Xena chegou a Corinto , ficando no seu estúdio de trabalho, em reuniões com seus assessores até tarde da noite, pois embora tenha despachado com Terquien mesmo durante todo tempo da expedição, existiam coisas que requisitavam sua atenção pessoal, deixando-a sem tempo para prazeres momentâneos e naquela noite não seria diferente.
– Terquien envie dois engenheiros à Amphipolis e mande comprar o campo do entreposto até a cidade pagando o preço justo e oferecendo à Glacinio o campo que temos em Dion, que embora seja um pouco mais afastado do porto possui cinquenta por cento a mais de território em um porto bem maior no tamanho e volume de negócios. Que ele decida tendo em mente que você poderia simplesmente desapropriar o espaço, instalando ali uma guarnição e utilizem a atual casa principal como residência do diretor, com todo conforto necessário para receber uma delegação oficial quando for o caso e façam que a guarnição tenha uma saída para o porto e

outra para a cidade, com muros acompanhando o sopé da colina. Fica determinado a sétima e a sexta unidade de Falcões , assim como um pelotão dos mais experientes de Pella e outro da Ambrasia para compor o efetivo.
– Será feito. Quem comandará? Volair ou Nadira?
– Nenhum dos dois. Usar um oficial de carreira para uma guarnição recentemente criada despertaria surpresa, ainda mais se tratando de Falcões , no entanto seria considerada como natural para uma promoção e inicio de comando.
– Quem a senhora pretende enviar?
– Creio que Xilant está fazendo por merecer. Assim que ele voltar de Pisatis terá três dias para descanso e então vamos envia-lo com sua nova comissão, devendo estar tudo pronto para sua chegada à guarnição.
– Concordo, mas Cyrene não vai gostar nada disso.
– Ela tem toda liberdade que solicitou, então não tem nada a dizer sobre a forma que decido as coisas do Império. Gostaria que organizasse a construção e a reforma da casa principal com Jorias e farei que Siana se encarregue de selecionar uma equipe para a parte residencial.
– Ele poderia morar na guarnição.
– Não. Mesmo Xilant não tendo gestão na administração da cidade além do modo militar, com jurisdição sobre as questões de segurança terrestre e portuária agirá como uma extensão da corte, inclusive como uma segunda instancia jurídica, então ele e seu pessoal irão ocupar a pousada até a reforma ficar pronta, remunerando devidamente a proprietária.
– Ao seu comando Conquistadora .
– Elthor eu quero você em Ghitio e solicite a Briontis um relatório sobre a caça às amazonas, advinda da região de Tiontes. Realmente tenho minhas suspeitas mas quero vê-las confirmadas antes de qualquer ação retaliatória.
Agora desejo um tempo a sós senhores. Boa noite.
– Conquistadora .
– Yolker!
– Conquistadora .
– Traga Gabrielle, Narda, Lease e Siana aqui.
Já fazia quase uma lua que Gabrielle sabia que seria chamada a qualquer hora e seu coração estava lhe pregando peças, pois acelerava com a ideia de ver a Conquistadora novamente. Diferente das primeiras vezes, agora não havia medo ou raiva, mas uma sensação de alívio ao pensar que veria a Senhora do Mundo novamente.
Gabrielle estava pensando que as crianças e os jovens que conseguiu salvar da cruz fizeram por merecer sua chance trabalhando vigorosamente no templo e nos jardins do palácio e nenhum deles chegou a compreender que a Conquistadora tenha mudado de ideia, embora ela ainda tenha pesadelos e calafrios com o castigo imposto

aos líderes que eles tiveram que presenciar e que ela presenciara para dar apoio à sua irmã que executaria. Ephiny novamente não falava sobre o assunto, apenas era algo que teve de realizar para poupar outra amazona de conhecer o horror de tal ato na consciência. A noite foi avançando, mas ela não conseguia dormir.
Aos poucos seu pensamento foi sendo cada vez mais conduzido por um par de olhos azuis que preenchiam a noite, como se o próprio Zeus tivesse colocado outra constelação no firmamento. Ela sabia que dia após dia sua senhora estava ocupando cada pequeno espaço de sua alma.
Gabrielle enxergava além da máscara de dominadora que a Conquistadora construíra com tanto esforço e assumia naturalmente como se fosse uma segunda pele ou segunda natureza. Não sabia o que havia feito a Conquistadora mudar de ideia sobre crucificar o grupo todo, mas era consciente de que não fora apenas seus argumentos, porém era algo que sempre surgia quando se tratava de crianças e o mesmo brilho percebia quando o tema de suas histórias era Cyrene.
A Conquistadora deixava transparecer vez por outra certo orgulho num entusiasmo mal disfarçado em um acesso de ira. Nunca foi bem entendido o fim sofrido pelos homens que pensaram em atacar Cyrene, no entanto Ephiny ou Karin não comentavam o assunto e ela não iria forçar a questão que tanto perturbava suas irmãs, mas sabia que não devia ter sido fácil ou bonito e agora tendo visto pessoalmente as maneiras antigas utilizadas, entendia o motivo.
Era visto que Xena tinha alguma questão com Amphipolis, talvez tenha conhecido a filha perdida de Cyrene, mas de uma forma ou outra a Conquistadora cuidava muito da região e novamente pensou em sua ex-proprietária, que veio a respeitar e querer como uma segunda mãe.
Gabrielle sempre que pensava em Xena via com clareza que seus olhos azuis refletiam uma inteligência e força insuspeitas, que podiam enxergar no fundo da alma e ao mesmo tempo transmitir gelo e calor ao mirar.
Lembrava-se de uma voz um tanto grave, quase sussurrante que prometia bem mais do que as palavras indicavam, tanto na alegria quanto no medo, deixava pairando no ar um universo amplo de possibilidades. Um fino fio de suor escorreu por sua espinha, com um leve tremor percorrendo seu corpo e a nuca arrepiou ficando uma sensação de perda quando Cora a chamou.
– A Conquistadora está convocando alteza.
– Obrigada Cora.
– Encontraram-se na porta e entraram saudando a Senhora do Mundo Conhecido.
– Conquistadora .
– Então, Narda, como foram as coisas na vila amazônica?
– Muito bem, majestade. A Rainha Melosa envia suas saudações e apreço e o

