No dia seguinte era quase final de tarde quando Karin rapidamente avisara Solari que a Conquistadora estava a caminho .
A conquistadora avançava pelas ruas de Amphipolis lentamente com recordações assaltando-a em cada passo de Giltar que andava com uma tranquilidade pouco usual nos cavalos de guerra de sua estirpe, e Xena seguia sem reparar que os olhares que recebia não era de medo nem de asco, mas de alguma admiração. A população não se escondia ou fechava as janelas e alguns até se curvavam respeitosamente ou lançavam gritos de apoio e manifestação de alegria por sua presença, o que não foi perdido para Dínia, Xilant ou Palaemon.
As poucas vezes que Xena estivera na cidade depois de criar o Império foi para punir quem teve a ousadia de agir contra Amphipolis, mesmo antes de se tornar a Destruidora de Nações quando a Conquistadora fez algumas tentativas de reconciliação com a cidade e principalmente com a taverneira, se fez conhecer como a Libertadora da Grécia.
Sua ação tinha o objetivo de deixar Amphipolis mais forte, mas cada gesto reconciliatório seu mostrou-se inútil e somente a intervenção de Atena impediu que ela deixasse um rastro de exemplos indicativos que as coisas tinham mudado, fazendo Amphipolis ultrapassar Cirra.
Cirra havia sido um erro de seus homens, pois gente morta não paga tributos nem rende em Abdera ou Morgador e Selenik foi um erro dos imbecis que dirigiam a cidade, já Amphipolis era um caso especial que provocou a cólera da Conquistadora em seu grau mais alto, quando na sua última tentativa de conciliação a dona da taverna lançou palavras duras e não soube ler ou não quis tomar conhecimento dos sinais de grande perigo, com o ódio e a ira tomando o olhar da Senhora do Mundo. Quando Xena estava sendo impedida de entrar na cripta da propriedade foi o momento crucial e dando ordens para os Falcões impedirem qualquer pessoa de sair da sala, invadir o corredor de acesso ou mesmo as escadas para a sala ao lado da adega com uma ordem em tom baixo que seria ouvida apenas por elas duas, bruscamente sem olhar pra trás desce as escadas em direção à cripta onde estava Liceus de Amphipolis.
– Você descerá atrás de mim ou não haverá mais alma viva em Amphipolis para lamentar sua decisão.
A taverneira acompanhou a Imperatriz até a cripta ainda sem perceber o monstro que despertara e o grave perigo que rondava o ambiente, contudo como sempre fez enfrentou aquilo que enxergava como um problema de cabeça erguida e com certo desafio na linguagem corporal, falando quase que vomitando cada palavra.
– O que você deseja de mim Conquistadora?
– Você não dirá mais nenhuma palavra em minha presença, guardará silêncio e manterá os olhos baixos se quiser permanecer viva e estes simulacros de seres humanos a quem chama de amigos, ou se deseja seus filhos, suas casas, colheitas e animais inteiros. Eu prometo que não restará nem um inseto vivo se você desobedecer a isto.
Quando ia determinar uma sentença que satisfizesse sua ira, Atena em pessoa surge na sala, visível apenas para ela.
“ Mantenha sua ira guardada Xena. Que a sentença de Orestes não recaia sobre ti e as Fúrias não venham a repeti-la contigo. Antes da Conquistadora, a Libertadora da Grécia surgiu para proteger Amphipolis e deves manter este propósito vivo, onde mesmo a Destruidora de Nações teve seus fundamentos na preservação daqueles que te são caros. Encontra um termo para que Amphipolis possa viver na paz e prosperidade honrando a memória dos que pereceram aqui, na tua primeira batalha contra Corteze e principalmente o menino que muito amavas.” Cirene não temia por sua vida, mas por seu povo. Era assustador! Interpretando o imenso silêncio na sala como demonstração de prenúncio de grande mal, ela rezava para Atena auxilia-la e ao povo de Amphipolis, implorando que ela não tenha ido longe demais em sua indignação e despertado a ira de Xena, pois ela sabia o grau de violência que a Conquistadora poderia desencadear e alcançar. Quando Atena desapareceu, Xena tomou uma respiração profunda e formou sua decisão.
