Violência – Onde houver Xena, haverá violência. É apenas uma daquelas coisas. Mas este tipo não é muito gráfico, e evitamos menções de membros sendo cortados e usados como gravetos, ou qualquer descrição de glóbulos oculares sendo arrancados por um chakram errante, ou qualquer coisa assim.

Subtexto – Esta história, como foi a última, e a anterior, que fluiu como um monstro de sargaço do meu terminal, partindo da suposição de que se trata de duas mulheres que se amam muito. Mais uma vez, não há nada gráfico, mas o tema se envolve ao longo da história, e se você não aguenta, leia alguma outra boa peça de fan fiction. Farei minha declaração habitual – se o amor o ofende, envie-me um bilhete com seu endereço de correio tradicional e eu lhe enviarei uma torta de limão autêntica, encontrada apenas no extremo sul da Flórida. (ideal para verões quentes.) Porque eu realmente me sinto mal por você.

Há personagens nesta história que se originaram em uma pequena cantiga que escrevi chamada A Warrior by Any Other Name (Guerreira em sua essência). Não se sinta mal se não souber quem eles são. Não sinta que você precisa ler a história original para entendê-los – tentei dar muitas dicas.

Todo e qualquer comentário é sempre bem-vindo. Você pode enviá-los por e-mail para: [email protected]

Jessan se ergueu nos estribos e esticou–se, aproximando seu cavalo de Lestan, que se endireitou na sela para cumprimentá–lo à medida que se aproximava.

Filho. Disse o mais velho dos habitantes da floresta colocando uma das mãos no ombro do outro e olhando para a maca que estava diante deles. Nunca vi algo que fosse sequer parecido com isso – E riu, continuando – E parece que estou sempre dizendo algo desse tipo quando ela está metida, não é?

Jessan balançou a cabeça deixando um longo suspiro escapar Ela não é como ninguém que conheço Ou já conheci ou conhecerei.

Elas formam um par e tanto não é? – Disse o pai apontando Gabrielle com o queixo.

Te disse, não disse? – Mas deixe isso quieto, porque eu fiquei tão surpreso quanto você, pai. O que será que mudou tanto e tão rápido? Não que isso importe… mas, mesmo com ela inconsciente, eu consigo ver aquele caloroso fogo dourado que a envolve, envolvendo ambas. E eu espero que isso tenha trazido alegria a ela, porque ela merece.

Lestan concordou, baixando a cabeça: Disse. E então as olhou. Eu não teria acreditado e a sua mãe, ela vai surtar, mas é verdade Jess. É um vínculo tão forte quanto o nosso, e talvez… isso… – Ele parou por um momento, seus olhos se voltando para dentro, engolindo em seco..

Talvez isso a tenha mantido viva? – Jessan completou a frase quietamente.

…dado a ela uma razão para continuar viva – Seu pai o corrigiu com um sorriso gentil e prosseguiu – Já vi acontecer.

Mmm – Jessan concordou, olhando à frente onde os primeiros raios lunares se refletiam na superfície ondulante do córrego que delimitava o território. – Quase em casa. E ela precisa de um curandeiro para examiná–la. Aquelas contusões são muito graves, talvez piores do que parecem.

Lestan concordou – Você deveria ir na frente e acordar Elaini. – E olhou para cima – Aliás, você fez um trabalho impressionando quebrando as rochas – E deu um tapinha no ombro de Jessan – Os pedaços voaram montanha abaixo.

Foi mesmo né? – E flexionou os braços fazendo uma careta – Mostrei um dos meus melhores atributos.

E seu pai resmungou – Também notei que você fez questão de que todo mundo te visse carregar ela de debaixo da montanha de granito que você criou – E riu – Exibido.

Jessan mostrou uma expressão dramática de quem se sentiu ofendido – Ela? Mas você tá brincando né? Mesmo com a armadura ela mal pesa alguma coisa. Agora se fosse VOCÊ… – Dando a Lestan um sorriso travesso e um tapinha na barriga dele – Acho até que a mamãe está te mimando de novo, olha só.

Lestan fez uma careta e mostrou os dentes com um grunhido – Mas olha só quem fala! E cutucou seu filho na barriga. – To vendo aqui onde foram parar todas aquelas tortas.

Eles riram e Jessan ainda estava rindo quando deu um toque com os joelhos nas costelas de Éris e abriu caminho pela patrulha em direção à casa.

E estava muito silencioso quando ele chegou à entrada da vila, o portal se abriu quieto. Ele parou Éris na entrada e se inclinou para o guarda do portão – Pode deixar aberto, a patrulha está voltando.

O guarda sorriu para ele – Então você a trouxe de volta?! Sabia que uma montanhazinha não iria acabar com ela.

E Jessan sorriu mostrando todos os seus dentes – Não. Deu tudo certo e, pelas botas de Ares! Se não fôssemos lá, ela teria se virado sozinha disse brincando, mas em seguida ficou sério Eu preciso acordar Elaini, as pedras não foram gentis.

O guarda acenou para que ele prosseguisse. Então ele trotou com Eris do lado de fora dos alojamentos da curandeira e desmontou. Seus passos firmes quebravam o silêncio da noite enquanto ele subia as escadas e entrava no alpendre do prédio solitário.

Ah… Jessan. – Elaini bocejou, abrindo a porta na segunda batida. – Você achou sua humana então?

Ela não é minha. Mas sim, e precisamos dos seus talentos. Jessan respondeu, rolando os olhos invisivelmente.

Meus?! – A curandeira resmungou – Mas o que é que eu sei sobre humanos? Mande ela pra Cirron – E deu de ombros de amigavelmente – Não que eu tenha algo contra eles, entende? Mas eu não sei o que fazer por eles.

