NA GRANJA
Heitor trabalhava na cerca do aprisco que receberia as ovelhas adquiridas no mercado por seu mestre. Era importante garantir que nenhuma escapasse e principalmente que nenhum predador viesse atingir o rebanho. Ao ver vinte e seis cavaleiros, com a bandeira do Império chamou seu filho e disse que corresse até a casa principal para avisar sua senhora da presença dos soldados.
Todos que trabalhavam nos campos e nos cercados respeitosamente curvavam-se aos homens que cavalgavam em formação voltando aos seus afazeres após a passagem destes e quando os soldados passaram, Celmíades tomou a direção da casa central. Cortando caminho nos campos e atravessando o pomar entra correndo nos jardins encontrando Hedi agachada, retirando ervas daninhas do canteiro. Parado na frente dela, com olhos arregalados e agitando as mãos nervosamente, fala numa
pressa entrecortada.
– Tem muitos soldados chegando . Meu pai me mandou correr e avisar a senhora.
Eles vem pela estrada com bandeiras , lanças e escudos. São muitos.
Hedi ergue-se em toda sua altura.
– Do que estás falando Celmíades, que soldados? Quantos?
– Duas dezenas e seis, em cavalos enormes. Estão vindo pra cá! Hedi faz sinal para suas escravas, que se aproximam rapidamente.
– Avisem a cozinha, que providenciem mais pão e preparem cereais e frutas. Deixem tudo organizado, tragam queijos, linguiças e pernis defumados da despensa para a cozinha e também um barril de nosso melhor vinho! Devemos estar prontos para receber visitas se eles forem desmontar.
– Talvez estejam só de passagem… Pensa Celmíades, de que cor eram as bandeiras? Os elmos? Usavam capas? Que cor era?
– Roxo com preto, e amarelo. E um homem que ia à frente tinha o penacho roxo também.
– Grande Hera! Homens da Conquistadora ! Néia providencie água fresca para beberem e também para que se lavem se quiserem. Mande os cavalariços se prepararem para atender aos cavalos dos visitantes. Depressa! Neusa, você continuará atendendo Raysa e cuida para que não chame atenção, não quero ninguém mais dentro da casa. Sotero reúna os outros escravos domésticos e mande que se perfilem

no pátio central ao lado da porta, Rápido!
Estas e outras ordens Heidi dava, tentando controlar seu coração. A presença dos homens da Conquistadora sempre significava algo e com seu marido ausente, temia que não fosse nada de bom.
Estava no alto na soleira de sua porta quando o pelotão de Falcões entrou pelos portões da propriedade.
– Bom dia, senhora.
– Bom dia senhor.
– A quem pertence esta propriedade?
– Nós somos da casa de Aristeu de Larinia, senhor.
– Seu marido está senhora?
– Não senhor. Ele está em Abelar a negócios.
– Qual seu nome senhora?
– Sou Hedi, filha de Cleon de Esparta, esposa de Aristeu de Larinia.
– Somos o primeiro pelotão da primeira unidade dos Falcões de sua majestade e estamos a caminho de Pisatis em missão de recrutamento para a Conquistadora
. Sou Xilant, Capitão da guarda de elite de Sua Majestade e gostaria de saber se poderiam hospedar meus homens esta noite e nos dar algumas informações sobre Larinia. Faz dois verões que não venho a esta região.
– Estamos honrados em recebê-los Capitão. A guarda da Conquistadora está sempre em nossas orações para manter nossa soberana segura. A paz e prosperidade que tivemos sob seu governo é uma benção que é reconhecida por todos. Por favor, vamos entrar e tome o escravo que lhe agradar para seus serviço enquanto estiver entre nós, senhor. Estão todos à sua disposição e de seus homens, evidentemente.
Aguardando que os homens desmontassem e o Capitão lhe acompanhasse, Hedi dirigiu-se para dentro da residência onde uma mesa com frutas e carne assada já estava posta e escravas segurando bacias e toalhas estavam lado a lado esperando os convidados.
Xilant entrou acompanhado da Tenente Dínia e os dois sargentos que permaneceram em pé à direita e esquerda da porta do salão, nos fundos da sala, com seu comandante sentando cortesmente com a dona da casa, enquanto os demais se organizavam no pátio a espera de ordens.
Agora percebendo que Dínia era uma mulher, meio incerta de como se dirigir aos oficiais, Heidi optou por falar com Xilant.
– Dei ordens para que seus homens fossem refrescados e seus cavalos atendidos Capitão. O senhor aceitaria uma taça de vinho?
– Obrigada senhora, o pó da estrada realmente se torna um segundo traje depois de um dia de cavalgada.
– Seus homens receberão frutas e algo de queijo e carne enquanto providenciamos

um jantar. Espero que nos honrem com sua presença.
– Nós trazemos caça em abundância e pedimos apenas a cedência de suas dependências para providenciarmos a alimentação necessária. Evidentemente pagaremos qualquer alimento que venhamos a consumir.
– Não se incomode com isso Capitão, nossa cozinha é ampla e atender aos homens da guarda de sua majestade é o mínimo que nós nas províncias podemos fazer para agradecer a paz e a prosperidade que eles proporcionam. Mas se é de seu desejo apreciar a caça, farei que seja preparada. Temos dois quartos de hóspedes e ficaria muito honrada se o senhor e seus oficiais aceitassem nossa hospitalidade. Infelizmente os demais não poderão se acomodar na casa principal, mas o celeiro é amplo e confortável nesta noite quente.
Duranteojantar, comhabilidade Xilantfoiconduzindoaconversaparaosúltimos acontecimentos e sobre a importância da rede de hospícios que a Conquistadora estava mantendo em todo o Império. Ficou sabendo das dificuldades que as granjas estavam tendo para conduzir seus produtos ao mercado pois estavam acontecendo ataques durante o transporte ou no campo, quando juntavam os animais para leva- los à feira com os cereais e os vinhos produzidos na estação.
Heidi estava ouvindo as observações da tenente Dínia sobre a importância do descanso no treinamento militar e nos cavalos do exército.
– É fundamental o descanso e a alimentação adequada, pois a força do guerreiro vem do treinamento, o que inclui saber quando seu corpo está perto do limite. Talvez o mesmo aconteça numa propriedade tão grande quanto esta, se os escravos esgotarem sua força num dia e não a recuperarem fatalmente terão de ser substituídos. Há um paralelo nisso não parece?
– O mesmo se dá com a terra, Tenente. A experiência diz que se utilizarmos sempre os mesmos campos, aos poucos irão demonstrando fraqueza e produzindo menos. Por outro lado, se dividirmos a propriedade em três, onde um produz, um é preparado e outro descansa temos uma produtividade muito maior, tanto na agricultura quanto nos animais de tração.
– Como uma senhora mantém a disciplina entre os escravos, estando seu marido ausente?
– A disciplina é fruto do compromisso. Eles são bem tratados enquanto realizarem seu trabalho com atenção e cuidado.
– Percebe-se que a propriedade é muito bem cuidada, vimos alguns espécimes valorosos no campo. Vocês realmente estão de parabéns, senhora.
– Temos uma extensa criação de cavalos e ovelhas, senhor. Compramos a alguns verões alguns escravos da Trácia , especialistas na criação de cavalos . Percebemos que se não os trocarmos de campo ela não se desenvolve tanto quanto poderia.
– Seu vinho é excelente, senhora. Realmente digno das mesas da corte em