-“ Nunca mais irá se referir a mim de maneira desrespeitosa e Amphipolis guardará suas obrigações para com o Império em toda extensão decretada, sendo protegida pelo Império como uma cidade aliada e súditos leais. Não removerei aquele que me é caro deste lugar sagrado, mas quando e se vier a visitar este sitio novamente, me será dada a devida honra de Chefe de Estado. Não vou tomar conhecimento de nada ou ninguém neste lugar, mas meus homens serão recebidos com a cortesia devida a quem arrisca sua vida para proteger os semelhantes e guardando as leis da terra, Amphipolis nada terá a temer de mim ou do Império.
Os cidadãos de Amphipolis seguirão com suas vidas normalmente e o Templo de Atena na colina deverá ser mantido com dois por cento do imposto devido a ser enviado para Corinto. Deste momento em diante não irá se referir a mim de maneira íntima e desta vez relevarei seu rompante, mas que Atena ajude você se passar novamente dos limites taverneira. Agora suba e cuide para que meu nome não escape mais da barreira dos dentes.”
Estas e outras lembranças assaltavam a Conquistadora, pois sua alma estava permeada pelos caminhos de Amphipolis e em muito habitava cada recanto. Xena estava acostumada a ser acusada e culpada por todo o mal na terra que governa. Se o gado não engorda, o leite escasseia, a lã é ruim ou as aves não colocam ovos a culpa é da Senhora do Mundo. A última que tinha escutado era que Hades solicitara que interviesse no acordo feito com Demeter, através da ajuda de Héracles, sobre a permanência de Perséfone no submundo. O desgosto da Deusa com este novo acordo resultou em uma maior escassez de chuva que afetou a colheita do trigo, da vinha e o sabor das olivas.
Suas reminiscências foram interrompidas por Palaemon que buscava indicações de como deveria agir a guarda imperial.
– A senhora deseja que façamos uma maior inserção na cidade majestade?
-Abram a segurança em círculos concêntricos e distribuam vinte discretos de Elthor entre a população, preferencialmente aqueles do grupo avançado com mais de duas luas na cidade e evitem se aproximar. Apenas eu, você, Xilant, Dínia e o grupo de Dietar iremos entrar neste primeiro círculo de três estádios quando faltar uma marca para o Carro de Apolo iniciar seu recolhimento e vocês deverão aguardar no exterior da taverna.
-Ao seu comando.

Ordens foram dadas e os Falcões se dispersaram montando os círculos determinados e um vão de três estádios da pousada ficou fechado para movimentação popular e ali apenas transitava amazonas, a Conquistadora, os três oficiais e os Falcões.
-Fiquem na varanda e garantam que ninguém entre até que recebam palavra minha a respeito.
-Ao seu comando Conquistadora.
Xena entrou encontrando a princesa amazona ladeada por Ephiny e todas saudaram a Senhora da Terra colocando joelho direito em terra e o punho no peito e curvando levemente a cabeça. Gabrielle optou por usar a mesma saudação, porém centrando seu olhar no azul mais profundo e luminoso que capturou sua atenção imediatamente.
-Seja benvinda majestade
-Levante-se Gabrielle e diga para suas amazonas evacuarem a pousada. Sua guarda pode fazer companhia a Palaemon e Xilant na varanda. Desejo ficar a sós com você.
Gabrielle levantou-se e fez sinal à Ephiny que atendesse de imediato as determinações, sendo a missão da guarda real relativamente fácil, pois quando chegou a palavra da presença da Conquistadora em breve, a pousada esvaziou-se rapidamente. Na sala principal Xena para no umbral da porta observando toda a taverna.
As mesas que viram sua infância e o poste que tinha as marcações de altura ainda estavam ali depois de todos estes anos. A Conquistadora tocou os seus dedos na última marcação de Liceus.
Karin chega ao ouvido de Ephiny que se aproxima de Gabrielle.
-Algum problema Gabrielle?
-A taverneira, Cirene se nega a deixar a pousada majestade. Apenas isso.
-O que ela disse exatamente capitã?
-Que somente a força ela sairia da cozinha com tanto para ser feito. Eu vim perguntar à princesa se devemos fazer uso da força ou teria alguma sugestão.
-Eu quero as palavras exatas capitã! Apenas o silêncio seguiu esta afirmação.
-Ephiny, você ouviu a Conquistadora . Repita as palavras exatas de Cirene !
-A Conquistadora nunca exigiu que eu saísse de minha casa e não iria começar agora. Se as amazonas desejam privacidade que sigam para suas florestas e montanhas na Trácia.