Jessan estreitou seus olhos e se aproximou dela. – Xena conseguiu cuidar de mim quando eu estava ferido. Fico me perguntando como foi que ela descobriu – Sua voz baixou – Comigo sendo tão diferente e tudo mais – E se virou – Acho que são mais espertos nesse tipo de coisa… mas tudo bem, vou lá…

Ei, peraí, eu não disse que não conseguiria descobrir – Elaini o interrompeu – Vou pegar minhas coisas – Ela sumiu por um minuto e então se juntou à ele na porta – Só espero que você não espere que eu faça coisas impossíveis, tipo o parto de uma criança humana ou algo assim

Jessan, pego de surpresa com o comentário, riu – É… – e tossiu – Não acho que isso possa ser problema.

Elaini o olhou de maneira estranha – Então tá. – Ela estava num outro assentamento quando sua vila foi visitada pela mítica Princesa Guerreira, então ela perdeu toda aquela história. E na opinião dela, que sempre foi bem conhecida de todos, essa humana era provavelmente superestimada. Mas acho que vou ver com meus próprios olhos e descobrir – pensou ela brincalhona.

E ela ficou ao lado de Jessan esperando enquanto ele ia até o alpendre e colocava suas grandes mãos no corrimão, olhando ansioso em direção ao portão. As tochas da noite tremulavam ao vento e a brisa fazia as folhas secas nas árvores acima farfalharem fazendo com que várias elas fossem levadas para o telhado e fizessem som de chuva.

Um lampejo de luz fraca no portão, e os primeiros sentinelas estavam trotando, segurando suas tochas para os guardas do portão pegarem e encostarem na terra. Eles passaram pela abertura e abriram espaço para os dois cavaleiros que carregavam a maca avançarem, enquanto o resto da patrulha se dirigia para os estábulos com um tilintar de equipamentos e um zumbido crescente de vozes bem–humoradas.

Jessan desceu do alpendre e caminhou até a maca, parando e olhando para dentro com afeto indisfarçável. Gabrielle ainda tinha os braços envoltos ao redor da guerreira ferida e o encarava com um sorriso sonolento.

Fez boa viagem? – Ele perguntou.

Não foi ruim – A barda respondeu, respirando fundo. – Muito melhor do que algumas em que já estive.

Jessan riu – Ela acordou em algum momento? – E seus olhos se desviaram para o rosto imóvel de Xena.

Gabrielle assentiu e falou – Por momentos, bebeu um pouco de água.

Ótimo. – Jessan sorriu e contornou a maca, preparando–se para erguê–la. Vou colocar ela na cama da curandeira, aposto que você tá com fome, não tá?

Grr. – Ares avançou para as mãos de Jessan e ficou de pé sobre o corpo inerte de Xena com uma proteção infantil. Seu grosso pelo eriçado em seu pequeno pescoço, e ele rosnou novamente. – Grr.

Ares! – Gabrielle conteve o riso. Ela se abaixou, pegou o filhote e o aconchegou ao seu lado, acariciando seu pelo. – Desculpem por isso – Ela olhou para cima, pedindo desculpas para Jessan. – A mãe dele foi morta por uma pantera.

O que aconteceu com a pantera? – Jessan perguntou, se aproximando novamente e lançando um olhar para o filhote, que o encarou de volta.

A Xena aconteceu com a pantera. – Gabrielle respondeu em voz baixa. – E então ela meio que adotou o Ares.

Entendi. – O morador da floresta assentiu. Ok… vamos então – deixe–me pegá–la.

A barda soltou Xena de maneira relutante enquanto ele a levantava – Vamos, Ares… – Ela disse pulando da maca e se espreguiçando. – Uf – Olhando para cima ela sorriu para os dois cavaleiros que carregavam a maca – Muito obrigada… eu realmente sou muito grata por tudo o que fizeram.

Os dois jovens moradores da floresta sorriram de volta, e o mais próximo deu um tapinha no ombro dela. Você pode nos pagar com histórias, hein?

Gabrielle sorriu sinceramente. Com certeza. Ela deu um tapinha na perna dele e seguiu a forma reticente de Jessan para dentro da cabana da curandeira.

Elaini observou enquanto Jessan acomodava cuidadosamente a mulher ferida em um dos leitos de cura e depois se aproximou dele, estudando a forma quieta. – Então é ela, né?

Jessan assentiu. – É.

A curandeira cheirou reflexivamente. – Ela é bem grande para uma mulher humana.

Acho que sim, não conheço muitas delas – Jessan respondeu, virando–se quando Gabrielle entrou. Elani, esta é Gabrielle. Ela é.. ah..

Uma barda. Gabrielle terminou, dando a ele um olhar divertido e estendendo a mão para a curandeira. Olá.

Elaini aceitou a mão oferecida lentamente e apertou, dedos sensíveis detectando a surpreendente força que encontrou no aperto, e igualmente surpresa com o poder firme nos olhos verde–pálido dessa… barda. Então. Prazer em conhecê–la, Gabrielle a barda. Ela falou arrastado, soltando o braço. Sinto muito que tenha passado por tanta coisa lá em cima.

Obrigada. Gabrielle sorriu, então olhou para além dela. Jessan, me dê uma mão com a armadura, você pode? Ela virou e deu a Ares um olhar severo. E você, deixe ele em paz. OK?

Rrrr. Ares resmungou, trotando debaixo do leito onde Xena estava e se deitando.

Jessan assentiu e juntou–se a ela ao lado de Xena, erguendo a cabeça e os ombros da guerreira, o que permitiu que Gabrielle alcançasse as fivelas nas costas e no lado. Conseguiu todas? Ele perguntou, notando sua expressão concentrada.

Sim… espere… Uuuf. Ok, consegui aquela última. Ela suspirou e soltou a armadura, retirando–a suavemente do peito de Xena e colocando–a de lado, começando então a trabalhar nos braceletes.