Senhor dos Centauros manifestou interesse em sua saúde e reafirmou sua aliança.
– Centauros? Como assim?
– Tivemos de realizar um desvio pelas terras da Colina das Oliveiras devido à um contratempo na estrada dos penhascos. Deparamos com um assalto na estrada, que as amazonas debelaram e acabamos indo à aldeia centauro para entregar os centauros feridos e o menino. Parece que tinham ido ali para algum compromisso com a Deusa.
– Entendo. Suas ordens eram de proteger minha propriedade Narda, como resolveu se envolver em problemas de terceiros?
– Não foi uma decisão nossa, majestade, mas das amazonas.
– Elas teriam a liberdade quando cruzassem a fronteira amazona Narda, até lá era tua a responsabilidade.
– Assumo integralmente a responsabilidade por ter permitido tal decisão majestade, mas a comandante amazona estaria livre de seu serviço apenas quando cruzassem a fronteira, então tecnicamente era minha superior no campo.
– Mas não foi dela a decisão, foi?
– Não majestade. A decisão foi da princesa amazona.
– Claro. Ephiny não iria arriscar a segurança de Gabrielle para salvar alguns centauros e um menino.
– Você concordou com a avaliação de Narda, Lease?
– Sim, majestade. A comandante amazona era nossa superior no campo.
– Como foram tratadas?
– Com cortesia e honra majestade.
– Dispensadas.
– Conquistadora.
– Siana, quero que veja todo conforto e necessidades das amazonas que voltaram com Gabrielle. Elas não são mais membros de meu exército, devem ser tratadas como Embaixadoras de Melosa. Há ainda uma questão sobre preparar a guarnição de Amphipolis e desejo que organizes o pessoal doméstico que atenderá a guarnição. Acerte os detalhes com Terquien, mas é importante que o comandante da guarnição tenha também conforto pessoal. Envia uma ou duas escravas corporais junto e veja se as amazonas desejam alguma.
– Perdão, majestade, mas quem será o comandante? Pergunto apenas para saber qual melhor opção para agradar-lhe.
– Xilant e Dínia. Pensa nos dois quando selecionar. Só isso, obrigada.
– Sim, Conquistadora .
– Agora me diga de sua viagem Gabrielle.
– Tudo foi muito tranquilo, mas teve este incidente com centauros e homens, onde decidimos auxiliar aqueles que precisavam de ajuda.

– Quem eram os centauros?
– Um tenente de Kaleipus e dois auxiliares que levaram os dois filhos de Kaleipus para uma atividade frente a Atena. Era uma covardia, minha senhora e nós resolvemos intervir.
– Nós?
– Eu. Eu resolvi e nós intervimos, com suas Falcões sendo muito eficazes.
– Como Melosa reagiu a tudo?
– Reconheceu vossa autoridade e que agiu acertadamente quanto a nós em tudo.
Envia seus respeitos.
– E os dois jovens?
– Megliopo e Solan são adoráveis e muito corajosos, com grande senso de dever e honra. Kaleipus educou-os bem.
– Suas amazonas estão em meu palácio na condição de Embaixadoras de suas terras, tendo obrigações somente para com você. Verei seu conforto. Quanto a você, deverá assumir suas funções ainda esta noite, daqui a pouco no jantar. Aguardarei você em minha suíte. Dispensada.
– Minha senhora.
Havia muito tempo que Xena não pensava em Solan e saber que ele está bem e honrado a faz acreditar cada vez mais que tomou a atitude correta ao deixa-lo com Kaleipus, tantos verões atrás. Ela não teria sido uma boa mãe e assim ele estaria a salvo de ser um joguete na mão de seus inimigos.
Gabrielle trouxe notícias bem mais importantes do que imagina e merece ser aliviada em seu fardo. Esta noite seria uma noite de diversão.
Após jantar em que a Conquistadora fez questão de receber Gabrielle como uma convidada muito esperada, elas ficaram conversando sobre a viagem, Kaleipus, Solan e Melosa. Mais tarde, observando Corinto da janela de seus aposentos a Conquistadora ria muito, um riso franco que fez Gabrielle esquecer quem era e onde estava.
Ela tinha terminado um conto sobre Héracles e Prometeu quando a Conquistadora lhe conta da Oliveira sobre as águas em um sitio especial que conhecia de sua infância.
Quando eu era doze verões antiga, eu e um rapaz alguns verões mais velho havíamos feito uma aposta em que o último a chegar nas águas esfregaria o chão e cortaria a lenha por uma lua inteira. Teríamos de subir a colina e descer pelo outro lado, num caminho estreito entre as rochas. Nós chegaram juntos ao meio do aclive, pois embora eu tivesse o dobro da energia era menor e as passadas faziam a diferença para cima.
Vendo que não conseguiria chegar ao mesmo tempo, comecei a correr em diagonal em direção a oliveira que ficava no topo da beirada e subindo na árvore

lancei-me no ar caindo na água quando ele estava em meio a sua decida pelo caminho. A cara de assombro só não era mais engraçada do que a de tristeza que se abateu sobre ele ao perceber que teria as tarefas em mãos.
A Conquistadora ria e Gabrielle ria junto.
– Tenho certeza, minha senhora, de que o jovem tão cedo não duvidaria de sua capacidade.
– Realmente passou muito tempo antes que ele apostasse algo novamente.
Muito tempo Gabrielle.
Rindo juntas como duas amigas, repentinamente elas se deram conta e a mágica que por alguns instantes havia aproximado as duas mulheres ficou palpável e os olhares de ambas se cruzaram e aprofundaram penetrando na alma.
Repentinamente o silencio foi ficando ampliado com tal força e velocidade que poderia empurrar as paredes para fora e o teto para cima.
Aos poucos Gabrielle foi retomando sua posição ao lado da mesa e Xena se afasta da janela servindo uma taça de vinho para si mesma e outra com água e vinho para Gabrielle.
– Beba Gabrielle. Vamos brindar a este momento.
– Minha senhora?
– A partir de hoje, tem minha permissão para conversarmos francamente como agora a pouco , quando estivermos sozinhas pode me chamar de Xena e mantendo o bom senso e o respeito ter outros momentos como este. Faz muito tempo que eu não ria assim. Você me fez lembrar coisas muito boas Gabrielle e tem sido bom ter você aqui.
– Minha senhora…
– Não diga nada. Você não precisa mentir ou distorcer seus sentimentos em relação a mim. Basta saber que tem permissão para agir em conformidade com sua vontade em nossas conversas. Agora volta aos seus aposentos e tenha uma boa noite Gabrielle.
– Boa noite, minha senhora.
Gabrielle entrou em seus aposentos confusa e ao mesmo tempo feliz. Ephiny a esperava acordada e assim que ela entrou, foi ao seu encontro.
– Gabrielle , você está bem? O que ela queria desta vez?
– O mesmo de sempre Ehiny, apenas jantar e ser entretida com histórias além de ser preenchida com uma visão barda de nossa viagem à amazônia.
– Não sei mais como fazer para tentar proteger você Gabrielle, não gosto desta situação onde está a mercê desta mulher cruel, sádica e sem caráter.
– Você não pode falar dela nestes termos Ephiny , ela tem sido profundamente correta conosco.
– Você vai defender este animal sem honra e sedento por sangue?? Não acredito!!!