-A guarda real mudou muito nestes anos. Há um tempo atrás esta taverneira já teria sido arrancada da cozinha e amarrada no poste central do pátio interno sem um segundo pensamento.
-Este era um tempo que não estavam a meu serviço majestade. Eu jamais agrediria quem detém uma dívida de vida da Nação, mas principalmente uma pessoa em sua própria casa e certamente não uma que me ajudou a sobreviver com dignidade e na escravidão me concedeu a liberdade.
-Como foi a sua recepção em Amphipolis Gabrielle?
-Boa, muito boa majestade. Consegui firmar acordos bons para todos os envolvidos.
-Estão esperando o quê para desaparecerem e nos deixarem a sós? Fora!
Gabrielle discretamente faz um sinal a Ephiny e todas as amazonas abandonam a taverna, deixando apenas três pessoas dentro do prédio e Xena displicentemente se aproxima de Gabrielle abraçando-a como se não a visse a luas.
-E a taverneira? Aceitou bem sua posição na Nação e ter amazonas trabalhando pra ela?
-Como você?! Como soube?
-Eu sou a Conquistadora Gabrielle. Eu sei tudo que se passa e me interessa saber, mas neste caso eu vi na fonte do templo de Afrodite. Então?
-Ela inicialmente se ofendeu imaginando que se tratava de algo semelhante a escravidão mas logo tudo foi explicado e ela aceitou bem. Você encontrou a menina?
-Que menina?
-A filha dela? Ela veio com você?
-Não sei Gabrielle, vai depender muito do comportamento da taverneira e de como as coisas vão se desenrolar. Eu te disse que não seria tão simples e que poderias te decepcionar com o resultado do encontro. O que ela disse sobre ver novamente sua filha?
-Que você destruiu a filha dela e seria quase impossível você trazer de volta à vida aquela que ela amou. Ela tá exagerando, você não matou a menina, eu sei que não . Ela ainda está aí . Diga que ela está aí Xena.
-Não é tão fácil assim de dizer Gabrielle, talvez seja necessário saber se tal mãe deseja ver a filha. Vá até a cozinha e traga a taverneira até aqui, ou melhor leve-a até seu quarto. Lá teremos mais privacidade e não ficaremos tão expostas.
-Certo. Obrigada amor.
Xena sobe as escadas e entrando no quarto de Gabrielle deposita suas armas na mesa, deslocando a mesa para mais perto da sala de banhos, deixando-as relativamente longe de suas mãos e colocando a cadeira no centro da sala despe a armadura, braceletes, botas e ombreiras, ficando apenas com o vestido leve que usa por baixo do couro, finalizando por servir três taças de vinho sobre a mesa e observando o trabalho de escultura do dossel da cama resolve por sentar-se na cadeira como se estivesse na sala do trono.
-Com licença Conquistadora.
-Entrem.

Depois de tantos verões sem pisar novamente em Amphipolis para não arriscar cumprir a promessa de destruir a cidade ela estaria novamente frente à taverneira . Gabrielle entrou primeiro e começou a procurar com o olhar a filha de Cirene em todos os lugares e não encontrando-a optou por dar espaço para que sua acompanhante entrasse mais perto de Xena.
-Esta é Cirene majestade. Cirene é a mulher que me amparou e protegeu quando os Fates traçaram caminhos tortuosos pra mim Conquistadora. Cirene , esta é a senhora Conquistadora, Imperatriz e Senhora da Terra.
Cirene não levanta os olhos do chão sob seus pés e procura respirar o mais despercebidamente possível e Xena bebeu na aura da mulher à sua frente e mesmo a contragosto lembrou de todos os bons momentos que viveram juntas, sendo repentinamente afogada pelas lembranças mais recentes.
-Cirene não irá levantar os olhos do chão nem falar na minha presença Gabrielle. Ela devia ter alertado você disso. Você não disse a ela Cirene? Que não emitirá nenhum som em minha presença? Você sabe por que estamos aqui? Gabrielle foi minha escrava e quando nesta condição salvou minha vida de um atentado, como uma forma de reverenciar Atena e solicitar que Gabrielle não recebesse a visita de Celesta eu prometi à Atena Higeia que daria a Gabrielle qualquer coisa que ela pedisse, menos meu reino, minha vida ou a vida de meus homens. Depois de um tempo, quando já estava curada, transmiti a ela esta promessa e o direito que teria, quando para minha surpresa ela pediu apenas uma coisa singela, que ela imaginava simples, mas nós duas sabemos não ser assim, não é mesmo taverneira? Ela solicitou que eu proporcionasse a você encontrar sua filha perdida. Como pode ver apesar do que você sempre pensou, eu sou uma mulher de honra e cumpro meus juramentos e minhas promessas. Oque você prometeu a ela Gabrielle?