Deuses… essa armadura de perna é pesada pra caramba… Jessan resmungou, enquanto desprendia as caneleiras. Ele olhou para trás para Elaini, que estava ocupada reunindo uma bandeja de suprimentos de cura. Como ela… ah, deixa pra lá. É tudo magia de qualquer maneira.

Gabrielle olhou para cima de sua tarefa e sorriu. Você também percebeu isso, né??? Ela deslizou o bracelete e começou a trabalhar no outro. Eu fico dizendo isso a ela, mas ela acha que estou louca.

Elaini se aproximou e colocou sua bandeja de suprimentos na pequena mesa ao lado do leito, esfregando as mãos. E se vocês dois terminaram, eu posso começar a trabalhar. Ela estendeu a mão em direção ao braço de Xena, surpresa quando Gabrielle estendeu rapidamente uma mão para detê–la. O que?

Escute – Gabrielle disse seriamente Não faça movimentos tão rápidos. Ela esteve consciente e está inconsciente, e se ela acordar enquanto você estiver tentando ajuda–la, ele pode pensar que não é ajuda… Os olhos verdes se fixaram no rosto de Elaini com intensidade perturbadora.

E…?? Elaini disse, tentando não rir. O que será que ela achava que essa humana poderia lhe fazer afinal?

Eu só não quero que ninguém se machuque. – Gabrielle respondeu calmamente. E talvez isso pudesse acontecer com você.

A curandeira riu. Escute, na condição dela, ela não vai machucar ninguém. Então relaxe e me deixe fazer meu trabalho.

A barda não soltou sua mão. Na condição dela, ela moveu uma rocha do tamanho dela. Eu a vi quase inconsciente matar alguém. Sua voz diminuiu em tom, mas aumentou em volume. O erro mais comum das pessoas é subestimá–la. Não seja burra, ok?

Elaini ficou irritada e sacudiu a mão de Gabrielle. Olha, eu não pedi pra vocês virem aqui, ok? Então parem com essa bobagem e me deixem fazer o que eu preciso fazer para que eu possa voltar a dormir. Com rudeza deliberada, ela se virou e estendeu novamente a mão para o braço de Xena.

E do nada estava sentada no chão, segurando o próprio braço com a outra mão, em choque. Ela não chegou a ver a mão que a agarrou, nem o cotovelo que a jogou da cadeira para as tábuas de madeira empoeiradas. E olhou pra cima em completa perplexidade se deparando com um par de olhos azul–gelo cintilantes.

Ela não mente pras pessoas – Xena disse, lutando contra a agonia absoluta causada pelo uso de seus músculos terrivelmente machucados para fazer o que fez. Mas acho que consegui, hmm?? Gabrielle, você me deve uma.

Gabrielle se recuperou do choque e inclinou–se sobre a borda do leito, olhando para sua parceira com carinho. – Se exibindo – Ela pousou uma mão no ombro de Xena e apertou suavemente. Impossível, incrível, inacreditável… Preciso inventar novas palavras para descrevê–la.

Xena inclinou a cabeça para trás e observou a barda com divertida exaustão. Depois daquela pequena palestra sua, o que eu deveria fazer? Ela perguntou com voz lamuriosa, encontrando os olhos da barda e sentindo o calor entre eles. Tenho que manter minha reputação, não é?

Jessan se sentou pesadamente no chão, sacudindo a cabeça com sua juba dourada. Mas que droga, nem vi ela se mexer

Elaini se levantou e ficou sobre o leito, estudando sua agora paciente com novos olhos. Desculpe por isso. Vou prestar mais atenção da próxima vez. Cautelosamente, ela se acomodou novamente no banquinho e hesitou ao pegar seu linho e limpador. Uhm.. preciso tirar esse couro..

Ares, ouvindo a voz de Xena, saiu correndo de debaixo do leito e se ergueu sobre as patas traseiras, apoiando as patas dianteiras na borda da cama e espiando por cima. Roo!! Ele se moveu de uma pata para outra e tentou pular no catre, perdendo o equilíbrio e escorregando por baixo da borda, caindo de lado.

Ei.. Xena soltou uma pequena risada. Traga ele aqui antes que ele se machuque. E assistiu enquanto Gabrielle o puxava de baixo do leito e o levantava ao lado da guerreira, onde ele tropeçou e colocou as patas no peito dela, lambendo seu rosto. Ares, pare com isso. Xena suspirou, incapaz de reunir energia para afastá–lo. Gabrielle riu e o moveu para a parte de baixo do leito catre, onde ele espirrou, mas se enrolou contra as pernas de Xena com um pequeno suspiro satisfeito e adormeceu.

Ops… minha deixa para sair. Jessan disse, levantando–se e limpando as mãos. Xena, por favor, seja gentil com nossa curandeira. Ela não quer fazer mal… ela é só um pouco direta. Ignorando o olhar furioso de Elaini, ele se ajoelhou e segurou a mão de Xena na sua. Fique bem, minha amiga.

Xena apertou sua mão e deixou um sorriso surgir em seus lábios. Obrigada, Jess.

Ele se levantou e foi até Gabrielle, que se levantou e o abraçou. Voltarei um pouco mais tarde com comida para você, Ruiva Ele sussurrou em seu ouvido.

Gabrielle gargalhou e deu um soco nele. Como é que é?? ela sibilou, agarrando sua pelagem no peito e puxando com força. Melhor pensar de novo.

Jessan sorriu e mostrou a língua pra ela Tchau. Ele fez uma reverência para todos e saiu pela porta, adentrando a escuridão além.

Gabrielle balançou a cabeça em irritação fingida e se moveu para o outro lado do leito, desfazendo a alça do ombro do lado oposto das vestimentas de Xena, parando quando Xena deu uma pequena negação com a cabeça. O que foi?