– Ela foi muito correta conosco Ephiny . Tudo que fez está dentro da lei e respeita o acordo firmado com nossa rainha, inclusive Melosa reconheceu isto. Talvez você deva reconsiderar sua posição aqui e voltar para a aldeia, se isto está sendo demasiado penoso. Não quero nenhuma de vocês se exaurindo entre a consciência pessoal e o dever.
– Não é isso e você sabe o que quero dizer. Sou sua amiga Gabrielle, não fico tranquila ao saber que a qualquer momento ela pode fazer com você o que desejar e você irá cumprir.
– Ela pode fazer o que desejar com qualquer pessoa do Império Ephiny , a diferença é que eu aceito isso pra todo o sempre se for para ser assim. A Conquistadora tem se mantido surpreendentemente paciente e cortês comigo e devolveu a liberdade de vocês. Tenho visto e ouvido ela se preocupar com o povo e procurado ser justa na distribuição de sentenças. Nem sempre compreendo seus motivos, mas sei que existem razões maiores que a simples crueldade.
– Você vai continuar a defender este animal?
– Você está proibida de se referir a ela nestes termos Ephiny . Está aqui como Embaixadora de nosso povo e vai demonstrar respeito à Senhora do Mundo.
– Desculpe Gabrielle, é que quando ela chamou você me senti tão impotente!!! Peço que me desculpe, e durma bem alteza. Vou ficar de sentinela à tua porta para que as demais possam descansar e realmente eu preciso pensar um pouco e colocar as coisas no lugar.
– Fique bem, Ephiny e esperemos que a Conquistadora jamais descubra tuas palavras ou o tom com que foram ditas. Boa noite.
– Boa noite Gabrielle.
Gabrielle sabia que as palavras de Ephiny foram ditadas pela amizade e também que tinha sido verdadeira ao afirmar que Xena poderia fazer o que desejasse e ela cumpriria. Não apenas o juramento feito em Esdel logo após o julgamento, mas a barganha feita para salvar Dieynisa e mais recentemente uma dívida contraída para salvar as crianças da cruz não permitiria que ela fugisse ou se furtasse de atender.
No entanto esta noite havia sido diferente, recebera autorização para chamar a Conquistadora pelo nome e manter com ela uma conversa de igual para igual. Algo estava mudando na fome de dominação de Xena e ela podia sentir que o interesse era legítimo.
Antes de adormecer elevou uma prece à Deusa da caça, implorando seu apoio para a capitã de sua guarda real, mas mais que tudo para sua amiga.
“Artemis, ouça tua filha que humildemente pede uma graça. Sei que não sou digna, mas Ephiny precisa de seu auxílio. Tire a dor de seu coração e ilumina para que ela tenha uma melhor perspectiva do todo, que ela possa ver o quanto a Conquistadora contribui para o equilíbrio das forças internas e externas, mantendo

a paz e prosperidade no Império. Que a capitã reconheça a justiça de suas sentenças e os esforços realizados em deixar Amazonas, Centauros e muitos outros povos com sua autonomia , respeitando seus costumes e tradições.”
Naquela noite o sonho que a levara a Éfeso e ao encontro de Terreis se repetia. Novamente estava subindo a montanha e ao chegar ao cume, o enorme falcão sobrevoava o vale e circundava a montanha, mas desta vez não pousava na oliveira, mas em seu braço direito e a pomba não mais ferida pousava em sua mão e ambos, lado a lado fitavam seus olhos por algum tempo e depois, quase ao mesmo tempo miravam a grande serpente de homens que invadia o vale abaixo. Então ela apontava para o oeste no platô que acompanhava este lado das montanhas de onde vinham milhares de cavalos selvagens correndo livres.
Gabrielle acordou e mais do que seu sonho, estava assombrada com o que aconteceu na noite anterior e com o sorriso de Xena ainda gravado em sua memória
, ela ainda não compreendia bem o significado.
Pensando nisso foi dirigindo-se à sala de banhos onde mergulhando na piscina, começou a nadar calmamente e a cada braçada mentalmente ia repassando os acontecimentos.
Narrara a viagem até as terras amazonas como as Falcões fizeram, não havendo nenhuma discrepância entre suas histórias e o jantar havia sido igual a tantos outros , mas aos poucos a cortesia da Imperatriz foi se ampliando e o clima estava totalmente informal e muito humano.
A máscara que a Imperatriz sempre usava foi deixada de lado e ela pode vislumbrar a mulher por trás do mito, mas havia algo que estava deslocado, não estava no lugar. Claro que isso de cortesia, intimidade e boa vontade poderiam ser apenas um jogo para espantar certo tédio, mas aquele sorriso era honesto, atingia os olhos e vinha do fundo da alma. Tinha algo de conhecido naquele modo de rir, naquele orgulho de suas peripécias juvenis que não tinha nada de crueldade ou fome de poder, mas apenas o divertimento de um desafio comprado e vencido.
Ficou um tempo flutuando de costas, pensando, tentando imaginar Xena como uma menina que resolvera voar até a água ao invés de descer um caminho estreito. Gabrielle conhecia um lugar assim, com uma oliveira no topo da beirada em Amphipolis, onde Cyrene a levou algumas vezes, no lado norte de sua propriedade, no campo das ovelhas atrás da pousada e a medida que a Conquistadora ia fazendo seu conto, imediatamente Gabrielle começou a lembrar daquele canto tão querido a seu coração.
Ouvindo um barulho na sala adjacente ao seu quarto, resolve sair do banho encontrando Ephiny em pé na frente da mesa, de forma intimidante selecionando alguns itens de uma bandeja e colocando em uma tábua, instando uma mulher a comer todo o conteúdo.

Aquela cena lhe recordou a barraca em Esdel e indignada, rapidamente coloca sua túnica entrando na sala, onde ao perceber sua presença a mulher mira o chão e se curva , com as mãos caídas ao lado do corpo.
– O que está acontecendo Ephiny ?
– Ela estava aqui quando eu entrei e estou me certificando de que tudo esteja em ordem. Kleith não teve o bom senso de impedir o acesso , aliás vou ter uma conversa com sua sentinela sobre suas funções assim que sair. Você coma tudo sem deixar nada!
A cada palavra de Ephiny a mulher parecia mais e mais assustada, levando a mão aos alimentos estava por coloca-los na boca quando Gabrielle interfere novamente.
– Pare! Por favor, desculpe por isso. Eu sou Gabrielle, qual seu nome?
– Me chamo Néia , senhora.
– E o que você faz aqui, Néia ?
– Recebi ordens de trazer o desjejum para este quarto e ficar disponível para qualquer coisa que fosse requerida, senhora. Disseram que eu devia atender a princesa amazona até receber novas determinações.
– Disseram? Quem disse? Gabrielle, ela está mentindo!
– O que há com você Ephiny ?!! Ela entra aqui com uma bandeja de alimentos que obviamente vieram das cozinhas do palácio. Se a Conquistadora me desejasse morta, bastaria ordenar e eu mesma colocaria o veneno antes de ingerir, e tu sabes que isso é verdadeiro.
– Te peço que nos perdoe Néia . Ephiny é muito protetora e tua presença nos pegou de surpresa. Relaxa, ela não vai te fazer mal.
Ephiny continuava a olhar Néia de maneira ameaçadora, pois não estava convencida de que agora Gabrielle devia receber alimentos nos aposentos sem terem sido trazidos por uma amazona.
– Ephiny , por favor!
-Ela tem razão, por favor, me desculpe Néia , mas cuidar dela é minha responsabilidade e depois de tanto tempo em Corinto surgir alguém nos aposentos dela me fez ficar desconfiada.
– O erro foi meu, por favor, me perdoe. Sou apenas uma escrava senhora e minha ama deixou-me a disposição dos serviços do palácio até que ela determine diferente, por favor, perdoem se não me fiz entender adequadamente.
– Sua ama? Refere-se à Conquistadora ?
– Não senhora. Pertenço a sargento Ohana, Falcão e sanadora. Ela recebeu-me como pagamento por seus serviços em Abelar e fui enviada para cá a fim de aguardar seu retorno. Deixaram-me a disposição do palácio e até hoje tenho trabalhado nas cozinhas. Se for de seu agrado, atuarei como provadora senhora.
– Isso não é necessário, tenho certeza de que você é muito eficiente, mas não tenho utilização para escravos, em verdade no momento eu mesmo sou uma escrava