-Nada majestade, eu apenas pedi que ela escutasse sua filha e disse que fosse qual fosse o erro cometido poderia ser reparado.
-Por que você é tão rápida em imaginar que foi a jovem quem cometeu o erro Gabrielle? Ela lhe disse o que aconteceu, o que ela fez? Por que a sua filha saiu desta casa? Como você pretendia fazer esta reunião princesa? Ela é sempre tão pronta em culpar os outros pela dor que sente que sequer repara ou se importa com a dor dos outros ou na dor que causa, não escutará a razão! Não é Cirene ?
Gabrielle olhava para Cirene que continuava calada fitando o chão.
-Cirene diga alguma coisa?
-Ela não vai falar Gabrielle, sequer erguerá os olhos. Ela sabe o que acontecerá com a cidade se ela o fizer.
-Por favor majestade, dê uma chance para ela encontrar sua filha! Ela ouvirá e somente assim poderemos chegar a algum lugar. Por favor eu lhe peço em nome da Caçadora! Cirene vai ouvir. Você vai ouvir, me prometa que vai ouvir tudo que ela desejar dizer Cirene . Prometa!
-Responda para a princesa taverneira! Você vai ouvir tudo que sua filha desejar dizer?
-Eu ouvirei! Eu prometo.
-Talvez você deseje sair Gabrielle.
-Não, obrigada Conquistadora . Eu ficarei e testemunharei este encontro como disse que faria. Onde está a filha perdida de Cirene ?
-Eu não sei Gabrielle, mas talvez esteja perdida para sempre ou talvez a encontremos para que eu a destrua definitivamente. Tudo vai depender das respostas desta mulher. Você quer sua filha de volta? Fale mulher!
-Sim Conquistadora. Eu juro por Atena .
Elas ficam se olhando por muitas contagens, o silêncio se torna denso, constrangedor e Gabrielle não sabia muito bem o que estava acontecendo, mas resolveu que precisava falar alguma coisa.
-Onde está a jovem Conquistadora? Por favor!
-Não está nesta sala e você pode me chamar por meu nome indicado Gabrielle, Cirene o conhece muito bem.
-Xena, dê uma chance a elas, por favor! Cirene está decidida a ouvir e ao menos ver sua filha novamente, por favor Xena!
-Isso é verdade mulher? Responda!
-Sim Conquistadora.
-Gabrielle, você permanecerá em silêncio até que Cirene tenha terminado de falar, depois poderá se manifestar. Nós vamos fazer isso ser muito sensato taverneira, você me olhará de frente, nos olhos e ouvirá tudo que eu tiver pra dizer e somente então, talvez poderá falar.
“Prometi reunir você e sua filha e farei isso se ela quiser voltar agora. Você me pede para traze-la de volta, mas o que ela faria aqui? Você a expulsou como se ela tivesse causado o ataque e tudo que ela fez foi arriscar a vida para que mais não morressem. Eu conheci Corteze e centenas como ele e lhe digo que ele pegaria o que quisesse, mataria quem desejasse, usaria as mulheres e as venderia no mercado mais próximo e depois queimaria toda a cidade apenas por diversão. Ele não estava interessado no bem da Grécia ou em proteger o povo, proporcionar melhores condições de vida e prosperidade. Corteze queria apenas poder, prazer e riquezas para se engrandecer perante seus iguais. Você e estes como você não perceberam o que aquela menina com dezesseis verões percebeu, não perceberam que não haveria solução pacífica com aquele homem e mesmo após a injustiça de vocês ela moveu-se para proteger Amphipolis da melhor maneira que conseguiu e também para honrar a memória do irmão .