Corta elas. – A guerreira murmurou, com uma careta. – Não consigo suportar de outra forma. Seus olhos encontraram os de Gabrielle, e a barda estremeceu com o que viu ali.

Tudo bem. Ela respondeu suavemente, olhando para a silenciosa Elaini. Você tem uma…

Punhal de armadura. Xena a interrompeu calmamente.

Entendi. A barda se levantou e foi até onde havia colocado a armadura de Xena, retirando o punhal do peitoral, manuseando–o com cuidado. Conhecendo a afiada letalidade da lâmina. Ela se ajoelhou novamente ao lado de Xena e, com cuidado infinito, cortou o couro ao longo da costura ao longo do seu lado, movendo a lâmina afiada sobre sua pele com precisão infalível. E percebeu de repente que provavelmente era uma das únicas pessoas no mundo em quem Xena confiaria para fazer isso. Que ela segurava a vida de Xena em suas mãos, porque se escolhesse usar aquela lâmina muito afiada contra a guerreira, não haveria como Xena impedi–la.

Ela concluiu sua tarefa e ergueu as vestimentas afastando–as do corpo de Xena, inspirando repentinamente com o dano revelado por baixo. Até mesmo Elaini fez uma careta para o hematoma escurecido que cobria a guerreira desde o osso do peito quase até os quadris.

Ui. – Gabrielle respirou, colocando uma mão simpática no ombro tenso de sua parceira. – Não é de se admirar que você esteja com dor.

Xena manteve os olhos fechados. Bem no começo eu acabei presa entre duas rochas – Seus olhos se abriram e encontraram os de Gabrielle, e a barda se afundou ao lado do leito, e segurou sua mão. Tá feio né?

Gabrielle lhe deu um doce sorriso. Como qualquer coisa em você poderia ser feio? – Ciente do olhar repentinamente surpreso de Elaini pelo canto do olho. Ops. Ela riu para si mesma.

Xena arqueou uma sobrancelha para ela, percebendo que a barda estava tentando distraí–la do que Elaini estava fazendo. Ela virou a cabeça e olhou para a curandeira, fazendo com que a mulher congelasse enquanto limpava um arranhão desagradável no ombro da guerreira. – Hei, Relaxe – Ela suspirou – Eu realmente não tenho condição nenhuma de matar qualquer um nesse estado.

Eu poderia estar enganada mas… isso… Elaini disse cautelosamente continuando a limpar o arranhão com cuidado. isso é… seus olhos mirando o hematoma no peito da guerreira.

Eu sei. Estou sangrando por dentro – Xena respondeu, com uma respiração instável. E você não pode fazer nada por isso.

Não. – Elaini respondeu, fascinada. Você é curandeira?

Às vezes. Veio a resposta. E se isso ainda não me matou, provavelmente terei sorte desta vez.

É provável – Elaine respondeu relaxando um pouco Mas vai ser um inferno pra curar

Eu sei – Xena suspirou – Obrigada por cuidar dos arranhões

Claro – A curandeira respondeu suavemente. Entrei aqui cheia de desdém por essas pessoas, mas percebo agora que a humana é mais parecida conosco do que até uns de nós. Não é de se admirar que Jessan a ame. E não é de se admirar que ela tenha conquistado o coração de todos os guerreiros do complexo. Que tola eu sou.. ou era… Discretamente ela estudou o corpo bronzeado enquanto trabalhava e desta vez, olhando para ela com os olhos de quem vê uma guerreira.

E descobriu que não eram tão diferentes afinal, exceto pelo detalhe de algumas pelagens e algumas presas.

Gabrielle aconchegou o cobertor macio em volta do corpo de Xena e alisou as bordas ao redor de seus ombros. Elaini havia terminado sua tarefa e saído silenciosamente, depois de colocar uma mão simpática no ombro da guerreira. Aparentemente, ela esperava que Gabrielle ficasse, porque também retirou outro conjunto de roupas de cama e o jogou no leito mais próximo do que Xena estava deitada, então deu–lhes um aceno e saiu pela porta mais próxima em direção aos seus aposentos privados.

Xena tinha estado à deriva por um tempo e agora abriu os olhos e estudou o rosto da barda, dando–lhe um meio sorriso cansado. Dia ruim. – Ela murmurou.

Mas já estamos, nós duas, chegando ao fim dele. Isso é tudo que eu preciso em um dia. – Gabrielle respondeu abrindo o cantil de água: Água? – E segurou o cantil perto dos lábios de Xena e a encarou com firmeza até que ela terminasse pelo menos metade do conteúdo. – Boa menina – E deu a Xena um sorriso maroto.

Obrigada, mãe. – Xena sussurrou erguendo uma sobrancelha para ela. Então ela fechou os olhos, engoliu, mas os abriu novamente e balançou a cabeça um pouco. Droga. Muito perto aqui dentro. Continuo vendo isso… OK, OK, Xena. Respire fundo agora, você não está lá. Você está em uma maca de curandeiro, no meio da vila de Jessan. Gabrielle está aqui. Ela fechou os olhos, mas a sensação de estar perdida e sozinha não desapareceu. Isso levaria tempo, ela sabia. Tempo que ela não tinha agora. Droga.

A barda colocou o cantil de volta e pousou uma mão gentil no braço da guerreira. – Xena?

Os olhos azuis se encontraram com os dela, e ela viu Xena engolir novamente. – Sim?

Você está bem? Quero dizer… além de… – sua mão fez um gesto vago em direção ao seu corpo. Algo… algo em seus olhos não está certo.

