Não minha Rainha. Apenas solicitava a Narda que recebesse às quatro enviadas de Corinto na cabana de hóspedes como se fossem livres.
– Talvez isso não seja necessário. Poderíamos dispor de outra cabana de hóspedes, assim todas ficariam mais a vontade, se a jovem concordar Gabrielle.
– Excelente ideia ! Muito obrigada majestade. Elas precisam respirar um pouco de liberdade.
As quatro mulheres vindas de Corinto aproximam-se ainda mais de Gabrielle acompanhadas por Nassina.
– Qual sua decisão, senhora?
– Não precisas me chamar assim Djira, aproveitem a festa como desejarem, existe alimentos, vinho e divertimentos para todas e está sendo encaminhada uma cabana para uso de vocês.
– Alteza!
– Sim, Tarin?
– Gostaria de sua permissão para convidar Kyla para um passeio pela vila.
– Você não precisa da minha autorização, Tarin, mas da aceitação dela. Divirta- se se ela concordar.
A festa aconteceu sem mais nenhuma ocorrência inusitada ou desagradável, com todas indo descansar quando o sol estava levantando e no meio da tarde foi servido almoço para Gabrielle na sua cabana, enquanto às demais fizeram sua refeição na cabana comunal.
A Rainha Melosa chamou a trial de Karin e ouviu uma por uma em seu relato sobre tudo que aconteceu desde a saída da aldeia até o retorno, fazendo o mesmo com todas as demais amazonas da escolta de Gabrielle, faltando apenas a trial de

Ephiny , Iodia e a própria Gabrielle. Obviamente a ausência de Leah foi notada, mas ela poderia ser ouvida mais tarde.
Iodia foi a última a ser ouvida antes do jantar e a trial de Ephiny foi convocada para prestar relatório após o jantar .
O jantar com a Rainha envolvia Gabrielle e suas comandantes, ficando evidente para Melosa o mal estar entre Ephiny e a princesa e passado o tempo da refeição a Rainha dispensou Gabrielle para ir verificar o bem estar das hóspedes, determinando que na manhã seguinte receberia formalmente as Falcões e os presentes, Melosa começou a inquirir sobre o que tinha acontecido, as ações e reações de cada membro da escolta, assim como todas as decisões de Gabrielle.
– Então, senhoras, gostaria de saber se as Zorah que ela invocou se mostraram positivas ao grupo. Qual seu parecer Ephiny ?
– Sim, majestade, os resultados foram os melhores possíveis.
– Então por que estás tão furiosa?
– Não é com ela, majestade, mas como poderei agir em sua guarda se ela desconsidera minhas recomendações? Peço para receber-me novamente nas fileiras e escolher outra capitã na guarda real que consiga ser ouvida.
– Negado. Sua mãe também ficava furiosa comigo na maior parte do tempo e muitas vezes ela estava certa e eu errada nas decisões em que divergíamos, porém cabia a mim o ônus da decisão e sempre decidi conforme minha convicção no momento. Muitas vezes Gabrielle irá errar, mas é dela a função e responsabilidade, então comandante, é sua função mesmo correndo o risco de não ser ouvida, ponderar sobre o todo e dar a ela alternativas e caminhos para que faça sua escolha tendo uma perspectiva mais ampla do que teria antes de você se fazer ouvida, como Eucádia sempre fez pra mim.
– Sim, majestade.
– Não concorde comigo apenas para cumprir protocolo, comandante. Agora desejo ouvir de cada uma o relato mais fiel que conseguirem sobre os acontecimentos ocorridos nesta jornada.
Cada uma das componentes da trial relatou o melhor que conseguiu, da maneira que lembrava, todos os fatos, pensamentos que tiveram e sentimentos sobre eles.
– Como você se sente em relação a Leah, Solari?
– Sinto falta dela, minha Rainha e ainda creio que ela merece ser punida por buscar a via fácil de sair da angústia da culpa.
