– Como você está Gabrielle?
– Bem, embora já esteja ficando maluca com esta inatividade total. Parece que estou testando uma nova forma de tortura, embora Ohana tenha sido bem atenciosa, no entanto acredito que Néia precisa descansar e não consigo faze-la sentar um minuto.
Rapidamente Ephiny encara a escrava em questão.
– Sente-se, Néia .
– Obrigada capitã, mas tenho ordens de cuidar da princesa e fui ensinada que

o cuidador deve estar atencioso e pronto para intervir.
– Temos de atender os desejos da princesa Néia, não quero Gabrielle chateada
, então senta de uma vez!
Seu olhar dava pouca margem para dúvidas e Néia sentou incontinenti. Após ter sido deixada à margem do tratamento de Gabrielle por todo este tempo a capitã da guarda real não aceitaria uma negativa de uma escrava em algo tão simples. Ephiny estava sem paciência, pois o esforço físico do treinamento dos homens de Shumedes e o pouco sono deixaram-na com uma tolerância muito reduzida. As amazonas da guarda real tinham um ditado para isso: cuidado com panteras irritadas, lobas famintas e a capitã insone.
– E como tens levado as coisas com a Conquistadora , tendo Ohana aqui o tempo todo Gabrielle?
– É um pouco difícil equilibrar entre as duas, mas Ohana como sanadora age com uma autoridade que não deixa muita margem para dúvidas ou argumentações e a Conquistadora tem feito saber seus desejos como sempre. Você já tomou o desjejum?
– Não, eu quis ver como você está passando primeiro.
– Então veja e te tranquiliza, minha amiga. Néia, por favor, traga o desjejum em porção tripla.
– Perdão alteza, mas minhas ordens são de não deixa-la sozinha em nenhum momento.
– Por acaso eu estou invisível? Talvez você não me considere de confiança. É isso?
– Claro que não capitã!!! Apenas creio que não posso me ausentar dos aposentos sem a permissão da sargento.
– Você pretende obedecer uma sargento a mim? Você realmente é uma escrava sem senso de prioridade algum Néia. Discute com uma princesa e agora com uma capitã da guarda real que é uma major entre os Falcões do Império.
– Perdão capitã, mas minha senhora me deu ordens específicas e a princesa é uma paciente então a sua saúde está acima de seus desejos. Sinto muito.
– Você vai sentir mesmo, se imagina desconsiderar o pedido de Gabrielle. Você irá cumprir com o solicitado nem que eu tenha que pessoalmente conduzi-la até as cozinhas e de volta.
– Ephiny esqueça, ela tem seus motivos e eu não vou força-la. Peça para Salina ir às cozinhas e trazer desjejum triplo, por favor.
Enquanto Ephiny vai até a porta, murmura algo sobre a bondade de Gabrielle não salvar Néia de um aprendizado sobre protocolo real. Como capitã da guarda, é seu dever providenciar que algo assim não ocorresse e ela iria ensinar boas maneiras para Néia na primeira oportunidade.
– Salina, por favor, vá às cozinhas e traga um desjejum triplo para cá. Deixe que eu faço a segurança enquanto você se ausenta, obrigada.

– Certo.
Mal Salina vira no corredor buscando as escadas, a Conquistadora vinha se aproximando.
– Bom dia Ephiny .
– Bom dia Conquistadora .
– O que a capitã da guarda faz aqui?
– Guarda.
– Estamos espirituosas e corajosas hoje pela manhã.
– Desculpe majestade. Não quis ser desrespeitosa, mas esta situação da senhora ser conhecida como uma sargento está um tanto engraçada. Agora a pouco a escrava Néia negou-se a cumprir um pedido de Gabrielle alegando ter ordens de uma sargento, que eu sei ser a senhora, mas ela não. Em que país do mundo uma sargento está acima de uma major, uma Embaixadora ou uma princesa, pois mesmo na escravidão vossa majestade manteve o status de Gabrielle.
– Quando estamos falando de um sanador, suas ordens visam o bem estar do paciente, então ela teria autoridade sobre o tratamento o que inclui comportamento e situações, embora isso não deixe margens para ofensas ou insubordinação .Sobre o que era a questão?
– Gabrielle pediu que ela fosse pessoalmente buscar seu desjejum e ela negou-se a sair dos aposentos sem sua permissão pessoal. Não quero criar nenhuma tensão majestade, mas temos de estabelecer a hierarquia antes que fique suspeito uma sargento com tanta autoridade.
– Tens razão Ephiny . Eu entrarei no aposento e você deve seguir-me e fazer o que achar necessário para estabelecer uma linha de comando adequada. Não quero Néia com suspeitas ou desconsiderando os desejos de Gabrielle, no entanto conto com o bom senso de Gabrielle e principalmente o seu. Estará na sua responsabilidade fazer com que Gabrielle não se exceda por conta disso.
– Entendi perfeitamente, sargento e sei inclusive a maneira de fazer isso acontecer, mas precisarei de sua permissão.
– Tenha em mente que exageros serão punidos de maneira rigorosa e sua permissão está concedida.
Entrando junto com Xena, Ephiny propaga em alto e bom tom sua superioridade hierárquica, apontando Néia e falando com Xena.
– Diga a esta sua escrava o respeito devido à uma major dos Falcões de sua majestade, mostre-lhe seu lugar, sargento!
Xena coloca-se em prontidão e responde de maneira adequada ao posto que Ephiny tem entre os Falcões.
– Sim, senhora. Como eu te disse antes escrava, a menos que a ordem prejudique a integridade física do paciente, você deve respeito e obediência aos seus superiores o

que no seu caso abrange quase todo mundo com quem irá interagir. Venha aqui Néia ! Assustadas Gabrielle e Néia olham para as duas. Gabrielle por que sabia as lições que a Conquistadora costumava aplicar e Néia por que desde o primeiro momento tinha ficado claro que a sargento Ohana não era de brincadeiras quanto as ordens que dava e ela sabia que estar sentada ao invés de em pé e alerta era uma
falta no pensar de sua senhora. Levantou-se e foi até ela.
– Minha senhora.
– Peça perdão à major por sua falha, escrava insolente! Néia vira-se para Ephiny .
– Peço que me perdoe senhora, não tive intenção de ofender, apenas atender as ordens recebidas.
Xena aproveita a ocasião para ensinar a Ephiny sobre o controle necessário para exercer o poder total de vida sobre outros, agarrando Néia pelos cabelos, puxa sua cabeça para trás, forçando-a a olhar pra cima a encara firmemente.
– Você ficou tanto tempo como escrava de uma senhora compassiva e cuidando de uma criança que não tem dimensão de erro? É claro que sendo capitã da guarda real da princesa, a major pode te dar ordens e eu disse que te esfolaria se a princesa piorasse.
– Perdão minha senhora.
– Talvez a senhora deseje as honras major, decidindo a punição desta imbecil uma vez que ela ofendeu a hierarquia, pagará até com sua vida se a senhora desejar. Em teus joelhos sem justificativas e reze aos Deuses para que ela aceite teu pedido. Xena puxa seu punhal e entrega a Ephiny que sem esperar que a Imperatriz colocasse Néia em tão perigosa situação, interrompe subitamente seu andar na direção de Gabrielle, ficando sem palavras e tomando mecanicamente o punhal da Conquistadora, extremamente envergonhada ao ser posta em tal posição de poder
total sobre outra mulher, sem objetivo ou regras.
Imaginando este silêncio ser ira da amazona, Néia se coloca de joelhos com os olhos arregalados e falando o mais mansamente que conseguia.
– Perdão capitã, realmente eu não percebi. Farei qualquer coisa que me for ordenado, sou uma imbecil e uma parva, por favor não me machuque! Eu aprendi meu lugar, por favor capitã tenha piedade! Misericórdia! Em nome de Artemis , misericórdia capitã!
Xena dando as costas para as três mulheres na sala havia largado a infeliz escrava e ido até o aparador. Gabrielle percebe a intenção de sua senhora, mas ao ver tal cena intervém chamando para si a responsabilidade de desmanchar a tensão, pois não pretende permitir que sua amiga ultrapasse os limites, mesmo que seja para divertir a Conquistadora.

– Creio que a capitã ou a senhora Ohana podem relevar esta situação, uma vez que Néia buscava meu bem estar e eu não corri nenhum tipo de perigo ou piorei, como disse a sanadora. Por favor, sargento, releve a situação, uma vez que Néia apenas desejava permanecer no aposento seguindo suas ordens e absolutamente não me ofendeu de maneira alguma.
– Não é mais comigo princesa e já entreguei à Major o destino desta incompetente que não sabe seu lugar.
– Ohana! Não fale desta maneira. Néia tem sido incansável nos cuidados dispensados a mim e esta confusão foi armada por minha falta de senso em solicitar o que não devia a alguém que não poderia cumprir. Por favor, me perdoe releve a situação dela e de Ephiny .
Enquanto verificava os medicamentos no aparador Xena ia cada vez mais se divertindo com a situação.
– O que importa é como a princesa está se sentindo. A major está onde lhe compete e não cabe a mim interferir com uma superior a ensinar o valor da hierarquia, muito menos para uma escrava.
O duplo sentido da frase não passou despercebido de Gabrielle, mas a indignação com o absurdo da situação de Néia aos pés de Ephiny e a injustiça de uma punição por cumprir fielmente as ordens recebidas fez com que a princesa amazona reagisse com veemência.
– Esqueces que eu sou uma escrava neste palácio Ohana e minha senhora não aceitaria uma escrava punida apenas por insistir em cumprir suas ordens. Ephiny, ajuda-a a levantar e conversaremos mais tarde sobre tua reação a uma negativa razoável.
Xena ainda interpretando a sargento Ohana tenta fazer Gabrielle desistir de interceder.
– A princesa não deveria se intrometer entre uma major e seu ajuste de contas, mas deixar a lição tomar seu curso!
– Você não deveria se intrometer entre uma princesa e a capitã da guarda real.
Faça o que veio fazer e saia de meu quarto!
Xena não esperava tal veemência e este tom de comando vindo de sua escrava tão solicita, então virando-se rapidamente, faz surgir em sua mão seu segundo punhal chegando a esboçar um passo em direção a Gabrielle e apenas a voz de Ephiny chamando-a para manter seu disfarce impediu que o impensável acontecesse e entregando o punhal de volta para Xena, Ephiny reza à Artemis Caçadora que a oriente e que ela não erre novamente o alvo.
– Sargento Ohana! Aqui está seu punhal. Desta vez não farei uso dele, mas guardarei o oferecimento se esta escrava novamente passar dos limites. Guarda-o no lugar devido, embora pareça que você tem um estoque interminável deles. Este não

será necessário por enquanto. Como está a princesa Sargento?
– Muito bem major. Hoje deverá sentar-se na cama e amanhã começaremos com exercícios para suas pernas e braços.
Mirando Néia com uma forma que não dava muito espaço para má interpretação, Ephiny deixa passar toda a indignação que sentia quando esta confusão começou.
-No momento você está a salvo Néia , pois minha princesa deseja que se esqueça do assunto, entretanto recomendo que doravante pense melhor antes de negar-se a executar um pedido real. Você entendeu?
– Sim major. Obrigada.
– Ótimo. Depois vá até as cozinhas e ajude Salina com o desjejum e você sargento, faça um prognóstico da volta da princesa às suas funções normais.
Xena estava observando o olhar de alivio de Gabrielle quando percebeu que Néia estava a salvo, ao mesmo tempo em que percebeu que uma capitã amazona teria muito que se explicar mais tarde.
– Então sargento, o gato comeu sua língua?
Colocando-se em prontidão, Xena assume seu papel de sargento e sanadora, optando por manter o disfarce sabendo que sempre haveria tempo de corrigir o engano de Gabrielle.
– A febre tem se mantido longe e o ferimento está cicatrizando corretamente. Em duas noites poderá levantar-se e antes da lua nova deverá retomar suas funções para a Conquistadora , senhora.
– Na facilidade, sargento.
– Agora devo examinar seu ferimento, alteza.
– Claro, como desejar.
Examinando Gabrielle com mais vagar seu diagnóstico anterior se mantinha, enquanto Néia ia ao encontro de Salina para buscar o desjejum.
– Em duas noites deverá levantar e caminhar, fazendo uma marca de vela em pé após as refeições. Néia verá seu conforto e necessidades durante o dia. Agora tenho de ir, passarei aqui pela tarde e conto contigo Ephiny para que Néia saiba seu lugar mas acima de tudo cuide bem de Gabrielle segundo as especificações que passei. Bom dia, alteza.
– Bom dia, Ohana.
– Capitã.
– Sargento.
Salina entrava com Néia e um desjejum triplicado equilibrando os itens com alguma dificuldade e Xena parou na frente dela, fixando seu olhar, fazendo Néia mirar os pés com um tremor no corpo todo e principalmente um arrepio na nuca que desceu pela espinha falando baixo num tom duas oitavas abaixo do seu natural.
– Cuida dela atendendo a princesa em tudo que ela desejar e lembra que ainda

teremos uma conversa sobre obediência.
– Sim, minha senhora.
Xena seguiu seu caminho e Néia apresentou-se novamente na frente de Gabrielle.
– Então o que ela disse?
– Quem?
– Não se faça de inocente, Néia . O que Ohana te disse na saída?
– Que eu a cuidasse alteza e atendesse suas necessidades e desejos.
– Só isso?
– Que ainda teremos de conversar sobre obediência.
– Não se preocupe com isso que a Conquistadora exige o mesmo e na escravidão podemos apenas esperar que a próxima hora seja mais suportável que a anterior. Com a ajuda de Atena a Conquistadora fará que a sargento Ohana esqueça qualquer cobrança sobre este episódio. O que eu disse era verdadeiro sobre ser minha a culpa em primeiro lugar e Ephiny também não fará nenhuma alusão ao ocorrido aqui novamente. Peço que me perdoe se puder Néia e seria muito agradável que tomasse o desjejum conosco e contasse sobre esta jovem a quem serviste e o tempo que conheces a sargento.
– Obrigada princesa. Eu servi na casa de Aristeu de Larinia e a jovem Raysa estava doente há várias noites e só fazia piorar. Então um dia chegou um pelotão de Falcões e minha senhora estava entre eles como sanadora. A pedido da senhora Heidi, a sargento tratou da menina e quando partiu eu fui parte de seu pagamento, então fui trazida aqui para trabalhar no palácio e agora sou responsável por seu pronto restabelecimento.
A manhã transcorreu tranquila, sem outros incidentes, com Gabrielle contando histórias sobre o tempo em que o celeiro era seu abrigo secreto e ela tecia seus contos para sua irmã e as crianças da vila, enquanto por sua insistência Ephiny selou o episódio relatando duas situações engraçadas da juventude de sua Trial, indo assim até próximo do almoço.
No início da tarde, quando a capitã saiu para os seus aposentos buscando descansar um pouco, antes de voltar ao treinamento da guarda do senhor Shumedes, tranquila que a sentinela na porta estaria atenta com troca estipulada para cada três marcas de vela. Sabia que Gabrielle se encarregaria de fazer Néia entender sua posição adequadamente e a escrava tentaria esquecer o estresse da manhã para que Gabrielle pudesse ter tranquilidade.
Passavam cinco marcas de vela do almoço, já no início da noite, quando a Conquistadora entrou em seus aposentos silenciosamente e observou Gabrielle dormindo enquanto Neia, no aparador e de costas para o centro da sala, providenciava uma mistura de ervas e infusões para ministrar em meia marca de vela. Gabrielle dormia com alguma profundidade devido raíz de valeriana adicionada à mistura de

duas em duas marcas.
– Venha comigo, Neia.
Néia acompanhou Xena até a sala de banhos.
– Feche a porta e me diga como ela está.
– Está dormindo senhora, uma vez que a raíz de valeriana foi adicionada em seu último chá e não tem reclamado, mas claramente ainda sente dor, pois embora tente ocultar, seu corpo todo treme quando tenta mover o braço e tem demonstrado estar muito preocupada.
– O que anda preocupando a princesa amazona?
– Em seu sono agora a pouco ela mencionou a Conquistadora em uma caçada.
– Como assim?
– Ela estava conversando com outras duas mulheres e estavam discutindo, pois ela elevou um pouco a voz e disse que a Conquistadora era a segurança e a prosperidade do Império e ela pedia à Caçadora que protegesse a Senhora do Mundo acima de tudo, garantindo a força da Grécia e a vida de seu povo.
– Tem certeza que ela disse isso?
– Sim senhora, então percebi que ela deveria estar delirando, pois como uma Caçadora iria proteger a Conquistadora que é a melhor guerreira que o mundo já viu.
Sentando em um divã ao fundo da sala de banhos, Xena chama Néia para chegar mais perto.
– Senhora.
– Eu fui muito clara quando disse que você deveria cuidar bem da princesa ou haveria consequências.
– Sim senhora.
– Sabes que o pedido de Gabrielle foi razoável , no entanto vou te dar uma chance de se explicar sobre o episódio com a major amazona. Faz com cuidado.
– Eu apenas não quis deixar a princesa sozinha senhora. Sei que a capitã estaria aqui e faria seu melhor, mas não sabia se ela conhecia o que fazer se a dor ou a febre aumentassem.
– Não te ocorreu deixar instruções indicando o que fazer e obedecer a ordem de uma superior ? Quanto tempo você imaginou que demoraria?
– Não senhora. Eu sabia que não demoraria muitas contagens, mas apenas entendi que não deveria me ausentar do aposento, uma vez que a senhora disse que haveria uma amazona na porta para providenciar o que fosse necessário.
– Gabrielle é a escrava que a Conquistadora chama de seu animal de estimação Néia e a Senhora do Mundo não é satisfeita com os que a magoam.
– Por favor, senhora. Eu não a magoei e ela entendeu perfeitamente minha intenção de apenas obedecer a seus ditames.
– Você deve pensar melhor Néia. Quando escolhi você ao invés de alguns

cavalos de raça foi por que vi potencial em você e não a simples obediência que eu teria em qualquer escravo devidamente apaleado, então espero mais de você do que agir cegamente sem ponderar cada situação individualmente.
– Perdão minha senhora.
– Você vai lembrar-se disso ou devo deixar uma lembrança para ajuda-la?
Enquanto dizia isso Xena ia manipulando seu punhal afiadíssimo e ia brincando com ele.
– Por favor, senhora, eu irei lembrar e farei conforme sua vontade.
– Sabe Néia, a Conquistadora acredita que quando se retira uma parte da pele de um escravo, ao se reconstruir a pele também fica incorporado algo de juízo se ele repetir a cada instante que não fará novamente o erro cometido.
Caindo de joelhos aos pés de Xena Néia implora por piedade.
– Em nome de Atena Higéia eu suplico seu perdão minha senhora! Tenha piedade senhora! Juro pela sagrada Atena que tomarei o maior cuidado em não decepcionar novamente.
– Levante e olhe pra mim.
– Minha senhora.
– Te permitirei ficar com tua pele intacta, mas vou te dar algo para não esquecer tão cedo e você não vai falar para ninguém sobre isso. Se acontecer de nós termos de repetir esta conversa vou entregar a punição que agora estou poupando junto com a outra. Entendido?
– Obrigada senhora.
Xena se aproxima mais da escrava, tocando-a no ombro dizendo ao seu ouvido que está perdoada. Puxando seu braço pra trás acerta um soco no alto do abdômen, na altura do estomago com uma força que no seus padrões seria moderada, mas faz Néia se dobrar em duas ficando uns instantes sem ar. Lentamente ela volta a respirar normalmente.
– Recado dado Néia. Que eu não tenha de repetir, pois você não iria gostar.
Você entendeu? Responda escrava, você entendeu?
– Sim minha senhora.
– Agora em sua segunda lição você deverá pegar este pequeno tapete atrás de

você.

Néia se vira e encontra um tapete quadrado muito pequeno, preto e bordas

douradas, com um pé de largura e um pé de comprimento.
Coloque-o no chão afastado da parede dois pés de distância e suba nele, cuidando para que seus pés não toquem o piso fora dele em nenhuma parte.
Néia cumpre imediatamente da melhor forma possível.
– Quando você for cuidar de Gabrielle, realizará suas atividades normalmente e depois colocará este tapete afastado da parede e ficará parada sobre ele até o próximo

momento de atender Gabrielle. Nada de sentar na cama para ouvir histórias, conversar ou trocar ideias. Sem encostar na parede, no aparador, em cadeiras ou o que for. Está claro?
– Sim minha senhora.
– Bom. Está autorizada a sair deste tapete apenas para atender Gabrielle ou a um chamado da natureza com autorização dela.
– Sim minha senhora.
– Agora vou atender outras atividades e você vai tomar seu lugar no tapete.
Vamos!
Néia tomou seu lugar indicado e Xena saiu em direção aos aposentos que eram de Gabrielle e estavam ocupados pelas mulheres que vieram da propriedade de Fabíola, decidida a organizar uma ideia que estava se formando sobre as seis mulheres que vieram da região de Abelar.
Chegando nos aposentos teve uma recepção comum em sua vivencia. Todas as mulheres levantaram e se curvaram permanecendo curvadas mirando o solo em silencio aguardando serem chamadas. Polinia responde por todas.
– Senhora.
– Como vocês tem passado?
– Estamos bem, minha senhora, aguardando ser adequadamente úteis.
– Sei. Feche a porta Polínia e ninguém saia de seu lugar ou levante os olhos.
Chegando junto a Xantara, Xena levanta sua cabeça e seu corpo foi ficando na vertical. Xena a foi beijando de forma lenta e gradual tomando conta integral da boca de sua escrava, abraçando-a e passando o braço sob seus joelhos levantou-a levando-a para a cama, começou a manipular seu corpo da maneira que melhor lhe aprazia, mas aos poucos seu prazer foi sendo tomado pela imagem de Gabrielle deitada e totalmente disponível não havendo uma resposta de seu corpo para as ações que sempre lhe trouxeram prazer.
A Conquistadora sabia o que isso significava: a Senhora do Mundo estava apaixonada e nada poderia mudar isso.
As parcas certamente estavam rindo e Afrodite deveria estar se comprazendo com a situação em que se encontrava, onde não era uma questão de objeto, mas de sensibilidade e simbolismos que fariam a diferença.
Finalmente a Deusa do Amor teria a mão maior no jogo do prazer, da sedução e dos sentimentos sobre os sentidos e a luxúria, o poder e o desejo, a manipulação e a ganância que sempre usara a seu favor.
Afrodite sempre a prevenira que este dia chegaria e ela dissera que levaria pela frente como sempre fizera. A Deusa do Amor a advertira que saberia do amor quando não conseguisse ultrapassar o poder do amor puro e que ao estar apaixonada tudo isto mudaria , não tendo o poder sobre si mesma, sua mente seria tomada de