Corinto .
– Obrigada Capitão, temos algumas variedades importadas da Macedônia para a fabricação de retsina, mas somente adicionamos ao vinho branco resina de pinheiro de primeira qualidade.
Quando Neusa apareceu na porta do salão principal Heidi ficou nervosa, não sabendo como fazer para ter com ela, sem ofender seus visitantes, chamando Néia ordenou que buscasse mais carne, água e vinho. Esta troca entre Heidi e Neusa não passou desapercebida por Xilant, que imediatamente buscou olhar para a Conquistadora que lhe fez um sinal de mandar que fosse averiguar o que estava acontecendo.
– Sargento, faça algo útil ! Colabore com o pessoal da casa e também providencie um jarro com água para a senhora.
Xena se coloca em prontidão e acompanha Néia até a cozinha, pegando um jarro que estava em uma prateleira à esquerda da porta e procura o barril de água. Imaginando que Néia não ofenderia propositalmente uma pessoa livre, vai até o barril iniciando conversa fácil com a escrava que já cortava postas de javali.
– Esta noite promete ser longa. Sua senhora parece dar aos escravos um tratamento muito humano e bondoso. Espero que não venhamos a criar algum transtorno.
Néia não querendo demonstrar seu nervosismo aceita conversar com a sargento e sem saber que estava diante da Conquistadora , dá asas aos seus pensamentos.
– Nada. É um prazer ter a senhora e seus companheiros aqui. A gente se sente mais segura assim, pois certamente os bandidos não vão aparecer como fizeram nestas últimas luas. Seu comandante também parece agradável de servir e vocês são muito eficientes. Sotero disse que nunca viu uma equipe tão bem entrosada nas atividades da cozinha, senhora.
Celmíades estava na cozinha a empilhar lenha e vendo aquela mulher conversando com tranquilidade, sentiu-se corajoso de sanar sua curiosidade.
– É difícil a vida no exército, ainda mais para uma mulher, não? O que significa este símbolo? Vocês vem de longe?
– Celmíades !!!!!!
Temendo ter ofendido a sargento, Néia se interpõe entre o menino e Xena .
– Desculpe senhora, amanhã ele será punido por importuna-la com sua curiosidade sem fim.
Néia aponta a faca para o garoto, indicando que saia pela porta dos fundos o mais rápido possível.
– Sai daqui menino, se a Senhora Heidi souber que esteve incomodando esta oficial teu couro não valerá duas istas.
Xena sorri e Néia pensa que nunca havia visto sorriso tão maravilhoso.

– Está tudo bem, a senhora não precisa ser informada. Você pode ficar e conversamos enquanto eu realizo minhas tarefas. Seu nome é Celmíades, mas como chamam você?
– Meus amigos me chamam de Cel, mas a senhora Heidi sempre de Celmíades, senhora.
– Sou uma guerreira como meus companheiros Celmíades e nosso respeito é mútuo, afinal a Conquistadora é uma guerreira também. Atuo como uma sanadora, este é o sinal de minha qualificação e servir no exército não é diferente de qualquer outro lugar, quer dizer, temos nossas obrigações e as cumprimos da melhor forma. Estávamos estacionados em Mosinia quando recebemos ordens de fazer esta viagem de recrutamento. Parece que existem alguns jovens desejosos de servir entre os Falcões e o Capitão gosta de viajar, então aqui estamos. Você gostaria de ser um Falcão?
– Eu não posso, senhora. Sou um escravo e apenas homens livres podes servir ao exército. Mas Néia sabe que quando eu for maior, o senhor Aristeu vai permitir e irei aprender a lutar para proteger as pessoas que amo.
– É um grande feito proteger aqueles que amamos Celmíades. Os Falcões protegem sua majestade e o exército protege o povo que é quem a Imperatriz busca defender. O povo da Grécia. Néia estava me falando disso agora a pouco. A Sua senhora é muito cortes Néia, mas parece estar desejosa que a noite acabe. Está tudo bem?
– Acho que sim. Desde que o Senhor viajou ela tem dormido pouco e entre o assalto dos bandidos e a doença da filha não sei como ela se mantém. Com sua permissão devo voltar ao salão e servir o vinho fresco, pois não gostaria de ver minha senhora zangada.
– Claro que não! Vamos.
Dando passagem à escrava, Xena volta ao salão com o jarro de água e serve Heidi e Dínia , oferecendo para servir Xilant num profissionalismo militar.
– Água, Capitão?
Xilant nega colocando a mão sobre sua taça. Certamente não sargento, mas apreciaria um pouco mais deste vinho maravilhoso. Acredito que deveríamos levar alguns barris para a Conquistadora , isso poderia melhorar e muito as reuniões de instrução. O que você acha?
– Eu não tive oportunidade de experimentar senhor, pois estou designada para o turno da noite.
– A sargento Ohana é uma especialista em vinhos, senhora. Sua família possui vastas plantações de vinhedos na região de Corinto , explica a Heidi com um sorriso intrigante no rosto.
– Seria de grande ajuda termos a palavra de uma especialista aqui. Por favor sargento, prove e nos dê sua opinião pois estamos tentando melhorar a qualidade

das uvas e do vinho a algumas gerações e acredito que o Capitão não iria se opor a ajudar a melhorar a produção agrícola do reino. Certo Capitão?
– Corretíssimo senhora. Vamos sargento, não podemos ofender tão graciosa anfitriã e a Conquistadora não aprovaria que seus Falcões cometessem tamanha grosseria.
Colocando-se em prontidão, Xena busca atender Xilant como dita o protocolo militar.
– Sim, senhor!
Servindo-se de uma taça a Conquistadora derrama um pouco do vinho tinto e toma um gole, fazendo a bebida demorar-se em sua boca para sentir completamente o sabor.
– É um vinho de excelente qualidade, senhora. Está maduro possuindo uma acidez que o qualifica entre os melhores do Império e certamente é digno de fazer parte da adega da Conquistadora . Enquanto dizia seu parecer, Xena fazia sinais para Xilant que continuava a observar Neusa e as pequenas trocas de olhares com a dona da casa
– Muito bom sargento, diz Dínia . Estarás de sentinela esta noite sargento, então não vá provar o resto do jarro e volte agora ao seu posto a menos que deseje servir no resto da noite prestando algum serviço a casa de Aristeu de Larinia, complementa sua ordem de forma jocosa.
– Sim, Tenente.
– Desculpe senhora, mas os sanadores as vezes precisam ser lembrados de suas outras funções.
– Certamente senhor.
Xena não tinha se afastado da mesa quando Heidi percebe o que havia sido dito e com um brilho estranho nos olhos pergunta a Dínia sobre as qualificações e competências de Xena.
– A sargento é uma sanadora?
– Sim. Os Falcões sempre viajam com um e a nossa é uma das melhores, embora ela imagine que seja a única a costurar ferimentos deixando uma cicatriz quase invisível.
– Tenente, eles são versados nas doenças em geral ou apenas nos ferimentos de batalha?
– Responda a pergunta da senhora, sargento.
Colocando-se em prontidão para sua Tenente a sargento fita diretamente os olhos de Heidi.
– Somos versados em todo tipo de doença, senhora, mas os ferimentos são os serviços mais requisitados na unidade.
– Capitão, seria possível sua sanadora atender alguém do povo? Eu pagaria muito