da Imperatriz e seu envio aqui deve ser fruto de algum engano. Sinto muito.
– Por favor, senhora, eu não conheço as regras deste lugar, sou uma escrava doméstica desde meus dez verões e peço apenas uma chance. Se eu voltar às cozinhas sem ter cumprido as ordens recebidas não sei o que acontecerá comigo. Eu poderei manter seus aposentos adequados, senhora. Por favor!
– Acalme-se. Você sabe nadar, Néia ?
– Sim, senhora, fui ensinada na infância.
– Eu direi a você o que eu desejo que você faça e você fará o seu melhor para cumprir?
– Sim, certamente senhora.
– Certo. Vamos tomar o desjejum que você trouxe, pois eu acredito que você também não comeu nada até agora, depois irei até a biblioteca do palácio buscar alguns documentos para revisar e enquanto isso você deve ir até a piscina e nadar um pouco. Procure relaxar e quando sair da piscina, após secar-se, deite na cama e durma um pouco. Chamarei na hora do almoço e no início da tarde vamos ajeitar estes quartos juntas se eu não for requisitada para outros afazeres, caso em que tu te reportarás a Ephiny e a atenderás como se fosse a mim. O que pensas deste plano?
– Farei como a senhora desejar.
– Certo.
Começam a comer e conversar sobre como era o lugar de onde Néia tinha vindo e como era tratada por sua antiga proprietária. Após esta ligeira refeição Gabrielle decide que é hora de Ephiny descansar dos seus deveres pelas próximas marcas de velas.
– Ephiny , peça para Salina ficar no lugar de Kleith como sentinela deste aposento e gostaria que Cora me acompanhasse na ida à biblioteca e você por favor, vá descansar um pouco.
– Eu estou bem Gabrielle.
– Ficaste de Guarda a noite toda, deves descansar agora e isto não é negociável. Eu vou com Cora, Salina ficará na porta e Kleith guardará tua porta, te chamando se for necessário.
– Venha Néia , te acompanharei até a sala de banhos.
Ephiny sai evidentemente contrariada e Néia fica pensando o quanto de suave realmente é esta jovem mulher para comandar desta maneira tão determinada guerreira. Algum tempo depois Cora entra na sala.
– Desejava me ver, Gabrielle?
– Sim, vamos andando até a biblioteca que te explico no caminho. Como você está, Cora?
– Bem alteza, muito bem. Dormi a noite toda e fazia pouco tempo que eu assumira o lugar da capitã.

– E como está o relacionamento com o comandante Palaemon ?
– Nós temos conversado sempre que possível e a cada dia mais, ele me parece um homem agradável e honrado. Mas não fizemos nada errado, alteza.
– Eu não disse isso Cora, apenas fiquei interessada em como estás te sentindo agora que não és mais membro do exército da Conquistadora e estás sem nenhum tipo de subordinação a ele.
– Somos amigos, Gabrielle e eu sinto uma grande atração por Palaemon, não apenas como guerreiro mas também como homem. É tudo muito novo, então vamos levando com calma e sempre dentro das possibilidades reais que nos cercam.
– O que me importa é tua felicidade Cora e se chegares a uma definição por manter este relacionamento, saiba que tens minha benção e peço à Caçadora que te guie, minha irmã.
– Obrigada Gabrielle.
– Chegamos. Poderia esperar por mim aqui ?
– Claro, sem problemas.
– Obrigada.
Gabrielle entrou na biblioteca do palácio, que ao contrário do estúdio da Conquistadora era um grande salão repleto de escaninhos onde havia pergaminhos de várias partes do mundo e dos mais variados assuntos. Parte dos deveres de Gabrielle era selecionar relatórios sobre assuntos civis que lhe chamassem a atenção por algum descumprimento das leis do Império ou que clamassem uma reformulação por terem tido mudadas as condições e as leis estarem defasadas em relação às necessidades do povo.
Gabrielle tinha especial atenção com a saúde e a justiça, sempre considerando as peculiaridades dos locais e dos povos. A Grécia ainda mantinha a independência administrativa e legal entre as cidades-estado, mas isto a nível local.
As leis do Império sempre teriam primazia na orientação das lides e as questões levadas ao conhecimento da Conquistadora por seus assessores administrativos e militares, assim como pelos nobres tinham também um olhar do ponto de vista do povo.
Gabrielle cuidava de se inteirar da história e cultura de cada região do Império para atender a qualquer questão levantada pela Conquistadora .
– Bom dia senhor Mature.
– Bom dia Gabrielle no que posso ajudar hoje?
– Vim para buscar algumas histórias da Macedônia, senhor e os anais do tribunal das últimas seis luas.
– Temos Pella, Dion, Tireia e Selenik. Qual você gostaria?
– Selenik e Tireia. Por favor, não teria nada de Amphipolis? Eu tenho procurado e não encontro nada sobre esta cidade.

– Todos os escritos que mencionem Amphipolis devem ficar no estúdio da Conquistadora e somente poderão ser acessados com sua permissão, Gabrielle.
– Por que?
– Foi uma das primeiras normas da biblioteca, Gabrielle. Ninguém sabe realmente, mas não se menciona Amphipolis na presença da Imperatriz.
– Certo. Muito obrigada então, senhor Mature.
– Não seja por isso, Gabrielle. Bom dia.
– Bom dia, senhor.
Sentando em um divã ao lado da estátua de Atena, Gabrielle começa a ler os anais mais antigos e depois de duas marcas de vela vira sua atenção para a história de Selenik registrada ainda no calor das decisões.
“Estava Xena a perseguir um grupo de aves de rapina que vinham da região ao norte , mercadores de escravos em Dardânia, que atacavam violentamente as cidades destruindo tudo a sua frente, mas diferente da Horda que é selvagem e nômade , eles tinham um país inteiro que preferia deixa-los atacar povos vizinhos do que lidar com eles em seu próprio sistema.
Em Selenik no noroeste da Macedônia, quase divisa com Iliria, precisava o exército repor as provisões para continuar a perseguição e evitar que vidas inocentes caíssem nas mãos daqueles desgraçados. Ninguém agrediria o povo e sairia bem com isso. Como sempre, havia sido dado a escolha de enviarem um terço dos grãos, cavalos e armas ao exército, permitindo ainda alistamento voluntário nas fileiras. A escolha era dar um terço ou ficar sem a metade mas era certo que deveriam contribuir, uma vez que o exército busca a segurança de todos.
A cidade de Selenik aceitou, porém agiram traiçoeiramente, segundo alegaram mais tarde pensando tratar-se de um truque dos assassinos estrangeiros. Eles aceitaram os termos mais amenos e emboscaram o grupo avançado covardemente tentando matar todos com armadilhas, flechas incendiárias e lanças jogadas com precisão visando os batedores. Fecharam as saídas e aprisionaram o grupo. Xena rompeu o cerco e todos os sobreviventes saíram para encontrar a divisão do exército que estava a espera.
Naquela noite capturou-se os homens da cidade e ao amanhecer foram crucificados todos os que deveriam ter decidido diferente, ficando acertado que como esta cidade não deseja que se lute contra os estrangeiros escravizadores, aceitando livremente ser condenada a escravidão, toda sua população é sumariamente condenada e usará o colar de escravos de forma vitalícia, devendo receber uma lição para que seu corpo nunca esqueça aquilo que estava sendo tentando evitar que passassem. Todos, menos os menores de treze verões são açoitados e as próximas gerações ao completarem treze verões receberão o colar e sentirão o açoite em praça pública.
Os que desejarem viver, jurarão fidelidade à Comandante até o fim de seus dias