tal maneira que não conseguiria manter o pensamento coerente nem manipular o ser amado como fazia facilmente com os inimigos ou os objetos que se vendiam a ela por ouro, posição ou simples sobrevivência .
Ela sempre teve a sensação que Gabrielle não era sua inimiga e agora teve a comprovação, mas não podia deixar isso tão evidente com estas mulheres que estavam ali para seu prazer e ela enviara para atender Gabrielle. Então manifestando um desconforto com a falta de resposta de sua parceira Xena interrompeu o contato.
– Basta! Desça da cama.
– Minha senhora?
– Você é surda? Mandei descer.
Muito assustada Xantara desce sem saber o que seria seu destino ou o que fizera de errado e ajoelha-se aos pés da cama, aguardando novas ordens.
Xena fecha os olhos e cobre-os com os antebraços ficando assim por meia marca de velas, tempo em que apenas se escuta o bater dos corações e o trepidar das chamas na lareira.
Quando levanta apenas determina que não emitam nenhum som e não dedica um único olhar às mulheres reunidas na sala, saindo sem olhar para trás. No corredor fecha a porta chamando Kleith, a amazona de sentinela na porta e dá uma ordem inequívoca, que seria obedecida sem restrições.
– Nenhuma palavra a elas e ninguém sai ou entra neste aposento a não ser Ephiny , entendido?
– Sim, majestade.
Xena segue seu caminho e Kleith toma seu posto sem segundos pensamentos. Pouco antes do Jantar, Xena se reúne com seus oficiais no pátio interno, conhecido como o ninho do Falcão, onde algumas lições de disciplina são organizadas para que os jovens Falcões possam corrigir seus pensamentos acerca da disciplina nas fileiras.
– Terquien, diga a Elthor que feche a rede sobre Rudaki e ele seja aprisionado com todos os seus bens confiscados sob pretexto fiscais ou qualquer outro de ordem administrativa mais leve. Seus bens passam imediatamente para a coroa e sua família está confinada à propriedade de verão que mantém em Atenas, sob vigilância discreta
. Coloque alguns Falcões disfarçados como servos na casa.
– Ao seu comando Conquistadora.
– Palaemon, veja que Siana aguarde nos aposentos reservados às amazonas e vamos tratar deste assunto mais agradável que está em nossa frente.
Acorrentado em grilhões nos pés e mãos, entre dois Falcões, o homem que quase feriu Xena não tinha nenhuma ilusão a respeito de seu destino. Pensava porém que talvez pudesse ver minimizada a forma pela qual morreria uma vez que a Imperatriz do mundo não fora atingida, apenas uma escrava da casa e este foi seu grande erro, imaginar que o atingir uma escrava seria uma perda menor ao se tratar de uma

amazona, raça inferior e totalmente dispensável. O gracejo que fez a este respeito certamente foi o último erro de cálculo em sua vida.
– Valérius!
– Conquistadora .
– Toma a vida da família deste animal um a um, começando pelos mais jovens e terminando pelos irmãos dele. Não devem manter nenhuma pele sobre os braços para que saibam não dever jamais se levantar a mão sobre a realeza novamente. O mesmo para todos que sabiam de suas intenções ou suspeitavam e nada disseram.
– Sim, majestade.
– Piedade, majestade, piedade. Eu já expus todo o plano ao general Terkien, que fui contratado por Rudaki para no mínimo garantir que vossa majestade não pudesse comparecer ao banquete e lançar dúvidas em seus aliados sobre a sua capacidade de manter o Império dando margem para alianças nas fronteiras, mas de preferência eu deveria fulmina-la no local.
– Qual seria seu ganho pessoal?
– O comando da guarnição do entreposto de Iarder, na fronteira norte do Império, pela Macedônia .
– Tenha em mente que tudo que disser será averiguado e confirmado e qualquer mentira apenas irá acrescentar maior sofrimento aos teus familiares. Quais Falcões te acompanham nesta empreitada?
– Nenhum. Os homens viriam todos da região de Pisatis e outros recrutados pelo próprio Rudaki. Não é confiável abordar um Falcão sobre trair a Conquistadora. Eles não são de confiança, podem tentar nos enganar para saber nossos planos e nos delatar na primeira oportunidade. Mas as crianças não sabiam de nada, as crianças não tem nada com isso, majestade. Elas são inocentes. Tenha piedade.
– Você devia ter pensado nelas antes, imbecil. O sangue delas esta nas tuas mãos, não nas minhas. Não apenas escolheste te tornares um regicida mas escolheste trair os Falcões e atacaste a família real amazona em minha casa e isto é imperdoável. Os Deuses irão tomar em tua alma esta dívida.
– Majestade, posso falar?
– Sim, major.
– Em nome da Casa Real amazona, eu suplico a piedade de vossa majestade para as mulheres e crianças inocentes deste caso, conforme a lei permitir.
– Considerando ser sua princesa a principal atingida que corre risco de morte, atenderei o pedido. Darei a misericórdia de um julgamento segundo a lei amazônica a se realizar quando Gabrielle melhorar. Sua solicitação está concedida, para os jovens, mulheres e crianças inocentes, desde que você se comprometa a explicar a ela major e garantir que a sentença seja cumprida imediatamente sem subterfúgios.
– Sim, majestade. Obrigada.

– Não! Não os entregue a elas!! Por favor majestade, tenha a piedade de uma morte rápida para minhas crianças, não as entregue para as amazonas!
– Você não tem direitos! E uma vez que sua flecha atingiu a Casa Real amazona é justo a princesa também decidir o destino dos teus. Você os trocou por uma guarnição na Macedônia e não se importou com a vida de seus irmãos que morreriam no processo, nem com os Gregos que cairiam na revolução que seguiria. Não lhe ocorreu que o que mantém a prosperidade do povo e a paz é o Império? Você foi usado e manipulado, condenando todos os que sabiam de tais planos.
– Piedade! Em nome de Ares, o perdão de um soldado majestade!
– Terquien, um Falcão que fala com língua falsa deve ter sua língua fatiada em tiras, dividida para seus diversos senhores. Uma para cada comandante. Faça com vagar para que ele pense bem sobre suas péssimas escolhas.
Fazendo que dois Falcões segurassem Hutanis, Terquien dá ordem para um terceiro Falcão puxar sua cabeça para trás enquanto dois alicates sacam sua língua para fora e uma faca afiadíssima vai cortando-a em quatro tiras sem separa-la na raíz. Rapidamente a língua incha, mas os terminais nervosos fazem a dor multiplicar-se milhares de vezes.
– Amarrem seus braços na mesa e coloquem um couro em sua boca para que não sufoque.
– Ao seu comando.
– Agora major, preste bem atenção no que eu farei, pois desejo ver minhas ações espelhadas e você garantirá que a mão que feriu Gabrielle aprenderá a dor de ferir a Casa Real amazona.
Lentamente Xena sacou de seu punhal e fez o primeiro corte com paciência estudada terminando-o no início do dorso da mão. Repetiu o procedimento da ponta da unha em cada dedo e pelos lados parando no princípio da palma. Depois, lateralmente tanto pelo polegar como pelo dedo mínimo correu o fio desenhando uma luva onde levantando as pontas aproximou a lâmina e foi destacando a pele deixando a mostra vasos, carne, ossos e nervos.
Entregando seu punhal à Ephiny , Xena aguarda pacientemente uma reação.
– Sua vez, amazona.
Ephiny imitou a Conquistadora em todas as suas ações e conscientemente manteve-se longe de tocar a carne. Fez um esforço para concentrar-se no ato de retirar a pele sem magoar o objetivo, como se tratasse de uma caça nobre para um banquete real, sabendo que de sua pericia e eficiência dependeria o bom humor da Imperatriz, sua boa vontade e tolerância para com as crianças. Tinha esperanças que Gabrielle aprovaria seus esforços em poupar os inocentes. Novamente o Falcão traidor desmaiou e novamente foi trazido à luz da consciência, sendo reanimado. Ephiny continuou seu trabalho ficando com uma luva muito semelhante àquela da

Imperatriz fazendo um jogo tétrico perfeito.
– Retirem a pele de ambos os braços e ele deve ser empalado por quatro marcas de vela antes que todos sejam crucificados no pátio interno. Os demais envolvidos devem ser esfolados, imediatamente após este tempo. Estas execuções devem ficar em sigilo absoluto. Avisem os escravos que destino igual ou pior aguarda aquele que mencionar qualquer coisa ocorrida em minha casa. Siga com a sentença Valérius.
– Sim Conquistadora .
– Venha comigo amazona.
Chegando a seu estúdio Xena serve um cálice de vinho para si e outro para Ephiny .
– Sabes que Gabrielle não será feliz contigo por tua ação lá embaixo.
– Sim senhora.
– Então.
– Senhora?
– Por que o fizeste?
– Devia ser feito. A senhora desejava que fosse feito e deveria realiza-lo em nome da Nação na ausência de Gabrielle.
– Na ausência de Gabrielle Imaginas que ela o faria?
– Creio que não conseguiria de pronto, embora se fosse ordenada a fazer acredito que realizaria sim.
– Explique.
– Gabrielle leva seu juramento muito a sério e entende que a obediência à vossa majestade tem primazia às suas convicções pessoais.
– Talvez eu deva testar isso.
– Sinceramente eu espero que nunca o faça majestade, pois iria destroçar a alma pura dela, mas minha princesa passaria no teste.
– Pensarei nisto. Você passou no seu. As escravas que estão nos aposentos de Gabrielle e Néia serão encaminhadas para a propriedade no vale que servirá como abrigo temporário para as escravas que forem retomadas dos piratas até que se investigue sua real condição. A função delas será atender e manter estas mulheres enquanto o Império determina seu destino. Tudo o que sabem é que pertencem a mim como sargento do Império e é tudo que saberão. Você e Siana irão organizar a propriedade e inicia-las nas novas funções. Deverão se manter, proteger e sustentar. Receberão verba e suprimentos devendo estabelecer a casa como se fosse uma estalagem. Você pode fazer isso?
– Sim senhora.
– Precisará de mais alguma coisa?
– Talvez algumas servas ou servos para os serviços da casa mais pesados.
– Receberão Cláudia e outras duas escravas para atender as necessidades da

casa que poderão usar como você achar melhor juntamente com três escravos para os trabalhos mais pesados. Eis aqui trezentos talentos de ouro e Siana está em teus aposentos aguardando determinações sobre como poderá ajudar. Ela tem ordens expressas para atender tuas especificações de qualquer natureza. Dispensada.
– Conquistadora .
Xena foi para seus aposentos relaxar e meditar em sua piscina enquanto decidia os rumos do tratamento e do que faria agora com Gabrielle
Saindo do estúdio da Conquistadora Ephiny dirigiu-se aos seus aposentos tentando estabelecer uma linha de ação. No período que esteve no palácio como membro da guarda imperial e agora nos últimos tempos como guarda pessoal de Gabrielle, Siana sempre demonstrou o maior respeito pelas amazonas, tendo com todas o mesmo procedimento que mantinha com os signatários das nações visitantes que frequentavam o palácio.
Definitivamente Ephiny não estava feliz tendo-a sob suas ordens com tão amplos poderes em suas mãos, pois sabia por experiência que a Conquistadora esperava ver o poder ser exercido em sua plenitude e quando o entregava sem reservas era realmente isso que pretendia dizer. Diferente da hierarquia militar as funções palacianas eram um verdadeiro mistério para ela .
Quando passou por Kleith de sentinela nos aposentos destinados a Gabrielle, a capitã da Guarda real já estava determinada a agir com cortesia e entrando nos seus aposentos onde Siana a aguardava observando as estrelas da janela, teve reafirmada esta determinação .
– Boa noite Siana.
Voltando-se rapidamente, Siana se recompôs e devolveu o cumprimento, ficando nesta postura de aguardo tão comum nela, de espera tanto submissa quanto altiva num orgulho serviçal que lhe acompanha em todas as ações, típicas de quem convive por anos, servindo entre os grandes.
– Boa noite Embaixadora .
– Trago ordens da Conquistadora para ti. Parece que temos uma missão em consonância com as crenças de meu povo e espero que não seja nenhum impedimento para ti trabalharmos juntas.
– Certamente que não, senhora.
– Você é uma escrava, Siana?
– Não senhora. Trabalho como serva no Palácio e a cinco verões organizo as coisas da casa da Conquistadora que saem da esfera das cozinhas , onde Cassandra reina soberana.
– O que você pensa de meu povo Siana?
Siana estava se sentindo incomodada com este interrogatório. Como todos os

servos e escravos da casa ela também ouvira os gritos e ela sabia bem o papel que a capitã amazona havia exercido na execução de Hutanis. Ao mesmo tempo Siana era um dos poucos membros do palácio que privava de certa intimidade com Xena a ponto de saber da charada dos seus disfarces como Falcão. Suas ordens foram para atender toda e qualquer solicitação da amazona, mas nenhuma havia sido feita, apenas perguntara sobre seu pensamento. Aprendera a muitos verões não desobedecer a Conquistadora e uma resposta era devida ao questionamento feito para cumprir ao mandamento recebido.
– Penso que é um povo nobre e extremamente corajoso, senhora. As lendas são cantadas tanto abonadoras quanto assustadoras, mas seu caráter guerreiro sempre é mencionado ao lado da honra e como povo escolhido da Deusa Artemis. Estou honrada em servir sob suas ordens e farei meu melhor para atender suas expectativas.
– Muito bem, isso vai servir. Até amanhã pela manhã providencie o que for necessário para montarmos uma pousada na propriedade ao sul de Corinto , depois do vale. Colocaremos Polinia no comando lá e elas saberão pertencer a sargento Ohana, como a casa e tudo que houver nela, sendo esta uma missão que a sargento quer ver levada a bom termo. Em sua pousada terão a missão de atender as mulheres que hospedarem da melhor maneira possível e é aí que você vai entrar com sua experiência em recepcionar as diferentes culturas dos frequentadores do palácio.
– Sim major.
– A Conquistadora deseja que as escravas que forem apreendidas dos piratas ou outros traficantes sejam investigadas, realizando-se uma triagem e aquelas que forem frutos de raptos sejam encaminhadas para suas famílias, pois são cidadãs livres, cabendo ao Império reintegra-las à sociedade e não legalizar sua desgraça. Estas seis que vieram de Abelar deverão manter esta pousada e você deverá ainda selecionar duas escravas para atender aos serviços da taverna e pousada juntamente com a escrava Cláudia, que eu não conheço.
– Claudia? A senhora tem certeza?
– Sim, este foi o nome que a Conquistadora mencionou. Por quê?
– Claudia não é uma escrava de tarefas domésticas major. Eu realmente não sei que serviços ela seria capaz de realizar ou a senhora sugere que esta pousada ofereça serviços como um bordel também?
– Eu estou sugerindo apenas e exatamente o que estou dizendo e nada mais Siana. Jamais uma amazona colocaria uma mulher nesta situação aviltante. Envie esta Cláudia para meu aposento quando você sair, pois quero falar com ela ainda hoje. Obrigada e até amanhã.
– Até amanhã, Embaixadora e eu não quis ofender de maneira alguma, por favor desculpe. Boa noite.
– Boa noite.

Ephiny volta para o interior de seu aposento indo até a sala de banhos, abrindo a enorme tubulação para água quente diretamente das termas deixando encher esta banheira que apresenta nove pés de comprimento e é um pouco maior que uma enorme cama para quatro pessoas deitarem lado a lado, com profundidade adequada para ficarem em pé se desejarem e retorna para a sala.
Kleith abre a porta.
– Uma Claudia esta aqui para vê-la capitã.
– Que entre Kleith e não desejo ser incomodada por nenhum motivo que não seja Gabrielle, a Conquistadora ou que estejamos sob ataque.
Kleith abre um sorriso deixando Cláudia passar e numa formalidade jocosa se coloca em prontidão, voltando para seu posto nos aposentos em frente.
– Sim capitã!
O diálogo não foi perdido em Claudia que foi ficando cada vez mais preocupada com o que a estava aguardando esta noite.
– Entre por favor, venha até aqui Claudia. Finalmente nos conhecemos! Como você está?
– Muito bem, senhora.
– Sabe quais são tuas ordens?
– Fui enviada aos seus aposentos com ordens de atender todos os seus comandos, senhora.
– Vem, senta comigo. Aceita vinho?
– Como lhe agradar senhora.
– A questão é outra Claudia. Você já comeu?
– Sim, nós somos instruídas a nos alimentar sempre que possível para estarmos disponíveis e sempre prontas para qualquer chamado.
– De qualquer maneira coma comigo.
Apontando para um divã no fundo da sala, próximo de uma bancada baixa com alimentos Ephiny indicou a Claudia que sentasse.
Claudiasentou-semecanicamenteolhandoparaasmãosemseucoloaproximando o queixo do peito, sem fitar a mulher guerreira ainda armada que estava a sua frente, pois sendo suas armas quase uma segunda natureza Ephiny não percebera que não as tirara.
– Diga-me o que você faz para a Conquistadora .
– Qualquer coisa que ela desejar, senhora.
– Isso todos nós estamos afeitos Claudia. Eu gostaria que você fosse mais especifica sobre suas atividades. Dê exemplos, seja descritiva e me conte sobre seu último serviço que não for segredo.
– Perdão minha senhora, mas qualquer coisa que envolva a Imperatriz do mundo é sigilosa e não deve ser comentando, independente das consequências pessoais que

acarretar tal negativa.
-Como você vai lidar com a ordem de me servir e a ordem de manter tal segredo ao mesmo tempo?
– Perdão minha senhora, vossa ira certamente deve ser temida e eu aceitarei de bom grado qualquer castigo que imponha por desagrada-la.
– Você não me desagradou Claudia, nem estou irada. Eu apenas estava curiosa sobre suas habituais atribuições junto a Conquistadora pois devo determinar tarefas para você cumprir e gostaria de manter próximas de coisas que sejam de seu conhecimento.
Terminando de servir duas travessas com carnes, legumes, assados, frutas e duas taças de vinho, Ephiny dispõe na bancada e senta-se no divã com todo o cansaço do dia transparecendo finalmente em seu semblante.
– Este jogo de bebida e alimentos a tua frente é para ti, vai em frente e te serve. Claudia lentamente foi mordiscando e espelhando os gestos de Ephiny , pois seu tempo com Xena lhe ensinou a esperar que fosse dito ou demonstrado o que devia fazer e que a precipitação em um engano era um erro muito caro em sua posição. Um enorme silencio foi tomando conta do ambiente que tanto a guerreira quanto a escrava estavam acostumados e de certa maneira foi reconfortante estar com seus
próprios pensamentos.
– Quais são suas habilidades, que tipo de tarefas você tem desempenhado no palácio que você possa me contar sem revelar seus segredos?
– Eu sou uma escrava, faço o que me dizem para fazer da forma que desejarem que seja feito.
– Vamos comer com tranquilidade, pois tenho toda esta noite para decidir teu destino e quero realmente conhecer tuas habilidades e então te colocar no melhor lugar.
– Sim senhora.
– Com licença Claudia, vou a sala de banhos desligar as águas que deixei organizando o banho e estarei de volta para terminarmos nossos assuntos em breve.
Saindo da sala em poucos passos, Ephiny não percebe a surpresa de Claudia nem a tristeza que repentinamente surgiu em seus olhos.
Quando Ephiny retornou à sala, secando as mãos em uma toalha de linho puro não estava preparada para o quadro à sua frente. Seus olhos contemplavam o que poderia ser uma representação de Afrodite saindo da espuma do mar. Claudia estava simplesmente deslumbrante parada na frente do divã virada para as portas internas, com a luminosidade da noite a banhar seus cabelos ruivos e longos que descansavam quase como uma capa abaixo da escápula, com duas madeixas acompanhando o rosto e a luz dos archotes tremulantes dançando em seu corpo.
Parada uns instantes sem reagir, Ephiny ficou admirando a mulher que estava ali

até que seu olhar se deteve no rosto inexpressivo de linhas suaves desenhadas formando a expressão quase sem vida dos olhos que não emitiam brilho. Instantaneamente a Capitã da Guarda Real Amazona se recompôs.
– O que significa isso?
– A senhora disse que desejava uma efetiva e mais descritiva composição de minhas habilidades, então me ocorreu que talvez uma demonstração prática fosse ao que se referia, senhora.
– Sagrada Artemis, dai-me forças !!!! Vista-se por favor, Claudia e em absoluto alguém de meu povo se aproveitaria de uma mulher desta maneira e menos ainda de uma que estivesse tentando sobreviver! Isto por si seria um crime , um sacrilégio!!!
– Por favor me perdoe, eu não quis ofender senhora , de maneira alguma quis pressupor que a senhora desejaria algo ou que eu seria adequada, por favor , perdão!!!! Eu não quis ofender, senhora.
– Eu sei, e você não está encrencada. Por favor, levante e procure se acalmar sentando comigo. Beba um pouco de vinho e venha aqui conversar normalmente sobre o que está acontecendo, pois é preciso que você entenda a nova situação em que se encontra.
Aguardando pacientemente que Claudia se vestisse e sorvesse alguns goles do vinho que servira, Ephiny repentinamente recebe a inspiração sobre em qual setor da pousada Claudia poderá ser útil com sua experiência e acredita que a jovem colocará sua alma no aprendizado de novas formas de servir.
-“ Claudia, recebemos uma missão da Conquistadora . Vocês e eu. Você e seis escravas vindas de uma mesma propriedade da região de Pisatis deverão organizar uma pousada que servirá de abrigo para jovens que escravizadas por piratas ou bandidos que podem ter sido raptadas ou escravizadas de maneira ilegal e sendo parte de cargas capturadas, devem ser objeto de investigação por parte do Império antes de serem postas a leilão como carga apreendida. Se forem vítimas de rapto ou tráfico ilegal serão devolvidas às suas famílias. Durante esta investigação devem ficar em local seguro e esta pousada que vocês organizarão será este local.
Tu ficarás responsável pelos banhos das hóspedes e tudo que disser respeito a eles. Sais, sabonetes, cremes, óleos aromáticos, limpeza das salas de banho, manter as águas quentes, providenciar que haja lenha quando as termas não sejam suficientes, toalhas, massagens. Aceitas esta incumbência, ou preferes outra? Na casa estarão duas escravas para atender ao comando de vocês e realizar os trabalhos mais pesados de limpeza e conservação e procederei algumas Falcões para fazer uma guarda externa para segurança. Polínia estará no comando da pousada mas pensei em te colocar na responsabilidade na organização dos banhos e talvez possa pedir a Polínia uma das jovens para ser tua auxiliar.”
– Eu nem sei o que dizer, minha senhora.