bem pelos seus serviços, qualquer coisa que o Senhor ou ela desejarem.
Consultando Xena discretamente, ela consente enquanto volta ao seu posto de sentinela próximo a porta de entrada.
– Creio que a Conquistadora não se importaria e a sargento precisa ampliar sua atuação com mais dinamismo mas pode ser que o caso em questão esteja acima de seus conhecimentos, quanto ao pagamento, creio que chegaremos a um preço justo, afinal é desejo da Conquistadora que seu exército exista para beneficiar o povo. Quem está doente?
– Minha filha, senhor. Pagarei qualquer preço, juro por Atena Higéia que qualquer coisa que solicite lhe será entregue mesmo que não obtenha exito.
– Tenente, assim que terminar seu vinho comunique a sargento Ohana que tem um trabalho a desempenhar.
– Sim, Capitão.
– Atena ouviu minhas preces! Obrigada, Capitão.
– A Conquistadora não aceitaria que fizéssemos menos, senhora.
Sem conseguir se conter por mais tempo Heidi pede licença a Xilant e vai até Neusa saber o que estava acontecendo.
– O que há?
– A febre dela aumentou senhora e em seu sono chama seu nome.
– Irei ter com ela assim que possível. Como a deixaste sozinha!?! Eu dei ordens que não deverias abandonar seu lado, vamos conversar mais tarde.
Dínia vai até Xena fingindo estar passando ordens e elas aproveitam para coordenar o conhecimento sobre a questão.
– Ao que parece, a filha de nossa anfitriã está muito doente. Pelas ervas que ferviam na cozinha a febre está preocupando mas tem mais alguma coisa nisso tudo, ela está desesperada.
– Uma simples febre não causaria alguém pagar “qualquer coisa” por um atendimento que já deveriam ter providenciado ajuda maior, eles tem recursos suficientes pra isso senhora. A doença pode ser perigosa para quem atender a jovem.
– Não creio, mas tentem saber mais da razão da ausência de Aristeu e diga para Xilant que devemos averiguar até onde Heidi pretende ir com o pagamento. Ouro e dracmas são simples de arrumar e não faria nenhuma diferença em seu patrimônio. Ela é apegada a seus escravos e eles lhe tem uma lealdade rara, vamos usar isso. Levaremos como eu e Terquien levamos Euquilar de Éfeso a três verões atrás. Devemos preocupa-la. Você usará seu posto para me pressionar a ceder aos seus encantos tenente, faremos que Néia saiba o preço que os oficiais estão cobrando.
– A Conquistadora não vai gostar deste meu comportamento, sargento e com certeza o Capitão não deixará passar em branco quando souber.
– A Conquistadora será sensível ao fato de ter se empenhado na sua missão,

tenente.
– Certo , mas se a situação ficar complicada espero que a Conquistadora lembre de quem foi a ideia.
– Certamente ela lembrará, Dínia .
– Percebendo que Néia estava se dirigindo para sua posição, Xena enquadra-se em prontidão e responde formalmente à Dínia .
– Sim, senhora . Farei o melhor possível.
Chegando bem junto a Xena , falando de forma a também ser ouvida por Néia
, Dínia sussurra de forma intimidante um ultimato.
– Agora quero uma resposta mais pessoal, Ohana. Vejo você em meus aposentos quando terminar a recepção?
– Creio que não será possível Tenente. Estarei de serviço .
– Com licença oficial? Minha senhora gostaria de saber se aceitaria um aposento para a noite ou prefere dormir com seus homens tenente?
– Olhando agressivamente para Néia de alto a baixo, Dínia se afasta sem dar nenhuma resposta.
– Eu falei alguma coisa errada sargento?
– Não, Néia. A tenente tem seus próprios pensamentos sobre a noite de hoje. Você não fez nada errado. Me foi dito que deveria cuidar de alguém do povo na casa. Quem está doente?
– Eu lhe mencionei antes na cozinha que a filha da Senhora esta muito doente. Já fizemos tudo que podíamos e o curandeiro de Abelar não sabe mais o que fazer.
Xena ia responder, quando Dínia a chama de maneira agressiva.
– Sargento!
– Com licença Néia , creio que minha noite acaba de piorar.
Ambas chegam até a mesa e Néia sinaliza para Heidi que Xena irá cuidar da menina, se retirando para um aparador e seleciona algumas frutas.
– Sim, Tenente.
– A senhora Heidi estava nos dizendo que suas escravas pessoais tem uma voz maravilhosa, sendo uma delas esta que está cantando e eu apostei que a sua é insuperável. Então, já que está de serviço esta noite, cante pra nós e me faça ganhar uma garrafa de vinho .
Pega de surpresa, Xena encara Dínia por alguns instantes .
– Vejo que a sargento ficou constrangida e isso não é realmente necessário Tenente. Acredito em sua palavra.
– Não há constrangimento algum para um Falcão em cumprir ordens, senhora.
A sargento se sentiria horada em cantar agora, não é certo Capitão?
– Com certeza. Cante pra nós sargento.
– Alguma canção especial tenente?

– A volta do guerreiro. Gosto da parte em que a Imperatriz tem olhar de Deusa e vem primeiro sempre.
Por alguns instantes tudo é silêncio, então fechando os olhos Xena começa a cantar e suavemente sua voz preenche toda a sala e se perde na noite lá fora.
Seu sague rubro deixou pela terra Defendendo sua pátria e honra Em batalhas maiores que a guerra
Ares Atena faz que o medo morra A confiança nela comandar Conquistadora da Grécia impera Golpe a golpe a morte domar
Olhar de Deusa , coragem de fera
Vai meu amor com honra Vai meu amor a lutar Vai meu amor e volta
Que te aguardo olhando pro mar
Por toda terra montanhas e vales Lado a lado com sua escolhida Gritos de guerra estratégias cantares Mais que a morte lutar pela vida Noite de luta dia de esperança Volta pra casa pra junto dos seus Dever cumprido sua soberana Força de homem e sina de Deus Sua amada no monte espera Divisa a praia pra ver seu chegar Pela areia na beira das ondas
É o guerreiro que está a esperar
Vai meu amor com honra Vai meu amor a lutar Vai meu amor e volta
Que te aguardo olhando pro mar
Mesmo que o amor lhe abrace Mesmo que o calor não falte Brilho do aço armadura lhe chama

Atenderá o convocar de sua ama Sua mulher lhe alcançará
O seu escudo , elmo e lança
Sua espada, punhal e esperança Depois do Império a ela amará
Vai meu amor com honra Vai meu amor a lutar Vai meu amor e volta
Que te aguardo olhando pro mar
Tens razão tenente, a voz dela é insuperável, não tenho ninguém que possa fazer perto disso, parabéns sargento. Foi uma aposta bem ganha capitão.
– Seja o que for que Aristeu precisou estar em Abelar, desejo que tenha sorte, pois sua casa desempenha admiravelmente a hospitalidade.
– Ele faz parte do Conselho da cidade e foi chamado para buscarem uma maneira de interromper os bandidos que assolam a região. Já enviaram uma comissão à Larinia para discutir a questão sem muito resultado, agora estão organizando uma milícia com parte dos homens de cada proprietário e alguns cidadãos convocados.
– Bem, acredito que já é tempo de atender suas necessidades senhora e de aposentarmo-nos para a noite. Muito obrigada pela excelente recepção.
– O prazer é todo meu, Capitão. Minha casa está honrada em poder servir aos Falcões de sua majestade. Zinaide os levará aos seus aposentos concedendo o que desejarem e irei conduzi-la até sua paciente sargento, onde Néia cuidará que tenha tudo que precisar.
Assumindo sua autoridade de curandeira, Xena começa a emitir ordens assim que Heidi se prepara para deixar a sala.
– Vou precisar tomar banho de imersão, uma túnica limpa e quem estiver me auxiliando também, então Néia deverá tomar banho comigo. Mantenha sempre água fervente na cozinha para chás e providencie que o quarto seja uma sala muito iluminada, com a melhor e maior iluminação que conseguir, com um banho morno para a paciente, roupas de cama e cobertores limpos. Voltarei logo com minha sacola Néia, espere aqui para irmos juntas ao banho, a senhora pode aguardar no quarto mas não chegue perto da menina.
Heidi sai para dar as ordens necessárias enquanto Xena sai da sala em direção ao celeiro.
Zinaide acompanha Xilant e Dínia até os quartos, onde no canto esquerdo uma mesa com jarro de vinhos e uma cesta com pão, queijo e frutas estavam disponíveis. No centro do quarto uma cama ampla e macia, coberta com lençóis brancos e colcha

