O jantar comemorativo já havia começado com uma mesa de honra colocada para a Realeza amazônica e seus convidados nomeados. O restante dos convivas serviam-se à sua vontade nos pratos expostos em travessas e pequenos recipientes fundos para os molhos, sobre as mesas distribuídas em toda extensão das paredes.
A pedido de Gabrielle a parte frontal ao pequeno palco não havia sido obstruída e dali poderia divisar toda grande sala.
Como sempre Cirene primava pelo atendimento e com suas duas ajudantes e mais a trial de Karin a servir não houve momento em que os convidados tivessem ficados insatisfeitos.
-Então alteza, este é um banquete amazônico autêntico! Meus parabéns às suas cozinheiras!
-Eu agradeço senhor Bisênico, mas muito do que o senhor está vendo é esforço de Cirene e ela nunca deixou a desejar. Nós apenas conseguimos emprestar a ela mais algumas mãos para o trabalho pesado e servir na festa.
-A senhora havia prometido que na festa desta noite não usaria a máscara princesa, o que à fez mudar de ideia?
-Eu não mudei de idéia senhor Antinelus, apenas desejo retirar a máscara no momento certo. Fico feliz que tenha aceito meu convite Dena e sua mãe tenha vindo lhe fazer companhia neste tempo tão auspicioso para nós ambas.
-Eu não consigo vislumbrar o motivo de ter sido agraciada com tamanha distinção princesa, mas agradecemos tudo que a senhora tem feito para nossa família desde que chegou. Dena e eu ficamos em grandes dificuldades depois que um incêndio destruiu nossa casa com a pequena loja e suas amazonas juntamente com alguns Falcões de sua majestade reconstruírem tudo nestes dias, é muita bondade que não imagino como pagarei.
-Vocês não devem nada à Nação e todo material empregado assim como o serviço

de construção já está mais do que pago mil vezes por sua bondade e pela amizade desinteressada que sua filha sempre demonstrou. Cirene, acredito que é hora de uma barda subir ao palco ! Com sua licença, vou lhes contar uma história.
Erguendo-se da mesa Gabrielle se encaminhou para o palco que tão bem conhecia, com as amazonas fazendo um corredor pelo qual sua princesa pudesse facilmente atingir seu objetivo e entregando sua máscara a Ephiny assumiu seu lugar. Manifestações de surpresa e de afeto eram projetadas no ar com grande parte do público reconhecendo nela a serviçal de muitos verões atrás e outros apenas a assistente do sanador que ajudara nas horas de dificuldade e todos sem exceção manifestaram alegria em ter novamente entre eles a barda das noites relaxantes após um dia cansativo de trabalho duro, quando a princesa das amazonas começou uma história de amor e solidariedade…
“-Eu canto a história de uma família desesperada pelos frutos negados da terra e um pai que acumulou dívidas impagáveis para manter o meio de sustento. O último recurso, sugerido pela filha mais velha, seria colocar esta filha sobre o tablado em Abdera, o que saldaria os compromissos mantendo o meio de sustento de todos e garantiria alguns verões de fôlego e que mesmo por este ato estaria garantido para essa jovem mulher um teto sobre sua cabeça, roupas contra o frio e alimentos diários. Perderia a liberdade mas manteria a vida. Ao saber disso no entreposto da principal cidade da região, onde estava a maior dívida da família, uma alma bondosa e em tudo dedicada a Atena interviu fazendo cumprir o destino.
Este pai teve suas dívidas saldadas e ao invés de ser colocada no tablado de Abdera a jovem foi posta como uma serva e seu pai teria dois verões para resgatar a dívida ou ela passaria para propriedade definitiva da senhora, assim como dizia a lei sobre o sistema de olzikos. Passado o prazo não se deu o resgate e então a jovem mulher passou a ser uma escrava, sendo o ato lavrado pelo escriba conforme as leis do Império, no dia seguinte, através do termo de propriedade.
Porém misteriosos são os caminhos de Atena e a senhora libertou a jovem no mesmo instante, dando-lhe a liberdade, a emancipação e os meios para buscar a solução para um enigma que somente o oráculo do Templo de Artemis em Éfeso poderia fornecer.”
Gabrielle narrou seu sonho, o encontro com as amazonas, como assumiu seu lugar na Nação, como involuntariamente descumpriu a lei do Império e a justiça da Conquistadora se fez presente. Contou como a Conquistadora começou a expandir escolas, tribunais, hospitais e por fim a grande batalha para proteger os povoados atingidos por este exército invasor e desta forma proteger o povo de Amphipolis de agressão igual, garantir as leis do Império e salvaguardar duas raças presentes na Grécia desde tempos imemoriais como garantia de que ninguém invade e massacra os povos do Império impunemente.

“Eu canto uma soberana que não mede esforços e consequências quando se trata de arriscar sua própria vida para o bem de seu povo independente de qual Nação se origine, a Conquistadora sempre estará pronta a ser a primeira na frente de batalha para proteger os seus.”
Obviamente a barda saltou as partes extremamente pessoais ou cruentas das atitudes de Xena, mas ela estava disposta a mostrar ao povo de Amphipolis que a Conquistadora era como uma fera defendendo seus filhotes de qualquer perigo.
Por muitas contagens tudo que se ouvia era o silêncio e repentinamente há um troar de aplausos sobre aplausos e quando Gabrielle desceu do palco falou algo no ouvido de Ephiny que fez um sinal para as amazonas e de forma inesperada o publico teve acesso à barda e puderam conversar com ela sobre o tempo que passou.
Voltando para sua mesa foi cumprimentada com carinho por Dena e sua mãe e ouviu uma leve repreensão de Antinelus.
-Por isso você sabia tanto sobre nós e nossa forma de comercio!
-Eu lhe disse antes senhor Antinelus que não estava lidando com uma pessoa ignorante. Eu sabia sobre o que estávamos falando e tinha certeza que vocês procurariam fazer o que fosse melhor para a cidade.
O jantar avançou até duas marcas depois que a lua começou seu declínio, e pela primeira vez na pousada a princesa das amazonas teve a sensação que tudo já estava desenhado quando há verões atrás desceu do navio com seu pai para que ele acertasse o prazo final com o senhor do entreposto, apresentando-a como garantia de que o pagamento seria feito assim que o barco retornasse de Abdera e Cirene interferiu adiantando ao senhor Glacínio o total da dívida de Heródoto.
Gabrielle adormeceu com um sorriso no rosto e duas palavras nos lábios. “Obrigada Artemis .”