– Diga se aceita esta tarefa ou se prefere outra. Talvez deseje conversar com Polínia e determinarem juntas a tarefa de cada uma, mas eu gostaria que você se responsabilizasse por esta e quero deixar bem claro que de nenhuma maneira haverá obrigação de favores sexuais da parte de nenhuma de vocês para ninguém que não sua proprietária ou por ordem desta. Você compreendeu?
– Eu aceito, minha senhora, muito obrigada e novamente peço desculpas pelo meu engano de agora a pouco.
– Perfeitamente aceitável dadas as circunstâncias Claudia. Agora, por favor, me acompanhe no banho e vamos dormir que a noite foi terrível e preciso realmente de uma massagem relaxante.
– Sim senhora
E tudo o que fizeram foi um bom banho, um óleo de aponia e um sono sem sonhos que há muito a capitã da guarda real não tinha, até a alvorada do dia seguinte. No dia seguinte, a capitã das amazonas liderava um comboio com quatro carroções, nove escravas, dois escravos e um pelotão de Falcões que deixavam o palácio enquanto juntos, todos os parentes do Falcão traidor Hutanis, não salvos por Gabrielle, com os seus escravos, o acompanhavam na cruz e o pátio interno foi tomado por cruzes paralelas de vários tamanhos, inclusive no caminho dos campos
de treinamento.
Os escravos da casa da Conquistadora tremiam ao ver homens das mais diferentes origens e idades pendurados, entendendo o recado de que os erros não seriam perdoados. Até Cassandra e os servos mais chegados ficaram emudecidos por dias frente aos acontecimentos assustadores.
Os Falcões envergonhados que um dos seus havia escolhido a traição, que antes de tudo era uma traição ao grupo e aos seus irmãos, redobravam os esforços para garantir à Senhora do Mundo sua lealdade e estima.
As amazonas ficaram impressionadas com o grau de comprometimento que a Conquistadora tinha para com o respeito à Nação. Finalmente entendiam que ninguém magoaria Gabrielle impunemente.
Na virada da lua nova Ephiny estava de volta, cansada e totalmente coberta de poeira, mas relativamente tranquila. A missão que recebera foi levada a termo em sete dias e a pousada requerida pela Conquistadora estava organizada em sua essência. Havia um grande salão com camas comunais que facilmente abrigariam cinquenta mulheres e doze quartos mais individualizados para duas pessoas cada. As cozinhas foram preparadas para atender o básico e um grande forno foi erguido para que o pão pudesse ser produzido em escala suficiente para um pequeno batalhão de hóspedes. Os banhos eram organizados numa construção a parte, havendo no entanto ,
dois quartos com banheiras aos moldes do terceiro andar do palácio de Corinto . A propriedade possuía uma boa visibilidade de seu entorno, uma vez que era no alto

de uma colina e um pequeno pomar forneceria as frutas que fossem necessárias. As cavalariças e demais animais de serviço e atendimento, como gado de leite, aves e ovinos e os teares ficavam numa construção a parte no outro extremo do pátio interno. Tudo foi organizado conforme recomendações da Conquistadora, ali conhecida como sargento Ohana e a única que sabia intimamente a Senhora do Mundo fora posta a par do disfarce e de seu desejo que ele não fosse descoberto. Claudia não
diria nada a ninguém sobre isso.
Desmontando em frente da cavalariça ocupada por ela e suas irmãs no palácio, é recebida por Salina que se apresenta para ajuda-la a acomodar o cavalo, carregar sua bagagem e prestar relatório do acontecido em sua ausência.
– Seja benvinda capitã!
– Obrigada Salina, como vão as coisas por aqui?
– Nos dois primeiros dias a princesa não saiu de seus aposentos, embora tenha ficado fora da cama e em pé, caminhando pelo aposento após as refeições por uma marca de vela. No terceiro dia ela já foi autorizada a ir à biblioteca do palácio e tem pegado vários pergaminhos sobre a história do Império e sobre a situação da região ao norte do Monte Olimpo e da região centauro, mas não tem dormido bem. Mesmo durante o dia seu sono é assombrado por sonhos e em momentos mais difíceis tem dito para uma Caçadora não se aproximar da Conquistadora se não for para protegê- la, pois era importante cuidar que a serpente não prejudicasse a Senhora do Mundo Conhecido e o estranho é que fala como quem suplica ao mesmo tempo.
– Mais alguma coisa?
– Parece que novamente ela sente falta de sua amiga e tem chorado boa parte da noite pedindo à Artemis que vele por ela e a Atena que ampare sua protetora e esta noite ela disse que iria ter com sua amiga mais uma vez antes de morrer, da mesma maneira que fazia na aldeia em seus primeiros tempos conosco e de maneira alguma deixaria Celesta apagar sua chama sem tê-la visto novamente.
Eu nunca a vi desta maneira desde que ela reagiu daquela fase inicial na tribo e faz muito tempo que não fazia menção desta situação. Ela realmente ama muito esta mulher, capitã. Cora tem relatado que quando acorda ela continua a chorar por um tempo.
– Eu sei Salina, mas no momento tudo que podemos fazer é cuidar para que a Conquistadora nunca sequer imagine que Gabrielle tem sua amiga no coração ou as consequências seriam desastrosas. Deixe que eu me banhe, coma algo e irei ter com Gabrielle. Convoque uma reunião com as outras duas para que eu seja atualizada das impressões de todas e rezemos para que talvez as notícias que trago sejam o suficiente para apagar a dor e saudades dela ou pelo menos desviar sua atenção. Devo me apresentar à Conquistadora antes do jantar, então terei tempo de visitar Gabrielle e tentar acalmar seus temores.

Subiram para os seus aposentos, onde um banho seria preparado e Salina assumiria a guarda, mas Ephiny não percebera que uma sombra se movia lentamente sobre suas cabeças, junto ao feno acumulado no sótão.
Xena desceu lentamente e ficou alguns instantes fitando o vazio. Lentamente seus olhos azuis foram assumindo uma coloração mais escura e seu rosto foi adquirindo tons de vermelho que resultavam da sua ira mal contida. Escolhendo uma rota alternativa, Xena vai ter com Gabrielle para estar presente quando a capitã da guarda real se apresentar para dar as boas novas.
– Bom dia Cora, bom dia Hisar.
– Bom dia majestade.
Abrindo a porta para que Xena entrasse Cora ficou espantada com o bom humor da soberana, pois o olhar frio desmentia o calor das palavras.
– Bom dia Gabrielle.
– Bom dia senhora.
– Já lhe falei que quando estamos sozinhas você tem autorização para me chamar por meu nome Gabrielle.
– Eu sei majestade, mas às vezes o costume e a tradição são maiores que nossa vontade.
– Realmente. Como está a dor?
– Agora só dói muito quando eu elevo o braço, os demais movimentos são acompanhados apenas de um pequeno aumento na dor constante, mas suportável.
– Ieranus tem te tratado bem?
– Ele tem sido muito eficiente em sua arte Xena.
– Como tem sido seu sono?
– Eu tenho dormido bem majestade.
– Não é aconselhável mentir pra mim, Gabrielle. Você nunca o fez, não comece agora e com algo tão simples e sem importância.
– Realmente tenho dormido bem, Xena. Apenas tenho tido sonhos ruins e acordado repentinamente e na maior parte não recordo deles, mas o tempo que tenho conseguido dormir é relaxante e não sinto a dor constante nas costas.
– Bem, talvez boas notícias ajudem. Foi-me indicado que sua capitã acabou de chegar e mais a noite deverá jantar comigo em meus aposentos prestando relatório completo. Quero que você esteja presente neste jantar, estará em condições de servir?
– Certamente, Xena. Obrigada por permitir que eu a veja.
– Talvez ela venha procura-la durante o dia de hoje e se isso acontecer você está dispensada de suas tarefas. Aproveite o dia e fique com suas irmãs, afinal é importante que amigas se visitem e troquem ideias. Eu estarei com os Falcões em campo de treinamento e não poderei visita-la durante o dia, então aproveite bem a folga.
– Obrigada, Xena.

– Tenho que ir. Tenha um bom dia princesa.
– Um bom dia pra você também minha senhora.
Saindo dos aposentos da princesa amazona Xena encaminhou-se para seu estúdio onde ordenou a presença de Palaemon.
– Conquistadora.
– Capitão, tenho uma missão pra você.
– As suas ordens.
– A princesa amazona está tendo pesadelos e pelo que sei são referentes a dois grupos de coisas: o primeiro é sobre uma caçada e o segundo sobre uma pessoa, uma amiga, sendo relatado o fato de ela não a ver há muito tempo. Desejo saber tudo sobre estes pesadelos, principalmente o segundo grupo. Quem, onde e quando e desejo esta informação o mais rápido possível.
– Conquistadora ?
– Use o caminho que achar mais produtivo, mas até o nascer de amanhã desejo saber tudo que houver sobre os pesadelos da princesa amazona Talvez um passeio pelos jardins com certo membro da guarda real possa auxiliar em sua busca por informações capitão. Dispensado.
– Sim senhora.
Saindo após seu capitão da guarda Xena foi direto aos campos de treinamento onde um dedicado Elthor dava instruções sobre a importância de o guerreiro estar bem preparado fisicamente, não apenas saber manipular adequadamente a arma de sua escolha, mas conseguir manter o ritmo de atividades durante o dia.
Os Falcões sabiam bem que isto significava que teriam um dia exaustivo, porém não estavam preparados para o que viria a seguir.
Ao lado de Terquien e Volair a Conquistadora ouvia o discurso de Elthor, duvidando, porém que ele estivesse tão bem preparado quando dava a entender por suas palavras.
– Aceitaria uma pequena aposta, comandante?
– Conquistadora ! Claro que sim, senhora.
– Então um trabalho de marcha para os Falcões até o por do sol, sem paradas para almoço ou o que seja e os que retornarem por suas próprias pernas poderão escolher um garanhão entre as novas aquisições que chegarão ao final da lua nova e os que não conseguirem deverão fazer um trabalho forçado de corridas após os treinos com armas e cavalos até a terceira lua nova quando será realizado um novo teste. O que me diz?
– Eu aceito majestade. Em que direção a senhora deseja que seja a marcha?
– Leste. Que marchem em direção a Atenas chegando em Megara até o sol estar a pino e voltem correndo o mais rápido que conseguirem. Os dez primeiros a chegar escolherão seus cavalos primeiro e ainda haverá um talento de prata para cada um

destes. Devem marchar em duplas Elthor, ninguém deverá chegar sozinho. Fui clara?
– Sim majestade. Compreendido. Entendido Falcões?
– Sim senhor!
– Peguem suas armas e poderão levar apenas um odre de água. Nenhum alimento e nenhum equipamento de apoio. Em frente!
Os Falcões avançaram em direção a Atenas como se suas vidas dependessem desta missão e sabiam que em certa medida realmente dependiam, pois a Conquistadora não gostava de ser decepcionada.
– Terquien, vamos buscar teus oficiais e realizar algum treino de armas? Eu estou precisando gastar energia, está disposto Volair?
– Com muito gosto, minha senhora!
Xena passou para o quartel decidida a ter o dia treinando com seus homens mais chegados observando um ou outro que já estava maduro para a colheita merecendo uma promoção ou duas.
Enquanto isso, certo capitão palaciano chegava ao lado de uma amazona de pele bronzeada, alta, forte, cabelo longo e ruivo que estava escorada em uma macieira do jardim observando o pequeno lago.
– Esperando os peixes saltarem para fora?
– Na verdade não. Estava imaginando o que aqueles dois que tantas voltas dão no mesmo lugar conversam quando se encontram perto daquela pedra ali.
– Quando venho aqui as vezes e também faço isso, porém sempre penso que contam do dia e o que viram sobre as coisas que aconteceram e sonhavam. Como foi seu dia?
– Duas trocas de guarda e uma refeição completa. Nada demais, e o teu?
– Um incidente envolvendo vocês no andar superior. Uma Falcão ficou encantada com a proximidade da lenda amazona e esqueceu seu lugar.
– Como assim?
– Silea veio a pouco transferida da estância de verão da Conquistadora . Sabedora de termos Gabrielle conosco ficou insistindo que a princesa amazona precisava de uma guarda palaciana, mas o caso já está sob controle. Parece que a lenda das amazonas deixa algumas mais empolgadas para ficarem perto de vocês.
– O que aconteceu com a mulher?
– Coloquei-a em guarda e sentinela do pátio interno no passadiço superior pelas próximas noventa e seis marcas de vela.
– Mas ali não há nada a não ser pedra e sol !
– Dizem que os falcões fazem ninhos nas montanhas, ela deverá aprender a construir o seu. Estou salvando-a Cora. Se a Conquistadora tivesse visto ou tomado conhecimento de sua argumentação ela certamente aprenderia uma lição mais dura.
– Nós também temos métodos rígidos de formação na guarda real, então entendo

o que quer dizer.
– Como está Gabrielle? Ouvi dizer que teve pesadelos difíceis, ela está bem?
– Ela está bem sim. Acorda repentinamente, suando assustada, mas não comenta nada. É como se tivesse esquecido completamente o assunto embora fale durante o sono.
– O que ela diz?
– Coisas sem sentido sobre uma serpente vermelha ameaçar a Conquistadora e ser dever de cada amazona proteger a Senhora do Mundo.
– Bom, não é tão sem sentido pra mim, pois é nosso dever proteger a Conquistadora, mas não quero discutir isso. Senti tua falta.
– Eu também, senti a tua.
– Quando terá liberação para que possamos ficar juntos algum tempo ?
– Quando a princesa determinar. Agora com o retorno de Ephiny isso se torna cada vez mais impossível, pois se por um lado temos mais uma pra atuar na escala de trabalho pelo outro ela não irá facilitar que possamos nos ver. Sabes que ela é contra nosso relacionamento.
– Mas a princesa autorizou!
– Entre nós é mais complicado do que entre vocês. O que vocês chamam de hierarquia verticalizada, onde há um superior que dá ordens e está responsável não é totalmente verdade entre as amazonas Palaemon.
– Como assim?
– Temos também uma hierarquia horizontal, das funções. Uma amazona pode estar comandando uma expedição e neste caso tem autoridade total sobre a expedição e decisões sobre ela, mesmo sobre os membros da Casa Real .
– Parece difícil.
– É difícil.
– Como vocês da guarda real sabem se é para obedecer a princesa ou não? Entre nós é impensável não obedecer a Conquistadora .
– Sempre devemos obedecer à Casa Real capitão e sempre devemos preservar sua vida. No caso de haver conflito devemos tomar a melhor decisão e arcar com as consequências.
– E eu achando que a Conquistadora era difícil de agradar. Vamos falar de nós! Eu gosto de você amazona. Gosto de estar com você.
– Eu também gosto de estar com você capitão. Você é muito diferente do que eu imaginei que seria.
– Como assim? Diferente bom ou mau?
– Bom. Agora, com sua licença, tenho de ir. Um bom dia pra você capitão.
– Bom dia Cora.
Olhando a altura do sol nos muros internos do jardim, Cora percebeu que estava

atrasada para a reunião que Ephiny realizaria após seu desjejum e foi pelo caminho solicitando a Artemis que indicasse a melhor maneira de justificar seu possível atraso. Para sua sorte entrou junto com Kleith.
– Bom dia Kleith, estamos atrasadas?
– Bom dia Cora. Na verdade não. Salina assumiu o turno, mas Gabrielle me chamou para saber se Ephiny chegara e podia vir até ela após seu desjejum . Ela estava muito feliz, parece que a Conquistadora autorizou-nos a ter um dia inteiro com nossa princesa para seu lazer e ela não deseja perder muito tempo. Obrigada por cuidar do corredor pra mim.
– Mas eu acabei de chegar!
– Foi o que eu disse, você cuidou de todo o corredor do início até aqui. Ephiny realmente não precisa saber deste pequeno atraso nos jardins. Teus peixes ou certo capitão loiro?
– Os peixes. O capitão foi um acidente geográfico e não a causa.
– Sabe que qualquer dia vai encontra-los na mesa de refeições, né.
– Sei, mas gosto de observa-los. Vamos que Ephiny está esperando.
Ambas entraram na sala dos aposentos de Ephiny quando esta terminava de comer.
– Servidas?
– Já comemos capitã, obrigada.
– Vamos meninas, comam comigo e me contem as novidades. O que dos pesadelos de Gabrielle Cora?
Servindo-se de uma maçã Cora responde ao questionamento com certa displicência.
– Ela tem tido pesadelos como nos tempos em que chorava Terreis, mas parece que é algo sobre uma serpente tentando pegar a Conquistadora . Nossa princesa cuida muito desta Górgona.
Mais rápido do que os olhos poderiam acompanhar, a mão de Ephiny trava o movimento de Cora.
– Você não vai se referir a Soberana do Império desta maneira e enquanto estiver sob meu comando vai mostrar a ela o devido respeito ainda que em pensamento quando estiver sozinha.
Ao mesmo tempo em que falava Ephiny ia aplicando um golpe de torção no pulso de Cora que fazia com que a amazona fosse se contorcendo para evitar uma fratura ou duas. Todas as demais congelaram em suas posições não entendendo de onde vinha tanta rigidez da capitã, que neste momento soltava o pulso da amazona.
– Você entendeu Cora?
– Sim capitã.
– Então termina sua maçã e diga de maneira adequada o final de seu pensamento.

– A princesa se preocupa muito com a Conquistadora e tem demonstrado isso nas noites em que dorme pouco ou acorda assustada com algo que ocorre em seus sonhos, como se houvesse uma ameaça real à Conquistadora .
– Você acredita que esta preocupação é errada?
– Não me cabe julgar a Casa Real , capitã.
– Não, não cabe, mas você fez mesmo assim, então quero saber exatamente o seu julgamento.
– Nós estamos aqui para dar o máximo de proteção que conseguirmos para a princesa e não para atender aos caprichos da Conquistadora. Não somos suas escravas nem membro de seu exército.
– Tem razão Cora, nós não somos nada disso, no entanto a Rainha Melosa nos enviou não apenas como guardas de Gabrielle, mas também estou aqui na qualidade de Embaixadora da Nação na Corte de Corinto , devendo exercer esta função em paralelo com minhas atribuições na guarda real. A Conquistadora não apenas permitiu como providenciou tal arranjo, assim devemos a ela o respeito dado à Soberana do mundo, a uma Casa Real aliada e à Senhora de nossa princesa. Qualquer contratempo ou a menor provocação de nossa parte poderia ter repercussões não apenas na Nação , mas uma retaliação imediata viria para aquela que juramos proteger. Nós não podemos esquecer a condição de Gabrielle no palácio, nem que ela está amarrada a esta condição por juramento sagrado e nós igualmente a ela. É por Gabrielle que devemos ter sempre isso no pensamento. Se você não consegue lidar com isso, seja franca e providenciarei que seja substituída em suas funções organizando seu retorno para a vila o mais rápido possível.
– Eu estou bem com isso capitã, foi apenas um desabafo pela maneira cruel com que a Conquistadora governa tudo.
– Ela conquistou a Grécia e a maior parte do mundo conhecido e tudo governa segundo seus padrões a mais de dezesseis verões. Deixemos para seu critério as técnicas e exigências que utiliza e nos concentremos em Gabrielle, está certo Cora?
– Sim Capitã, a senhora tem razão. Eu apenas estou mais sensível hoje.
– Tudo resolvido então. Outras novidades que não sejam os pesadelos de Gabrielle?
– Chegaram guardas palacianos novos e algumas são mulheres muito indisciplinadas.
– Como assim Kleith?
– Houve uma argumentação ontem a noite com os guardas que já conhecemos na sala da guarda e algumas novatas que ficavam apontando de maneira desabonadora nossa presença na porta dos aposentos da Conquistadora . A argumentação aumentou de tom, numa língua que desconhecemos e algumas armas foram sacadas entre eles.
– Mas não havia nenhum oficial presente?

– O que deu a entender é que as guardas e seus companheiros possuíam patentes semelhantes não havendo hierarquia entre eles. Continuaram a discussão até que o Capitão Palaemon apontou no corredor e deu voz de comando.
– E o que aconteceu?
– Ele ouviu os argumentos de ambas as facções e calmamente em bom grego, com voz ponderada deixou claro que estavam de sorte que a Conquistadora não estava nesta ala do palácio. Colocou-os todos com toque de silêncio e em guarda dever nos estábulos imediatamente, devendo se apresentar para o encarregado como os novos responsáveis pela limpeza das baias e do pátio com os escravos do setor transferidos para a limpeza das paredes. Não deveria haver teias de aranha ou poeira nas paredes ou vigas dos estábulos. Quando tivessem terminado de limpar o solo deveriam organizar o feno e novamente voltar a limpar o solo de toda a área das cavalariças pelas próximas duas noites e dois dias. Independente da patente ou sexo usarão apenas uma toga simples branca, nenhum calçado e como arma apenas a espada curta.
– Só isso?
– A primeira a sacar a espada, uma morena de média altura e braço forte, estará de sentinela no passadiço do pátio interno superior pelas próximas noventa e seis marcas de vela, com apenas um odre de água para o período.
– E qual foi o motivo da discussão?
– Não sei, mas deve ser grave para que tenha havido um princípio de briga entre uma tropa tão disciplinada.
– Temos de descobrir, pois pode ter algo que afete a segurança de Gabrielle.
Alguém sabe de algo mais?
– Eu sei.
– Fale logo Cora, não podemos demorar muito mais nesta reunião por que Gabrielle nos espera e desejo resolver isso o quanto antes.
– Esta do passadiço se chama Silea e deseja atuar conosco na guarda pessoal de Gabrielle, entendendo que deveria haver uma guarda palaciana junto à princesa amazona e os outros não deixaram que entrasse nos aposentos ou assumisse o posto sem uma designação oficial para tanto.
– E como você sabe disso?
– O capitão Palaemon me disse hoje mais cedo sobre este incidente. Parece que ela e as três que a acompanhavam vem de uma região onde somos lenda marcante e estavam impressionadas desejando conhecer Gabrielle e a guarda real amazona.
– E qual a razão do Capitão da guarda do palácio de Corinto estar dividindo esta informação com você Cora?
– Nós nos encontramos por acaso no tanque de peixes dos jardins, quando eu estava relaxando após a segunda guarda e um curto sono Ephiny . Foi totalmente

inocente e casual com nosso contato autorizado, somente conversamos quando não estamos de serviço.
– Certo, eu não vou discutir isso com você. A partir deste momento suas folgas estão suspensas e depois que estivermos com Gabrielle, você está em serviço por tempo indeterminado e já que tem tão boas relações assim com a Guarda Palaciana, está de guarda no passadiço interno superior, mas fará também o perímetro externo quando solicitado.
– Ephiny eu não concordo que Cora passe por isso!
– Vamos dar a esta Falcão um pouco de conhecimento sobre disciplina amazona. O posto da vigília será contínuo, silencioso e a contagem também vai ser de noventa e seis marcas de vela, com uma parada para dormir em trinta e cinco marcas de vela, mas apenas por quatro marcas e que seja pela noite. Ficará sem nenhuma água ou alimentação além daquela que eu pessoalmente proporcionar.
– Capitã eu me oponho formalmente a esta punição. Cora não cometeu nenhum desrespeito em seus compromissos ou missões elencadas e este contato com o capitão Palaemon é autorizado pela princesa.
– Por este motivo que não haverá uma punição, mas uma missão, sendo importante saber sobre este súbito aparecimento de mulheres tão interessadas na Casa Real , esta é a oportunidade de confrontar a situação e nada é inocente ou ao acaso quanto se trata da Conquistadora. Tua manifestação está anotada e será considerada na primeira reunião do Conselho Militar Kleith e quando a Casa Real avaliar esta situação saberá de tua discordância e que ela foi manifestada com o devido respeito, no entanto minha decisão está tomada. Você vai recorrer a Gabrielle ou aceita estes termos Cora?
– Sim aceito. Acatarei suas ordens imediatamente capitã.
– Então vamos até os aposentos da Conquistadora ver no que poderemos ser úteis hoje para Gabrielle.
– Bom dia Salina, como está a princesa hoje?
– Bem. Eu assumi agora para Kleith se reunir com você, mas até o momento ela está bem.
– Bom dia Gabrielle. Como você foi tratada?
– Ephiny ! Que bom te ver! Fui muito bem tratada. Nossas irmãs não deixaram que nada me faltasse e a Conquistadora tem sido incansável em acompanhar a evolução de maneira pessoal e garantir que Ieranus venha periodicamente avaliar a ferida. O tédio está sendo meu maior inimigo no momento. Fale-me de tua missão, como ficaram Polinia, Xantara e as outras?
– A propriedade foi transformada em uma estalagem totalmente autônoma e com a segurança garantida pelos Falcões. Claudia sabe do disfarce, porém foi avisada que ele deverá ser mantido, ficando responsável pelos banhos da pousada e tudo está