Diferente de Corteze montou um exército calcado na fidelidade e não na cobiça, onde o engajamento era voluntário e ainda assim ao cercar uma vila ou povoado seu exército dava um aviso e permitia que se rendessem sem lutar. Jamais atacou mulheres e crianças, mas apenas aqueles que pegassem em armas contra ela e seus homens. Você nunca ao menos lhe deu a menor chance de se explicar ou a apoiou em sua dor e tudo que ela queria era seu amor e dizer, como fez junto a cripta de Liceus, que arriscara para a liberdade de vocês e continuava fazendo. Dizer que lamentava e sentia muito a falta de seu amado irmão”.
Neste momento a raiva e a decepção estavam estampadas no rosto de Xena e Cirene desviou o olhar.
– Olhe pra mim! Quantas vezes ela tentou voltar e tudo que você e os seus faziam era novamente manifestar o desagrado por sua presença e mesmo lamentar seu nascimento! Mesmo que ela conquistasse o mundo e mantivesse vocês seguros, você não aceitaria a reconciliação que ela propunha. Então me diga agora taverneira por que eu deveria traze-la aqui?
-O medo faz coisas estranhas Conquistadora e fez com que todos nós imaginássemos que aquele homem nos deixaria viver se conseguisse levar tudo que tínhamos, mas ela viu que apenas a resistência daria alguma chance aos que sobrevivessem. Minha filha se foi a muitos verões senhora Conquistadora.
-Ela não se foi, você a expulsou! Você a expulsou e depois a culpou pelas coisas que teve que fazer pra se manter viva e continuar buscando a segurança de Amphipolis! Você tem ideia das coisas que ela teve que aprender e realizar para continuar viva, sozinha num mundo de homens? O que acontece a uma mulher sem casa? Ter o respeito e comando de guerreiros? Você a julgou por matar e agir como uma comandante deve agir, sem ao menos pensar que foi sua ação que criou isso. Responda!
-Eu estava tão cega pela dor da perda de meu pequeno menino que não consegui amparar minha adorada filha em seu luto e inescrupulosamente, como todos em Amphipolis, culpei-a pela perda de vidas que ocorreu naquele ataque de Corteze ha tantos verões atrás, majestade. Se houvesse alguma maneira de tê-la novamente comigo eu juro por Atena que não deixaria esta chance se perder e faria tudo ao meu alcance para que ela me perdoasse, olharia a luz dos olhos de minha menina e imploraria seu perdão. Eu pediria perdão a ela todos os dias se a tivesse novamente em minha vida, Conquistadora .
-Faça isso taverneira. Peça perdão a sua filha e talvez ela permita que você entre novamente em sua vida.
Chorando e caindo para seus joelhos, Cirene beija os pés de Xena depositando sua culpa e seu orgulho ali e sinceramente desejando que tivesse uma segunda chance.
-Me perdoe Conquistadora! Em nome de Atena , eu peço que me perdoe e traga minha menina de volta. Eu imploro, permita que novamente eu possa abraçar minha filha!
-Levante e fite em meus olhos Cirene !
Cirene se ergue e mira Xena diretamente nos olhos.
-Eu proponho que nunca mais falemos nisso. Você errou e eu cometi muitos erros como guerreira, tendo em minhas mãos tanto sangue que jamais será lavado. Em uma etapa de minha vida, apenas a crueldade garantia a minha sobrevivência e mais que isso a paz e sobrevivência dos povos da Grécia. Se você puder me aceitar novamente, eu trarei sua filha de volta Cirene de Amphipolis.
Cirene apenas olha para Xena que a acolhe entre seus braços e Gabrielle estava calada e com os olhos arregalados, quando percebeu o que realmente presenciara.
-Xena?!
-Era isso que você queria assistir Gabrielle? O encontro de Cirene com sua filha? Eu sou Xena de Amphipolis e esta é Cirene , minha mãe. Venha, vamos comemorar!
Xena entrega a cada uma a taça de vinho que havia previamente servido elevando seu pensamento para a sua protetora.
“Obrigada Atena , louvado seja seu nome para toda a eternidade!”
A noite deu entrada e elas ficaram conversando até que a lua cheia estivesse a duas marcas de seu ponto mais alto.
-Xena! As amazonas!
-O que foi Gabrielle?
-As amazonas Xena, seus homens e os clientes de Cirene ! O jantar não foi servido!
-Não se preocupe com isso. Dei ordens que ninguém se aproximasse a três estádios, mas na Ágora está havendo atividades com Patricles comandando sua equipe e uma festa foi montada. Tomei a liberdade de pegar seu vinho e sua cerveja mãe, obviamente o Império pagará por tudo.