e os que se negarem serão crucificados assim como todos os membros de sua família. Ninguém será vendido como escravo, pois não somos mercadores, mas viverão nesta condição atendendo a qualquer chamado da Comandante até o fim de seus dias.
A cada colheita, venda ou produção de qualquer tipo, a metade será enviada para a Comandante e a outra metade será dividida entre o Templo de Atena em Pella e a manutenção da cidade e seus habitantes. Esta é uma lição e o preço pela vida dos homens que morreram hoje, quando se dispunham a lutar para que estes covardes traidores fossem livres. Assim decide Xena , protetora da Grécia.”
Gabrielle estava atônita. Uma cidade inteira escravizada para sempre?!? Separou o pergaminho e tomou o seguinte.
“Estava Xena a formar um cinturão de segurança para o povo da Macedônia que se estendia pelo mar, e ia das terras da Tracia até a Iliria, marcando divisa com a Dardânia, Epiros e Tessália. Na cidade de Tireia o exército foi recebido com festa, pois o povo sabia que a presença dele afastaria de qualquer invasor a ideia de excursionar e trazia segurança para suas casas e suas famílias.
Muitos jovens solicitaram permissão para ingressar nas fileiras e mesmo os que não tinham experiências em batalha foram aceitos, pois à Comandante mais importava um coração no lugar certo do que a habilidade. Lutar é treinável, caráter não. Não há lugar no exército para a indisciplina ou arruaceiros. As regras do exército são apenas duas: Obedecer e confiar. Sabedor de que um inimigo se aproximava pelo oeste o exército fez base na parte mais elevada do terreno, com a grande maioria dos arqueiros oculta nas árvores e as barracas vazias com fogueiras acessas em um número muito maior do que o necessário.
Os homens e mulheres mais corajosos sentaram ao redor da fogueira, com madeiras por baixo da armadura tentando proteger-se de possíveis flechas e fazendo um chamariz bem convincente. Quando o inimigo invadiu o acampamento foi cercado por todos os lados e tendo seus líderes capturados ou mortos rapidamente se entregou à mercê de Xena .
Aos soldados foi oferecido o perdão do soldado, uma vez que concordassem em lutar no exército. Os comandantes foram decapitados e os oficiais e soldados que se negaram a jurar fidelidade foram mortos na frente das tropas de forma rápida e indolor e em homenagem a sua coragem e de seus camaradas foram permitidas honras adequadas com a própria comandante cantando no funeral.
Xena salvou o povo de Tireia da aniquilação e ainda treinou uma força considerável para que pudessem se defender no futuro, deixando uma aliança em que se chamada, esta força auxiliaria o exército onde fosse necessário, subordinando- se ao comando de Xena .
O povo de Tireia é digno e ninguém o ameaçará impunemente.

Xena , protetora da Grécia.”
Assim, Gabrielle voltou a seus aposentos com um plano em mente. Ela tentaria revogar a ordem vitalícia e hereditária de escravidão que pairava sobre uma vila inteira, porém não tinha nem ideia de como faria isso. Compreendia que no momento era necessário para que ninguém mais se arriscasse a tentar enganar seu exército, mas isso foi há muito tempo e agora Xena era a Imperatriz do mundo conhecido, não havia mais necessidade disso .
Também estava curiosa, pois Xena determinara que ninguém seria vendido e seu exército estava em campanha pois isto aconteceu muito no início do estabelecimento do Império. Gabrielle queria saber o que aconteceu na verdade ao povo de Selenik.
Saindo da biblioteca Gabrielle voltou aos seus aposentos, chegando junto com uma mulher morena seguida de cinco jovens carregadas de alimentos, jarros e roupas.
– Deixe-as entrar Salina e entre conosco por favor.
Todas entram e as mulheres se dirigem à mesa, depositando os alimentos no aparador encostado na parede, organizam algumas tábuas onde começam a depositar postas de carne, pão e fatias de queijo.
Todas se colocam ao lado da mesa e a mulher morena se apresenta para Salina, pensando que evidentemente ela seria a guerreira amazona.
– Eu sou Polínia e estou a serviço do pessoal do palácio. Fomos enviadas para trazer o almoço para a princesa amazona, devendo atender qualquer solicitação que seja feita.
Gabrielle acha graça e faz sinal para que Salina não diga nada e virando-se para Polínia tenta ser cordial.
– Parece que hoje é o dia das servas do palácio fazerem uma visita. Por favor, vocês já comeram?
– Ainda não senhora.
– Então sentem e almocem conosco. Salina, por favor veja que Kleith venha almoçar conosco e peça para chamar Ephiny . Aguarde um momento por gentileza e sinta-se a vontade Polínia, eu já volto.
Indo aos seu quarto, Gabrielle gentilmente toca no ombro de Néia, chamando-a para o almoço.
– Néia. Néia, por favor, acorde. Temos visitas.
– Minha senhora!
Néia rapidamente se senta na cama e um tanto confusa não sabendo que atitude é esperada dela, opta pela abordagem mais lógica.
– No que posso ser útil, minha senhora?
– Me chame Gabrielle, por favor. Estamos com visitas e eu fiquei de lhe chamar para almoçarmos juntas. Estarei esperando na sala que junte-se a nós quando estiver pronta.

Voltando na sala, encontra as seis mulheres paradas no mesmo lugar.
– Por favor, sentem-se. Vocês gostariam de alguma coisa?
– Nada, obrigada senhora. Apenas aguardamos a princesa amazona para estar à sua completa disposição.
– Entendo, mas creio que deverão se contentar comigo. Cora, por favor, vá até Ephiny e comunica que nossas visitantes se negam a falar comigo, esperando a presença da princesa amazona, pergunte-lhe o que ela deseja que eu faça.
– Sim, Gabrielle.
– O que são vocês e o que exatamente estão fazendo aqui?
– Desculpe senhora, mas minhas ordens são reportar apenas à princesa das amazonas e mais ninguém.
Gabrielle dá um sorriso educado e pegando um cacho de uvas vai ao encontro de Néia antes que esta possa fazer qualquer gesto reverencial ou dizer qualquer palavra.
– Néia, as uvas estão deliciosas. Estas mulheres não desejam falar comigo, mas apenas com a princesa das amazonas. Cora já foi buscar Ephiny , então vamos deixa- la decidir que atitude tomará. Por agora devemos servir as taças, você me ajudaria?
– Claro, Gabrielle.
Uma troca de olhares bastou para que Néia compreendesse que Gabrielle ainda não tinha decidido se deixar conhecer pelo que era e ela resolveu que devia jogar junto.
– As quatro guerreiras almoçarão aqui?
– Sim, e acredito que estas seis também.
– O alimento não será suficiente para tantas, deseja que eu vá até as cozinhas buscar mais?
– Talvez seja necessário, mas vamos resolver isso primeiro. Vocês já se conhecem?
– Não.
– Então vamos esperar as guerreiras amazonas chegarem. Ephiny entra com Cora, Salina e Kleith.
– O que está acontecendo aqui?
– Estas jovens tem ordens de se reportar somente para a princesa amazona, negando-se a responder qualquer pergunta que eu fiz, então pedi para Cora te explicar a situação. O que você quer fazer?
Ephiny encara calmamente Polínia.
– Explique-se.
– Fomos enviadas para atende-la alteza.
– O que são vocês?
– Somos escravas de uma sargento dos Falcões de sua majestade, enviadas para trabalhar no palácio até que ela nos chame. Agora pela manhã recebemos ordens de trazer seu almoço, roupas para a cama, almofadas, túnicas e atender suas determinações. Eu sou Polínia.