funcional e totalmente viável. Fale-me de você, pois eu soube que tem tido pesadelos.
– Não é nada sério realmente e quando acordo nem lembro direito, ficando apenas o sentido de que algo muito grave está para acontecer.
– E o que não é pesadelo e tem te deixado triste? Como tem lidado com a saudade dela Gabrielle?
– Tem ficado cada dia mais insuportável este ficar sem notícias Ephiny . Lembro quando a Conquistadora colocou Amphipolis em sua vigilância e ordenou que ela fosse mantida com os passos acompanhados. Nunca tive tanto medo por ela Ephiny como naquela ocasião em Esdel.
– Certamente nenhum mal aconteceu a ela Gabrielle. Se a Conquistadora desejasse já teria arrasado a cidade e ela seria morta. Acredite o povo desta cidade não sabe a sorte que tem.
– Pode ser Ephiny , entretanto agora que está aqui, quer fazer o favor de organizar que estas três relaxem um pouco? Eu nem me arrisquei a dar um comando, pois sabia que tinham instruções específicas tuas.
– Eu prometo Gabrielle que cada uma delas descansará quando não estiver de serviço. Você já pensou em solicitar à Conquistadora algum tipo de informação ou permissão para que fossemos atrás de informações?
– Depois que aqueles homens estavam tentando assalta-la eu não me arrisquei a nada. A Conquistadora não leva de bom humor a menção de nenhum ponto da Macedônia.
– Se você quiser posso sondar com o general Terquien ou Volair sobre como ficaram as coisas no norte.
– Eu me arrependo tanto de não ter aceito quando Melosa quis mandar uma trial buscar informações sobre ela, mas sabemos que são tempos inseguros com aqueles comandos caçando amazonas por toda a Grécia . Eu não poderia colocar irmãs em perigo apenas para satisfazer minha ansiedade. Se você puder fazer isso de maneira discreta e segura seria bom.
– Vamos procurar descobrir como ela está, fique tranquila Gabrielle. O cardápio tem sido de teu gosto? Você já voltou aos seus afazeres junto à Conquistadora?
– Tenho sido muito bem tratada Ephiny e estou retornando aos poucos para minhas funções, inclusive tenho tido uma ótima relação com Cassandra que tem permitido que eu assessorasse nas cozinhas. A Conquistadora solicitou que eu servisse durante o jantar de vocês e eu já soube de tuas ações naquele episódio do Falcão traidor. Não deves te mortificar a respeito, pensei muito e conclui que tuas decisões foram acertadas. Muito obrigada por preservar as crianças e as mulheres.
– A Conquistadora decidiu que os pouparia para que enfrentassem a Casa Real , segundo a lei amazônica quando você melhorasse, desde que a sentença seja cumprida imediatamente e sem subterfúgios ao julgamento. Tenho certeza que abordará isso

mais cedo ou mais tarde então é necessário estar preparada.
– E o que diz nossa lei quanto a isso?
– Você não vai gostar.
– Diga de uma vez Ephiny .
– As vidas deles te pertencem para qualquer coisa que decida e o crime contra a família real tem a sentença de morte para todos os membros da família. O que vai variar é a maneira de executar e o tempo que leva.
– Você os salvou para que eu decida sobre como devem morrer?
– Eu pensei que a sentença de escravidão perpétua e hereditária poderia ser recorrida, pois entre nós é considerada como uma pena de morte.
– Eu sou uma escrava Ephiny , não vou condenar ninguém a isso.
– Gabrielle, você estaria salvando a vida deles e de seus filhos. Sabe que não usamos realmente adotar a escravidão. Melosa entenderia a situação e os deixaria livres na Nação .
– Livres na Nação . Tem ideia de como isso soa hipócrita? Elas estariam condenadas a serem amazonas, pior, escravas de amazonas por toda a vida, sem escolha. Eu não farei isso!!! E os rapazes?? Devo envia-los para a vila também?
– Os homens tem espaço entre nós Gabrielle. Poderiam se acomodar em alguma vila próxima ao nosso território e ficar disponíveis para os serviços que lhe forem solicitados e fora isso estariam livres para viver conforme lhes parecesse melhor.
– Não vou reduzir seres humanos a animais de quadra. Estaria estabelecendo um bordel para nossas irmãs utilizarem e não farei isso!
– Então eu realmente não sei. Na hora me pareceu uma boa ideia, agora eu simplesmente não sei.
– Ephiny , eles são inocentes, todos eles. Não pegaram em armas ou atentaram contra mim ou mesmo a Conquistadora, apenas tiveram o azar de ser da família de um homem ambicioso e estúpido. Nossa lei diz algo sobre ser proibido castiga-los de forma cruel?
– Não. É do arbítrio da Casa Real a decisão.
– Então esta é minha decisão e tu irás providenciar que seja cumprida: desterro de sua cidade de origem e de Corinto , porém todas e os homens estão livres para partir para onde desejarem, respeitada esta condição. Aquelas que desejarem se unir à Nação serão benvindas ficando como toda mulher acolhida na Nação. O tempo decorrido até aqui está considerado pela Casa Real como suficiente para que pensassem sobre as consequências de um ato como este. Todos os seus bens passam para o tesouro de Corinto e estão condenados à comparecer duas vezes a cada ciclo de estação em um templo de Atena ou Artemis realizar uma oferenda pelo bom andamento do governo da Conquistadora e a jamais negarem qualquer solicitação feita por uma amazona em nome delas, seja onde ou quando for.

– O que fará se não aceitarem o compromisso? Não acatarem a sentença?
– Farei que tua ação com Hutanis pareça misericordiosa enquanto executar a alternativa. Nem você nem minhas irmãs tocarão neles, pois este será o sinal de que está no tempo de eu aprender as maneiras antigas. É minha a sentença.
– A lei não prevê isso Gabrielle e a Conquistadora não irá aceitar esta decisão.
– A lei prevê que eu decidirei e esta é minha decisão.
Novamente aconteceu o fenômeno de não enxergar Gabrielle, mas a Caçadora à sua frente. Era a terceira vez que isso acontecia e Ephiny embora assustada, estava começando a entender que Artemis tinha feito de Gabrielle sua escolhida e esta ordem era duplamente incontestável.
– Está certo. Faremos isso ainda agora pela manhã e garantirei que cada pequeno grupo familiar entre eles receba um talento de prata para começar vida nova.
– A Conquistadora pode entender que estamos premiando quem tentou mata- la Ephiny . Como responderá a isso e de onde virá o dinheiro?
– Se eles irão pertencer a você devem estar vivos para servir, portanto será um investimento. Ainda temos todo o dinheiro recebido como prêmio durante a estada no exército mais os soldos regulares que nos foram pagos como aos Falcões.
– Mas é dinheiro de vocês, não sei se é justo utiliza-lo.
– Tudo na Nação pertence primeiro à Casa Real Gabrielle, está tudo certo.
– Antes de executar qualquer movimento, peça a autorização dela Ephiny . Não sabemos como estará seu humor para isso.
– Combinado. Agora temos que ir, pois devo procurar a Conquistadora para agir, porém voltarei para almoçar com você e atualiza-la como ficaram as coisas. Salina ficará um pouco mais e as outras assumirão suas posições. Quando eu retornar, Kleith estará em descanso até a noite. Fique bem Gabrielle.
– Ok. Venha Salina e me conte tuas últimas novidades.
Gabrielle ficou conversando com sua irmã sobre as questões do dia a dia da guarda e principalmente sobre aquilo que Ephiny não falaria.
– Como ela está de verdade Salina?
– Principalmente cansada princesa. Chegou de sua missão bem cedo depois de quase seis noites dormindo pouco e você sabe como ela fica quando não dorme.
– Por quê?
– Por que ela fica assim? É o jeito dela Gabrielle. Quando tem uma missão Ephiny somente relaxa quando presta relatório de sua encomenda e verifica se foi levado a bom termo.
– Não. Por que você está agindo como se eu fosse obriga-la a cuidar das crianças por uma lua. O que está acontecendo que você não quer me contar?
– Nada Gabrielle. Realmente Ephiny está muito cansada e tem sido difícil pra ela desde que em conjunto com a Conquistadora levou a termo a punição daquele

desgraçado que acertou você. Ela não se perdoa facilmente você ter sido atingida e a situação não ter sido prevista, pois entende que é para isso que estamos aqui. Proteger você.
– Estávamos cercadas de Falcões Salina, não havia motivos para suspeitar de risco.
– Esta é a questão Gabrielle. Não estamos aqui para relaxar e deixar a sua segurança na mão da guarda pessoal da Conquistadora.
– Foi um acidente Salina. A Seta nem era pra mim.
– Isso não muda nada pra ela. Ephiny só aceitou a missão com as escravas para não irar a Conquistadora e dar motivo para descontar em você, mas a falha que teve está pesando sobre ela.
– Tem algo mais, o que é Salina?
– Talvez você deva perguntar à capitã, alteza. Não cabe a mim estabelecer críticas ou comentar as determinações dadas.
– Pare com isso Salina, não me venha com formalidades evasivas. O que está acontecendo que Ephiny parece estar em alerta de ataque.
– Não sei realmente. Ela chegou assim e continua com tolerância mínima para erros e exigência no pico, talvez seja apenas preocupação.
– Vamos ver como podemos resolver isso. Talvez se ela dormir um pouco isso passe.
Por toda a manhã Gabrielle ficou conversando com Salina e resolveram fazer um apanhado geral da história da região da Macedônia com as amazonas do norte. Salina acompanhou Gabrielle até a biblioteca onde pegaram os contos da Tracia e sobre o início do Império, não passando despercebido a presença de Kleith como sentinela na porta do aposento. Enquanto isso uma angustiada Ephiny buscava saber do paradeiro da Conquistadora, sendo informada dos treinamentos intensivos no quartel dos Falcões dirigiu-se para lá buscando a soberana. Apoiada na cerca, Ephiny observava a Conquistadora cercada por dez homens, todos com espadas tentando alcançar um furo nas defesas de Xena e encontrando um bloqueio difícil de ser vencido.
– O que você quer aqui Ephiny ?
– Uma audiência majestade. Preciso de sua autorização para efetuar operações previamente acordadas entre nós.
Em pouco tempo havia dez homens no chão e a Conquistadora não tinha ainda sido tocada.
– O que você está olhando amazona?
-Seus homens e sua luta interessante, porém desigual.
– Acha que poderia fazer melhor?
– Depende. Com certeza a senhora é imbatível no manuseio da espada majestade,

mas acredito que se eles organizassem o ataque para ocorrer no mesmo momento e pelos dois flancos na superior, inferior e média altura poderiam ter alguma chance.
– Vá em frente amazona, coordene o ataque com eles e venha me enfrentar. Se você vencer o combate ou ao menos fizer a luta valer a pena, darei a audiência que veio buscar.
Chamando os guerreiros em um canto, a amazona começou a dar instruções.
– Vocês devem organizar o ataque de tal maneira que um grupo frontal vise às pernas e o posterior procure atingir o tronco e depois invertam, atacando sempre em ondas com primeiro e segundo grupo. Não fiquem muito próximos uns dos outros para que em um mesmo movimento ela não bloqueie ambas as espadas e não esqueçam com quem estão lutando, que ela deseja ser atacada e nós não devemos decepcionar a Conquistadora. Não recuem e pensem que se ela saltar terá que descer e este é o momento do ataque principal. Aquele que cair deverá sair do caminho o mais rápido possível e voltar para a ação e em momento algum ataquem isoladamente.
Após meia marca de vela ninguém havia ainda tocado na Conquistadora, porém vários dos ataques combinados quase deram resultado positivo principalmente quando Ephiny percebendo a atenção de Xena com o ataque posterior usou uma estratégia muito comum de Eponin utilizar na luta de mão e resolveu lançar-se com ambas as mãos nas pernas da adversária buscando fazer uma alavanca que lhe rendeu uma pancada com o punho da espada da Conquistadora em sua cabeça muito perto da nuca, em sequência Xena desarmou seus adversários, no entanto muitos deles ainda permaneciam de pé. Guardando sua espada a Conquistadora determinou que seus homens fossem beber algo e retornassem para treino de duplas nos movimentos básicos, oferecendo a mão para ajudar a capitã amazona levantar.
– Você fez muito bem a coordenação dos grupos de ataque, sendo provável que com um pouco mais de treino eles conseguiriam um resultado melhor. Agora venha comigo, vamos conversar sob a aponia e você tem até que eles terminem o primeiro ciclo de treino. O que você quer?
– Sua permissão para levar a cabo a sentença emitida por Gabrielle para os jovens, crianças e mulheres da família de Hutanis .
– Qual foi a sentença?
– Escravidão vitalícia e hereditária para a Casa Real , com a perda de todos os seus bens e propriedades que passam imediatamente para o tesouro de Corinto , desterro de sua cidade de origem e de Corinto , compromisso de duas vezes no ciclo das estações visitarem um templo de Atena ou Artemis e fazer uma oferenda para o bom governo de sua majestade e deverão acatar qualquer solicitação feita por uma amazona em nome das Deusas, qualquer que seja o lugar a qualquer tempo.
– Sua princesa deve estar brincando com as leis amazonas.
– Certamente não. A lei diz que é de livre determinação da Casa Real . Fora

isso, poderão levar suas vidas como melhor lhe parecerem. As mulheres e meninas que desejarem devem ser acolhidas na Nação e será dado a cada grupo familiar, um talento de prata para que comecem vida nova.
– Sem mortes então.
– Sim, sem mortes imediatas. A princesa, como a lei amazona, entende que esta é uma maneira lenta de morrer.
– E como garantirá o cumprimento de suas ordens ou deste compromisso?
– Acredite senhora, ninguém até hoje teve a infeliz ideia de fugir a uma sentença amazônica. Se aceitarem esta sentença ela será cumprida.
– O que acontece se não aceitarem os termos?
– Então o que foi feito para Hutanis será considerado um passeio na praia perto do que acontecerá.
– Você será a executora?
– Não. A princesa se reserva este direito.
– Quase dá vontade de vê-los negarem os termos para assistir isso. Autorização concedida. Mais tarde no jantar vamos combinar como será feito o oferecimento da escolha. Agora desejo retornar aos treinos, até a noite capitã.
– Conquistadora.
Havia algo que estava impulsionando o braço de Xena. Uma raiva mal contida, misto de frustração e sentimento de perda. Como Gabrielle amava outra se lhe pertencia inteiramente? Afrodite devia estar dando uma festa com esta situação, finalmente ela se apaixonava e o objeto de seu amor está preocupada com outra, interessada em outra. É bom para Palaemon que traga informações ou ele irá descobrir de maneira prática outro tipo de treinamento.
Xena continuou entre seus camaradas, passando do treino de armas para a formação com cavalos e desta para a luta sem armas.
No passadiço interno superior, acima da ala leste, uma Cora se posiciona no canto nordeste, observando a movimentação dos Falcões abaixo no campo de treinos da guarda. Vistos de cima pareciam dançar e mais que luta, era uma sequencia complexa de movimentos que envolvia deslocamentos e manipulação de armas organizando-se no espaço como numa coreografia de palco. Sabia que com certeza receberia ordens de fazer o perímetro e isso iria consumir muito de sua energia.
As cavalariças e alojamento dos Falcões possuem no segundo piso uma ligação com o corpo do palácio por um corredor que facilmente abrigaria oito homens lado a lado sem se tocarem, mas não possibilitaria um acesso ao terceiro piso por não apresentar telhado. Todo o passadiço superior é montado de maneira a servir como uma muralha para impedir assaltos e de forma espaçada possui armas guardadas para uso se necessário. O lado interno, que acompanha o telhado do terceiro andar é especificamente acidentado possuindo um piso crespo que é profundamente

desconfortável para sentar ou deitar em seu traje atual, onde uma saia de couro, uma polaina e um top davam pouca proteção contra os espinhos de pedras pontiagudas colocados propositalmente.
Não havendo construção acima do passadiço e sendo o telhado do terceiro piso rebaixado em relação a ele, os ventos sopram de maneira constante e forte, onde a única proteção contra o sol escaldante é manter-se acompanhando seu giro, utilizando a pequena sombra que a própria pedra da murada fornecia.
Ela já havia sido treinada para este tipo de e exposição aos elementos, no entanto sempre com um objetivo maior do que fornecer à sua comandante uma válvula para diminuir a pressão interna de fracasso próprio, mas se Ephiny estava precisando extravasar para encontrar seu equilíbrio, pela Deusa Caçadora, ela iria fazer o possível para ajudar.
Ainda não imaginara como iria estabelecer contato com a Falcão ou buscar informações com o manto do silêncio cobrindo ambas, no entanto confiava nos instintos de Ephiny e suplicava a Artemis que a auxiliasse neste momento, pois o sol entraria a pino em duas marcas de vela e a maçã que comeu com Ephiny não lhe sustentaria a fome por muito tempo. Ela sabia por experiência que a noite seria longa e não iria ser agradável.
A Falcão estava deitada com seu escudo formando uma proteção contra o sol na extremidadenoroeste, acimadosaposentosda Conquistadorae Coraconseguiudivisar a ponta do escudo, mas haveria tempo para contato, agora importava acompanhar os movimentos de sua capitã no baile abaixo. Pouco depois de ver Ephiny deixar o campo de treino, divisou sua capitã na ponta da escada que dava acesso ao passadiço. Como previra, ela não teria muito tempo de paz e chegando a três passos de Ephiny colocou seu punho direito no peito esquerdo, olhando firmemente nos olhos de sua comandante.
– Cora, creio não ser correto que fiques cuidando apenas do passo interno, então faça ronda a cada marca de vela, verificando três vezes o perímetro e coloque atenção nos acontecimentos, pois findo o prazo desejo relatório completo das observações feitas deste ângulo. Entendido?
– Sim, capitã.
– Bom. Devo almoçar com Gabrielle e enviarei a ela teus sentimentos por não poder estar com ela nas próximas marcas de vela. Eis teu odre de água com exatamente uma taça. Cuida bem dele. Até breve e que Artemis te proteja Cora.
– Até breve capitã.
Com a descida de Ephiny , Cora começou a observar o perímetro do passadiço interno e externo em toda sua extensão. Os Falcões de guarda nas portas para o segundo andar do palácio e os que estavam nos alojamentos sobre as cavalariças não tiravam os olhos do treino com armas que acontecia no pátio interno e Cora pensou

que era uma grande perda de tempo fazer sentinela daquela forma, olhando para dentro. Deveriam estar mais interessados em observar o movimento pelo corredor a sua frente e no paço externo ao norte.
Decidida a começar sua ronda o mais rapidamente possível, desviou-se da murada e quando chegou na extremidade noroeste acima dos aposentos da Conquistadora, fez uma saudação guerreira para a Falcão deitada e continuou seu caminho para fechar todo o perímetro. Levou meia marca de vela para fazer o perímetro três vezes, o que lhe daria meia marca de vela para descansar. Buscando abrigo do sol, da melhor forma que conseguia, ficou imóvel guardando energia e molhou os lábios no odre para evitar que ressecassem. Em sua terceira ronda do dia a Falcão começou a acompanha-la e sentou em frente a ela observando-a curiosa, imitando seus movimentos ou a falta deles. Quando chegasse a noite, ela elevaria uma prece de agradecimento à Deusa da lua pela luz que manteria seu caminho seguro nas rondas que seguiriam.
Ao descer Ephiny dirigiu-se diretamente aos aposentos da Conquistadora, sabendo que Gabrielle a esperava para o almoço.
– Como está tudo Kleith?
– Tudo calmo capitã. A princesa e Salina foram à biblioteca, retornando com vários pergaminhos e não tenho noticias desde então. Como está Cora?
– Ela está bem e com certeza conseguirá estabelecer contato com a Falcão acima, obtendo alguma informação útil pra nós. Você está dispensada da sentinela Kleith, vá comer algo e descansar após um banho que lhe ajude a relaxar, retorne quando a lua estiver no seu ponto mais alto. Use nosso aposento, há um banho preparado, alimentos e vinho esperando você.
– Obrigada capitã.
Entrando nos aposentos da Conquistadora, Ephiny dispensa Salina para descanso nos mesmos termos que utilizou com Kleith e se propõe a almoçar com Gabrielle. Três escravas entram com alimentos para a princesa amazona e sua visitante e Ephiny fica com a sensação de que algo está fora de contexto.
– Desde quando estas três estão a teu serviço?
– Elas não estão a meu serviço Ephiny , elas atendem nos aposentos da Conquistadora como eu farei em teu jantar com ela.
– Você já está bem, por que não volta para teus aposentos?
– Como se a escolha fosse minha Ephiny . As vezes você fica tão obtusa!
– Desculpe Gabrielle, é que não gosto de pensar em você tão disponível.
– Eu pertenço a ela capitã, estou disponível independente do aposento que eu ocupe, mas entendo tua preocupação e agradeço. Por favor, me prometa que não fará nada idiota como afronta-la ou solicitar algo como isso de meu retorno aos aposentos que usava antes.
– Eu não farei nada que possa levar a Conquistadora a utilizar castigar você,

tem minha promessa.
– Nem a vocês Ephiny . Prometa.
– Prometo.
– Agora me diga como foi resolvida a questão sobre a família de Hutanis?
– Ela concordou com tudo, apenas desejou que eles negassem a chance para ver você executar a sentença pessoalmente, mas pelo sorriso dela é algo que ficou imaginando como seria. Durante o jantar vai especificar como se dará o oferecimento das opções.
– Há quanto tempo você está sem dormir direito?
– Seis dias, mas tenho dormido algo por noite ou quando posso.
– Depois do almoço você vai se retirar para seus aposentos e vai deitar, levantando somente para banhar-se e vir jantar com a Conquistadora fazer seu relatório. Tenho certeza que Cora poderá dirigir as coisas na guarda por mais uma tarde.
– Ainda tenho muito que fazer Gabrielle.
– Não estou fazendo um pedido capitã, mas estou tornando isso uma questão de Zorah. Pessoas cansadas cometem erros e você não pode errar esta noite..
– Sim alteza.
– Onde está Cora?
– Realizando uma missão de investigação sobre pessoas interessadas em nós.
Vai ficar quatro dias fora de nosso convívio direto.
– Entendo, mas você vai acompanhar as atividades dela, para não ter risco de se envolver em alguma luta e se ferir Ephiny ? É perigoso?
– Não . Ela não tem risco de entrar em combate, eu te prometo Gabrielle. Como tem sido teus estudos?
– Descobri que o Império começou na região da Macedônia e talvez este seja o motivo desta região incomodar tanto a Imperatriz.
– Não nos cabe analisar a Conquistadora Gabrielle. Esta é uma atividade muito perigosa que pode levar a interpretações difíceis.
– Não estou analisando a Imperatriz, mas fazendo o que ela me ordenou sobre procurar inconsistências no comportamento dos nobres e apontar possíveis focos de rebelião antes que se espalhem. O estudo da história dá uma certa dimensão de motivos e ciclos de comprometimento.
– Você já voltou aos seus afazeres então!
– Alguns.
A mais jovem das escravas estava servindo vinho para Ephiny e sem conseguir controlar o peso da jarra acaba derramando quase todo o conteúdo sobre o corpo da capitã amazona. Com o vinho caindo sobre ela, Ephiny rapidamente deposita sua taça em uma mesa baixa e se coloca em pé, segurando a jarra com as duas mãos depositando-a ao lado da taça.