-Obviamente. Não quero este dinheiro manchado aqui Xena!
-Não está manchado mãe. É de acordos comerciais entre os reinos do Império. Quando finquei os limites do Império e todos estavam sob a mesma lei básica no seu aspecto geral e sob a proteção de minha bandeira, com o povo tendo prosperidade, atenção e proteção, o imposto foi direcionado para manutenção da ordem, proteção das fronteiras, escolas, hospitais, atendimento de contingencias e comércio com Nações aliadas. O tempo do sangue passou a muitos anos.
-Então eu aceito.
-Onde está Toris?
-Foi à Cirra levar alguns animais. Voltará em quatro noites.
-Sempre fugindo dos problemas. Se aquele covarde tivesse ficado conosco talvez Liceus estivesse vivo!
Algo totalmente inesperado aconteceu. Cirene deu um tapa em Xena que ficou algumas contagens sem reação.
-Eu não vou permitir que você faça com seu irmão o mesmo erro que fiz com você Xena! Eu sou sua mãe e não vou ficar parada e permitir você se afundar na mesma lama que me engoliu e se você pretende agir como a Conquistadora e tomar satisfações por isso, faça-o e cobre seu pedágio, mas não vou ficar parada e ver tudo iniciar novamente. Cada um fez o que achou certo e seu irmão acreditou que ir com os anciãos e crianças para um lugar seguro era melhor e nós vamos respeita-lo por isso!
Gabrielle temia pelo pior e preparou-se para intervir, mas a Conquistadora não estava mais na sala e a filha de Cirene apenas sorriu levando a mão ao rosto.
-Eu tinha esquecido que sua mão era pesada e veloz mãe, e você tem razão. Acredito que é hora de nos juntarmos aos nossos, que já devem estar preocupados. Como queres proceder Gabrielle?
-Vamos manter as coisas como estão e Cirene vai ocupar seu lugar de uma amiga muito amada da princesa das amazonas e a Conquistadora respeitará isso.
Com o clarão da lua cheia Xena teve vislumbres de Artemis caçadora naquela que amava, soube que junto a Atena, a Deusa das amazonas atuou para que este momento mágico ocorresse e pela primeira vez a gratidão preencheu o coração da Conquistadora e a Senhora do Mundo sorvendo sua bebida fechou os olhos e agradeceu com a força da alma. “Obrigada Atena por sua proteção e obrigada Artemis por sua misericórdia” .
-Certo. Vamos?
-Onde você quer dormir Xena? Eu tenho mantido seu quarto exatamente como você deixou. Acho que uma parte de mim rezava, acreditava e esperava que você um dia voltasse.
-No momento acho melhor não mãe, ao menos até que eu resolva as coisas em Corinto e outras cidades, dormirei com Gabrielle. Isso tem sido assim ao longo da viagem e ninguém estranhará, mas gostarei de visitar meu quarto. Obrigada.
O restante da noite foi de festa, com o povo de Amphipolis tendo uma visão de Xena que não sonhavam há muito tempo ser possível e olhando para Gabrielle em meio ao povo que a abrigou e protegeu, teve a convicção que certa barda andou fazendo sua arte, contando histórias sobre hospitais, escolas e proteção ao povo da Grécia por parte de uma Conquistadora forte e soberana.
No início da segunda manhã com todo seu grupo embarcado a Conquistadora partia rumo a Corinto onde Terquiem aguardava ansioso para prestar relatório e uma reunião com os generais de Divisão estava marcada para o terceiro dia da lua nova para serem implementadas as decisões que garantiriam não ocorrer nunca mais situações como esta, pelo menos assim pensava a senhora do mundo observando as águas tranquilas do Mediterrâneo na coberta do navio.
-Uma dracma por seus pensamentos.

-Como chegaremos a Corinto Gabrielle?
-Chegaremos de navio, me parece…
-Gabrielle, estou falando sério! O que a caçadora exigirá de mim agora?
-Eu não sei amor, Artemis não revelou nenhuma diretriz , no entanto se posso ser guiada pelo meu coração, gostaria de ter você em até uma marca de vela na nossa cabine, venha assim que achar possível.
Os pensamentos de preocupação poderiam esperar, e um sorriso surge nos olhos daquela que governava o mundo.