– Responderia algumas perguntas?
– Certamente, senhora.
– Pergunte o que desejar, Gabrielle e Polínia responderá com a verdade.
– Obrigada, Ephiny .
– De onde vocês são?
– Nascemos em diferentes localidades, senhora, mas somos oriundas de Abelar.
Nossa ama recebeu-nos como presente e nos enviou a Corinto .
– Quem é sua ama?
– Pertenço a sargento Ohana, Falcão da Imperatriz.
– Vocês foram dadas a ela por curar alguém?
– Não, senhora. Fomos apenas um presente.
– Bom, vamos às apresentações então.
– Esta é Néia . Também é uma escrava e foi enviada aqui para servir e também pertence a esta sargento Ohana, que pelo visto pretende que as amazonas sejam muito bem atendidas.
– Estas são amazonas. Ephiny , Cora, Salina e Kleith. Eu sou Gabrielle, sou uma escrava como vocês, pertenço à Conquistadora e sou a princesa das amazonas da Trácia.
Polínia fica sem palavras e sem ar. Seu rosto vai ficando vermelho e ela começa a tremer assustada quando se da conta de que não é uma brincadeira espirituosa.
– Perdoe-me, senhora. Eu sou culpada por este terrível engano, não quis ofende- la, apenas me foi dito que devia atender uma princesa amazona e havia esta mulher armada na porta e a senhora chegou acompanhada por outra, então eu presumi errado. Por favor, perdoe-me.
– Acalme-se. Está tudo certo, venham, sentem e almocem conosco e não se preocupe, pois seu erro é muito comum e tem certa razão. Vocês três poderiam descer com Kleith e Néia e buscar mais alimentos? Acredito que este será pouco para todas.
– Rapidamente Kleith, Néia , Calie, Xilonia e Xantara se dirigem as cozinhas buscando mais alimentos.
– O que você gostaria de fazer, Polínia?
– Eu não compreendo, senhora.
– Você veio aqui para me servir, estou perguntando o que você gostaria de fazer com seu tempo livre.
– Eu não sei senhora, realmente não sei. Eu não tenho tido tempo livre nos últimos cinco verões cinco anos.
– Eu tenho algumas tarefas pra desempenhar e preciso estudar alguns documentos. Néia também foi enviada aqui para me servir, mas como eu disse antes a ela não tenho necessidade e nem uso escravos. Esta situação está ficando fora de mão, isto é um absurdo!

– Por favor não nos mande embora senhora. Fomos enviadas aqui e não gostaria de saber o preço por uma falha neste lugar.
– Fique tranquila e pare de me chamar assim. Meu nome é Gabrielle e não vou fazer nada que possa levar você ou suas companheiras a serem punidas, apenas não é um costume de meu povo ter escravos e parece que tua ama está desejando me entregar o cuidado de algumas. Como ela é?
– Ela é uma sargento dos Falcões de sua majestade.
– Eu já sei disso Polinia, perguntei como ela é fisicamente, seu modo de agir.
– Desculpe. Alta, branca, tez levemente morena pelo sol, com cabelos negros que usa quase sempre presos, olhos azuis, voz melodiosa, forte e clara, é uma lutadora formidável com a espada e quando dá uma ordem deixa certo que não admite falhas.
– Eu não a conheço. O que mais pode dizer sobre ela?
– Seu cavalo negro é alto e quando está de bom humor ela pode ser agradável se desejar.
Um pensamento ocorreu a Gabrielle e quanto mais ela analisava mais ele foi tomando forma.
– O que você acha disso Ephiny ?
– Acho que parece com qualquer guerreira, Gabrielle. Claro que isso de olho azul, cabelo preto e cavalo de guerra vai reduzindo as possiblidades, com o nome e o posto deve ser fácil de encontrar. Afinal, quantas sargentos chamadas Ohana podem existir nos Falcões? Posso investigar se você quiser.
– Eu gostaria sim, mas seja discreta. Não desejamos ofender ninguém.
– Certo.
As cinco voltaram com mais alimentos e aos poucos Polínia e as meninas foram relaxando na presença de Gabrielle.
– Vou ter de me retirar para o estúdio da Conquistadora . Néia eu gostaria que você, Calie e Xilonia fossem para os aposentos de Ephiny cuidar de tudo lá e depois voltassem aqui para ficar com as outras. Você, Polínia por favor organize tudo aqui com as outras e depois todas podem relaxar na piscina e me esperar em meus aposentos.
– Sim senhora.
– Ephiny , eu gostaria que organizasse com Cora para ela atender Polínia aqui no que ela precisar e Salina fará o mesmo nos teus aposentos. Kleith irá comigo para o estúdio e você deve ter o resto da tarde de folga. Obrigada a todas, boa tarde.
A Conquistadora estava no campo de treinamento e o estúdio estava tranquilo, com Akiba tendo deixado organizado na mesinha auxiliar uma listagem dos assuntos que desejava que ela desse uma olhada. Já havia repassado os cinco primeiros sem maiores consequências quando uma palavra no sexto assunto lhe chamou a atenção. Ampliação do Templo de Pella.