– Tome cuidado com o que faz, imbecil!
A mulher assustada afasta-se três passos e se curva com seu corpo inteiro tremendo, esperando a explosão de golpes que seguiria as palavras, sabendo o alto custo de ofender uma hóspede da Conquistadora. As outras escravas param seus afazeres e assumem exatamente a mesma posição.
Surpresa com o acidente e mais ainda com a reação da capitã de sua guarda, Gabrielle se ergue tentando acalmar a jovem enquanto Ephiny se recompunha, no entanto Ephiny estava cansada, com muito pouca paciência, praguejando em voz cada vez mais alta e indignada pelo banho forçado.
– Grande Atena ! É uma surpresa que uma idiota como você esteja servindo tão próximo à Imperatriz e ainda mantenha o corpo todo em uma peça. Pela Caçadora, você deveria ser treinada para não deixar cair coisas sobre as pessoas! Não sei como você as atura Gabrielle!
Nenhuma escrava movia um músculo e embora a jovem não parasse de tremer, não ousou se mover nem para implorar, levantar os olhos ou responder.
Como o silencio na sala era sepulcral, Ephiny terminou de arrumar seu himation e percebeu que Gabrielle estava ao lado da jovem, também em silêncio e olhando para o chão, levemente curvada.
– Pela sagrada Artemis, alguém me diga o que está acontecendo aqui?
– Foi um infeliz acidente que tenho certeza não se repetirá senhora. Acredite que falo por todas nós quando peço que perdoe nossa falta de jeito. Certamente treinaremos mais nossa habilidade e tenha em conta que pagaremos por tê-la desagradado.
– Pare com isso Gabrielle, por favor. Nossa falta? Pagaremos? Do que você está falando? Foi esta imbecil e mais ninguém !
Então Ephiny se dá conta de que sendo estes os aposentos da Conquistadora, não havia mais a charada do disfarce de sargento e sendo ela em tudo e por tudo uma Embaixadora, hospede da Conquistadora, todas as escravas presentes ali eram responsáveis por atender bem, incluindo Gabrielle.
A revelação cai sobre Ephiny como uma pedra gigantesca e ela busca respirar melhor e diminuir os efeitos de suas palavras, sabendo que poderia ter emitindo uma condenação sobre elas se houvessem observadores.
– Olhe moça, peço que me desculpe a reação, eu não desejava ser rude, foi apenas a surpresa. Como Gabrielle disse, foi um infeliz acidente, por favor, me desculpe se a assustei e por favor não relatem nada disso a ninguém, foi apenas um pouco de vinho, um acidente sem importância. Gabrielle, por favor, voltemos ao nosso almoço como antes, deixemos isso de lado. Por favor.
– Está bem Ephiny , mas como eu disse antes você sairá daqui diretamente aos seus aposentos para dormir. Esta reação foi a falta de sono cobrando pedágio e não desejamos uma reação assim na frente da Conquistadora. Poderia ser fatal.

– Certo. Vocês podem sentar e descansar que não farei nada contra vocês por este episódio. Por favor, alteza, conte-me mais sobre o início do Império e as lendas Tracias.
Assim se passaram quase duas marcas de vela quando Ephiny despediu-se de Gabrielle e se dirigiu aos seus aposentos buscando um banho e sua cama. Gabrielle tinha razão, precisava urgentemente dormir.
O jantar com a Conquistadora foi algo extremamente tenso, pois seu humor estava alegre e descontraído, mas suas respostas rápidas sempre davam a entender duplos significados.
Ephiny relatou sua missão com a hospedaria e Xena começou a elogiar a atuação de Ephiny no episódio de Hutanis, levando a conversa para a sentença dada.
– Amanhã no pico do sol eles serão reunidos e lhes será oferecida a escolha de aceitarem os termos da sentença e cumprirem integralmente ou sentirem a mão de Gabrielle. Você agiu bem amazona e sua princesa será devolvida para seus próprios aposentos, quando eu recomendo um banho relaxante. Ouvi dizer que um banho de vinho faz maravilhas para a pele e que você tem um método de treinamento para que as coisas não saiam de mão. Elasa irá acompanha-la e ficará em seus aposentos para servi-la até o final de seu tempo conosco, tempo em que terá a oportunidade de treina-la conforme seu gosto. Quando não quiser mais os serviços dela, basta avisar Siana que a encaminhará para as masmorras onde aprenderá a servir com os prisioneiros, caso não tenha aprendido o suficiente.
– Sou apenas uma guarda majestade, não haveria espaço para escravas em meu trabalho.
– A decisão é sua capitã. Ela atenderá você ou estará nas masmorras ainda hoje.
– Eu agradeço o presente e saberei fazer bom uso dele. Obrigada, Conquistadora.
– Agora Gabrielle, nos conte uma história Tracia! Uma com batalhas, sangue e honra. Uma história com cavalos.
Gabrielle começou a contar a história de como Héracles domou as éguas antropófagas de Diomedes, rei da Trácia. Este seria o oitavo trabalho do herói que estava a disposição de seu primo Euristeu, rei de Argos como penitência por ter matado Mégara, sua esposa e seus filhos num ataque de fúria instigado por sua madrasta Hera.
– Você conta bem Gabrielle, mas eu quero uma lenda melhor, algo com amazonas, talvez.
Então Gabrielle contou a lenda de Mopso, guerreiro da Tracia que unido aos Citas matou Mirinia rainha das amazonas empurrando-as mais para as grandes planicies.
– Isto sim é que é história! Agora saiam que eu quero ficar só e amanhã se tivermos sorte, veremos uma princesa amazona aprender as velhas maneiras do norte.

Boa noite capitã. Até amanhã Gabrielle.
– Boa noite, majestade.
Dirigindo-se aos banhos, Xena entra na piscina e lentamente começa a nadar. Quando sai das águas seu olhar encontra com o olhar de uma jovem morena de aproximadamente vinte verões que aguardava na ponta da piscina com as toalhas em mãos para secar seu corpo e notando ser percebida por sua senhora rapidamente moveu seu olhar para as escadas de pedra da piscina, mas Xena já havia reparado. Ao seu lado estava uma outra morena, mais jovem e ela sabia que haviam sido introduzidas nos seus aposentos em sua ausência durante a manhã. Ambas eram desconhecidas da Conquistadora.
– Você está com medo menina?
– Sim, senhora.
– Isso é bom. Sinal que deseja viver. Você deseja viver?
– Sim senhora.
– Então seja obediente e deixe seu medo fora dos meus aposentos. Quando entraram para meus serviços?
– Sim senhora, fomos adquiridas esta manhã.
– Você também é nova aqui, pequena. Sabe o que fazer?
– Obedecer.
– Não somente isso, você já serviu antes?
– Não senhora nunca estivemos com ninguém antes.
– Como isso é possível? Dificilmente alguém como vocês permaneceriam intocadas nas ruas.
– Nós não somos das ruas senhora. Nossa família possui uma pequena propriedade ao sul de Corinto , quando esta tarde nosso irmão foi preso por não pagar impostos nos entregamos para conseguir dinheiro e saldar suas dívidas, salva- lo das minas.
– Quem as trouxe para minha casa?
– Disse que o nome dela era Siana, nos trouxe aqui e que deveríamos aguardar em seus banhos, indicando o que deveríamos fazer.
– Fiquem aqui e não saiam deste lugar onde estão, não falem, não se movam e não tirem o olhar de seus próprios pés.
Vestindo um roupão branco, vai até a porta e pede para Eliano buscar Siana e que ela fosse introduzida ao chegar.
– Mandou me chamar, senhora?
– Sim. O que é isso de duas jovens entregarem-se para pagar dívida do irmão e pararem em meus aposentos?
– Elas estavam desesperadas e iam se colocar no tablado. Foi o melhor que eu pensei e como Claudia foi embora tentei ajudar, majestade.

– Não lhe ocorreu que poderia ser uma armadilha? Elas poderiam ser assassinas contratadas.
– Minha senhora!
– Sei que não teve intenção Siana, mas deixe que eu cuido de suprir quem entra em meus aposentos. Fui clara?
– Sim, majestade.
– Leve-as daqui e coloque-as a trabalhar na lavanderia ou nos teares. Melhor, ponha-as junto com Melinda e suas filhas. Vou pedir para Elthor investigar esta história mais a fundo, mas você não se enganou Siana, me agradaram. Obrigada.
– Obrigada, majestade.
Indo até a sala de banhos Xena envia ambas com Siana para serem recolocadas. Voltando para sua cama a Conquistadora fecha os olhos sabendo que não foi uma ameaça da segurança que a fez negar o presente de Siana, mas o sentimento de que qualquer ato seria vazio enquanto pensasse nesta pequena amazona loira em suas mãos.
“ Amanhã saberei de teu amor secreto Gabrielle e você aprenderá que pertencer a mim é mais do que palavras cordatas. Atena guie meu sono e alivie minha ira para que eu consiga ensinar uma lição inesquecível, mas principalmente para que eu não destrua Gabrielle por esta traição.”
No dia seguinte, após o desjejum, Xena premiou os Falcões que voltaram da excursão com Elthor ao mesmo tempo que encomendava a Terquien que os homens de Elthor e Volair levassem uma investigação completa sobre o irmão das duas jovens que Siana adquiriu no mercado. Se em plena Corinto jovens estavam trocando a liberdade por impostos devia ter algo errado com a arrecadação ou com a juventude. O rapaz deveria apresentar-se em seu estúdio na primeira marca de vela após o almoço.
– Bom dia majestade.
– Bom dia Palaemon . Então, o que descobriu sobre a amiga da amazona?
– Não muito. Ela pensa nesta mulher sistematicamente desde sua entrada na Nação. É algo que tem consumido muitas noites. Quanto ao outro grupo de sonhos, refere-se ao fato que a princesa tem pesadelos mas não lembra muito deles quando acorda, no entanto quando fala durante o sono menciona algo sobre uma serpente ameaçando a senhora e ser dever de cada amazona proteger-lhe.
– Este pesadelo não me interessa Palaemon . Quem é esta mulher e onde está?
– Não sei majestade. Cora não me disse e não pude mais encontra-la desde que falamos ontem pela manhã. Ela simplesmente sumiu.
– Amazonas não somem capitão. Elas são apenas quatro e possuem uma agenda fixa em relação à Gabrielle. Talvez eu precise de um capitão novo no palácio se o senhor não sabe o paradeiro de uma pessoa tão facilmente identificável. Saia de minha presença Palaemon e será melhor pra você que tenha perfeito conhecimento

do posicionamento de cada amazona em minha casa na próxima vez que falarmos. Dispensado.
– Conquistadora.
Xena estava simplesmente furiosa com toda a indignação que conseguira conter para esperar mais informações sobre Gabrielle aumentando violentamente. Gabrielle não tinha o direito de dedicar um só pensamento para outra mulher. Escravas não tem amigas! Palaemon não trouxe nenhuma informação nova, mas confirmou suas suspeitas: havia mais alguém no coração de Gabrielle. Com a ira transbordando pelos poros, Xena apertou o passo indo procurar Gabrielle que certamente estaria pensando nesta misteriosa mulher.
Desde que havia recebido permissão para circular nas áreas comuns do palácio, era comum vê-la ao lado de Cassandra durante a preparação do almoço da Conquistadora, dando um toque mais pessoal neste ou naquele prato. Também não eram poucas as vezes que baixando às cozinhas fornecia para Cassandra mão de obra extra, na verdade dez mãos, pois ela se punha a descascar legumes e dava a entender que não custava nada ajudar.
Não havia um membro da guarda real que não compreendesse bem esta situação. A realeza desejava ajudar e cabia a todo membro da guarda estar próximo e atuando para que saíssem o mais rapidamente possível daquele lugar aberto e sem proteção em caso de ataques ao mesmo tempo em que mantinham a guarda alerta. Naquela manhã seriam oito mãos, pois Cora não estava ali.
Repentinamente a Conquistadora surge na cozinha principal, furiosa e andando em linha reta na direção de Gabrielle sem parar em nenhum obstáculo.
Salina ia se interpor entre elas, mas a mão de Gabrielle a deteve no local, realizando o mesmo sinal para deter Kleith e Ephiny .
– Imbecis! Estou cercada de incompetentes!
A ânfora de vinho foi voar até a parede e ambas as taças que a acompanhavam acertaram a exata pedra, uma após a outra.
Gabrielle, como todos os escravos da sala, havia levantado e se curvado, permanecendo em seu lugar, olhando para baixo e sem murmurar nenhuma palavra, esperando sinceramente que a Imperatriz do mundo esquecesse sua presença.
– Em teus joelhos amazona!
Havia muitos dias que Xena não lhe falava desta maneira e no Vale da Paz reconheceu sua pequena colaboração na ordem das coisas e lhe permitiu falar como uma amiga. Agora isso! Atena poderosa e sábia Deusa, Artemis Caçadora, por favor orientem minhas ações e permitam que eu consiga ajudar. Por favor.
– Levante a cabeça! Olhe para mim!
Gabrielle imediatamente cumpriu ambos os comandos. Havia um fogo no olhar de Xena, mas um fogo gélido, como se a confiança houvesse desaparecido.

– Por que você é sempre tão obediente e cordata, amazona?
Era necessário lembrar o que Xena lhe avisara sobre seu humor não ser tomado de forma leve.
– Eu sou sua escrava e fiz um juramento de lealdade e obediência, minha senhora.
– Seus juramentos são sempre cumpridos, não importando as consequências?
– Com todo meu coração e toda minha capacidade, sim senhora.
– Então me diga Gabrielle, algo que eu não saiba a seu respeito. Todo mundo tem um ponto fraco, qual é o seu? Qual o seu calcanhar de Aquiles, Gabrielle? Diga- me seu ponto fraco secreto.
– Perdão, mas não estou entendendo minha senhora. Como assim?
– Confesse o que eu poderia usar para pressiona-la que ainda não sei Gabrielle.
– Por favor, senhora. A senhora sabe de meu amor à minha família em Potedia e a meu povo na Trácia e por toda a terra. Não há nada secreto, nada que eu esconda da senhora, majestade. Ordene e eu farei, não há necessidade de maiores pressões , basta sua ordem.
– Quem mais existe, amazona!
Repentinamente, Gabrielle entende o que Xena quer saber e sente-se mareada com uma dor insuportável a circular em seu estômago. A Conquistadora exigia saber se há alguém no mundo com quem se importe, sem ser amazona ou de sua família.
A mão direita de Xena agarra o pescoço de Gabrielle, levantando-a do chão e quase sufocando ela responde apreensiva com os objetivos de Xena.
– Eu tenho uma amiga, senhora.
– Eu sabia que havia outra pessoa que não era amazona ou sua família de origem em sua vida!! Diga quem é, o que faz e onde posso encontrar sua amiga Gabrielle. Agora!!
– Ela é uma mulher de idade, minha senhora, na Macedônia e trabalha muito para sustentar sua família. Ela tem minha gratidão, pois me auxiliou num momento de grande necessidade.
A voz de Xena baixou alguns tons.
– Está testando minha paciência Gabrielle. O nome dela e sua localização.
– Ela é Cyrene de Amphipolis majestade e será facilmente encontrada na pousada mais agradável da cidade. Ela apenas me protegeu quando fui colocada a venda minha senhora, já falei dela para a senhora em Esdel, mas não há nada que seja ofensivo à Sua Majestade
– Isso sou eu quem decide. Vá ao lugar de espera em meu estúdio e não saia dali sem minha permissão pessoal e estas inúteis amazonas podem acompanha-la se desejarem, mas você guardará silêncio absoluto. Vá!
– Minha senhora.
Gabrielle se curvou para Xena e encaminhou-se para as escadas em silêncio,

buscando o estúdio privado da Conquistadora.
– Saiam todos! Fora!
Rapidamente as cozinhas ficaram vazias e Xena ouvia apenas o som de sua própria respiração e de mais alguém.
– Furiosa virou-se determinada a ensinar uma lição a este inconsequente que se negava a obedecer suas ordens, sua mão tocava o chakram quando ela ficou frente a frente com Cassandra.
– Perdão majestade. Imaginei que poderia desejar algo, um chá talvez?
Por alguns instantes ficaram assim se olhando até que Cassandra baixou os olhos e lentamente virou-se para abandonar as cozinhas.
– Espere, Cassandra! Um chá seria bom.
Xena senta em um banco e escora-se na parede, colocando o braço na mesa recebendo uma caneca de chá da sua cozinheira preferida.
– Era Cyrene! Gabrielle está encantada por Cyrene de Amphipolis!
– Você não tinha como saber, minha senhora. Não é sua culpa.
– Como vou olhar pra ela agora, como irei acertar isso? Eu quase a mato e suas irmãs estavam prontas a me enfrentar para defende-la. Como poderei chegar perto dela novamente?
– Como sempre faz. Com a verdade. Gabrielle não é uma mulher tola e sabe que se desejasse seriamente feri-la você teria feito isso. Você realmente gosta dela, ela é diferente de Claudia e as outras que você mantém em seus aposentos.
– Cuidado com o que diz, Cassandra.
– Apenas digo a verdade, majestade, porém é algo que se nota nos fundos dos seus olhos. Mesmo em ira ou fúria mantém uma luz diferente quando o assunto é a princesa amazona.
– Ninguém pode saber disso Cassandra. Gabrielle correria sério perigo.
– Não saberão por mim, fique tranquila minha senhora, no entanto se for permitido gostaria de lhe dar um conselho de uma mulher para outra.
– Fale.
– Não demore muito tempo para dizer a ela e não a castigue por sua afeição com Cyrene. Talvez os Deuses estejam lhe trazendo um caminho para que a Libertadora da Grécia possa novamente caminhar entre nós e não apenas a Conquistadora ou a Destruidora de Nações atuem em sua vida.
Xena se levanta e busca as escadas, mas na porta se volta para a cozinheira.
– Talvez. Que esta conversa jamais seja comentada, Cassandra e tome cuidado quando me desobedecer novamente, pois a lição poderá ser maior do que você conseguirá suportar. Desta vez você está perdoada.
– Sim, eu compreendo majestade. Obrigada.
Xena vai buscar seus aposentos e uma Cassandra assustada respira lentamente

servindo-se do mesmo chá, grata por ter sobrevivido à fúria da Conquistadora, agradece à Atena por seu apoio e coragem nesta hora.
– “Obrigada grande Deusa! Que Xena encontre a paz que merece depois de tantos verões de luta pelo bem da Grécia”.
Enquanto subia para seus aposentos Xena chegava a um acordo consigo mesma: improvável, impossível mas verdadeiro. Ela estava apaixonada pela princesa amazona e agora tinha que tomar providências para que ela não a odiasse mais do que era corriqueiro, era hora de cumprir o que prometera a Atena no Vale da Paz. Era hora de dar à Gabrielle seu pedido atendido. O que lhe deixava angustiada e triste era a certeza de que a princesa amazona pediria sua liberdade e partiria sem olhar pra trás, mas tinha que reconhecer que Gabrielle cumpriu sua palavra e tem sido extremamente dedicada.
Entrou em seus aposentos pela porta lateral, passando despercebida pelas sentinelas e ficou observando o ambiente. Alguém estava ali e foi saudada por uma figura loira que observava as joias da coroa guardadas na grande gaveta do aparador próximo da entrada da sala de banhos.
– Bom dia Xena!
– O que você quer Afrodite?
– Vim cobrar uma promessa Conquistadora. Meu templo em Corinto recebendo um reconhecimento público da coroa. Você lembra?
– O que faz você pensar que ganhou este direito?
– Eu senti tua angustia Xena, ouvi teus pensamentos por assim dizer. Você disse que jamais se apaixonaria e eu fui clara quando assinalei que o amor é uma força poderosa e não a fraqueza que você pensava.
– Eu quase a matei ainda a pouco. Esta força eu sempre tive e não devo a você Afrodite.
– Infelizmente este grau de ciúme é um efeito colateral da profundidade da tua paixão e é uma característica tua que não deves ao amor, mas ao sentimento de posse
. Entretanto, você estava certa quando reconheceu estar apaixonada pela princesa amazona.
– E o que ela sente por mim Afrodite?
– Não. Isso não estava no nosso acordo e a grande Conquistadora terá de enfrentar a batalha do amor como todo mortal. Então, o que decide sobre o Templo de Corinto Xena?
– A discussão era sobre eu me apaixonar ou não. Você venceu Afrodite, será dada a ordem para que escravos do palácio façam uma limpeza completa no Templo e chamarei tua sacerdotisa para que receba a doação correspondente ao seu peso em ouro conforme combinamos. Agora me deixe sozinha pois tenho que pensar como acertar as coisas.

– Certo. Um pequeno conselho Xena: mesmo com todo o poder, siga seu coração.
Ele nunca a deixou mal.
– Você esquece de Cesar.
– Não foi seu coração, mas sua luxuria e sede de poder que te conduziu naquela ocasião, porém com M`yla foi seu coração, embora a sede de vingança não seja meu domínio, foi motivada por um tipo de amor e gratidão pela escrava. Você conseguirá encontrar seu caminho para a amazona se seguir seu coração mais do que sua cabeça. Até breve Xena.
– Adeus Afrodite.
Ela precisava deixar a ira escoar e agora percebia o mesmo sentimento que tinha quando Cyrene a levava para a despensa e usava a cinta de couro. Mais do que a dor era a vergonha de estar nesta situação que a marcava. Resolveu sair e cavalgar para o oeste de Corinto e ficar a sós com Giltar um tempo, isto sempre a ajudara a traçar suas melhores estratégias.
Xena voltou e dedicou duas marcas de vela ao tribunal e ordenando que a servissem nos aposentos foi diretamente às salas de banho. As duas jovens que atenderam a Conquistadora estavam assustadas, pois era sua primeira vez frente a soberana, mas desempenharam suas funções com eficiência. E durante o almoço, ao servir vinho a mão de Philana tremeu.
– Você não pretende derramar vinho em mim, pretende menina?
– Não minha senhora.
– Busquem o almoço com porções duplas e ao saírem daqui, digam a Siana que vocês devem treinar melhor o uso da jarra sendo enviadas para o quartel onde atenderão nas cozinhas, servindo vinho aos Falcões durante o dia todo e parte da noite até a próxima lua crescente, ficando disponíveis exclusivamente para isso. Creio que será treinamento suficiente, pois não queremos uma repetição do acidente de Elasa com a comandante amazona, isso é algo que teria sérias repercussões para vocês. Dispensadas.
Agora ela iria enfrentar Gabrielle. As marcas de vela que a amazona estava esperando em seu estúdio devem ter sido suficientes para que qualquer decisão sua seja um alívio e certamente Gabrielle não estará esperando o que virá. Xena estava em paz com sua decisão e chegou a sorrir antecipando a surpresa que Gabrielle teria.
– Milenti!
– Conquistadora.
– Quando as mulheres retornarem com o almoço chame Gabrielle no estúdio e permita a presença das amazonas que quisessem vir.
Nos aposentos da Conquistadora Gabrielle não sabia muito bem qual seria seu papel, então optou por ocupar o tapete que marcava seu lugar de espera.
– Minha senhora.