– Parece-me que ela tem sido severamente punida, não apenas por tuas decisões, mas pelas decisões de Gabrielle. Este tempo junto aos Centauros não será fácil pra ela e talvez sirva para que perceba a verdade sobre o fato que ocorrem situações nas quais ninguém tem culpa, apenas era pra acontecer. Se ela tivesse feito um perímetro de segurança maior ou estabelecido rota de fuga, o máximo que conseguiria era a

morte de algumas de vocês. Gabrielle fez bem em não buscar conflito com aqueles que as cercavam e muito mais em ceder à Conquistadora .
Aquela era uma batalha perdida. O que há sobre misteriosa doença que iniciou tudo isso e sobre ela ter de retornar a Corinto ?
– Na noite em que entramos em Corinto a misteriosa doença deixou de afetar a princesa da mesma forma repentina quanto tinha começado e quanto ao retorno dela à Corinto só sabemos que nós fomos dispensadas do serviço militar, pois a Conquistadora entende que já cumprimos nosso tempo, infelizmente porém, nossa princesa ainda tem a condenação sobre si e deve retornar após a terceira lua cheia, com uma guarda real de quatro amazonas, se a senhora desejar.
– A Conquistadora permite que haja uma guarda pessoal acompanhando a princesa em Corinto por todo o tempo que ela estiver lá.
– E estas quatro mulheres que vieram com vocês?
– Não sabemos, majestade.
– As Falcões ?
– Foram enviadas para acompanhar Gabrielle em todo o trajeto e na volta até Corinto . Ficaram responsáveis por sua segurança e tem feito um esforço no sentido de não se envolver entre suas determinações ou conosco, embora ainda a vejam como propriedade da Conquistadora também a veem como uma propriedade a proteger.
– Quanto a trial de Karin, algo a acrescentar, Solari?
– Eu gostaria de manifestar meus respeitos quanto ao comportamento das quatro, muito acima do que seria esperado nesta idade. As quatro tiveram atitudes dignas e muita iniciativa, principalmente no caso da taverneira de Amphipolis.
– Concordo Solari, mas gostaria de ouvir sobre a Elídia final da trial, creio que devem manter as quatro juntas. Vocês foram a última trial formada aparte das Elídias e para elas recomendo o Clã de defesa, com as quatro na Elídia Escoteira. Acredito que nas escoteiras serão mais exigidas em todas as suas habilidades, mas talvez devessem considerar um estágio intensivo nas outras Elídias como a guarda real, o arsenal e as arqueiras.
As quatro se olham e se comunicam com Ephiny dando à Melosa o parecer do grupo. Ficarão nas Escoteiras , mas Lara fará um estágio com Eponin, Dieynisa com Assoyde, Deian será acompanhada mais de perto por Solari e Karin comigo se vossa majestade permitir. Acreditamos que uma lua e meia será suficiente para o treinamento específico e quando completarem dezoito verões será definido o grupo de cada uma das mais jovens.
– Então, que assim seja.
Melosa passou mais duas marcas de vela atualizando as comandantes amazonas sobre as questões da aldeia, o novo tratado com os Centauros e novidades sobre os homens que estavam caçando amazonas na região de Éfeso. Notícias da tribo do norte

dão conta que um príncipe da região de Helicon, monte na Beócia, próximo a Delfos e a sudeste do lago Esdel, estava comprando desafios para seus jogos de caça, o que talvez incluísse escravas amazonas. Alguns caçadores de amazonas foram aventurar- se lá. Também teve notícias que um grupo da cidade de Tiontes, na Arcádia a sudoeste de Corinto , responsabilizava as amazonas pelo desaparecimento de algumas meninas e ela enviou uma dupla de investigadoras ao local para saber mais detalhes.
Depois de algumas questões e sugestões todas foram dispensadas e Melosa foi dormir com o croação mais leves e decisões tomadas.
Na manhã seguinte, Melosa formalmente recebeu os presentes da Conquistadora e as Falcões apresentaram-se, colocando-se a disposição da Rainha para qualquer esclarecimento, deixando bem claro que suas ordens foram de vigiarem e escoltarem Gabrielle na volta à Corinto , garantindo sua segurança.