Uma longa pausa, então os olhos de Xena piscaram e ela respirou fundo. Não – Quase um sussurro. – Não estou – Ela se mexeu e olhou ao redor, depois voltou para o rosto de Gabrielle, que tinha se tenso de preocupação. Toda vez que eu fecho os olhos… ela hesitou. Eu estou de volta lá… e não consigo…

Você precisa dormir um pouco. – A barda mordeu o lábio com uma expressão preocupada. Tem algo… posso te conseguir alguma coisa, quero dizer… O que faço aqui? Estou perdida… agora sei como ela se sentiu quando estávamos em Potadeia. Deuses.

Xena a estudou por um longo momento, então seu olhar se voltou para dentro. Sim, tem algo.

Hmm? O que? Ela pegou a mão de Xena na dela e a pressionou contra seu coração. Qualquer coisa, você sabe disso.

Os dedos se apertaram nos dela e puxaram. Vem cá.

Xena, você está realmente machucada… Eu não… Ela hesitou, dividida entre o que seu bom senso lhe dizia ser absurdo e o que seu coração desejava desesperadamente fazer.

Por favor? – Um pedido suave. – Isso ajudaria.

Não vou te machucar mais? A barda preocupada perguntou, mas ela já estava se movendo.

Xena balançou a cabeça com uma força surpreendente e esperou que a barda se aninhasse cautelosamente em seu lugar habitual antes de envolvê–la com um braço cansado. Doía como o inferno. E ao mesmo tempo, era maravilhoso. Preciso disso. Ela sussurrou, e ouviu a respiração da barda se prender enquanto ela ajeitava o cobertor em torno do corpo de Gabrielle.

Gabrielle sentiu o corpo de sua parceira relaxar, e olhou para cima para ver os olhos azuis se fechando, e sua respiração diminuindo para um ritmo mais profundo. Qualquer coisa que funcione, Gabrielle. Sua mente sorriu, enquanto sentia aquela paz entre elas penetrando em sua própria consciência e suavemente lavando os horrores do dia. Acho que também preciso disso. ela murmurou suavemente, e sentiu o braço que a envolvia contrair brevemente. Bom descanso, amor. Deixe essa magia em você começar a funcionar.

Sem magia. Xena respirou, sentindo o sono se aproximando. Apenas isso.

Gabrielle pensou sobre isso, e conforme deixava o sono tomar conta dela também, ela sorriu. Isso é magia, murmurou, cedendo ao calor com um suspiro de contentamento.

E o silêncio caiu, sobre uma sala iluminada por tochas, sob as sombras de uma floresta antiga, e a luz de um manto de estrelas.

Wennid bocejou, enquanto colocava a caneca alta e fumegante na mesa e se virava para cumprimentar seu companheiro de vida quando ele entrava pela porta. – Então… – Ela disse, envolvendo os braços ao redor do corpo dele. – Pelo visto você teve sucesso?

– Oh, sim. – Lestan suspirou, enquanto retribuía o abraço, puxando–a para perto e se deliciando com a intensa conexão entre eles. – Conseguimos tirá-la.

Wennid o soltou e o empurrou para a cadeira próxima. – Me conte o que aconteceu.

Então ele contou, observando suas sobrancelhas se erguerem mais e mais à medida que ele prosseguia. – Eu sei, é difícil de acreditar. Mas ela realmente… e… – Ele continuou, observando seu sorriso se tornar orgulhoso quando ele mencionou os ataques heróicos de Jessan na pedra. – Foi bastante incrível.

Wennid deslizou os braços ao redor do pescoço dele e repousou o queixo em sua cabeça enquanto ele tomava o chá de ervas quente. – Parece… – Ela refletiu, flutuando na luz dourada de seu vínculo. – Como ela está? Xena era um assunto delicado para Wennid. Metade dela tinha uma admiração e simpatia relutantes pela mulher, a outra metade tinha dificuldade em esquecer a destruição de duas vilas próximas pelo exército de Xena.

Lestan ficou em silêncio por um momento, então se virou e puxou Wennid para o colo, aconchegando–a e trazendo seus olhos dourados para entrar em contato com os dele. – Acho que ela vai ficar bem, mas, meu amor… o que você sentiu quando eles estiveram aqui pela última vez, é real agora.

– Não. – Wennid sussurrou, encarando–o. – Não é possível.

– É. – Lestan disse, abraçando–a. – Veja por si mesma, Wenni. – Ele esfregou a bochecha contra a dela. – É tão forte… eu estava com medo, amor, muito medo de não chegarmos a tempo, e aquela pobre moça…

– A contadora de histórias? – Wennid disse, com um suspiro.

– Sim. – Seu companheiro aconchegou o rosto contra o dela de forma carinhosa. – Você a odeia tanto assim, Wenni?

Ela suspirou e mordeu a orelha dele. – Elas, não. Eu quase gosto delas. Ou… eu gosto da barda, e se eu me esforçar, talvez consiga gostar da Xena. – Ela virou olhos pensativos para ele. – Lesi, eu não quero compartilhar isso com a espécie deles. É algo que nos pertence, e droga se quero que eles saibam. Eles têm tanto… e nós temos tão pouco…

– Augh. – Ele soltou um rosnado, ficando de pé e aconchegando–a com o único braço bom. – Coelhos em uma armadilha não têm a escolha de matar, amor. Eles têm o dom… nos cabe ensiná–los sobre isso.

– Ainda não gosto disso. – Wennid resmungou. – Mas suponho que você tenha razão.

– Normalmente tenho. – Lestan disse, com uma risada presunçosa, enquanto a levava para seus aposentos.

Foi um momento longo e desorientador antes de Gabrielle perceber onde estava na manhã seguinte. Então, a memória inundou sua mente, e ela fechou os olhos e deixou sua cabeça voltar ao seu lugar de descanso no ombro de Xena.

Um longo suspiro, e então ela abriu os olhos e estudou ansiosamente o rosto de sua companheira. A respiração de Xena parecia melhor naquela manhã, mais profunda, e alguma cor havia retornado às suas feições, o que encorajou a barda.