– Lembro-me de ter dito que você guardaria silêncio amazona. Gabrielle apenas se curvou, mantendo os olhos baixos.
– Venha sentar comigo Gabrielle. Precisamos conversar e acredito que tuas amazonas poderiam servir nosso almoço, pois dispensei as escravas para que nossa conversa ficasse apenas entre nós. Nada do que ocorrer aqui deverá ser comentado com outra pessoa além de nós cinco. Quero o juramento das quatro quanto a isso.
Todas as quatro colocaram o punho direito sobre o peito esquerdo e baixaram a cabeça num ato de concordância muda. Ephiny fez um sinal a Kleith e Salina para servirem ambas as mulheres, enquanto mantinha seu lugar de observadora próximo ao aparador.
Almoçando com vagar Xena esperava que Gabrielle fizesse alguma outra observação, mas a princesa amazona parece ter recuperado o senso da situação rapidamente e estava aguardando como era de se esperar.
– Gabrielle eu gostaria de me desculpar por minha reação hoje cedo, não era minha intenção ferir você.
Salina quase deixa a jarra de vinho cair e Ephiny levou um susto considerável. Gabrielle apenas olhou para sua senhora um instante e voltou sua atenção para a placa de madeira que continha os alimentos a sua frente.
– Convidei você para almoçar comigo amazona, não para ficar fitando os alimentos. Olhe pra mim Gabrielle.
Lentamente Gabrielle levanta o rosto e fixa o olhar naqueles olhos azuis que antes irradiavam ira e agora tinham uma leve melancolia, quase medo.
– Você tem minha permissão para falar o que desejar.
– Eu sei que a senhora não desejava me ferir, majestade. Se fosse esta a questão eu não estaria inteira agora, pois certamente não tenho força nem disposição para contrariar vosso desejo.
– Como você está ligada à sua palavra por juramento sagrado, eu também tenho uma relação de respeito para com uma Deusa e no Vale da Paz jurei em nome dela que lhe concederia um desejo, um pedido , fosse qual fosse . Este é o momento de você escolher seu desejo Gabrielle. Peça e será dado.
– Quais são os limites desta possibilidade, minha senhora?
– A minha vida ou meu reino. Fora isso, dentro da minha esfera de poder, todo e qualquer pedido será razoável e concedido.
Gabrielle orou à Caçadora por sua orientação e imediatamente lembrou de seus sonhos e de Cyrene. A bondade da taverneira e de sua tristeza pela perda de sua filha muitos verões atrás. “Eu tive uma filha uma vez, Gabrielle, mas a perdi e gostaria de ter tido a possibilidade de salva-la das armadilhas dos Deuses”. Após novamente orar para a Caçadora por orientação, lembra-se nitidamente de suas palavras na despedida em Amphipolis: “obrigada Cyrene, rezarei para que tua filha

seja encontrada”. Lembrou-se de seu desejo sincero e percebeu nesta recordação a orientação de Artemis sobre o pedido a ser feito, pois muitas eram as possibilidades, incluindo sua liberdade, mas Gabrielle sempre atendera as orientações de seu coração.
– Então Gabrielle, desejas pensar melhor? Consultar com as amazonas?
– Não minha senhora, embora tema que meu pedido seja extremamente difícil de ser realizado, mesmo pela Senhora do Mundo Conhecido, eu sei exatamente o que pedir.
– Estou esperando.
– Existe uma mulher que conheci a muitos verões atrás para com a qual tenho uma dívida de gratidão e minhas últimas palavras foram de esperança e desejo que ela reencontrasse com sua filha perdida. Respeitosamente solicito que a filha de uma mãe seja encontrada e a reunião das duas promovida.
– E se ela não existir mais?
– Então que seu destino seja conhecido e sua mãe venha a saber com certeza sobre sua filha amada. Ela sofre muito majestade e é um dever de gratidão que me move.
– Não sua liberdade, não autonomia maior pra teu povo, não perdão por tua insolência? Apenas que eu reúna uma mãe e sua filha?
– Sim, este é meu pedido se me for permitido escolher, minha senhora.
O coração de Xena dava pulos e voltas no peito. Gabrielle não estava saindo! Estava apenas solicitando que encontrasse alguém! Sua rede de espiões e todas as unidades do exército e sacerdotes estariam movidas para esta finalidade, ela iria atender este pedido a qualquer custo, pois significava que tendo chance, Gabrielle não fugiu dela. Ephiny fez um movimento em direção à Gabrielle e antes que Gabrielle pudesse ser questionada e mudar de ideia, Xena levantou a mão e encerrou a questão.
– Concedido. Atena estará atendida em seu juramento sagrado e juro pelas águas do Estige que farei esta reunião acontecer. A mãe terá de volta nos termos que solicitaste e eu pessoalmente presenciarei tal fato com você testemunhando o cumprimento deste juramento ao meu lado Gabrielle. Precisarei de alguma pista para começar. Quem é esta mãe e qual a cidade de origem desta menina.
– Cyrene de Amphipolis, minha senhora.
Xena segurou o tempo. As parcas deviam estar gargalhando neste momento em que seu coração simplesmente batia tão silencioso que parecia ter parado. Algo semelhante a fúria de batalha subiu em seu sistema e Ephiny temeu por Gabrielle. Gabrielle não perdeu um instante da mudança súbita no semblante da Conquistadora e imaginou que seria atingida no local, mas estava em paz com sua
escolha. Ao menos tentou dar a Cyrene uma medida de alegria.
Respirando com alguma dificuldade Xena retomou as rédeas da situação e sem nenhuma emoção deu sequencia ao almoço com a princesa amazona.
– Que fique registrado Gabrielle que teve esta escolha de forma livre e de maneira

livre atenderei seu pedido. Farei com que a filha de Cyrene esteja em Amphipolis e você presenciará tal encontro. Agora terminemos nosso almoço que tenho reuniões a tratar e desejo que você vá aos seus aposentos, tome um banho e apresente-se no pátio interno onde veremos como o povo de Hutanis receberá a sentença decidindo seu destino e se você irá aprender as maneiras antigas do norte. Terá tarefa logo mais a noite. Suas amazonas devem acompanha-la aos seus aposentos e no pátio, mas não retornarão aqui esta noite.
O almoço não demorou muito a encontrar seu término e após algum colóquio leve Xena se levantou e buscou a varanda exterior.
– Dispensadas.
– Minha senhora.
Rapidamente as quatro mulheres cobrem o breve espaço que separa os aposentos da Conquistadora dos aposentos de Gabrielle e entram sem olhar pra trás, com a capitã amazona quase caindo por sobre sua princesa.
– Você enlouqueceu!!
– Agora não Ephiny .
– Você podia pedir a liberdade e sair deste pesadelo e solicita que a Conquistadora encontre uma mulher? Pela Caçadora, você enlouqueceu!
– Agora não vamos discutir Ephiny . Não desejo falar nisso agora, então me de um momento de tranquilidade para que eu possa parar de tremer e falaremos mais tarde. Está bem?
– Não, não está bem Gabrielle. Como ocorreu a você fazer tamanha idiotice? Nós poderíamos ter procurado esta mulher pra você e você estaria livre deste animal para sempre.
Foi sem aviso e totalmente inesperado. A mão de Gabrielle encontrou o rosto de sua capitã com uma violência desmedida, fazendo com que Ephiny sangrasse no canto da boca.
– Sei o que sou e sei quem você é capitã! Você não falará nela desta maneira e vai calar a boca um instante e me deixar pensar. Sente, deite ou fique em pé, mas não volte a falar comigo sem ser convocada e não saia deste aposento. Melhor, não saia deste lugar nem volte a falar em tudo, com as outras, sozinha ou com os Deuses. Fui clara?
Ephiny apenas curva a cabeça e coloca a mão sobre o peito, aquiescendo com a ordem dada.
– Salina, por favor certifique-se que a piscina está com temperatura um pouco mais alta do que tépida. Kleith, sirva quatro taças de vinho e alcance a cada uma, por favor. Acredito que nós poderíamos aproveitar uns instantes para nossos próprios pensamentos e depois do banho eu ouvirei todas vocês sobre o que for. Obrigada.
Uma batida na porta foi atendida por Salina que recebeu de uma escrava um

peplos, um pequeno vestido branco sem mangas, como dois retângulos presos no ombro por alfinetes, que chegaria um pouco abaixo dos joelhos de Gabrielle e seria amarrado por um cinto também branco, acompanhado de um par de sandálias de couro branco, indicando em voz muito baixa que era o traje para a princesa amazona usar no pátio abaixo.
Em meia marca de vela Gabrielle estava novamente na sala e fez sinal para que suas irmãs chegassem junto a ela no divã ao fundo da sala.
– Agora eu ouvirei cada uma de vocês sobre o que desejarem me dizer e tentarei responder suas perguntas, mas será mantido o devido respeito à Conquistadora. Fale Ephiny .
– Peço seu perdão alteza, pois eu realmente ultrapassei os limites de meu lugar. Só posso argumentar que minha preocupação com sua segurança levou a melhor sobre mim. Eu não entendo Gabrielle. Por que este pedido e não sua liberdade?
– Os caminhos da Caçadora são muitas vezes insondáveis Ephiny e é seu desejo que eu continue aqui na condição que me encontro. Tenho esta dívida de gratidão com Cyrene e vi a oportunidade que a Deusa me concedeu para atende-la. Peço que me perdoe ter atingido você.
– Eu realmente mereci isso Gabrielle e fico feliz em saber que você ainda possui força na mão e sabe atingir quando é necessário.
– Cuidemos para que não seja necessário atingir nenhuma de vocês minhas irmãs, pois é algo que faz sangrar meu coração.
– Como você sabe que a Conquistadora irá cumprir com sua palavra?
– Ela não tem por que mentir, Salina. Dela é todo o poder e se decidiu por me conceder um desejo, mesmo minha liberdade, acredito que está preparada para ao menos tentar cumprir.
– Como você vai lidar com o povo de Hutanis se forem idiotas o suficiente para não acatarem a sentença?
– Então será sinal de que meu aprendizado irá chegar às maneiras antigas Kleith. Eu não fui treinada como vocês pois meu tempo na tribo é curto e fui apresentada aos meus deveres e encargos da Casa Real primeiro, com algo de treinamento em armas e cavalos. Acredito que Artemis não me colocará em uma situação na qual eu envergonharia minha tribo. Então se for para ser as maneiras antigas, assim será.
– Você nunca matou alguém Gabrielle. Começar desta maneira é algo terrível.
– O que tiver que ser, será Ephiny . Apenas peço que estejam aqui pra mim quando tudo terminar.
– Sempre, Gabrielle. Estaremos sempre aqui pra você.
– Agora é tempo de eu me vestir e nós irmos para o pátio. Entendo que vocês devem se apresentar em seu traje completo ou pelo menos em todas as suas armas. Parece que a Conquistadora deseja que eles tenham uma visão assustadora de nós.

– Kleith, Salina, vão ao nosso aposento e tragam todas as armas. Vamos dar à Conquistadora a intimidação que ela deseja ver.
– Sim capitã.
Desde o meio da manhã o povo de Hutanis estava em um cercado no pátio interno com as crianças à frente e os jovens e as mulheres por último. Todos podiam ver claramente o estrado montado com um braseiro no canto direito e um caldeirão ao lado, fumegando um líquido borbulhante. A mesa ao centro mais na frente tomava grande parte do espaço e na ponta brilhavam as facas de vários tamanhos, plenamente afiadas apoiadas em um mostruário inclinado. A mesa possuía cintas para imobilizar partes do corpo e um apoio para que sentado na extremidade o indivíduo ficasse com as pernas estendidas, presas e imóveis.
Uma roda de despedaçamento estava no lado direito, pronta para estender o corpo ao máximo de sua capacidade Todos podiam ver e sabiam exatamente do que se tratava pois assistiram o que havia sido feito com Hutanis e os outros homens.
O estrado foi cercado pelos Falcões e a Conquistadora subiu pela escada traseira seguida por uma mulher loira de branco e três amazonas fortemente armadas que tomaram posição atrás da jovem.
– Vocês estão aqui por que foi concedido um pequeno indulto da condenação na qual a Casa de Hutanis estava inserida. Vocês foram entregues à justiça amazônica, pois Hutanis feriu gravemente um membro da Casa Real da Nação amazona. A princesa Gabrielle irá proferir a sentença que vocês ouvirão em silencio. Gabrielle, você deve emitir sua decisão agora.
– Desde o indulto o destino de vocês está em minhas mãos e a vida de vocês pertence a mim. Vocês são livres para aceitarem ou não esta sentença. Aqueles que não aceitarem, receberão imediatamente a sentença de morte através de técnicas a muito pertencentes à Nação Amazona para castigar crimes hediondos e que farão a punição de Hutanis e outros homens parecer misericordiosa. Esta é a sentença: desterro de sua cidade de origem e de Corinto, porém todos vocês estão livres para partir para onde desejarem, respeitada esta condição. Aquelas que desejarem se unir à Nação serão benvindas ficando como toda mulher acolhida na Nação e nossa irmã em tudo. O tempo decorrido até aqui está considerado pela Casa Real como suficiente para que pensassem sobre as consequências de um ato como este. Os seus bens passam para o tesouro de Corinto e todos estão condenados à comparecer duas vezes a cada ciclo de estação em um templo de Atena ou Artemis para realizar uma oferenda pelo bom andamento do governo da Conquistadora e a jamais negarem qualquer solicitação feita por uma amazona em nome delas, seja onde ou quando for sendo esta condição passada aos seus descendentes e os que formarem família com vocês. Aqueles que aceitarem estes termos devem se prostrar de joelhos e colocar a testa no solo, levantando apenas quando for autorizado. Os que não aceitarem deverão

permanecer em pé e serão separados para que comecemos o castigo merecido. O que vocês decidem? Viver nestes termos pertencendo a mim ou a morte lenta e agonizante neste tablado? Escolham agora!
Aos poucos o significado das palavras de Gabrielle foi penetrando em cada um e eles mal podem acreditar que teriam uma escolha. Que poderiam escapar da tortura. A medida que iam compreendendo a situação iam se prostrando e colocando a testa no solo evitando qualquer outro movimento. Os jovens procuraram fazer com que as crianças ajoelhassem mesmo sem entender o que estava acontecendo e cuidavam para que nenhuma ficasse em pé por desatenção. Em instantes não havia nenhum em pé no cercado e Xena sorria de ver o alívio no rosto de Gabrielle.
– Parece que não teremos uma princesa manchando seu traje branco hoje, no entanto gostei de ver a determinação com que você desenhou as opções, parece que é a vantagem em ter um bardo no serviço. O que você faria se uma das crianças não conseguisse ajoelhar a tempo?
– Cumpriria com meu dever majestade, conforme vosso desejo.
– Ainda terei tempo de ver você aprender estas maneiras antigas princesa, mas concordo que este grupo não é o melhor candidato. Determine a eles que somente levantarão quando forem tocados em seus ombros e deverão seguir os comandos que receberem sem nenhum som, Gabrielle. Vamos deixa-los pensando por algumas marcas de vela.
– Sim, minha senhora. Vocês não devem emitir nenhum som e sem conversas seguirão aquele que os tocar e o obedecerão em tudo.
– Milenti.
– Conquistadora.
– Leve-os todos daqui a duas marcas de vela para os banhos dos escravos. Que sejam banhados, penteados, perfumados e vestidos adequadamente em trajes brancos. Depois devem ir ao salão de refeições e almoçarem algo, aguardando a presença de sua nova senhora sem nenhuma palavra entre eles ou mandarei cortar suas línguas.
– Conquistadora !
– Vamos princesa, que eu tenho mais reuniões a minha espera e você precisa se recuperar deste episódio, quando providenciará para que saiam em direção aos seus destinos. Não esqueça de inquirir cada um sobre o seu destino, afinal uma princesa deve saber onde está seu patrimônio.
– Sim senhora.
Xena dedicou uma marca de vela ao tribunal e depois, no campo de treino Terquien e Xena atuavam com Volair e Elthor na distribuição dos grupos para treinamento avançado com a cavalaria e um outro grupo de uso da espada curta tão em voga nas terras romanas. Estavam criando um grupo de Falcões com alta mobilidade e luta em espaços pequenos, sendo o lançamento de punhais e facas um

dos itens escolhidos para treinamento intensivo.
– Quero que você volte a Atenas Volair e faça que o destacamento de lá esteja em prontidão permanente a partir de agora. O mencionado por Shumedes esteve se confirmando, então importa você receber os nobres e ir sondando os que são leais a nós e os que apresentam qualquer tipo de restrição. Sugiro Narda, Helena, Olnir e Meehiel pois sabem se misturar bem no mercado e poderão te ajudar sendo teus ouvidos. Inclusive Helena e Olnir poderiam fazer o contraponto manifestando alguma contrariedade com tuas ordens e serem cooptados por algum grupo descontente. Eles trabalham bem disfarçados.
– Partirei imediatamente senhora. Será apenas o tempo de reunir um grupo e repassar as ordens. Ao seu comando Conquistadora.
– Elthor, reúna o máximo de informações sobre o que anda acontecendo nos mercados e portos da fronteira com a Pérsia e envie emissários à Chin . Se houver algum movimento nos ratos de deserto nós saberemos pela sua outra fronteira e é hora de trazer alguns espiões de Roma para casa pois está ficando evidente que as viúvas de Cesar não entenderam realmente sua situação. Coordene com Palaemon sobre a ação de Hutanis entre os Falcões da guarda palaciana e como um todo, pois precisamos saber o quantos foram contaminados pela traição.
– Ao seu comando Conquistadora.
Ambos comandantes se retiram para executar as ordens recebidas.
– Vamos para uma competição de lançamentos Terquien?
– Imediatamente senhora. O que apostamos?
– O que você gostaria de apostar?
– Uma hora com Gabrielle.
O rosto de Xena tomou uma variação que ia do branco translúcido ao vermelho vivo em poucos instantes e percebendo que fora mal interpretado o General se apressa em esclarecer o engano.
– Eu estava falando como barda, majestade. Uma hora de sua barda pessoal contando histórias escolhidas pelo vencedor.
– Se eu ganhar, o que recebo velho?
– É difícil apostar contra a senhora, majestade uma vez que é dona de tudo que enxerga.
– Nem tudo Terquien. Mas vou aceitar tua aposta. Diga aos homens que o vencedor poderá escolher as histórias que a barda contará no jantar. Jantaremos no quartel hoje a noite.
Faltando algumas marcas de vela para o Carro de Apolo se recolher Gabrielle vai à sala de refeição dos escravos, ainda vestindo branco e acompanhada de suas três amazonas.
– Vocês poderão conversar entre si para resolver individualmente ou em conjunto

os caminhos que tomarão. Como disse antes, poderão ir para onde desejarem, devendo apenas informar sua intenção. Aquelas que desejam se unir às amazonas devem sentar junto daquelas mesas no canto direito, no entanto apenas mulheres são aceitas na Nação, então pensem bem antes de abandonarem seus filhos ou irmãos. Os que decidirem partir juntos e fixarem-se como um grupo devem sentar já em grupo e serão organizados para partida, assim como os que resolverem tentar a sorte sozinhos deverão permanecer em pé para que façamos a contagem. Daqui a meia marca de vela eu retornarei e vocês já devem estar com decisão tomada.
Gabrielle saiu com Ephiny para as cozinhas deixando Salina e Kleith observando o grupo.
– Você foi muito corajosa em decidir desta maneira Gabrielle. A Conquistadora teria torturado cada um deles até o último se não fosse a intervenção de sua capitã.
– Obrigada Cassandra, mas espero sinceramente que eles decidam pelo melhor e jamais se furtem a nenhum dos termos do compromisso, pois a Nação Amazona leva muito a sério suas sentenças e eles encontrariam a ira da Conquistadora mais agradável do que o que lhes aguarda se fugirem do combinado aqui. Alenia, você tem encontrado um refugio junto de Cassandra e pelo que soube conseguido ser muito eficiente.
– Obrigada alteza.
– Você não é uma amazona Alenia, não me deve este tipo de tratamento.
– Eu sei, mas sinto ser o correto. A senhora aceitaria um chá? Ou a senhora Capitã?
– Obrigada Alenia, aceitamos sim. Ephiny , você já está encaminhando o transporte para eles?
– Eles devem sair a pé Gabrielle. Nenhum tipo de transporte será fornecido pela Conquistadora.
– Não, claro que não. Será fornecido por nós. Assim que soubermos os grupos, vamos fazer isso. Que Kleith vá com Salina à cidade e compre uma carroça para cada grupo e verifique com o General Terquien se há Falcões de licença que aceitariam fornecer proteção aos viajantes por um preço razoável.
– Certo. E quanto à marca?
– Que marca?
– Eles devem ser marcados como sua propriedade Gabrielle. A Conquistadora mantém o braseiro aceso com ferros de marcar na forma de um Gamma , Y, em três tamanhos para que sejam usados antes que eles deixem o palácio.
– Isso não foi falado em nenhum momento e eu não irei marcar pessoas.
– Mas Gabrielle …
– Eu não o farei Ephiny ! Se é necessária a permissão da Conquistadora eu conseguirei esta permissão. Espere aqui.

Tomando o rumo das escadas, Gabrielle subiu rapidamente em direção ao estúdio da Conquistadora mas ele estava vazio. Saindo no corredor perguntou a Gaius onde ela estava e sendo informada que a encontraria no quartel, sem esperar mais nada dirigiu-se às portas no final do corredor no segundo andar que davam para uma ligação direta aos alojamentos dos Falcões e cavalariças. Procurando em todo o pátio de treino foi guiada pelos risos e gritos que acompanhavam cada lançamento e parando na ponta do grupo, lentamente os homens foram se afastando deixando aquela mulher de branco avançar na direção de sua senhora. Todos emudeceram e Xena foi chamada por uma força irresistível olhando em sua direção, perdendo o foco e errando seu alvo por um pé, fazendo seu punhal cravar-se na porta atrás do alvo.
Curvando-se na frente de Xena, Gabrielle apenas mantem seu olhar franco e saúda a Conquistadora, esperando que sua intromissão não tenha um alto preço.
– Minha senhora.
– O que você deseja amazona. Não deveria estar determinando o fim daqueles infelizes?
– Sim minha senhora, todavia preciso de sua permissão para levar a bom termo minha tarefa.
– Minha permissão em que?
– Necessito adquirir um certo número de carroções e gostaria de contratar alguns Falcões de licença para atuarem na segurança deles até que cheguem a seu destino. Pagaria bem.
– Meus Falcões não são mercenários de aluguel e escravas não tem dinheiro.
Explique-se.
– O dinheiro não pertence a mim senhora, mas à Nação. Quanto à escolta, sei que os Falcões são confiáveis, o que não diria de mercenários.
– Bom ponto. Concedo, mas há algo que você não está me contando. O que é?
– Sobre as marcas, senhora.
– O que tem elas. Escravos são marcados. É a lei para que não passem por livres e ofendam outras pessoas.
– Na Nação a escravidão é algo entre a escrava e sua senhora e não uma declaração social. Peço sua indulgencia para este costume e permita que saiam sem serem marcados. Por sua graça, minha senhora, eu imploro sua permissão para manter o costume de meu povo nesta situação impar.
– Concederei teu pedido, parcialmente.
– Senhora?
– Uma mulher e um jovem de cada sexo receberão a marca voluntariamente ou mandarei marcar todas as crianças, jovens e mulheres imediatamente. Algo mais?
– Não minha senhora. Muito obrigada.
– Gabrielle!