Na presença do Conselho, Melosa ratificou as Zorahs invocadas por Gabrielle, apoiando cada decisão tomada por ela e as amazonas que compunham sua escolta ouviram da Rainha que agiram bem e o que aconteceu não poderia ser evitado. Melosa mandou abrir o vinho, fazendo com que as quatro mulheres vindas de Corinto fossem servidas e então que trouxessem os demais presentes da Conquistadora , onde armaduras, armas, tecidos das mais diferentes origens e tapetes desfilaram na presença da Rainha.
As Falcões foram formalmente admitidas como hóspedes da Nação, sendo solicitado apenas que se abstivessem de adentrar no templo de Artemis sem o acompanhamento de uma sacerdotisa ou amazona aprendiza, recebendo também uma taça de vinho. Somente após alguns instantes a Rainha tomou um cálice para si, ordenando que todas fossem servidas.
Somente Gabrielle percebeu que Melosa fizera as quatro e as Falcões de provadoras, buscando qualquer indicação de que o vinho estivesse adulterado, mas quanto às escravas recebidas como presente, sua decisão surpreendeu todo mundo, menos Gabrielle.
Vocês quatro estão acolhidas dentro da Nação, como qualquer mulher seria, devendo passar por todas as Elídias e receber treinamento no clã de defesa, podendo viver na cabana comunal e será designada para cada uma de vocês a tutoria que orientará sua vida na aldeia nos primeiros tempos. A partir deste momento vocês são mulheres livres, inclusive para abandonar a Nação se assim desejarem. Se não quiserem permanecer conosco, providenciarei que sejam escoltadas para a vila mais próxima na direção do destino que escolherem e será entregue a cada uma de vocês uma quantia em dinheiro para começarem nova vida no mundo lá fora.
Djira, Kyla, Orin e Praena esperavam que a Rainha das Amazonas fosse mais exigente e cruel do que a própria Conquistadora e estavam conformadas com tal destino, então pouco a pouco o medo foi dando lugar à surpresa, pois tudo que

sempre ouviram destas mulheres guerreiras não permitia imaginarem uma atitude tão benéfica.
Ter a liberdade ofertada de tal maneira estava além de qualquer sonho, embora a bondade de Gabrielle para com elas em Corinto e durante toda a viagem pudesse dar algum tipo de esperança, a mítica em torno das Amazonas era muito forte para ser ignorada.
– Nós não somos guerreiras, senhora e não imaginamos que benefício poderia trazer para sua gente, mas gostaríamos de tentar nos adaptar aqui se for de sua vontade.
– Então está resolvido. Fiquem conosco o tempo que desejarem e no próximo inverno conversaremos novamente. Sejam bem vindas.
Gabrielle, venha a frente por favor, minha irmã.
– Minha Rainha.
– Que todas saibam minha decisão! Ouvi teu relato e o relato de tua guarda sobre os acontecimentos das últimas luas, então fica decidido e publicamente manifestado que todas as Zorah chamadas por ti estavam adequadas assim como as decisões de acolhimento da situação. Sabíamos o risco de enviar um grupo tão grande sem previa autorização do Império, mas foi necessário. A Conquistadora em sua atitude não cometeu nenhum ato de agressão à Nação, no que acolhemos sua decisão integralmente e é com coração pesado que determino teu retorno à Corinto quando chegar a hora . Embora os Centauros tenham sido nossos inimigos por gerações, tua decisão no campo consagrado à Atena foi mais que acertada e é uma honra saber que os valores da Nação Amazona vivem em teu coração, fazendo discriminação adequada do correto, novamente tua decisão foi enlevada e fica definido que por seu tempo já servido, Leah será recebida como uma irmã a muito esperada e em seu retorno voltará a ocupar seu lugar entre nós perdoada de seus erros, estando redimido seu destempero quando for o momento dela retornar.
– Obrigada, minha rainha.
– Agora, vamos voltar aos negócios da Nação, no entanto está ordenado um dia inteiro de descanso para tua escolta a contar de agora. Bom dia a todas e obrigada por tudo.