Junto com o fato de que a aparência dolorosa do hematoma em seu rosto parecia estar desaparecendo rapidamente, um processo que sempre fazia Gabrielle balançar a cabeça em admiração. Eu quase a perdi. Tão perto. Um nó se formou em sua garganta, que ela engoliu com esforço. Graças aos deuses por essa vontade teimosa dela.

Um sorriso pequeno surgiu em seus lábios, apesar de tudo, e ela deixou sua mão relaxar contra a caixa torácica de Xena, que estava principalmente sem marcas, devido à sua armadura. Sentiu o batimento cardíaco constante contra sua palma e o movimento uniforme de sua respiração, cujo ritmo coincidia com o seu próprio.

Isso é tão… estranho. A barda refletiu, distraída. Mas sempre fazemos isso agora. Será que… Ela moveu sua outra mão para o pescoço e sentiu o pulso. Ah. Uau. Essa é uma descoberta interessante, especialmente porque nossos corpos são tão diferentes. Nossos batimentos cardíacos combinam. Que legal.

– O que há de errado? – Veio uma voz suave logo acima de sua cabeça.

– Oh… oi. – Gabrielle respondeu, olhando para cima. – Como você está se sentindo?

Xena considerou brevemente não responder, então suspirou. – Não muito bem. – Ela se moveu ligeiramente e mordeu o lábio para não gritar. Oh garota. Isso não é bom. Sombriamente, ela esticou todos os seus músculos, ignorando as dores lancinantes que acompanhavam o movimento, até que a dor diminuísse um pouco e ela se sentisse um pouco mais otimista.

– Principalmente rígida – , ela comentou, esticando-se novamente, desta vez com melhores resultados. – Me Ensina a ficar parada por tanto tempo.

– Quer aprender mesmo? – Gabrielle disse, observando o processo com interesse. – Eu tenho uma ideia. – Ela sentou-se e, evitando cuidadosamente os arranhões ainda crus, começou a massagear gentilmente o pescoço e os ombros de sua parceira, e depois trabalhou dali para baixo.

Xena apenas fechou os olhos e se entregou às mãos capazes da barda, um pequeno sorriso brincando em seus lábios.

– Melhor? – A barda perguntou, quando terminou e se acomodou ao lado de Xena.

– Mmmm. – Veio a resposta preguiçosa. – Você é realmente boa nisso.

– Mesmo? – Gabrielle sorriu com o elogio inesperado. – Bem, terei que continuar praticando, então.

– A qualquer hora que você quiser. – Xena respondeu, penteando levemente os dedos pelo cabelo de Gabrielle, e então arranhou levemente a barda na parte de trás do pescoço.

Os olhos de Gabrielle se fecharam, e ela abaixou a cabeça, murmurando com deleite. – Adoro quando você faz isso.

– Eu sei. – Xena sorriu e continuou, fazendo a barda se jogar ao seu lado em completo abandono. – Olhe só para você… que amante do prazer.

Gabrielle rolou para o lado e gentilmente segurou sua mão, beijando os nós dos dedos. – Você desperta isso em mim. – Ela comentou, depois corou. – Uh… quero dizer…

Xena começou a rir, mas imediatamente se arrependeu. – Droga –, ela amaldiçoou, segurando o abdômen.

Gabrielle segurou seus braços e a segurou enquanto ela recuperava o fôlego. – Com calma… com calma… – Ela disse, observando a frustração e a irritação perseguindo umas às outras no rosto de sua companheira. Eventualmente, Xena respirou fundo e soltou cautelosamente, e Gabrielle a soltou. – Eu sei que você odeia isso.

Sim. A guerreira respondeu, mudando cuidadosamente e fechando os olhos contra a agonia ao tentar levantar o corpo.

– Hey… hey… Gabrielle protestou, colocando uma mão cautelosamente gentil contra o ombro de Xena. Vá com calma, ok?

Xena continuou obstinadamente, até que estava apoiada contra a borda inclinada do leito, elevando a cabeça acima do nível de seu corpo. Tenho que, ela ofegou, afundando de volta contra a superfície acolchoada e esperando que as ondas de dor diminuíssem. Deuses. Mas ela havia alcançado seu objetivo, que era evitar deitar-se plana. Má ideia. Ela soltou um longo suspiro e abriu os olhos para ver uma expressão muito preocupada no rosto de Gabrielle.

– Não… má ideia é ficar deitada por muito tempo. – Ela explicou. – Os pulmões se enchem, especialmente com esse tipo de lesão.

– Oh. – A barda engoliu em seco. –Fico feliz que você saiba o que está fazendo. Ela ajustou o cobertor em torno da forma agora meio reclinada de Xena. – Eu só queria poder… – Ela parou. – De qualquer forma, com sede? Que tal tentar um caldo ou algo assim? Ela olhou para cima quando os dedos de Xena se entrelaçaram nos seus. Hmm?

– Não posso arriscar ainda. – A guerreira respondeu, com uma careta. – Não tenho certeza do que está quebrado lá dentro. – Além disso… isso dói tanto que acho que vomitaria se tentasse… e isso doeria mais. Apenas água, obrigada. – Ela deu de ombros. –  Talvez, se isso estiver bem, hoje à noite eu tente o caldo.

Gabrielle se levantou e pegou a bolsa de água, caminhando até a bacia profunda no fundo do leito e a enchendo novamente. Ela olhou pela janela para a aldeia iluminada pelo amanhecer e notou o início da atividade matinal. Como a maioria das aldeias, ela refletiu, mas esta tem uma aparência ligeiramente diferente. Ela se virou e olhou para Xena, e seu coração apertou ao ver a expressão de agonia em seu rosto. Caminhando de volta, ela se acomodou na borda do leito e deslizou um braço em torno dos ombros de Xena, massageando suas costas levemente. – Está bem ruim, não é?