– Senhora?
– Voluntariamente. Você não deve fazer mais do que dizer as condições, não poderá convencer ninguém. Eles deverão ver por sua própria mente a situação e você pagará por esta interrupção e pela escolta pessoalmente esta noite. Dispensada.
– Sim senhora. Obrigada.
Com o coração mais leve Gabrielle volta às cozinhas e à sala onde seus escravos estariam e após trocar breves palavras com Ephiny , observa ela saindo com Kleith pela porta, retornando logo depois com um braseiro que foi colocado na mesa ao lado e uma caixa de metal contendo algum emplastro.
– Atenção, a princesa deseja falar com vocês.
– Vocês já resolveram pelo que vejo. Salina passará entre vocês e fará a lista de onde cada grupo pretende se instalar e cada grupo familiar receberá um talento de prata para auxiliar nesta nova vida. Agora temos um novo problema para vocês decidirem! Embora não seja este um costume da Nação, é lei do Império que os escravos devem ser marcados com ferro em brasa. A Casa Real solicitou e a Conquistadora autoriza que ao invés do grupo inteiro ser marcado, apenas uma mulher adulta e um jovem de cada sexo recebam a marca voluntariamente. Se não houver candidatos a ordem é marcar todos, inclusive as crianças imediatamente. Quem se candidata?
Todos ficaram se olhando e Gabrielle já estava a ponto de desistir e ordenar que todos fossem marcados quando uma mulher jovem e seus dois filhos se adiantam.
– Se for de seu agrado senhora, nós nos apresentamos para receber a marca de sua propriedade.
– Ephiny , você sabe o que fazer.
– Sim alteza.
– Faça-o agora.
Ephiny pega o ferro que continha um gama, Y, em sua ponta e manda os três baixarem o lado direito de sua túnica desnudando o ombro. Ia marcar o ombro pelo lado das costas a meio caminho para a lateral, entre a coluna e a axila, fazendo com que a marca ficasse oculta pela maioria dos trajes utilizados no país, incluindo os tops amazônicos.
– Espere!
– Sim alteza?
– Utilize o ferro que seria usado nas crianças. A Conquistadora ordenou que utilizasse a marca que mandou construir mas não determinou o tamanho. Use a menor delas.
– Sim alteza.
Ephiny fez um trabalho perfeito, marcando a pele e não tocando profundamente no músculo. Havia dado um pedaço de couro para que mordessem e seus gritos não ferissem a alma de Gabrielle mais do que já estava acontecendo. Imediatamente após

a marcação colocou sobre a marca um emplastro preparado anteriormente e fixou com ataduras no local.
– Agora vá ao mercado e adquira uma carroça para cada grupo e a Conquistadora irá providenciará a escolta .
– Como você irá organizar a escolta?
– Isso é entre eu e minha senhora capitã. Vá logo pois quero todos fora daqui antes do início da noite.
Brevemente todos fizeram o juramento se colocando como propriedade da Casa Real das amazonas da Trácia e foram despachados, restando apenas a mulher e seus dois filhos marcados.
– Vocês estão bem?
– Sim senhora, como era de se esperar. Ficamos por último para agradecer a sua intervenção e de sua capitã nesta situação tão difícil e estaremos sempre a seu dispor em qualquer parte de nossas vidas senhora, assim como de qualquer uma que a senhora determine. Ele era um homem bom e não sei o que aconteceu que ele virou um traidor de todos os ideais que sempre proferira. Ele era meu marido senhora e estes são seus dois filhos. Estaremos em uma vila de pescadores próximo a Megara, assim que passar as fronteiras de Corinto , onde há uma pousada não muito grande. Meus filhos são jovens, mas este tempo na prisão foi suficiente para que percebessem o erro do pai. Que Atena lhe abençoe minha senhora e possamos ser de alguma utilidade para a senhora e seu povo.
– Qual o seu nome?
– Me chamo Anahi, senhora mas posso mudar o nome se for de vosso agrado, afinal esta é uma nova vida, uma nova chance que nos é dada. Estes são Nestor e minha filha Luci.
– Não. Não devem mudar de nome e vocês não são responsáveis pelas ações de seu marido. Isso de um novo nome para escravos tem o objetivo de apagar o passado e dar uma identidade como propriedade de alguém. Vocês são muito corajosos e não merecem isso. Vocês duas receberão uma pulseira que identificará vocês como membros de minha casa, devendo usar em todos os momentos e se um dia se virem em dificuldades, mostrem-nas à uma amazona e serão auxiliadas. Não há necessidade de andarem com suas marcas a vista do povo e vocês tem minha permissão para oculta-las de qualquer um, inclusive de amazonas que não sejam da Casa Real .
– Como identificaremos quem é da Casa Real , senhora?
– Vocês saberão sem sombras de dúvida, fique tranquila. Aqui você tem três talentos de prata que poderão ajudar a se estabelecerem com alguma facilidade. Há mais uma coisa que você deve saber: eu sou uma escrava no palácio e pertenço à Conquistadora. Digo isso para que você saiba o quanto eu conheço as dificuldades da sua situação e reconheço com gratidão o sacrifício que os três fizeram em se deixar

marcar voluntariamente, salvando as crianças de tal destino. Boa viagem.
Mãe e filhos seguiram a capitã amazona até uma carroça que já estava cercada por quatro Falcões e Gabrielle viu a carroça se afastar com a sensação de que algo bom estava sendo plantado por sua ação. Percebendo que o Carro de Apolo já havia sido guardado e a noite se fazia manifestar em sua dimensão mais ampla, Gabrielle chamou suas irmãs e dirigiu-se aos seus aposentos para organizar o descanso delas.
– Vocês ficarão em seus aposentos de onde sairão somente amanhã na alvorada.
– Gabrielle não tenho intenção de permitir que você enfrente sozinha a Conquistadora esta noite.
– Sua intenção está anotada capitã, mas não mudará o destino desta noite. Eu atenderei a Conquistadora e vocês aguardarão o nascer do sol em seus aposentos. Cantem, dancem, recitem, treinem, comam ou bebam, façam o que desejarem contanto que não saiam para fora dos aposentos e isso não é um debate. Estou chamando Zorah neste momento.
– Sim alteza.
Foram todas para seus aposentos e Gabrielle se dirigiu ao estúdio da Conquistadora onde aguardaria sua senhora chamar. Não esperou muito e Sirlak abrindo a porta comunica que estava sendo chamada nos aposentos da Imperatriz, onde entra observando o ambiente plenamente iluminado e não vislumbrou Xena em nenhum local, dirigindo-se a sala de banhos.
– Você me custou duas posições no concurso de lançamentos. O que tem a dizer em sua defesa, amazona?
– Não tenho defesa senhora, eu sabia que não deveria interromper a atividade com seus homens, mas não tive muita escolha uma vez que não poderia tomar nenhuma atitude sem sua permissão e não conseguiria sua permissão sem vê-la.
– Sei. Soube que a mulher e os filhos de Hutanis se voluntariaram. Interessante. Também soube que você se limitou a declarar a situação e felicito-a por isso. É extremamente raro uma escrava que sabe obedecer com exatidão as ordens dadas, apesar de tudo.
– Obrigada senhora.
– No entanto você irá pagar pessoalmente por seu erro. Eu irei jantar no quartel e como perdi a aposta você irá ser o entretenimento da noite. Agora tire a roupa e entre aqui para lavar minhas costas e meu cabelo.
Gabrielle ficou congelada no lugar quando as palavras de Xena caíram em sua alma lentamente.
– Está esperando um convite escrito Gabrielle?
– Não minha senhora, certamente que não.
Tirando sua roupa branca e suas sandálias Gabrielle entra na piscina, pegando o sabão e o pano para lavar as costas de sua senhora que propositalmente se mantinha

na parte mais profunda da piscina. Gabrielle deveria andar com a água na altura do queixo para conseguir alcançar a Conquistadora, mas sem titubear ela avançava em direção à sua senhora sem tirar os olhos daquele azul profundo percebendo um certo sorriso no olhar de sua ama e o quanto ela estava se divertindo com suas dificuldades.
– Eu não tenho a noite toda Gabrielle.
– Sim Xena, mas talvez fosse mais prático se a você viesse um pouco mais para o raso e se abaixasse de maneira que eu conseguisse alcançar suas costas.
Xena simplesmente caiu na gargalhada e andando em direção de Gabrielle não tirou os olhos da amazona em nenhum instante.
– Sim princesa, será muito mais prático e quando terminar de lavar meu cabelo, tome seu banho e saia daí que temos um grupo inteiro nos esperando no quartel.
Enquanto se vestia e prendia os cabelos Xena observava a princesa amazona que saia da água e buscava se vestir rapidamente conforme fora ordenado.
– Vamos!
Chegando ao quartel, Xena foi ovacionada pelos seus homens e Gabrielle ia alguns passos atrás de sua senhora. Quando começou o jantar a princesa amazona ficou atrás da cadeira de Xena preenchendo sua taça sempre que necessário e estava atenta ouvindo as conversas e disputas entre aqueles homens a Conquistadora.
– E então minha senhora, já é chegado o momento de pagar a aposta? Afinal é a primeira vez que alguém a vence numa competição de lançamento!
– Creio que tens razão Terquien. Gabrielle, toma o meio do salão e conta uma história.
– Sim minha senhora. Qual história seria de sua escolha?
– Não serei eu a escolher, mas o General Terquien.
– Conta aquela sobre Mopso da Trácia princesa. Deve ser interessante ouvir uma amazona discorrer sobre este episódio ocorrido com seu próprio povo.
Gabrielle começou a contar sobre o guerreiro que venceu as amazonas de Mirinia, empurrando-as para as grandes planícies. Quando terminou o silencio na sala era tão intenso que dava pra ouvir os grilos no pátio e repentinamente os homens começaram a festejar a história, batendo nas mesas e ovacionando a barda. Xena levanta sua caneca de cerveja e Terquien determina outra história:
-Conta sobre o oitavo trabalho de Heracles, sobre as éguas de Diomedes. Vamos ouvir outra sobre a Trácia!
Assim fez Gabrielle, contando sobre o filho de Zeus e as éguas antropófagas do rei Diomedes da Trácia. Novamente foi ovacionada pelos guerreiros. Sua garganta já estava doendo, mas não se moveu de seu lugar para beber algo, apenas olhava sua senhora esperando a próxima ordem que tinha certeza que viria.
– Fez muito bem Gabrielle e como estamos festejando minha primeira derrota nos jogos de lançamento e a vitória do General Terquien, cabe a ele toda escolha.

Escolha bem General, talvez algo que ensine estes jovens sobre como era no início.
– Conte a história passada a dezesseis verões atrás, da submissão de Selenik pelo Império, pois muitos dos Falcões não estavam naquelas batalhas e precisam saber sobre a construção do exército. Gabrielle relatou a falsa aceitação dos termos e a conclusão da sentença interrompendo o conto neste ponto por ordem de Xena, que lhe fez sinal para não chegar às decisões recentemente tomadas.
– Muito bem feito Gabrielle. Que outra de nossas batalhas vamos ouvir Terquien? – Os homens começaram timidamente, mas foi tomando maior velocidade e subindo de tom. Co rin to! Co rin to! Co rin to! Co rin to! Co rin to!
– Os homens já escolheram majestade.
– Conte sobre Corinto barda.
– Imediatamente minha senhora.
Gabrielle contou sobre o cerco de Corinto , sobre quando o rei Sísifos perdendo a visão sobre o bem do povo resistiu inutilmente contra a força da natureza chamada Xena, a Conquistadora e imediatamente começou a contar a batalha de Eiraskan.
– “Eu canto sobre um tempo em que a terra sofria dor causada pelos senhores da guerra que saqueavam e destruíam sem objetivo que não fosse seu próprio prazer momentâneo e o poder de massacrar aqueles que sustentavam a produção de alimentos e faziam da paz seu instrumento maior. Quando a terra clamava por uma mão que guiasse os destinos do Mundo e levasse paz e justiça ao povo, protegendo-o de invasores e opressores e a Conquistadora da Grécia uniu as cidades formando o maior Império que o mundo já viu. Tempo de opressores e reis, quando a terra clamava por uma heroína
Canto a batalha de Eiraskan . No inverno que seguiu a famosa tomada de Corinto, onde o exército imperial debelou uma insurreição que se opunha ao domínio da Conquistadora sobre a Grécia e os inimigos foram derrotados, terminando o tempo dos senhores da guerra que saqueavam o povo e destruíam as cidades para aproveitamento dos poderosos e inescrupulosos políticos. Os nobres e as famílias tradicionais depuseram armas e juraram lealdade e obediência à Senhora do Mundo, em três verões de campanha a Grécia inteira era dela”.
Xena foi recordando as campanhas e tinha certeza que seus homens também. Muitos ali começaram com ela irmanados na certeza que seus objetivos eram nobres, pelos quais valia a pena morrer e viver. Em pouco menos de seis verões na construção do Império, Xena dominava todo o incipiente Império Romano, Germania, Britania, Gália e estendia seus domínios para as terras geladas do , em mais dois verões anexava parte das terras geladas, extremo norte e leste da India, Chin e os Mongóis. Mantendo os governantes locais e permitindo que seguissem com sua religião e costumes, a Imperatriz do mundo apenas recebia os devidos tributos e convocava homens para o exército quando necessário, intervindo o mínimo nas leis civis de cada

povo conquistado. No entanto exigia obediência total aos seus decretos. Contou mais duas histórias sobre a Chin sendo uma delas sobre o Grande Livro de Sabedoria das terras de Lao e uma sobre o povo das terras geladas.
A voz de Gabrielle estava sumindo em algumas passagens e sua garganta dava demonstração de cansaço pesado, acompanhado por uma linguagem corporal que indicava reconhecer o tempo que passou em pé. Passava duas marcas de vela do inicio da madrugada e ela havia contado nove histórias seguidas. Xena levantou e desejou boa noite aos seus homens, chamando Gabrielle para seguir com ela, recolheu-se aos seus aposentos.
– Boa noite Sirlak.
– Boa noite, majestade.
Xena entra indicando o aparador próximo da lareira.
– Sirva duas taças de vinho enquanto eu tiro esta roupa.
– Seu vinho Xena .
– Beba comigo Gabrielle. O que você achou do jantar?
– Eles te amam e isso é facilmente percebido.
– Eles são homens de honra e certamente daria a vida por qualquer um deles como eles fariam o mesmo por mim. Muitos acompanham minhas campanhas desde o inicio.
– Interessante que junto de seus homens você apresenta uma característica mais relaxada e a guarda mais baixa.
– Você contou muito bem as histórias. Se eu não tivesse estado ali, talvez não conseguisse ver a exatidão da narrativa, no entanto você não esteve e narrou com perfeição as passagens menos conhecidas do povo. Como conseguiu as informações?
– Tenho me mantido interessada na história do Império e muito do que forma as histórias vem dos relatórios oficiais de seu exército e dos anais da biblioteca imperial com a visão dos diversos bardos, inclusive da Academia de Atenas.
– Entendo. Bom, eu vou dormir e você vai tomar outro banho. Acredito que esta camisa minha fornecerá toda a roupa que você precisa para estar protegida do frio e resguardar sua modéstia. Pode se servir do alimento que há no aparador, depois assuma seu lugar de espera e vele meu sono contando a história de como você se tornou uma princesa amazona, uma escrava e veio parar em meu palácio. Não deixe nenhum detalhe de fora e faça com que Gabrielle da amazônia seja a personagem principal do conto. Ao terminar, recomece do princípio. Boa noite Gabrielle.
– Boa noite Xena .
O amanhecer trouxe os raios do sol diretamente sobre os aposentos da Conquistadora e Siana entrou no quarto abrindo as pesadas cortinas iluminando todo o aposento. Sem demonstrar nenhuma surpresa cumprimentou Gabrielle que continuava falando sozinha, explicando os acontecimentos em Esdel e posteriormente

no palácio e no Vale da Paz, chegando sua explanação até a noite anterior.
– Bom dia Conquistadora.
-Bom dia Siana. Por favor, envie as mulheres para a sala de banho apenas daqui a duas marcas de vela, Gabrielle irá atender meu banho e meu desjejum. Diga para Cassandra que Alenia deve trazer porções duplas imediatamente.
– Certamente senhora.
– Você ouviu minha barda agora pela manhã?
– Sim. Ela terminava de contar sobre o jantar de ontem a noite no quartel e estava começando algo sobre uma família em Potedia passando dificuldades devido às colheitas e ataques de arruaceiros, mas sua voz está falhando.
– Sim. Gabrielle precisava aprender uma lição sobre o fato de interromper a Conquistadora não ser uma boa opção e eu não gostaria de castiga-la fisicamente. Acredito que virar uma noite atuando pode ser algo que auxilie-a a perceber as consequências de esquecer seu lugar.
– Mas Conquistadora, a menina irá ficar sem voz desta maneira!
– Será apenas mais um pouco Siana. Em breve darei ordem para que ela descanse o resto da manhã, porém no momento vou deixa-la pendurada mais um pouco na incerteza. Agora providencie meu desjejum.
– Ao seu comando, Conquistadora.
– Gabrielle!
– Sim minha senhora.
– Venha, vamos tomar banho juntas. Sabe nadar Gabrielle?
– Sim senhora, fui ensinada.
– Então vamos nadar.
Após alguns instantes parada um tanto constrangida, Gabrielle observa Xena sumir no fundo da piscina e passar próximo às suas pernas, surgindo do outro lado sem toca-la.
– Você pretende ficar aí parada com os braços cruzados? Eu convidei você pra nadar comigo Gabrielle e não para formar uma estátua na água.
Avermelhando até a raiz dos cabelos a amazona balbucia alguma desculpa.
Xena chega bem perto, tanto que Gabrielle tem de jogar a cabeça pra trás pra continuar olhando dentro de seus olhos.
– Eu não estou olhando você de forma abusiva, princesa. Apenas quero um pouco de diversão. Então, por favor, busque o sabão que caiu na água e traga pra mim.
– O sabão está sobre a toalha aqui ao lado Xena!
Ela não queria criar pânico, mas apenas um jogo inocente e pela reação de Gabrielle teria de pressionar um pouco mais até que a amazona se acostumasse e ficasse mais tranquila. De uma forma jocosa a Conquistadora coloca a mão sob a toalha lançando neste gesto o sabão no outro lado da piscina, mas ainda em uma

profundidade que daria para Gabrielle tocar o solo se necessitasse.
– Ops!
Ficaram um instante se olhando e Xena ergueu a sobrancelha indicando que sua paciência estava se esgotando. Mesmo com a autorização para trata-la pelo nome e ter uma relativa intimidade Gabrielle percebeu que ali não tinha espaço para questionamentos. Era uma ordem e deveria ser obedecida imediatamente, então lançou-se na direção em que o sabão havia caído e mergulhou em busca do objeto. Quando emergiu, Xena estava a seu lado.
– Vamos tentar novamente?
Imediatamente pegou o sabão e lançou no outro lado da piscina, mas desta vez na parte profunda. Quando Gabrielle emergiu, não conseguia ficar em pé e já estava afundando quando um braço forte concedeu apoio para que ficasse flutuando. Sorrindo ludicamente, Xena fez a mesma ação mais quatro vezes e Gabrielle buscou o sabão a cada vez com menos tempo de espera.
– Vamos sair agora, tenho um Império para conduzir e uma missão para ti.
Saindo sem olhar pra trás, deixou uma cansada Gabrielle imaginando que missão seria e se teria energia suficiente para levar a contendo. Xena já estava sentada de roupão tomando seu desjejum e a sua frente uma cadeira e uma placa de alimentos foram colocadas para um acompanhante. Gabrielle vestiu novamente a camisa de Xena e ficou parada aguardando ordens.
– Sente e coma comigo Gabrielle. Quando terminar seu desjejum, deite-se em minha cama e durma. Darei ordens a Gaius que você não deve ser interrompida em seu sono por nenhum motivo. As mulheres que virão limpar a sala de banhos somente cuidarão do aposento depois em que estiver depois que você acordar e que a Deusa as ajude se tirarem você dos braços de Hipnos e seu filho Morfeu.
– Sim majestade, mas eu preciso falar com Ephiny ou ela não ficará tranquila!
– Pouco ou nada me interessa a tranquilidade de tua capitã, mas permitirei que ela a veja dormindo com a condição de não acordar você, todavia poderá falar com ela apenas com minha autorização pessoal. Estou sendo clara amazona?
– Sim Xena, obrigada. Farei tudo conforme seu desejo. Suas ordens serão cumpridas a risca.
– Bom! Agora vou , mas estarei de volta para o almoço. Bons sonhos.
– Tenha cuidado, minha senhora.
Xena passou a manhã em reunião com Yolker e Akiba visando um jantar com os nobres de Corinto e alguns outros que convidara da região de Esparta, Delfos e Atenas. Desejava discutir a implementação de jogos esportivos semelhantes aos de Olímpia em cada região da Grécia e em especial dedicação à Deusa Atena havia um decreto instituindo uma isenção de imposto relativo a um dia de trabalho para o cidadão que de alguma maneira contribuísse para o templo de Héstia ou Apolo .