Noites sobre noites se passaram e a vida voltou a normalidade. Os treinos se tornaram mais alegres e Gabrielle voltou à atender como barda, anexando às histórias da Nação, aqui e ali algumas histórias da Conquistadora com as modificações que ela tem promovido no Império visando o bem do povo simples, porém deixando de lado os aspectos mais íntimos, como o modo de governar sua casa e a utilização de seus bens pessoais, entre eles suas escravas.
As Falcões , com o tempo livre, descobriram outros prazeres além dos treinos e disciplina militar, participando vez por outra do jogo de caça e doma de cavalos.
Orin e Praena se adaptaram bem junto às cozinhas, acrescentando algumas

receitas interessantes ao cardápio diário e Djira demonstrou alguma habilidade no trato dos animais e apenas Kyla não teve ainda uma opção mais clara, experimentando as diferentes Elídias, procurando uma atividade que lhe fosse prazerosa e onde fosse útil para a comunidade, apenas demonstrando alegria nas atividades junto às crianças, um porto seguro onde seus olhos brilham e o sorriso vem fácil.
Gabrielle havia enviado a trial de Karin em patrulha até a fronteira com as terras centauros com uma mensagem buscando notícias de Ixiner e Leah e a trial retornou com notícias animadoras.
– Ixiner se apresenta estável e já começa a realizar exercícios na água para fortalecer a musculatura das patas, recebendo cuidados permanentes desde que deixamos a vila.
– O jovem centauro e o menino tem ajudado muito nesta recuperação e Kaleipus tem feito questão que nossa irmã mantenha suas competências, então Ixiner tem praticado com arco e armas de arremesso, sendo incentivado por Leah que está treinando ao mesmo tempo, agindo como competidora no arco e lançamento de punhais. Parece que Ixiner tem se recuperado muito bem e eles tem mantido uma cordialidade franca.
– Kaleipus manda suas saudações alteza e solicita que seja transmitida à Rainha Melosa seus respeitos e votos de laços cada vez mais estreitos entre nosso povos e que sejam fortes as amarras aliadas, ficando no passado os ventos da inimizade.
– Obrigada Deian, Karin, Lara e Dieynisa. Obrigada , viajarei mais tranquila sabendo que tudo está bem encaminhado.
Quatro trial disputavam a possibilidade de ir com Gabrielle para
Corinto , havendo sérias discussões sobre a quem competia tal honra. Membros da guarda real, escoteiras e arqueiras rivalizavam chegando uma vez as vias de fato. Obviamente a trial de Ephiny estava se candidatando, assim como a de Karin ocasionando que a Rainha proibisse terminantemente qualquer discussão a respeito,
indicando que ela, pessoalmente iria definir a questão.
Na última noite Melosa reuniu os comandantes das Trial e deu sua decisão.
– A Trial de Ephiny não poderá ir, uma vez que se ausentou tempo demasiado da vila, devendo retomar seus deveres para com a Nação assim que Gabrielle empreender a viagem, quanto a Trial de Karin a decisão é equivalente, uma vez que vocês são muito inexperientes e ficar dentro do castelo da Conquistadora requer um treinamento de verões de prática em isolar os sentimentos dos acontecimentos ao redor, no entanto Ephiny está autorizada a partir, como Cora, Salina e Kleith. Assim que saírem das terras amazonas o comando da proteção de Gabrielle fica com as Falcões até que a Conquistadora decida diferente. Pedimos que Artemis e Atena guiem seus passos minhas irmãs.
Assim Gabrielle se colocou a caminho de Corinto com as duas Falcões. Após

o tempo determinado para retorno e feitas as despedidas, empreenderam a volta com cautela, e certamente as insígnias das Falcões deixaram claro que estas viajantes eram assunto da Conquistadora, fazendo sair fora toda e qualquer possibilidade de dificuldade com os passantes no caminho, ficando evidente para Gabrielle que mais do que vigias, suas acompanhantes eram um passe livre nas estradas do Império .
A volta foi feita em apenas quinze noites, uma vez que os caminhos pelos penhascos estavam transitáveis, transpuseram os portões de Corinto com duas noites de antecedência em relação ao prazo marcado.