colorida, com um cobertor cinza dobrado nos pés e no canto à direita, num nicho, uma banheira de mármore branco com água quente saindo de um cano na parede . A banheira era do tamanho da cama e enterrada no chão em uma profundidade de cinco pés e sua borda ficava um pé alto do chão, ao lado de um pequeno divã com toalhas limpas que aguardavam os hóspedes.
– Se os senhores precisarem de mais alguma coisa basta puxar a corrente ao lado da cama que serão atendidos prontamente. Boa noite, Capitão.
– Obrigada, diga a sua senhora que tudo está muito aprazível. Boa noite Zinaide.
Tenente, entre um instante para repassarmos suas ordens para amanhã.
– Sim, senhor.
Fechando a porta, Xilant pergunta apressado.
– Você ficou louca? Você passou dos limites Dínia . Faze-la cantar em público?
O que você pensou que estava fazendo?
– Ordens dela Xilant, mandou que eu a assediasse.
– Mas faze-la cantar em público?!?!!
– Foi só o que me ocorreu no momento. Acho que durante sua função com a menina terminará de criar pânico na escrava pessoal da dona da casa.
– Vamos deixar a situação se acalmar por agora, que a água está esfriando. Na madrugada vá até o quarto da menina ver se ela tem mais instruções pra amanhã e devemos considerar sorte que conservemos nossas cabeças sobre os ombros depois disso tudo. Boa noite Dínia .
– Boa noite, capitão.
Quando Xena retornou, Néia a esperava apreensiva.
– Estou a sua disposição para o que precisar. Tudo está encaminhado conforme a senhora solicitou e seu banho já está preparado.
– Nosso banho, Néia. Mostre o caminho e se vai trabalhar comigo preciso que deixe de formalidades quando estivermos atuando, deves dizer o que quiser, perguntar o que achar necessário.
– Néia concorda balançando a cabeça e enquanto seguem para a sala de banhos fica em silêncio repassando a situação de Raysa .
– Não se preocupe, será um banho rápido e completo, necessário para não contaminar a jovem com alguma sujeira da estrada. Não farei nada impróprio com você e a Conquistadora não permite que seus soldados abusem do povo.
-Eu sou apenas uma escrava e a senhora Heidi pode não acreditar que seria contada como parte do povo.
– Mesmo visto desta maneira, seria propriedade de Aristeu e recebi ordens de ajudar a menina.
– Sim senhora, não quis ofender.
– Não me ofendeu, Néia. Você é uma mulher bonita e tenho certeza que

encantadora, mas no momento estou interessada em realizar minha missão.
– Chegando ao quarto de banhos, Xena tira sua roupa e senta em um banco, fazendo sinal para Néia que fizesse uso do outro. Uma escrava derrama água morna sobre ela, ensaboando seu corpo e seu cabelo, enxaguando logo a seguir.
Xena aponta para Néia , usando o tom de voz que não admite hesitações.
– Ela também deverá ser limpa, recebendo o mesmo tratamento e consideração que darão a mim.
As escravas do banho piscam duas vezes e se movem a cumprir o determinado. Haviam sido instruídas que nada deveria ser negado a esta mulher. Entrando na água, Xena afunda e se deixa lavar por inteiro novamente. Néia a imita em tudo.
Vestindo a túnica limpa, manda empacotar suas roupas e entregarem nos aposentos da Tenente Dínia . Antes de sair com Xena , Néia diz algo ao ouvido de uma das atendentes que silenciosamente concorda e vai com as outras recolher os apetrechos de banho.
– Vamos ver esta paciente Néia.
Néia caminha rapidamente, sendo seguida pela Conquistadora até um aposento totalmente iluminado com archotes estrategicamente nas paredes, velas e lanternas espalhadas por todo cômodo. Na ampla cama ao centro uma jovem de uns vinte verões dormia respirando com dificuldade. Ao seu lado, sentada na cama estava a mulher que Xena vira conversando com Heidi na porta da sala de jantar, mas apresentando um hematoma na face direita que não estava ali mais cedo.
Heidi veio recebe-la.
– Espero que tudo esteja de acordo com sua recomendação sargento. As roupas de cama e as toalhas limpas estão ali na mesa e o banho já está preparado com a banheira cheia de água morna.
– Quem tem cuidado dela?
– Todos nós, mas Neusa tem ficado com ela na parte da noite.
– Preciso falar com todos, agora.
Mandando chamar todas as atendentes de Raysa, Heidi ficou aguardando.
– Quando ela ficou doente?
– Começou a sentir-se indisposta quando voltou do festival em Abelar na última lua cheia.
– O que exatamente ela sente?
– Tem referido dor de cabeça, febre alta, dor atrás dos olhos principalmente na luz, dores por todo o corpo e estas manchas vermelhas pelo corpo.
– Quando começou a febre?
– Desde a última lua nova que tem tido febre, mas tem piorado nos últimos dias.
– O que disse o sanador de Abelar?
– Ele a examinou mas não encontrou a causa da dor. Mandou tomar um chá

de melissa para baixar a febre e deixa-la dormir o máximo que puder.
– Só isso? Nenhum outro procedimento ou medicamento?
– Não, só isso.
– Senhora, até onde posso ir para tratar sua filha?
– Como assim sargento? O que quer dizer?
– Eu posso atendê-la, mas precisarei de total autoridade neste caso. Deve ser feito o tratamento que eu prescrever, sem controvérsias ou discussões, pois já foi perdido muito tempo e não pretendo me explicar a cada procedimento.
– Tudo será feito conforme a senhora determinar. Tem minha palavra, eu juro!
– Neste caso escutem bem, pois não vou repetir. Toda pessoa que entrar neste quarto deverá pedir permissão para mim ou Néia, sem exceções. Você, você e você, disse Xena apontando para três jovens escravas, ficarão responsáveis por este aposento ser limpo. Esta mesa e o chão deve ser esfregados com escovões, panos e água quente e muito sabão. Néia, você providenciará que seja substituída a roupa de cama quando a moça for removida para a banheira, a roupa retirada será lavada e fervida e vocês irão à sala de banhos, e somente sendo completamente lavadas para voltar aqui. Só será permitida a entrada de quem tenha se banhado. Ficarão à disposição na porta do aposento o resto da noite.
Virando-se para Heidi, entrega um punhado de ervas.
– Providencie que seja feito um chá com estas ervas e que venha uma garrafa de retsina. Mande preparar uma sopa com legumes e carne que deverá cozinhar por pelo menos uma marca de vela e quero um jarro de água fervida já esfriada sobre a mesa. Todas as outras pessoas devem sair daqui. Por enquanto é isso.
Chegando junto à cama coloca a mão em Raysa, na sua testa e no pescoço.
– Néia, deixe-a nua que vou leva-la ao banho, então providencie para que a luz fique sobre a mesa. Vou examina-la ali.
Tirando a roupa da menina, Néia se surpreende com a força da sargento quando ela levanta Raysa facilmente e a leva para a banheira entrando com ela na água, sem se importar em ficar molhada quase até o pescoço. Fazendo sinal para levarem a roupa de cama embora, pega o lençol limpo organiza tudo.
– Ajudem com os archotes! Vocês estão esperando demais para começar a limpar este quarto, limpem esta mesa agora !
Passado meia marca de vela, Xena sai da banheira colocando Raysa de costas sobre a mesa, mandando Néia seca-la e aproximar as lanternas, iluminando a moça completamente, enquanto ela trocava de roupa e secava seu cabelo.
Lentamente examina toda a pele da moça dos pés à cabeça, virando-a com cuidado executa o mesmo procedimento novamente, por todo o corpo.
– Afasta o sobre lençol e o travesseiro, Néia.
Espera Néia executar sua ordem e coloca Raysa na cama, tapando-a com