Os sacerdotes de Atena em Pella, solicitavam a intervenção de sua majestade para a ampliação do templo, buscando rivalizar-se com o templo de Artemis em Éfeso. O projeto previa uma ampliação dos jardins, da área de banhos e principalmente a reforma dos aposentos dos principais sacerdotes e a construção de três novos alojamentos para os noviços da ordem, assim como as cavalariças e o arsenal.
A soma pedida era assombrosa, alimentaria sua vila por quatro verões inteiros. Ela era devota de Atena e tinha consciência de que devia sua vida à Deusa da sabedoria, mas as reformas pretendidas exaltavam o lado guerreiro da Deusa, não seu lado protetor e visavam basicamente o conforto dos sacerdotes mais do que o bem estar do povo.
Gabrielle decidiu que veria isto mais tarde, e retomando a leitura dos documentos que trouxera da biblioteca do palácio escolhe um dos mais recentes.
“Fica apreendida toda mercadoria encontrada a bordo dos dois barcos do pirata conhecido por Ouroboros, cujo símbolo é uma serpente que devora a própria cauda, devendo toda carga ir a leilão no mercado principal de Corinto , assim como todo o ouro e joias serão imediatamente transferidos para o tesouro. A venda da mercadoria reverterá ao tesouro do Império, sendo, no entanto, cinco por cento dividido entre os homens que capturaram os referidos barcos, incluindo-se aí os que pereceram, devendo ser entregue as suas famílias o pagamento. O leilão deverá ocorrer na primeira lua crescente após ser lavrado nos anais do Império”
Conquistadora.
A porta do estúdio começa a abrir para dar passagem à Conquistadora e rapidamente Gabrielle se posiciona sobre o tapete retangular próximo a parede, onde foi indicado que deveria estar quando sua senhora entrasse no estúdio e aguarda ser chamada a manifestar-se.
Xena vinha animadamente conversando com Palaemon e Terquien sobre o treino recente, indicando novas competências que desejava ver desenvolvidas neste grupo de Falcões.
– Terquien, providencie para que o novato Shuma receba uma comissão junto a terceira unidade para que Elthor teste suas habilidades no porto. Quero saber o que está sendo dito nas docas sobre o leilão de Ouroboros.
– Ao seu comando.
– Você está dispensado para as próximas duas noites Palaemon. Use este tempo com sabedoria para descansar.
– Sim majestade.
– Yolker, providencie para que Giltar esteja pronto amanhã pela manhã com aqueles itens que solicitei e comunique Elthor do local para que faça a varredura de costume e peça para Akiba entrar. Dispensados senhores.
– Conquistadora .

Servindo-se de vinho a Conquistadora percebe que Gabrielle está aguardando ser chamada, mas dá a Akiba sua plena atenção.
– Vejo que está agitado, o que há no Egito agora Akiba?
– A rainha Cleópatra envia seus respeitos e devido a boa colheita nas terras do Nilo a safra de grãos foi excepcional, não havendo possibilidade de escassez no Império. Solicita permissão para seu filho, o jovem Sahure fazer uma viagem de estudos ao Templo de Lao Tse Itsu nas terras de Lao e agir como embaixador do Egito, aproveitando a ocasião para congratular-se com Vossa Majestade Imperial pelo aniversário da aniquilação de Cesar e suas pretensões. Também envia duas escravas treinadas para atender o gosto refinado da Imperatriz.
– Diga que o jovem Sahure não deve ir as Terras de Lao Ma, mas será bem recebido na Corte em Corinto , pois eu gostaria de vê-lo. As escravas, diga para Siana acomoda-las no tear até que eu reserve diferente para elas.
– Perfeitamente, senhora.
– O que mais temos hoje?
– Lao Ma envia seus cumprimentos pelo aniversário da aniquilação de Cesar, convidando Vossa Majestadeaprosseguirnabuscadocaminho, enviaestepergaminho e alguns presentes como as sementes da fruta laranja e quinhentas mudas da árvore , cinco especialistas no cultivo e três guerreiros para algum tipo de intercambio junto aos Falcões.
Xena abre o pergaminho e sorri, lembrando da governadora da terra de Lao. “o prudente não caminha desatento onde uma serpente foi morta e aquele que segue o caminho é como o vento que envolve e preenche, sem negar a luz do sol.”
– Avisa Cassandra e Siana para preparar um banquete amanhã a noite e traz os técnicos para termos uma conversa na manhã seguinte. É só por hoje Akiba. Boa noite.
Terminando seu vinho, observa Akiba se retirar e então vira-se para Gabrielle
– Gabrielle, como você está? Cansada?
– Estou bem, obrigada.
– O que tens pra mim hoje, barda.
Gabrielle pensou que barda era uma maneira nova de chama-la e ficaram uns instantes saboreando o silêncio e esta mudança.
– Selecionei quatro casos onde não consegui vislumbrar razões de continuidade ou estabelecimento majestade, nem de ausência de ação do Império.
– Estou ouvindo.
– O comércio ilegal de escravos está sendo apoiado e patrocinado pelo Império.
– É uma acusação muito grave Gabrielle. Tens provas disso ou alguma pista de quem, quando e onde isso acontece?
-Sim,minhasenhora.Emboradeformaindiretaeprovavelmentesemconsciência

o Império está fomentando e tem agido no sentido de dar ares de legalidade a estas transações aqui mesmo em Corinto com o aval do Tribunal.
– Explique-se.
– Quando o pirata Ouroboros foi capturado, todo botim foi partilhado entre o tesouro e os comissionados, com as mercadorias sendo levadas ao mercado em breve.
– Correto, assim foi determinado.
– Entre estas mercadorias há muitos escravos majestade e asseguro que nem todos foram adquiridos dentro dos parâmetros da lei, podendo inclusive serem cidadãos do Império ilegalmente capturados e no momento em que forem leiloados com o aval do Império sua condição passará a ser irreversível não podendo de nenhuma maneira ser reposta sua liberdade ou sua cidadania pelos meios legais.
– Não estou entendendo você. A escravidão é legal no Império.
– Mas dentro de parâmetros determinados pela lei. Se alguém for raptado em sua casa, levado para venda a margem da lei poderia ser libertado de seu cativeiro ilegal, mas no momento em que o próprio Império fizer o leilão sua condição de raptado passará imediata e legalmente para escravo. Ele passa de uma vítima de um crime para uma mercadoria legalmente leiloada e adquirida.
– E o que você faria Gabrielle? Como separaria as vítimas, como você chama, dos adquiridos dentro da lei.
– Nos casos de apreensão desta “mercadorias” vivas acredito que uma entrevista individual com cada um, onde os dados seriam passíveis de investigação e todos sabendo da punição por tentar enganar o Império poderia dar resultados. O Império perderia em dracmas o que ganharia em gratidão de seu povo e a gratidão e o amor do povo é um tesouro sem medidas.
– Você tem ideias interessantes. Próximo.
– O Templo de Atena em Pella solicita ao Império que patrocine uma reforma com a intenção de rivalizar com o Templo de Artemis em Éfeso.
– E a Casa Real amazona é contra?
– Não a Casa Real majestade. A causa de selecionar este caso é que o valor solicitado é exorbitante e os projetos de ampliação são voltados para o lado guerreiro da Deusa e o conforto dos sacerdotes. Sustentaria uma pequena vila como a minha terra natal na Macedônia por quatro verões inteiros.
– Os homens que atendem aos Deuses levam verões sendo treinados e merecem um conforto adequado seria como agradar a própria Deusa.
– Desculpe senhora, mas acredito que a Deusa da sabedoria veria com melhor olhar seu povo sendo atendido e confortavelmente receber orientação do que seus sacerdotes tendo luxo.
– Você tem certeza de que a proposta é assim tão supérflua?
– Sim majestade e este é o mesmo templo que a senhora mantem recebendo

