Febre
por DietrichEla genuinamente me assusta.
Nunca vi olhos tão desvairados. Um corpo tão inquieto e contido ao mesmo tempo. Ela mata como eu costumava matar, no começo de tudo.
E ainda assim, há algo de inocente nela.
Como se a alma dela estivesse presa no estado emocional do dia em que a destruí. Como se fosse uma criança no corpo de uma mulher.
Falei que não lembrava de Cirra e é verdade. Gostaria de lembrar. O nome não me é estranho, mas não mantenho uma lista de tudo que já devastei. São onze anos nessa vida de merda, pelo amor dos deuses.
Outras almas perdidas já tentaram a sorte contra mim. Nenhuma nunca chegou nem perto. Ela chegou. Ela pode me matar. Se um dia ela realmente quiser, ela vai conseguir.
Isso me assusta e me faz incendiar ao mesmo tempo. Ter a morte tão perto de mim.
Deuses, apenas quero as mãos dela em mim.
Não é assim que faço. Eu que coloco minhas mãos nas pessoas. As faço ruir, implorar, gritar. Estendo a minha sombra de dominação que quer o mundo inteiro sobre aqueles frágeis corpos. E eles adoram, eu sei. São prazeres mútuos.
Mas nenhum me desafia. Só ela.
Tento pensar no exército. Nas perdas. No que fazer a seguir. Tento ativar minha mente estratégica. O barulho dos meus oficiais falando é burburinho.
Quero as mãos dela em mim.
Theodorus está falando algo sobre recrutamento.
Eu a deixei descansando na cama grande do aposento que estou ocupando.
A deixei lá, depois de ter usado-a novamente.
Usado-a. É o que estou fazendo?
O jeito que ela responde ao meu toque é visceral. Sinto o ódio dela por mim me arranhar como lama. Ele toca diretamente no ódio que sinto de mim mesma. Me faz querer destruí-la. E a destruo, com minhas mãos, com minha boca. Ela se deixa ser destruída e eu me sinto perdendo no processo.
Theodorus agora fala sobre a necessidade de novos oficiais. Que eu escolha bem. Seja inteligente. Sábia. Me diz nomes de bons soldados.
O nome dela sai de meus lábios antes que eu seja realmente capaz de pensar.
É a pior ideia que já tive em anos e Theodorus faz questão de dizer. E ele está certo. Ainda assim, eu insisto.
Desde quando me tornei adepta de ideias estúpidas?
Está decidido. Eu a elevei nos rankings.
Meu homem mais leal está furioso, mas a discussão segue. Estamos cada vez mais próximos de nossos objetivos. Conquistar a Grécia. Ter tudo sob meu comando. É tudo que sempre quis. Mas precisamos de uma pausa de recuperação.
Eu quero pausar tudo e fazer ela me ter de novo.
Porra.
Quero que ela me mordendo, me batendo, me fodendo até eu perder os sentidos.
Quero as coisas que penso que querem de mim.
É uma insanidade.
Talvez eu deva escolher outra pessoa. Quero dizer, qualquer um aceitaria. Posso ter literalmente qualquer um. E nunca transei com a mesma pessoa quatro vezes seguidas. Nunca.
E ainda querendo ir para a quinta. Querendo perder a conta, na verdade.
Esses são meus pensamentos enquanto Theodorus move peças no tabuleiro de guerra.
Quase dou um tapa no meu próprio rosto para me arrancar dos devaneios.
Não ajuda, pois lembro de quando lhe dei um tapa e ela riu.
Deuses, essa garota será minha morte. Metafórica e literal.
Mas consigo voltar à terra e ser a porra de uma líder. Afinal, estou fazendo isso há anos. Os planos são delineados e imediatamente postos em prática.
Ela agora será parte deles, e tenho que comunicá-la.
Volto ao quarto e ela dorme profunda e pacificamente. Sou imediatamente consumida por luxúria desmedida.
Mas nada faço. A observo. Ela dorme com as mãos sobre o peito e as pernas cruzadas, parecendo uma morta. Ela consegue ser esquisita em tudo. Uma alma maldita.
Como a minha.
Toco seu rosto e ela abre aqueles grandes olhos castanhos.
Não consigo me segurar por um maldito milésimo de segundo e a beijo com mal contido desespero. Ela sempre tem gosto de febre. Anseio por aquilo como anseio por respirar. Lembro que pouco tempo atrás nem beijar ela conseguia.
Agora a boca dela me toma como se eu não fosse nada além de um patético saco de ossos.
É a primeira vez que a boca dela está entre minhas pernas.
Sei que aquilo é novidade para ela. Ela é desajeitada. Seguro a cabeça dela e a guio devagar. Não sei de onde vem essa minha dedicação em ensiná-la. Nunca tive paciência para isso. Só tive uma virgem na minha vida, para nunca mais. Exceto ela. Ela é a segunda. Talvez seja isso. Talvez eu sempre tenha tido um fetiche secreto por virgens e só agora estou sabendo.
Porra, eu sei que não é isso.
É porque eu sei que quando ela aprender a me chupar ela vai dar um jeito de usar isso contra mim.
Ela está aprendendo. Meus dedos não deixam seus cabelos. Ondulados, macios.
Poderia pedir que ela metesse os dedos em mim para acabar logo com aquilo, mas por algum motivo inescrutável, prefiro deixar ela usar minha buceta para aprender as artes do sexo.
Não é realmente inescrutável, como já disse. Sei que é porque ela é minha morte. Que minha vida está nas mãos delas. Sei que é porque, se eu decidisse neste momento lutar contra ela, ela seria meu empate, como sempre.
A única vantagem que tinha contra ela, era a ausência que ela tinha de seu próprio corpo, e estou deliberadamente tirando minha vantagem.
Estou a tornando ainda mais capaz de me matar.
Esse pensamento, junto com o trabalho cada vez melhor da língua dela em mim, me leva ao limite e meu orgasmo vem.
Deuses, ela ainda tem que melhorar. E eu vou deixar ela praticar. Quantas vezes ela quiser.
Ela não quer parar. Ela continua atacando meu corpo. Eu deixo ela fazer o que ela quer. Nem uma gota de resistência. Só a guio quando absolutamente necessário. Somos uma massa disforme entrelaçada e dolorosamente faminta.
Meu corpo está ferido pelas unhas dela, e o dela pelas minhas. Meu corpo está marcado pela força dela, e o dela pela minha.
Ela me machuca por ter causado sua ruína. Eu a machuco por ela ser a minha.
Nunca a dor foi tão prazerosa.
Eu não quero sair dali para saquear e pilhar. Quero desaparecer naquela dança maldita.
Só conseguimos realmente parar quando esgotamos nossos corpos. E no nosso caso, eu te digo, isso leva um considerável tempo.
Me horroriza perceber que só parei por não mais conseguir. Que se conseguisse, continuaria.
Mas não parei de tocá-la. Deslizamos para a inconsciência nos braços uma da outra.