cuidado.
– Onde estão a água, a retsina e o chá?
– Estão sobre o aparador, senhora.
– Alcance minha bolsa.
Indo até o aparador Xena prepara um emplastro que coloca delicadamente nas costas de Raysa, meio pé abaixo da linha da cintura e adiciona um pó no fundo de uma taça acrescentando duas medidas de retsina, mexendo bem.
– Quando ela acordar, agite bem o conteúdo e faça que beba isto até o final. Ela deverá beber meia taça de chá logo em seguida, acrescente mel ao chá que irá facilitar. Massageando cada ponto de energia, estava revitalizando a circulação, fazendo com que o corpo de Raysa respondesse mais rapidamente ao tratamento.
– Quando a sopa chegar espere que esteja bem acordada e ofereça, fazendo que ela aceite pelo menos seis colheres.
Fazia duas marcas que estava examinando e atendendo Raysa, quando Dínia furiosa, parando uma das escravas da porta que havia iniciado um movimento para detê-la, exige a presença da Conquistadora imediatamente.
– Se você tocar em mim, perderá a mão! Sargento!!!
– Estou aqui tenente, aguarde um momento, por favor. Precisa de alguma coisa, senhora?
– Que significa isso, disse apontando para a escrava que tentou impedi-la.
– Determinei que apenas pessoas banhadas pudessem entrar no aposento. É pelo bem da menina.
Chegando perto da cama para olhar a jovem doente, Dínia se posiciona atrás de Xena , olhando por sobre seu ombro.
– Eu já me banhei e sim, preciso de alguma coisa. Minha sentinela não está em seu posto, eu estou necessitando de uma massagem nas costas e a sanadora do pelotão não está disponível em meus aposentos.
– Eu estou atendendo a jovem, conforme as ordens tenente.
– Vejo que a moça está bem acomodada, então suas ordens mudaram. Termine o que está fazendo e apresente-se imediatamente ou será interpelada por desacato e nem a Conquistadora em pessoa iria interferir com uma ação disciplinar.
Posicionando-se em prontidão, Xena responde à Dínia, ao mesmo tempo que dá as últimas instruções à Néia.
– Sim, senhora. Néia, se ela tiver febre, coloque compressas frias com álcool nas axilas e na testa dela e mande me chamar imediatamente.
Dínia acha graça da própria piada e volta para seus aposentos rindo sozinha, ignorando os olhares de medo que a acompanhavam por todo o corredor.
– A senhora vai sair? Vai ir ter com ela?
– Sim. Não fui dispensada de minhas funções, portanto tenho que voltar ao

meu posto como sentinela na porta da tenente e do capitão.
– A senhora deveria atender a menina e isto poderia levar a noite toda. Ninguém saberia!
– Mas não levou Néia, então já que fiquei com a guarda interna esta noite devo assumir minha posição.
– O que ela pretende não tem nada a ver com o dever da guarda, tem?
– Provavelmente não, mas ela não me tocaria sem meu consentimento. Está preocupada comigo, Néia?
– Ela é sempre assim? Pode ordenar que a sirva pessoalmente como uma escrava?
Você é livre, isso não está certo.
– O que eu disse pra você também vale para nós. No exército, usar o posto para ordenar servir a um superior desta maneira é uma violação grave da confiança da Conquistadora no oficial, em alguns casos punível com a morte. A Conquistadora possui leis severas contra estupro e poderia considerar tal violação de sua confiança uma forma de estupro . A tenente sabendo disso irá circular, rosnar, sugerir, assediar mas não dará uma ordem direta. Você pensa que eu não deveria cumprir meu dever?
– Desculpe, senhora. Eu apenas pensei que poderia usar este tempo até a alvorada para descansar um pouco.
– As coisas não funcionam assim entre os Falcões Néia. Eu não deixaria um irmão sobrecarregado com meu trabalho apenas para descansar. Farei mais cinco doses deste preparado que deve ministrar a cada marca de vela. Amanhã com a luz do sol verei com mais vagar um tratamento mais profundo. Boa noite Néia.
– Boa noite senhora.
Xena pede a uma das escravas que esfregavam o chão perto da porta a indicação de como chegar aos aposentos de Dínia e rapidamente se dirige para lá, entrando direto encontra-a olhando para fora pela janela do quarto.
– Não querendo receber uma interpelação disciplinar, estou me apresentando conforme ordenado tenente. Deseja atenção para suas costas ou que eu cante pra você dormir, talvez?
Dínia imediatamente se coloca em prontidão e inicia um pedido de desculpas.
– Me desculpe senhora, mas precisava saber se tinha mais instruções, eu não quis ser desrespeitosa, majestade.
– Na facilidade Dínia , fizeste muito bem, a canção me surpreendeu, mas foi bem colocada. Parabéns. Acredito que já lançamos bases para que meu disfarce seja convincente.
– Como está a menina? Pela forma que a escrava reagiu, pensei que fosse me atacar, quando disse que saísse de lá e viesse ao meu quarto.
– Néia está preocupada comigo e terá a noite toda pra remoer isso. A loirinha está com a febre controlada, mas esperará até amanhã para um diagnóstico e tratamentos

mais precisos, aparentemente foi envenenada. Agora vamos dormir um pouco para que eu possa assumir meu posto no corredor mais tarde, me acorde se chegar alguém. Tirando sua túnica, Xena deita e adormece pensando em outra loira de vinte verões que estará em Corinto aguardando seu retorno. Algumas marcas depois,
Dinia a acorda e ela se coloca alerta.
– Conquistadora ! Passos no corredor, estão vindo pra cá, o que deseja que seja feito majestade?
– Fica na janela Dinia e se for o caso, procura dispensar-me com muita má vontade para atender a menina. Xena imediatamente salta da cama e colocando sua túnica assume a posição de sentinela junto à porta, enquanto Dinia fica olhando para fora, debruçada na janela.
– Sargento, Néia mandou chama-la. Raysa está novamente com febre e ela já tomou as providencias determinadas pela senhora, no entanto a febre não cede, continua subindo.
– Está quase na alvorada Neusa, terei de esperar a troca de guarda, então poderei visitar a jovem, infelizmente agora é impossível. Diga-lhe que mande preparar outro banho igual ao de ontem e um copo de leite de cabra com mel. Assim que possível estarei lá.
– O que está acontecendo Sargento?
– Estou sendo chamada aos aposentos da menina, Tenente.
– Vai. O Capitão gostaria que ela fosse atendida da melhor maneira possível e tua companhia tem sido inútil. Dispensada
– Sim senhora.
Xena encaminha-se aos aposentos de Raysa em passos largos e definidos aonde chega tomando ciência da situação.
– O que está acontecendo Néia? Ela tomou a sopa? Quantas doses foram ministradas? Preparem o banho e troquem novamente a roupa de cama. Rápido!
Indo ao aparador, Xena tenta uma mistura diferente de ervas e manda providenciarem um chá enquanto prepara mais duas doses do pó com retsina, e um novo emplastro com giesta e ginko. Equilibra uma infusão de ginseng que deverá ser consumido em uma colher pequena agora e no início da noite.
– Ela conseguiu segurar meio prato de sopa sargento, chegou a tomar três doses do medicamento e a febre que surgiu a pouco não teve maneira de ceder, por isso mandei chama-la conforme a senhora determinou.
– Fez bem.
Levando Raysa para a mesa que agora estava totalmente iluminada com a luz da manhã, começou a examinar detidamente cada espaço de pele, confirmando sua percepção anterior de que haviam duas pequenas perfurações paralelas, indicando uma possível picada de aranha, nas costas, meio pé abaixo da linha de cintura , sob