recursos desde o início do Império, que sustentariam uma cidade inteira. O valor envolvido daria para acomodar a construção e manutenção de no mínimo quatro Templos com o dobro de sacerdotes.
– O Império está sustentando este Templo?
– Sim, em grande parte sim. A cidade de Selenik está pagando seu erro desde o início do Império e o Templo em Pella tem lucrado consideravelmente.
– E você sugere que cesse o fornecimento de recursos ao Templo de Atena.
– Nãominhasenhora, humildementetragoaovossoconhecimentoadiscrepância entre o que solicitam e o que já existe. Talvez um redirecionamento dos projetos para a melhoria do acolhimento e busca de ensinamentos que visem a saúde com o devido crédito sendo dado ao Império pelo bem que proporciona e não apenas a segurança fosse adequado.
– Próxima questão.
– A segurança dos territórios dentro do Império para todos os povos. Os homens que atacaram os centauros e o menino na Colina das Oliveiras, estavam “caçando” centauros para alguém e seja quem for que está por trás disso, visa algo maior do que vencer jogos de caça, pois faz isso a muito tempo.
– E como você percebeu isso?
– Quando eu viajei para Éfeso, para ver a Sacerdotisa de Artemis havia homens que caçavam amazonas e mencionaram algo sobre centauros terem a base da cauda diferente dos cavalos.
– Você não pensou em mencionar isto quando eu pedi seu relatório? Isso não teria nada a ver com a caça às amazonas, teria Gabrielle? Você não estaria abusando de sua posição para buscar proteção para seu povo, estaria?
– Minha posição de escrava em sua casa não é passível de ser utilizada desta maneira, majestade. Peço seu perdão por minha demora em ligar tais fatos, mas a verdade é que foi a petição do Templo de Atena em Pella que me fez pensar nos territórios consagrados à Deusa da sabedoria e esta petição somente foi colocada em minhas mãos hoje após o almoço, juntamente com os demais casos separados pelo senhor Akiba, que fui estudar quando entrei em seu estúdio minha senhora. Meu povo está sendo caçado a centenas de verões, assim como os centauros e isso não é nenhum acontecimento para o qual não estejamos preparados, porém agora é diferente, pois existe algo que deve ser protegido pelo Império.
Desconfiada que seu segredo tivesse sido revelado, Xena prontamente interroga.
– Ao que te referes amazona?
– Aos territórios sagrados, minha senhora. Eles devem ser respeitados como sempre foram.
– E qual é o quarto caso?
– Um castigo que dura dezesseis verões minha senhora e tem sido respeitado,

cumprindo na íntegra seu objetivo, não tendo mais sentido, pois uma lição foi ensinada e aprendida, com o exemplo dado e respeitado. Não há mais razão para a punição de Selenik.
– Você está indo longe demais Gabrielle.
– Apenas faço o que me foi determinado fazer, minha senhora. Procuro incongruências nos casos que me são indicados analisar, sem nenhuma outra intenção que não seja servi-la no total de minha capacidade. O povo desta cidade cometeu um erro grave em agir de maneira traiçoeira contra a Libertadora da Grécia, pagando com a vida, a liberdade, a fome e condições miseráveis de vida. Metade de sua produção é destinada ao Império e a outra metade que poderia ser para sua manutenção e crescimento, é dividida com o Templo de Atena em Pella.
– O que desejas realmente dizer Gabrielle?
– O objetivo desta ação era dar um exemplo e evitar que outros tivessem pensamento semelhante e isso não é mais necessário uma vez que a senhora é a Imperatriz do mundo. Apenas aponto como me foi ordenado, majestade.
– Acredita que castigos devem ter fim, Gabrielle?
– Acredito que punição deve ter um objetivo maior do que a vingança, minha senhora. Justiça honra ensinar, expiar ou mesmo dar o exemplo, são os objetivos maiores de uma punição, no entanto um castigo eterno punirá, mas não fará com que o merecedor do castigo possa corrigir seu erro. A culpa e a consciência são mais eficientes que o medo.
– Filosofia amazona?
– Não, majestade. Filosofia Macedônia.
Escorando-se para trás em sua poltrona preferida na frente da pequena lareira, Xena serve-se de mais vinho e chama Gabrielle para este canto reservado, sabendo exatamente de onde veio tal pensamento.
– Conte-me mais sobre isso.
– “Quando eu vivia como uma serva, apenas uma vez fui punida por minha senhora. Havia um canto em sua propriedade com uma queda d’água em um pequeno lago e algumas oliveiras no caminho. Eu tinha ido colher olivas com Dena, uma jovem de quinze verões de idade cuja mãe mantinha uma pequena loja de tecidos e realizava serviços de costura, vizinha da pousada que tinha permissão para utilizar o pomar e qualquer árvore da propriedade enquanto eu pastoreava algumas ovelhas e como o dia estava quente fui desafiada a nadar de um lado a outro do pequeno lago.
Não demorou muito o desafio de natação se transformou em desafio de mergulho do alto da parede rochosa na ponta do lago. Minha senhora havia proibido qualquer mergulho no lago saltando das rochas, pois isso era muito perigoso para quem não conhecesse bem o lugar e certamente eu era nova ali, mas fui irresponsável. Eu venci os desafios, todavia, na medida que a noite se aproximava eu tentei recolher as ovelhas

e leva-las para o aprisco e depois retornar para a pousada. Dois cordeiros estavam faltando e assustada começamos a procurar por eles, voltando para a pousada já com a noite iniciada a algum tempo.
A mãe de Dena estava aflita na pousada e minha senhora também se angustiou com minha ausência. Dena foi para sua casa com a mãe e quando minha ama viu as marcas das pedras em minhas pernas e braços, perguntou onde estávamos e o que realmente estivemos fazendo, então contei sobre os cordeiros e a verdade sobre o lago e os mergulhos.
Ela não falou nada, apenas me olhou daquele modo triste e distante que usava quando me disse de algo que se perdeu nas linhas do destino, minha senhora apenas falou que não iria permitir que aquilo acontecesse novamente e atendemos os clientes como sempre . Quando terminou a função, ela desceu comigo até a despensa mandando que eu deitasse em meu estômago sobre as sacas de grãos e após salientar que não deveria atrapalhar os hóspedes da pousada, usou uma cinta de couro, marcando minhas nádegas e coxas, me fazendo contar cada vez.
Fiquei trabalhando normalmente, porém sem água ou alimentos até a noite do dia seguinte e ela me disse que o castigo tinha a função de ser um lembrete no corpo, para que eu não voltasse a fazer algo assim novamente, mas que eu poderia corrigir meu erro agindo correto dali pra frente e ela confiava que eu faria assim.
Meu coração foi sendo preenchido por culpa e vergonha, afinal eu sempre tinha sido tratada com respeito e confiança por ela. Eu pedi seu perdão por ter esquecido meu lugar e concorrido com uma jovem livre, contra suas ordens. Nunca mais eu desobedeci.”
– Qual foi a contagem?
– Senhora?
– Até onde foi a contagem da cinta em teu corpo?
– Vinte e cinco.
– E você acha que Selenik já recebeu “cintadas” suficientes para não esquecer o respeito devido e o erro cometido?
– Acredito majestade, que a função de sua punição já foi cumprida e o perdão Imperial apenas faria com que maior lealdade fosse assegurada e a sabedoria de sua justiça realçada.
– Parece que a lição que você recebeu foi bem aprendida. Pensarei sobre isso.
Boa noite, Gabrielle.
-Boa noite, minha senhora.