Esta contribuição poderia ser em trabalho, mercadoria ou valor monetário. Era hora do Império reconhecer a importância das divindades no coração de seu povo.
Xena convocou a sacerdotisa de Afrodite para que recebesse de seu tesouro pessoal o equivalente ao seu peso em ouro como doação para o Templo de Corinto e ordenou que Akiba e Siana organizassem uma equipe de escravos de sua casa para limpar e ordenar o Templo em três dias, destacando uma equipe de Falcões para atender a guarda do Tesouro de Afrodite pelas próximas cinco luas. Com esta atitude declarava para todo o Império que a Conquistadora protegeria as casas da Deusa do amor. O templo de Ares, não foi esquecido, porém como seus sacerdotes também são guerreiros, fez uma doação de armas do melhor aço em homenagem ao Deus da guerra. Encerrou as reuniões da manhã, marcando audiências no tribunal para a parte da tarde onde ouviria o povo e julgaria os casos levados a seu conhecimento. Quando chegou em seus aposentos havia um Gaius em prontidão com Milenti espelhando sua posição. Nos aposentos de Gabrielle e Ephiny duas amazonas se postavam em posição de guarda .
-Tudo tranquilo Gaius?
O Falcão se aprumou ainda mais e ela conhecia esta atitude.
– Relatório.
– A capitã amazona entrou no meio da manhã e saiu como se fosse perseguida por lobos raivosos majestade.
– Ela perturbou Gabrielle?
– Acredito que não deu tempo pra isso, mas imediatamente surgiram aquelas duas e não fazem nada mas olham para cá como se fossem saltar a qualquer momento em nossos pescoços.
Xena juntou este espaço de informação. Não acreditava que Ephiny fosse prejudicar Gabrielle e pelo que foi relatado não houve tempo para nenhuma troca de palavras. O que poderia ter feito a capitã amazona sair dos aposentos com a velocidade de um raio??
– Avise se houver qualquer tipo de movimento e ninguém entra em meus aposentos a partir de agora. Quando trouxerem o almoço que esperem no corredor até que eu chame.
– Ao seu comando Conquistadora.
Entrou silenciosamente buscando alguma ameaça ou detectar a presença de algum outro elemento. Nada. O aposento estava vazio, retirando a presença dela e de Gabrielle, as duas mulheres na sala de banho não faziam nenhum movimento, o que indicava que estavam no seu local de espera. Pelo som, Gabrielle dormia profundamente. Dirigiu-se ao aparador e serviu-se de vinho virando-se para contemplar Gabrielle e quase engasgou contemplando a paisagem a sua frente, deixando escapar umas gotas de vinho que fizeram seu caminho pelo canto de sua

boca, contornando o pescoço e caindo sob sua armadura:
Gabrielle dormia de costas usando a camisa grande um pouco aberta, caída no ombro direito, apoiada em um travesseiro que seu braço direito abraçava com sua mão sob ele enquanto o braço esquerdo apoiava-se em um outro que ficava displicentemente apoiado em sua cintura neste lado, quase sobre ela. Sua perna esquerda estendida cobria seu pé direito que insistia em fazer este joelho esquerdo de cobertor, o que ocasionava uma flexão do joelho direito e mantinha suas coxas parcialmente cobertas pela camisa. Os lençóis de seda estavam encolhidos aos pés da cama e a colcha leve esparramada ao lado da cama, agia como que fazendo um tapete de boas vindas ao levantar. Gabrielle era a imagem da inocência aos seus olhos, mas reconhecia que para quem não soubesse que nada havia ocorrido na influencia de Afrodite, parecia a figura de uma amante saciada.
Xena sorriu ao entender o que fizera uma mulher da guerra como Ephiny fugir correndo do aposento. Ela não poderia proteger Gabrielle do destino que a Conquistadora decidisse determinar e pensava que sua amada princesa fora transformada em brinquedo de prazer corporal. Xena decidiu que não faria nada para desmanchar esta ideia, pelo contrario, reforçá-la-ia ao máximo e deixaria para Gabrielle a tarefa de tentar demover Ephiny e esclarecer que nada aconteceu.
Enquanto a capitã amazona pensar que ela está abusando de Gabrielle em privado, terá mais cuidado para evitar que sua princesa passe por humilhações públicas e isso daria a ela um dos maiores poderes que se pode ter sobre outro ser humano: a autoridade concedida. Ela reconhecia que ter tal autoridade sobre uma guerreira como Ephiny tinha vantagens estratégicas exponenciais.
Sentando na cama, afasta uma mecha de cabelo do rosto de Gabrielle enquanto assopra levemente em seus olhos e chama suavemente seu nome.
– Gabrielle… Gabrielle…
Gabrielle lentamente abre seus olhos e mergulha naquele azul luminoso que sorria ao mesmo tempo em que dentes brancos demonstravam uma medida de felicidade.
– Xena!
Ouvirseunomecomtaldoçurainebriadanossonhosfoialgoquea Conquistadora não esperava nesta ou nas próximas vidas. Realmente seu coração disparou numa batida descompassada ensurdecedora e ela esperou que tal alarme não fosse ouvido ou percebido por sua causadora.
– Gabrielle… acorde!
Totalmente desperta a princesa amazona senta-se rapidamente ficando face a face com a Conquistadora e de maneira tímida baixa os olhos colocando as mãos sobre as pernas encolhidas.
– Perdão minha senhora! Eu devo ter dormido demais e não percebi sua presença

no aposento. No que posso lhe ser útil?
– Talvez fosse interessante que você saísse da cama, vestisse suas próprias roupas, informasse a estas duas idiotas que sirvam o almoço e rastejem de volta para a sala de banho. Venha falar de teu sono. Você dormiu bem? Não te acordaram?
– Dormi profundamente minha senhora e somente fui acordada com sua voz chamando meu nome. Estranhamente Ephiny não veio me ver.
– Ela veio, mas tinha instruções para não acordar você.
– Ah!
– Se você já terminou de inquirir seria conveniente ir cumprir as determinações que recebeu.
– Certamente minha senhora.
Embora Gabrielle tenha percebido terem trocado as vestes usadas no dia anterior por outras novas elencou não dizer nada a respeito e agir como se isso fosse esperado e extremamente comum em sua vida, rapidamente levantou vestindo seu traje branco e foi para a sala de banho indicar às mulheres que estavam esperando ao lado da piscina que servissem o almoço da Conquistadora.
– Como está sua garganta Gabrielle?
– Melhor, entretanto ainda se ressente do esforço feito até hoje pela manhã.
– Desta vez lhe entreguei um pequeno lembrete de que não deve interromper minhas atividades com seus problemas, amazona. Devido a tua atitude no Vale da Paz eu considerei as possibilidades e esta punição me pareceu adequada. Toma cuidado que podes não ter tanta sorte na próxima vez.
– Sim Xena. Lembrarei disso e tentarei agir de acordo com tuas normas. Obrigada por sua misericórdia, senhora.
– Recomendo a você fazer mais do que tentar, talvez o melhor seja conseguir Gabrielle, pois já avisei antes que meu humor não é pra ser tomado de forma leve. Aproveite as postas de carne que Cassandra preparou com mel, vinho e azeite, acompanhadas de tubérculos e maçãs assadas com canela porque são dignas da realeza. Agora a tarde Akiba levará os relatórios mais recentes do porto de Corinto e Atenas ao estúdio, cabendo a você comparar os manifestos de carga e realizar um levantamento do fluxo de armas desembarcadas.
– Será feito conforme sua ordem majestade.
– Também está sendo organizada uma limpeza e oferendas ao Templo de Afrodite, quero que se una a Siana e formule propostas que evidenciem respeito e consideração como é devido à esta divindade. Mas cuidado! Façam isso sem dar a entender que estou ficando emotiva.
– Sim senhora.
– Você tem até a noite de hoje para apresentar um projeto que reverencie a Deusa da lua e facilite a peregrinação segura ao Templo em Éfeso, com indicações

das principais dificuldades de quem pretende atravessar o mar para isso. Talvez esta guarda real possa ser útil em alguma coisa mais do que ficar de enfeite, acompanhando- te por todo o palácio como se fossem um bando de cachorrinhos em volta da mãe.
– Sim Xena. Obrigada.
– Não precisa agradecer, apenas ser eficiente. Agora vai ter com tuas amazonas antes que eu decida mandar prende-las nas masmorras do Palácio até que aprendam seu lugar e diz à tua capitã que de maneira alguma será tolerado mau comportamento em relação à guarda palaciana, aos Falcões ou agentes de minha casa e você responderá pessoalmente por qualquer erro delas, real ou imaginário. Se eu receber qualquer tipo de reclamação ou notícia de má vontade, desrespeito ou olhar de desacordo por parte delas será a princesa amazona que receberá punição, independente de provada culpa ou inocência na questão. Boa tarde Gabrielle, você está dispensada.
– Ao seu comando minha senhora.
Xena permanece sentada onde estava, apreciando mais uma taça de vinho e sem pressa encaminha-se para a varanda onde se põe a observar toda Corinto e o vale mais além. Neste instante seu olhar para na figura que esfregava as escadarias que dão acesso ao salão de jantar na ala central do primeiro piso.
– Milenti!
– Conquistadora.
– Traga Siana imediatamente.
– Senhora.
Instantes depois Siana entrava nos aposentos, encontrando uma Conquistadora na varanda que dava visão ao pátio frontal.
– Senhora.
– Siana, há uma pequena loira esfregando as escadarias do Grande salão. Quem é ela, quantos verões tem e por que este trabalho agora e não ao romper do dia como era de esperar?
– Ela é Janis, originária da cidade de Roma e chegou com o carregamento de suprimentos na manhã de ontem, como um presente do senhor Shumedes para sua casa. Ficou no depósito até tarde da noite, quando pude me ocupar dela , sendo informada que possui dezoito verões e é facilmente treinada. Este trabalho precisava ser feito e as outras escravas da casa estão sendo preparadas para atender o templo de Afrodite.
– Interessante. Mande que a tragam a mim imediatamente.
– Mas ela está suada e suja do trabalho majestade! Não seria mais aconselhável mandar lava-la e vesti-la adequadamente primeiro?
– Inadequado é você questionar minhas ordens ao invés de cumpri-las sem questionar. Não é próprio de ti este comportamento, embora não seja a primeira vez que ocorre. Explique-se ou receba as consequências Siana.

– Apenas queria que ela fosse melhor apresentável aos seus olhos, majestade.
Peço desculpas se de alguma maneira minha ação causou desconforto.
– Obrigada Siana, mas apenas cumpra com o solicitado e não lhe diga nenhuma palavra sobre mim ou seu destino. Apenas a traga imediatamente e em silêncio absoluto.
– Sim senhora. ApósalgunsbatimentosSianaintroduziaajovemnosaposentosdaConquistadora,
deixando-a no centro da sala, parada em seus joelhos, olhando o solo com as mãos ao lado do corpo e se retirou sem dizer uma palavra.
– Quem é seu senhor?
-Pertenço a casa da Senhora Conquistadora, minha senhora.
– Realmente? Ela já te aceitou em sua casa? Você leva sua marca?
– Eu não sei. Fui enviada para cá como um presente e hoje pela manhã colocada a trabalhar na limpeza. Eu apenas obedeço, senhora.
– Já foi dado um nome a você?
– Não sei, não me foi dito nada sobre isso.
– A quem você pertencia antes de vir pra cá?
– A casa de Shumedes de Roma, senhora.
– E o que fazia lá?
– Eu apenas era treinada. Não executava nenhum trabalho realmente.
– Olhe pra mim. Recebeu treinamento em que?
Janis mantém silencio, como se não tivesse ouvido. Sabia que de sua resposta dependeria sua vida e contra todos os seus ensinamentos seguiu seus instintos e continuou a responder com a verdade.
– No manuseio do tear e costura, algo de cozinha, cuidar de cavalos e no manuseio de armas.
– Mesmo?
– Sim senhora.
– Rápido! Que armas?
– Espada, punhal e facas senhora.
– Sabes que se uma escrava pegar em armas será punida severamente?
– Sim senhora, eu sei.
– Mesmo assim confessaste saber usa-las.
– Apenas respondi sua pergunta com a verdade senhora.
– Esta verdade pode matar-te ou pior.
– Ao seu comando, conforme sua vontade senhora.
– Estenda e erga suas mãos para que eu possa ver.
Janis estende as mãos, elevando-as um pouco e Xena observa os calos já amaciados e sabe exatamente que tipo de uso os criou.

– Levante.
A jovem mulher se ergue com as mãos ainda estendidas, sem saber ao certo onde acabaria esta entrevista. Com certeza este não era o quarto de uma serva ou agente, talvez de uma nobre, Embaixadora ou uma guerreira pois a mulher à sua frente apresentava um corpo acostumado ao exercício, no entanto o luxo do aposento desmentia tal possibilidade.
Xena circundou a jovem analisando seu corpo e seu olhar acostumado a avaliar jovens candidatos no campo militar lhe deu as medidas que precisava ter.
– Desde quando é escrava? Desde quando você treina?
– Desde os nove verões senhora.
– Você é boa?
– Senhora?
– Não se faça de imbecil agora que é muito tarde pra isso Janis. Você é boa no uso de armas?
– Sou melhor no arremesso do que no combate curto senhora, mas estou bem com o uso das lâminas.
– Quais as ordens que recebeu ao vir pra cá?
– Nenhuma. Fui ordenada a embarcar no comboio de mantimentos e me foi dito que eu passaria a pertencer à Senhora do Mundo se ela aceitasse o presente.
– O que mais foi dito?
Novamente um silencio seguiu à pergunta, como se Janis estivesse pesando as consequências de sua resposta e jogando os cuidados ao vento respondeu em um só fôlego.
– Foi dito que se eu fosse devolvida iria ampliar meu treinamento servindo aos oficiais da milícia.
– Você quer ser devolvida?
– Uma escrava não comanda seus destinos senhora, mas se me fosse dada oportunidade eu trabalharia muito para poder permanecer aqui.
– Como Shumedes governa sua casa?
– Ele aprecia a dor que proporciona e o desespero que causa.
– Ele já forçou você?
– Não, a mim não.
– Por que?
– Dizia que eu era como seus vinhos especiais que ele guarda pra usar na ocasião certa e tal ocasião não surgiu quando ele foi optando por tomar outras.
– Você sabe o que esperar?
– Sim. Mestre Shumedes fazia com que o acompanhasse para estar devidamente educadasobreoqueagradariaecomomeportarquandofosseaocasião, principalmente quando tomava jovens de primeira vez ou desejava punir pessoalmente alguma

usando-a de maneira bruta, sem preparação. Inclusive por duas vezes acompanhei aquelas que o desagradaram, quando foram enviadas para servirem os oficiais da milícia, como forma de aprender sobre o preço do fracasso nesta função.
– Venha comigo.
Xena levou Janis até a sala de banhos.
– Esta é Janis e vocês duas devem banha-la sem nenhuma palavra, se desejam manter a língua dentro de suas bocas. Vistam-na com um peplos. Acredito que este peplos violeta combina com seus olhos, usem ele e alfinetes com cabeça de esmeralda. Que ela retorne para a sala em completo silêncio. Mexam-se.
Elas foram prontamente atender as ordens dadas e sequer piscaram ou fizeram algum som em tudo. Já haviam presenciado a língua de uma escrava ser cortada fora de sua boca por falar algo quando fora recomendado silêncio na presença de sua majestade. Elas não iriam tomar este risco.
Janis mansamente e sem fazer perguntas, se deixou lavar sentada em um banco colocado no pequeno tanque ao lado da piscina junto a parede norte, quando depois de retirarem a sujeira de seu corpo a conduziram para as águas da piscina propriamente dita e ela foi com os olhos bem abertos e atentos a tudo. Aproveitandoomomento para observar a sala em que se encontrava, percebeu que além da imensa piscina com água tépida, as paredes eram de pedras regulares, com mármore negro revestindo a parede ao norte e colunas de mármore branco em cada lado da sala, sobre um piso também de mármore branco. Alguns divãs espalhados e aparadores acompanhavam a lateral da piscina próximos às paredes e havia três pequenos tapetes lado a lado, dois dos quais estavam ocupados por estas que agora a banhavam. Enormes armários contendo toalhas, roupões, peplos, sabões, frascos com líquidos, pomadas e óleos estavam guarnecendo alguns pontos do aposento, ladeados por estátuas belíssimas de mulheres com jarros, harpas, flautas ou arcos. Duas mesas para massagens estavam dispostas de maneira paralela e em alguns pontos das paredes havia correntes na altura dos pés ou a meia altura, dando certeza de que não era uma sala dedicada apenas aos banhos. As janelas deixavam passar a brisa quente da tarde na parede leste com sacadas que davam para o pátio frontal. Sendo instada a sair, logo após ter seu cabelo lavado com uma essência que lembrava melissa, sem demora buscou as toalhas e a vestimenta indicada, saindo em direção a sala ensolarada acompanhada de suas duas silenciosas companheiras que a conduziram até o meio da sala e se curvaram esperando reconhecimento de sua presença.
– Deslizem de minha frente e se façam invisíveis rastejando para ocuparem seus poleiros! Levante o corpo e olhe pra mim Janis.
Janis olhou diretamente nos olhos de Xena.
– Você foi enviada para matar a Conquistadora, Janis?
– Não! Pela sagrada Atena , não senhora~!

Chegando bem próxima de Janis, Xena deposita um beijo suave, quase casto na testa da loira que nesta altura não sabia o que pensar. Xena continuou com as ministrações de pequenos toques no rosto, até que realiza um beijo demorado e profundo atraindo o corpo da loira para bem junto ao seu. Xena vai passando para trás do corpo de Janis abraçando-a, preenchendo suas mãos que declaravam ir de um lugar a outro do corpo e ao mesmo tempo permanecer com seu toque sendo sentido em todos os lugares. Janis sente a Conquistadora colocar sua boca junto ao ouvido, falando em voz pausada e sedutora deixando um aviso que a faz tremer em todos os músculos de seu corpo.
– “Se você cometer um erro, acreditará que Shumedes é uma benção dos Deuses. Quando e se você for aceita, a Conquistadora irá reparar em você por todos os momentos de sua vida no palácio, sendo recomendável que esteja pronta para atende- la quando for chamada”.
Pressionando mais seu corpo na pequena mulher, coloca a mão direita por sob o peplos tocando o centro de Janis e sentindo o calor que emanava dali, ia colocando sua língua no ouvido e lambendo o lóbulo da orelha da escrava que respirava pesadamente. Apertando ambos os seios, Xena insiste em deixar suas palavras penetrarem na alma da pequena loira.
– Você irá me servir plenamente e sem segundos pensamentos?
O silencio indicava que Janis mal conseguia articular uma resposta coerente.
Xena aperta seus mamilos até que ela se contorça e repete a pergunta.
– Sem segundos pensamentos?
– Sim, senhora.
Bruscamente Xena se afasta indo sentar junto a lareira, deixando uma mulher perdida no centro da sala, sem saber que atitude tomar. Tentando se recompor Janis coloca ambas as mãos para trás e chamando seu treinamento se curva levemente para a frente, aguardando ordens. Xena deixa que permaneça assim por varias contagens enquanto repassa suas opções e seus desejos.
– Venha cá!
Janis se aproxima, parando a três passos de Xena.
– Sirva-me vinho e sente em meu colo.
Janis obedece, sabendo que o momento que tanto temia estava se aproximando. Xena bebe seu vinho e começa a sugar os seios da escrava que nada fazia para encorajar ou repelir suas ações, mas não conseguiu fazer pequenos gemidos de prazer ficarem afastados de sua resposta.
– Eu quero ter prazer com uma escrava e não com uma das estátuas da sala de banhos, então você deverá ser mais ativa se pretende ficar aqui.
– Perdão senhora, mas eu não sei o que é permitido e o que é proibido uma vez que pertenço à senhora Conquistadora.

– Todos neste palácio ou no Império pertencem Janis, então faça o que lhe vier e se eu não gostar você saberá rapidamente. Passando aquelas cortinas está um leito grande e confortável, então vá e deite-se naquela cama aguardando por mim.
Fitando o fogo Xena tenta se livrar da imagem de Gabrielle pois cada vez que lembra da amazona, estando longe dela, seu corpo treme e seu desejo esfria tendo de recomeçar tudo novamente. Levantando-se bruscamente, Xena vai a passos largos para sua cama, onde derrama-se sobre Janis praticamente montando sobre seu corpo, beijando-a, mordendo e chupando. Com a mão direita busca o centro de prazer da escrava, percebendo o quanto estava úmida e lentamente começou a sentir a pequena película intacta e com movimentos rítmicos manipula o centro enquanto a mão esquerda dominava os seios ou dirigindo seu rosto ia expondo seus ouvidos, sua nuca e seu pescoço para ser explorado por sua boca.
Afastou seu rosto e seu corpo para mirar os olhos de Janis no momento em que se preparava para penetra-la e por instantes o rosto inocente de Gabrielle lhe assaltou a mente, todo seu desejo se esvaiu na próxima respiração. Xena congela seus movimentos e compassadamente levanta se afastando da cama, indo até a sala de banhos e lançando-se na piscina, deixando uma assustada escrava a temer por seu destino.
Depois de nadar um pouco a Conquistadora se veste e sai para o tribunal, ordenando a Janis que espere sobre o tapete vazio da sala de banhos guardando silêncio até que fosse determinado diferente.
Enquanto isso uma Gabrielle angustiada, não entendia a atitude agressiva da capitã da guarda real nem a raiva que ouviu no recado deixado por Xena.
– Eu não sei o que aconteceu que te deixou neste estado, nem o que vocês fizeram que provocou a ira da Conquistadora, mas é fato que algo a deixou indignada com vocês três ou quatro, uma vez que eu não sei o que Cora anda fazendo.
– Não fizemos nada errado Gabrielle.
– O que aconteceu que poderia ser considerado mau comportamento ou má vontade em relação a alguém do povo da Conquistadora Ephiny , para que ela deixe tão claro que eu serei punida numa próxima vez? Se ela menciona uma próxima é que algo aconteceu. O que foi?
– Nada Gabrielle, realmente.
Gabrielle sabia que apenas a formalidade protocolar tiraria Ephiny desta negação quase infantil.
– Eu tenho muito pouco tempo para gasta-lo em jogos de adivinhação e preciso estar no estúdio da Conquistadora aguardando Akiba e Siana onde devo executar meus deveres, então desejo relatório imediato do ocorrido neste espaço de tempo entre minha saída deste aposento ontem e meu retorno agora a pouco. Relatório capitã.
Uma contrariada Ephiny metodicamente relata as atividades desempenhadas

pelas amazonas, as massagens de Elasa, sendo extremamente fiel ao fato de ter sido autorizada a ver que Gabrielle estava bem contanto que não acordasse a princesa e a maneira como mantivera guardas no corredor para alertar de qualquer movimentação da Casa Real durante toda a manhã. Salientou que as amazonas não trocaram nenhuma palavra com os guardas da Conquistadora.
– Por que você está agressiva?
-Eu não estou agressiva princesa, estou decepcionada e com um enorme sentido de impotência e fracasso, pois apesar dos meus esforços não consegui impedir que você fosse humilhada esta noite como mulher alguma deveria ser, em tempo algum.
– Você transmitiu este sentimento para a guarda palaciana?
– Não alteza, apenas nossas irmãs viram o que eu não consegui ocultar.
– Vocês duas falaram alguma coisa com os guardas do palácio Salina?
– Não Gabrielle, mas talvez não tenhamos conseguido ocultar a indignação de nossos olhos enquanto estávamos de sentinela.
– Entendo. A missão de vocês a partir de agora será de manter para com a guarda imperial o máximo de respeito e cortesia militar que conseguirem e quanto a esta noite ou esta manhã fiquem tranquilas que não fui humilhada como vocês supõe. A Conquistadora apenas me manteve contando histórias durante seu jantar no quartel e enquanto eu velava seu sono até o amanhecer de hoje.
– Desculpe Gabrielle, mas eu sei o que vi.
– Você viu apenas que eu estava dormindo e nada mais Ephiny . Eu juro pela Caçadora que a Conquistadora não me tocou de maneira imprópria ou me forçou a ela.
– Não?!
– Não. Apenas me fez deitar em sua cama dizendo que era permitido dormir quando saísse do aposento e que retornaria para o almoço deixando o aviso que qualquer comportamento inadequado de vocês ou meu não seria tolerado e eu serei rigorosamente punida. Devem treinar uma atitude neutra, estoica ou não saiam deste aposento. Preparem um projeto que facilite a peregrinação segura ao Templo em Éfeso, com indicações das principais dificuldades de quem pretende atravessar o mar para isso, pois deverei apresenta-lo juntamente com um outro que reverencie a Caçadora.
– Sim Gabrielle.
-Agoradevoirevocêsestãodispensadasdaguardaesentinela.Apósestabelecerem o projeto solicitado e treinarem uma postura neutra, desçam ao campo e estruturem uma rotina de prática de bastão de lutas, lutas de mão, arco e espadas curtas. Ontem fizeram os homens um jogo de lançamento de punhais com a Conquistadora, façam um entre vocês pois talvez seja hora de lembrar à guarda palaciana por que nos chamamos amazonas. Até mais tarde irmãs e que a Deusa esteja com vocês.
– Até mais tarde, alteza.