o emplastro. Tomando a jovem em seus braços a Conquistadora mergulhou-a na água tépida e lá ficou por bastante tempo.
Ao seca-la percebeu que as manchas avermelhadas que se espalhavam pelo corpo não tinham a ver com a picada, mas era proveniente do contato com algum tipo de planta, provavelmente Heraclitea, uma erva trepadeira e rasteira facilmente confundida com Glechoma, e que pode provocar reação alérgica se em contato prolongado com a pele e em alguns casos pode até matar, pois produz febre alta e fechamento da garganta e vias respiratórias. A combinação da picada do animal e a alergia produziu um quadro confuso e perigoso.
– Néia, faça que ela se alimente e tome os medicamentos no tempo devido, impedindo que volte a dormir. Ela deverá ficar acordada o maior tempo possível e pelo almoço deverá ser trocado o emplastro em suas costas. Quando a senhora Heidi chegar, passe para ela as instruções e vá dormir, certamente não serás de nenhuma utilidade esgotada.
– Agradeço sua preocupação sargento, mas não será possível. A senhora Heidi não permitirá que eu me vá enquanto a menina não ficar boa.
– É para fazer como digo, assim determinou sua senhora e assim determino agora. Tenho de ir prestar relatório ao Capitão do estado da menina e me retirar para
o alojamento no celeiro, pois também não serei de grande ajuda se estiver cansada. Bom descanso Néia.
– Obrigada sargento, muito obrigada.
Xena entra diretamente nos aposentos de Xilant que já estava reunido com Dinia.
– Bom dia majestade.
– Bom dia Xilant . Dinia. Vamos permanecer aqui um pouco mais, pois quero ver como a menina reage ao tratamento e aproveitaremos para nosso pessoal saber o máximo sobre estes bandidos que tem atacado a região. Conversem com os servos, escravos, todo mundo. Não é possível que isso ocorra por tanto tempo sem que as autoridades tomem providencias. Deve haver alguma coordenação nisso.
– Como está a menina, majestade?
– Ela ficará bem, parece que foi envenenada por Heraclitea, que ocultou as marcas da picada de uma aranha. O que está me intrigando é o motivo do sanador não perceber logo e ainda prescrever o medicamento incorreto . Embora alguns dos itens que usei não estejam disponíveis, existem outras combinações que são de fácil acesso para amenizar o quadro e tudo que ele fez foi receitar melissa e sono. Quero saber se é incompetente ou tem alguma intenção oculta em deixar esta família no desespero por algo que seria amenizado com o tratamento adequado e por que esta família em especial.
– Como gostaria de prosseguir?

– Aproveitemos que os Falcões não ficaram conhecidos na casa e mande imediatamente dois à Abelar para averiguarem discretamente tudo que existe sobre ele, sobre a elite da cidade e mais alguns Falcões disfarçados de viajantes, devendo você partir com seu grupo em dois dias. Télio e Fabíola devem ir como um casal abastado em viagem, procurando um lugar para se estabelecer, podem ser tomados por ricos comerciantes de Abdera. Quero esta casa ligada a nós e ontem despachei um mensageiro à Corinto para o nono pelotão da primeira unidade vir sem insígnias, disfarçados como homens da casa de Télio e outro despacho para a guarnição com ordens do grupo zeta encontrar vocês diretamente em Abelar , iniciando o cadastramento de candidatos aos Falcões e assim que a menina estiver fora de perigo deixarei um grupo aqui e seguirei para Abelar, onde chegaremos ao fundo disso tudo.
– Ficaremos na pousada como previsto?
– Nos encontraremos na pousada de Cortian e desejarei relatório completo da situação, Xilant, agora deixe que eu termine meu turno, a tenente deve ir dormir e eu farei o mesmo, só que no celeiro.
– Mas, minha senhora aqui seria mais confortável!
– Sim, mas sua reputação estaria em perigo e nós não queremos isso capitão.
– Vou mandar os homens se misturarem com os servos auxiliando nos serviços do campo e buscando informações e você faça um bom trabalho com seu cavalo quando acordar, sargento.
– Sim, senhor.
Horas mais tarde, mantendo seu disfarce, Xena vai dar atenção a Giltar levando-o para uma sombra sob a árvore e escovando seu pelo com cuidado. Estava na metade do trabalho quando percebe Celmíades sentado na cerca, olhando com interesse.
– Gostas de cavalos Celmíades?
– Sim senhora. Seu cavalo é o cavalo mais bonito que já vi, mas acho ele muito

alto.

– Parece que você não viu muitos cavalos de guerra então. Eu não sou uma

pessoa baixa Celmíades, então acredito que Giltar e eu somos adequados um ao outro.
– Sim senhora, mas ainda acho que ele é mais bonito que todos os outros . Eu cuido dos animais e estou aprendendo a ser domador. Até ajudo a treinar a égua negra da Raysa que está tentando fazer Inora atender seu comando. Ela é arisca mas está pegando o jeito de vir quando chamada e é muito interesseira por maçãs e cenouras. Eu sempre a escondo quando os bandidos aparecem, para que não queiram levar Inora, por que Raysa a conhece desde que aprendeu a buscar a cenoura em sua mão, quando era uma potrinha. Eu era uma criança naquele tempo e carregava as maçãs pra ela.

– Quanto você era uma criança? Faz muito tempo então.
– Celmíades! Estás incomodando a sargento com histórias?
– Não pai, estava dizendo que Giltar é um grande cavalo.
– Realmente, é sim. Boa tarde, senhora, espero que Celmíades não tenha lhe incomodado. Eu sou Heitor e vim verificar se precisava de alguma coisa sargento.
– Boa tarde Heitor. É um grande garoto o seu.
– É sim. Ele tem um prazer e alegria nos olhos quando se trata de cavalos.
Desculpe se a incomodou sargento, cuidarei para que não torne a fazê-lo.
– Não, está tudo certo. Estávamos conversando e ele mencionou bandidos na região, como acontece isso e ninguém toma providencias?
– Nunca chegaram na propriedade a não ser alguns sumiços ocasionais de ovelhas nas colinas ao norte, mas é só questão de tempo até resolverem testar suas forças aqui. Eles agem de maneira violenta, vindo das montanhas e enviando sempre um batedor com um ultimato para que sejam entregues suprimentos em alimentos, bebidas , armas e algumas escravas para seu uso por um tempo.
– Mas entregam assim, sem lutar?
– As consequências da negativa seriam piores para todas as pessoas da propriedade que serviriam de desporto para os homens, então fomos orientados pelo Conselho a seguir as instruções dos atacantes sem mostrar resistência. Eles viriam e iriam embora como uma chuva de verão.
– Como uma nuvem de gafanhotos ou matilha de lobos, isto sim.
– Nós não teríamos como evitar nenhuma das três pragas, precisamos nos adaptar e fazer o melhor para sobreviver.
– Até que se consiga uma ajuda da Conquistadora , pai. Tenho certeza que se ela soubesse o que acontece aqui iria intervir e dizimar estes parasitas como fez em Amphipolis.
– Isto foi antes de tu nasceres, como sabes do que aconteceu?
– Minha mãe me contava histórias, sobre a Princesa Guerreira e como lutava pra defender o povo de gente assim, sargento.
– Celmíades, Neusa está chamando.
– Sim pai. Tenho de ir agora, mas se precisar que tome conta de seu cavalo é só falar Sargento.
– Falarei Celmíades, obrigada.
– Por favor, ele é uma criança sargento e não teve intenção de ofender. Minha esposa é de Tiréia, uma pequena vila na região da Macedônia e enche a cabeça dele com histórias sobre quando a Conquistadora começou o Império.
– Sua esposa conhece a Conquistadora pessoalmente?
– Não, mas estas histórias são divulgadas amplamente na região da Macedônia e por muitos verões os bardos da região vêm transformando as campanhas da