Xena deu um longo gole de água antes de responder. – Sim. –  Ela finalmente admitiu, baixando a guarda como só faria com Gabrielle. – Muito ruim. –  E permitiu que sua cabeça caísse e descansasse brevemente no ombro da barda, absorvendo o toque compassivo da mão de Gabrielle em sua bochecha e as palavras sussurradas de encorajamento com gratidão silenciosa.

Então, ela respirou fundo e se acomodou de volta contra a cabeceira do leito, dando a Gabrielle um olhar. – Você, por outro lado, precisa comer algo. –  E levantou uma sobrancelha para ela. –  Você não comeu nada ontem à noite, não é?

– Uhm… –  Veio a resposta hesitante. Ela estava inconsciente. Como diabos ela sabe disso? – Não, bem, eu peguei… você estava… uh… não.

– Imaginei. – Xena comentou. – Vá. Eu vou ficar bem. Nossa amigável curandeira estará acordada e se movimentando por aqui a qualquer minuto.

– Tentando me afastar? – Gabrielle provocou, sabendo o que ela estava fazendo. Não vai funcionar, Xena. Eu tenho um contrato assinado que diz que tenho permissão para me preocupar muito com você, e ele tem uma cláusula especial que me dá o direito de sangrar quando você se machuca.

– Oh, é mesmo? –  Xena riu, depois fez uma careta. –  Ai. –  Ela suspirou. –  Obrigada por ficar por perto ontem à noite. A escuridão não tem chance contra a luz que você traz, Gabrielle… será que você sabe disso?

– Você afastou os duendes. – Gabrielle riu. – Ah, como isso foi difícil. – Ela balançou a cabeça com divertimento. Isso ajudou?

– Oh sim. – A guerreira assentiu, e sorriu. – Dormi como um bebê a noite toda.

Hmm. Gabrielle pensou. – Eu também… será que fazemos isso uma para a outra?

Xena deu de ombros e pensou sobre isso por um minuto. –  Talvez. Sim… acho que sim… sei que foi muito mais difícil para mim dormir quando você estava com as Amazonas. –  Seus lábios se contorceram. – O outro motivo pelo qual passei metade da noite fazendo exercícios. Me cansei tanto que simplesmente… De qualquer forma. Vou ter que perguntar ao Lestan sobre isso.

A barda se aconchegou e encostou-se ao lado de Xena, entrelaçando os braços com ela e suspirando. – Eu também. Quem me dera ter pensado em me exercitar… mas eu estava tão… sei lá… mentalmente exausta, eu acho. Eu deitava e começava a pensar.

– Sim. – Xena concordou suavemente.

– Então eu não conseguia parar de pensar. –  Gabrielle continuou.

– Sim. Outra concordância pensativa da guerreira.

– Principalmente em você. – A barda suspirou, olhando para ela com o que tinha certeza ser um sorriso muito bobo.

Recebeu de volta um sorriso. – Que bom que não fui a única, então. – Ela corou um pouco. – Eu sempre ficava me perguntando o que você estava fazendo.

Gabrielle assentiu. – Uh huh. – Ela sorriu um pouco. – Senti tanto a sua falta que… Deus, doeu… Eu queria… só te ver. Ouvir você. – Os dedos dela deslizaram pelo braço de Xena. – Sentir sua mão no meu ombro.

Xena assentiu e suspirou. – Sim.

– Então, estava tudo tão complicado… e quando você simplesmente… apareceu bem no segundo em que eu estava pensando que a pior parte de tudo era que eu nunca ia ter a chance de… Quer dizer, nós nunca realmente falamos sobre isso antes, Xena. Ela encostou a bochecha no braço da guerreira. Sobre, bem, nós. Eu acho que nós duas sabíamos que havia algo… – Ela olhou para sua parceira, que assentiu e sorriu. – Certo… mas nunca… então, aqui estava eu, prestes a ser morta a flechadas, e era nisso que eu estava pensando.

– Eu não estava pensando. – Xena comentou, respirando fundo cuidadosamente. – Tudo o que eu podia ver era aquela flecha. E você. E eu ainda não sei como consegui chegar a tempo.

– Cait disse que você era como uma força imparável. Ela disse que mal podia te ver, porque você se movia tão rápido, que era um borrão para ela. – Gabrielle respondeu, observando Xena piscar surpresa. – E foi assim para mim – apenas um borrão. – Mas eu sabia que era você.

– Eu ouvi você. – Xena murmurou, pensativa. – Você chamou meu nome.

– E então… depois… – Ela corou. – Eu não sei o que estava pensando… Eu não… Eu deveria ter perguntado a você… Eu estava tão malditamente feliz em te ver, e parei de pensar e simplesmente…

– Eu sei. – Xena sorriu. – Lugar certo, hora certa. Fim da história, Gabrielle.

– Sério? – Gabrielle perguntou, com um olhar tímido.

– Sério. – Xena confirmou. – Eu amei cada minuto disso. – E ainda posso sentir a chuva caindo sobre mim, o vento uivando, o trovão, e ela nos meus braços, e aquele beijo… – É uma das minhas memórias favoritas.

– Ah. –  Gabrielle suspirou contente. – Bom, porque é uma das minhas também.

– Sério? – Xena se esticou, com um leve indício de um sorriso maroto.

– Mmm hmm. – Gabrielle respondeu, assentindo. – Eu queria… ah. – O toque dos lábios de Xena nos dela enviou um arrepio pelo corpo dela como nada mais no mundo. – Preciso ter certeza de que minha memória está correta… ela murmurou, e passou os braços ao redor do pescoço de Xena, tendo o cuidado de não puxar a guerreira ferida com muita força.

Um som na porta fez com que se separassem, mas não antes que ambas as respirações ficassem ofegantes. Gabrielle passou o dedo na maçã do rosto de Xena e sorriu preguiçosamente. – Guarda essa memória por um tempo… tá?