Conquistadora contra os diversos bandoleiros da região e invasores estrangeiros numa ode à sua capacidade de liderança e estratégia. Por favor, sargento, perdoe meu menino chamar a Conquistadora de Princesa . Ele é um adorador incondicional de sua majestade.
– Não há o que desculpar, ela já foi chamada assim, embora eu aconselhe que não deixe que os outros Falcões ouçam isso.
– Sim, certamente sargento, falarei com ele. Muito obrigada.
Fale mais destes ataques. Por que disse que era questão de tempo vir aqui?
– Eles já atacaram os vizinhos e com a viagem do patrão a propriedade pode parecer estar vulnerável.
– Parecer?
– Bom, a senhora Heidi é espartana e não se entregaria sem uma boa luta.
– Vocês tem homens suficientes para reagir?
– Não, mas isso não a impediria de tentar e nós lutaríamos de bom grado para defender sua casa, embora poucos tenham habilidade de manejar uma espada e escravos somente podem utilizar uma com ordem do proprietário.
– Você foi um soldado?
– Tive minha cota de batalhas, mas os destinos decidiram diferente a meu respeito.
– Nós que fazemos nosso destino Heitor.
– Pode ser. Me foi indicado que deveria providenciar qualquer coisa que desejasse sargento. Posso oferecer algo para seu conforto?
– Não, obrigada Heitor. Estarei de serviço daqui a pouco e quero terminar de atender Giltar.
Então, boa tarde senhora e não hesite em falar se precisar de algo. Boa tarde, Heitor.
Conversando sob um caramanchão ao final da tarde, Xilant e Dinia tentavam traçar as atitudes que deveriam manter sobre a situação que viria.
– Como será feito o turno da noite, capitão?
– Milenti e Gaius farão a sentinela de nossos aposentos, Ohana permanecerá com a menina a noite toda e Hisar cuidará de coordenar a área externa.
– Esta menina tem muita sorte.
– Tomara que Aristeu seja tão inocente quanto parece, pois detestaria tomar atitudes retaliatórias aqui.
– Ela faria isso depois de todo este trabalho que está tendo para salvar a garota?
– Você é muito jovem para lembrar. Em Selenik no noroeste da Macedônia, quase divisa com Iliria, ela havia dado a escolha de enviarem um terço dos grãos, cavalos e armas ao nosso exército, permitindo ainda alistamento voluntário nas fileiras. Eles aceitaram porém quando entramos na cidade, nos receberam com uma

emboscada, fechando as saídas com carros cobertos de feno, uma chuva de flechas incendiárias caiu sobre os carros e sobre nós. Ela saltou com Giltar sobre um dos carros, rompendo as cordas dos arcos com o chakram e retirando um dos carros do caminho por onde saímos.
– Mas como foi que venceram a aldeia?
– De noite fomos com a infantaria e capturamos todos os homens da cidade e pela manhã crucificamos todos os velhos do Conselho e os líderes do ataque, garantindo que os sobreviventes assistissem até o último suspiro de cada um deles. Todos os homens que ficaram vivos foram açoitados, as mulheres e os jovens acima de doze verões receberam uma surra de deixar marca por vários dias com todos recebendo um colar de escravos. Ela fez todos jurarem lealdade e obediência a ela e por sua traição, ficando todas as crianças, até os bebes também condenados à escravidão. Quando completassem treze verões deveriam receber o colar que os marcariam como sua propriedade. Uma cidade inteira de escravos Dinia, por todas as gerações até que sua ira se aplaque e isso ainda não aconteceu.
– Até hoje?
– Sim. Já a vi jantar alegremente com homens que crucificaria na manhã seguinte e permitir que uma mulher se deitasse com seus generais na promessa de que se ela os agradasse o suficiente a deixariam viver ou sua família e nunca era o suficiente Dinia, fizesse o que fizesse. Então como pode ver, ela não teria problema nenhum em punir todos se encontrasse motivo pra isso.
– Ela é a Conquistadora e sabe muito bem os motivos do que faz . Mesmo com pena eu executaria todos os seus comandos Capitão.
– Sei disso. Todos nós faríamos Dínia. Vendo Xena passar no corredor entre as arcadas, Xilant chama interrompendo seus pensamentos.
– Ohana! Venha aqui um instante.
Xena acelera o passo e chega junto aos oficiais reunidos.
– Sim, capitão?
– O que cobraremos por seus serviços?
– Você dirá à Heidi que é do interesse da Conquistadora que uma casa como a sua prospere, então recomenda que eu seja comedida e deixe o preço a teu critério e será pago à Conquistadora , uma vez que meus serviços foram prestados durante uma missão oficial, me sendo permitido escolher apenas uma pequena parte do mesmo.
– Certo, mas quanto?
– O pagamento deve ser feito hoje e será quatro escravos e três cavalos de nossa escolha a ser feita também hoje. Quero a vida de Celmíades , sua família e Néia com os dois cavalos negros preferidos do menino, mais a égua pertencente à filha de Heidi. Que ele e sua família possam continuar aqui na propriedade como mão de obra arrendada, devendo ser muito bem tratados, uma vez que são propriedade de

uma Falcão da Imperatriz. Tratados como se fossem livres e o valor do arrendamento ser enviado em correio selado todo primeiro dia de lua cheia para Corinto .
– Mais alguma especificação?
– Acrescente em tuas ordens que ele deve ser treinado como Falcão pelo grupo que ficar e enquanto eu permanecer, deverei dedicar uma marca de vela diariamente ao menino. Ele tem potencial que quero ver desenvolvido corretamente. Néia será a minha pequena parte, devendo ir para Corinto quando eu partir daqui, sendo encaminhada para Siana. A partir de hoje, quanto a organização da casa e dos domésticos, a dona da casa terá de treinar outra, esta é minha e ficará em teus aposentos, que passarei a ocupar plenamente com tua partida na próxima mudança de lua. Dínia, comece a me cercar novamente e acrescente investidas em Néia. Vamos faze-la suar e se preocupar com seu futuro a ponto de dizer qualquer coisa que quisermos saber na esperança de evitar receber ordens no sentido de te servir mais pessoalmente.
– Creio que posso fazer este arranjo para o pagamento de seus serviços logo, na refeição da tarde e comunicar que partirei em breve com uma força para Abelar. Já decidiu quem ficará?
– Você vai, então Dínia fica comigo. Deixo ao critério de vocês a divisão do grupo e tenha cuidado com o Conselho, pois pode haver traidores entre eles.
– Certo.
– Ficarei aqui com metade do grupo para acompanhar o restabelecimento da menina e manter o disfarce, vamos ficar com esta posição como primeira linha de investigação e ao mesmo tempo oferecer alguma segurança contra estes cretinos que tem grassado na região. Quero uma atitude quanto a isso e saber o que já foi feito. Agora com sua licença, capitão devo ir até a cozinha verificar o procedimento dos chás e coisas necessárias para minha paciente.
Uma marca de vela depois, Xena entra no quarto de Raysa em silêncio, por uma porta lateral não vigiada e se instala numa poltrona confortável em um canto observando o vai e vem das atendentes, quando uma deixa cair um cacho de uvas e displicentemente junta-o do chão, chutando umas uvas soltas para debaixo de um aparador no canto oposto, seguindo seu caminho.
Erguendo-se de seu lugar, Xena surge por detrás das escravas paradas na porta principal.
– Onde está Néia?
– Esteve aqui desde o meio da tarde, mas foi chamada para a sala principal e ainda não retornou senhora.
Xena sabia muito bem o que devia estar acontecendo, restando aguardar a atitude que Néia teria.
Raysa sentou-se na cama, com alguma dificuldade, mas falando de forma mais

tranquila solicitou um pouco de água.
– Como está se sentindo, Raysa ?
– Faminta e com muita sede. Quem é você? Uma nova escrava da casa?
– Meu nome é Ohana e sou sargento do primeiro pelotão do exército da Conquistadora , sua sanadora por algumas noites. Você estava muito doente, lembra de alguma coisa deste tempo?
– Lembro de estar flutuando com Néia e uma Deusa de olhos azuis veio me sustentar na água, fazendo toda dor ir embora.
– Bem que tentei, mas não me fizeram Deusa ainda. Tivemos vários encontros na água nos quais você foi sustentada por mim, sendo a única maneira de controlar sua temperatura. Vocês providenciem alimento pra ela, algumas frutas como maçã e laranja vinda de Chin seria bom. Andem logo , não fiquem aí me olhando como parvas!
– Não sabemos o que é laranja, senhora, mas existem bagas maduras, se desejar.
– O que desejo é que atendam a moça! Cadê a água fervida que mandei estar aqui permanentemente? Chamem Néia aqui imediatamente e não me importa que ela esteja atendendo a Conquistadora em pessoa, quero ela aqui agora ! Mexam-se!
Em pouco tempo Néia chega acelerada pelos corredores.
– Aqui estou, senhora.
– Nossa paciente estava sozinha com estas imbecis. Onde você estava?!?
– A senhora Heidi me chamou na sala grande a uma marca de vela atrás e não pude vir antes.
– Agora você conseguiu? Precisava que eu a chamasse??? Deixei a coordenação dos cuidados da jovem com você por que acreditei não precisar estar fiscalizando sua atuação Néia . Estou decepcionada.
– Foi dito que a senhora da casa exigia minha presença imediata e tanto a tenente
, o capitão, quanto a senhora Heidi disseram que a partir de agora sua palavra teria prioridade para mim sobre todas as demais, não apenas por tratar-se da jovem Raysa, mas por que agora eu seria sua propriedade. Peço que me perdoe minha senhora, eu apenas cumpria com ordens recebidas.
– Então o Capitão aceitou meu pedido . Cuide que Raysa seja alimentada primeiro com frutas e depois com batata esmagada com nata batida. Não usem manteiga pronta ou nata de ontem, apenas nata batida na hora.
– Sim, senhora.
– O capitão disse que cobrou por meus serviços em bens e eu poderia ficar com apenas um deles. Escolhi você, não me decepcione novamente, pois eu não quero me arrepender de abrir mão dos três cavalos ou outros escravos Néia .
– Obrigada, senhora. Farei da minha vida seu conforto permanente, mestre.
– Veremos o quanto isso dura. Agora tenho de ir fazer meu relatório sobre a

menina e receber minhas ordens para a noite. Faça estas imbecis limparem novamente este quarto em todos os lugares. Tem pó para todo o lado e vi aquela idiota empurrar uvas caídas para baixo de um aparador. Depois providenciarei que ela aprenda o que acontece quando dou uma ordem . Que elas limpem tudo e comecem novamente cada vez que terminarem, até que eu diga para parar.
– Perfeitamente, senhora.
– Se eu entrar aqui e elas não estiverem limpando vais descobrir o peso de minha mão e elas sentirão o gosto do chicote, entendeste?
– Sim, perfeitamente senhora.
Xena sai a passos largos e velozes a procura de Xilant, desejando encontra-lo com Heidi para fazer seu papel de um só ato.
– Néia , quem é esta mulher.
– É sua curandeira Raysa, e agora é minha nova proprietária. Sua mãe me entregou a ela esta tarde.
– Mas, porque?
– Como pagamento por ter curado a menina, no entanto não sei por que eu fui a moeda, porém não tenho escolha no assunto a não ser sentir muito a sua falta Raysa.
– Também sentirei tua falta Néia , mas não brinque com fogo. Mande começar a limpar o quarto agora, por que ela é bem capaz de voltar cedo somente para pegar estas inúteis paradas e certamente cumprirá com o que prometeu.
– Tem razão menina. Vocês comecem a limpar o pó dos móveis e do chão, a noite será longa e nenhuma de nós poderá descansar.
Enquanto todas procuravam executar as ordens, Néia mandava recado para a cozinha preparar os alimentos para Raysa conforme as recomendações recebidas, e Xena se apresentava para Xilant e Dinia na sala principal onde conversavam com Heidi.
– As suas ordens capitão.
– Como está a menina?
– Elaacordoumaisdispostaefaminta. Aparentementeoperigodafebreconstante passou mas não deve ser relaxado o cuidado, precisa ser monitorada esta noite inteira. O aposento estava necessitando de uma melhor atenção, devendo ser constantemente limpo. Espero que não se importe senhora Heidi, mas irei açoitar aquelas escravas inúteis se não estiverem limpando o quarto da menina como recomendei.
– Minha palavra se mantem sargento. Poderá exigir qualquer coisa que deseje e lhe será dado. Tenho permanecido longe do quarto como solicitou, para não deixar os humores interferirem com o tratamento, então não sei como está sendo feito, porém tudo será executado tudo dentro de suas recomendações.
– Gostaria de agradecer o meu pedido ter sido aceito capitão.
– Você fez por merecer, Ohana. Sem problemas, só não vá se distrair demasiado

com sua nova aquisição e esquecer seus deveres.
– Certamente que não capitão.
– Do que estão falando capitão? Que aquisição, capitão?
– A senhora Heidi aceitou o preço cobrado pelos serviços da sargento e fez o pagamento agora, pouco antes de você chegar tenente.
– Sério? E quanto foi pago senhora? Espero que Ohana não tenha exagerado.
– Muito pouco na verdade. Três cavalos e quatro escravos jovens. Eu disse ao capitão que o sanador de Abelar me cobrava o dobro disso a cada visita e não resolveu coisa alguma e embora eu preferisse pagar em moeda, como fazia com ele, a sargento fez questão de receber em espécie. Um preço módico pela saúde de minha filha, realmente. Como pode ver sargento, se desejar esfolar cada uma das incompetentes no cuidado de minha filha eu pessoalmente mandarei amarra-las pra você.
– Creio que não será necessário, uma vez que Néia voltou ao aposento com ordens de garantir que os procedimentos sejam de acordo e ininterruptos até o amanhecer. Elas terão sorte de conseguir se mover depois de receberem uma lição, se tentarem o destino.
– Amanhã deverei seguir para Abelar, senhora mas deixarei Ohana, Dínia e um grupo para atender suas necessidades com a menina até que não haja mais perigo. Vocês podem seguir para Abelar quando estiverem certas de que Raysa está fora de perigo e aproveite o tempo para organizar o treinamento do jovem Celmíades dentro o padrão estipulado para jovens Falcões . Pode usar Néia o tempo que estiver aqui, mas ela não deverá seguir com vocês para Abelar, mande-a para Corinto com recomendações de atender Siana no palácio da Conquistadora . Acredito que tua mercadoria poderá ser mais bem valorizada se fizer um estágio junto à governanta de Sua Majestade, quando voltarmos farei com que te seja entregue em teu alojamento.
– Sim, capitão.
Aquela noite foi uma noite de descanso