Xena capturou o dedo errante dela com seus dentes brancos e reluzentes, mordendo suavemente, passando a língua pela ponta sensível, e observando o rubor intenso subir pelo pescoço de Gabrielle até seu rosto claro. Ela soltou a mão da barda quando o barulho na porta aumentou, e se deliciou com a luta de sua parceira para manter uma expressão digna.

– Você é má. – Gabrielle soltou um suspiro contido.

– É o que eu ouço por aí. –  Xena disse, com um sorriso irônico.

Ambas olharam para cima quando Elaini entrou devagar, dando-lhes um aceno. – Bom dia. –  Então parou e piscou para elas. – Oh, desculpa… ela começou, então parou, então piscou de novo.

Xena apenas ergueu calmamente uma sobrancelha para ela, tentando ignorar as risadinhas silenciosas de sua parceira. – Problemas? – Ela perguntou, friamente.

Elaini respirou fundo, depois mais uma vez. – Ahm. Não, eu só não… maldito Jessan, vou matá-lo. Ele… deixa pra lá. – Ela pigarreou. – Vamos começar de novo, ok? Bom dia.

– Pra você também. – Xena respondeu, dando um cotovelada na barda. – Vai tomar café, você.

Por um momento, pareceu que Gabrielle iria se rebelar, mas então seu estômago a traiu ao roncar, o que fez Elaini rir e Xena dar um sorriso cúmplice.

– Tá bom… tá bom… Estou indo. – A barda suspirou, saindo do leito e atraindo a atenção de Ares, enquanto o seguia para o pequeno banheiro. Ela jogou água no rosto e esfregou os braços, secando-se com um pedaço de linho do kit delas. Então ela olhou para baixo e percebeu que era melhor trocar de roupa – o sangue provavelmente seria uma distração para qualquer um que encontrasse.

Elaini se acomodou no banco ao lado do leito e tirou seus suprimentos. – Melhor cuidar desses arranhões. – Ela comentou, e então pausou. – Tá bem?

Recebeu um sorriso espontâneo de Xena, que decidiu que gostava dessa curandeira honesta e direta. – Claro.

– Você parece muito melhor esta manhã. – Elaini mencionou. – Como está o estômago?

Xena considerou sua resposta. – Melhor do que eu tinha qualquer expectativa razoável de estar.

A habitante da floresta levantou o olhar. – Deve estar te matando.

A guerreira sorriu. – Mais ou menos. – Ela olhou para onde Gabrielle estava abotoando a túnica. – Eu tento manter isso em segredo, porém.

Elani seguiu seu olhar e assentiu, depois pausou, e uma expressão estranha tomou conta de seu rosto feroz. – Não.. isso não pode ser…  – Mas tão perto de Xena, e completamente acordada agora, ela podia sentir… Seus olhos se fecharam, enquanto ela estendia sua Visão… e quase parou de respirar. Não.. isso não é possível. Seus olhos se abriram, e ela encarou a guerreira, que retribuiu o olhar em silêncio confuso.

– Vocês estão bem? – Gabrielle passou para o outro lado do leito e olhou para a curandeira com alguma preocupação. – Olá?? O que houve com ela? Parece que viu um fantasma. Elaini?

– Você… vocês… – A curandeira começou, então parou. – Jessan…

– Jessan o quê? – Veio uma voz masculina profunda por trás dela.

Elaini se levantou e lhes deu um sorriso forçado. – Com licença um minuto. – E virou-se, agarrando Jessan pelo pelo do peito e puxando-o para dentro de seus aposentos.

– Ei! Para com isso! Você podia simplesmente perguntar. Jessan murmurou, enquanto ela o arrastava para dentro de seu quarto e fechava a porta.

– Eles são almas gêmeas!!!! – Ela sussurrou, sem soltar seu pelo.

– Sim, eu sei. – Jessan respondeu, com um olhar calmo. – Agora me solta.

Elaini o sacudiu. – Você sabia??? E não me contou? Sangue de Ares, Jessan! E se ela não tivesse sobrevivido à noite? – Ela estava furiosa. – Como eu deveria saber? Eu não sabia que humanos tinham essa capacidade… você é um idiota??? Ela deu um tapa nele. Você sabe que há coisas que eu preciso fazer, para me preparar para isso, maldição!!

Jessan colocou as mãos nos quadris e a encarou. – Como eu ia saber que você nem se daria ao trabalho de Olhar para eles? Qual é o problema, achou que humanos não valem o tempo para Olhar? – Sua voz aumentou. – Sim, eu sabia, e meu pai sabia, e minha mãe sabe agora, e todos que estavam naquela montanha sabem porque quando finalmente a tiramos de lá, e as duas se encontraram, qualquer um com um pingo de sensibilidade quase ficou cego dos sentidos. – Ele jogou as mãos para o ar. – Então me deixa em paz, certo?

Uma batida educada na porta.

– O quê? – Eles gritaram juntos.

A porta se abriu, e Gabrielle colocou sua cabeça loira para dentro, observando-os com interesse frio. – Fui instruída a dizer que se os gritos não pararem, vamos descobrir se alguém com sangramento interno pode ainda… – Ela virou e olhou para Jessan  – E cito aqui, ‘dar uma surra em você’. – Ela pausou. – Fim da citação.

Silêncio.

Eles olharam um para o outro, depois para Gabrielle.

– Desculpa. – Disseram em uníssono.

– Mmm.. Gabrielle.. interessada em café da manhã? – Jessan disse, contornando a forma ameaçadora de Elaini.

– Eu adoraria, obrigada. – A barda sorriu e pegou o braço dele. – Agora seria ótimo. – Enquanto ela o guiava em direção à porta.

Elaini os observou ir e bufou de irritação ao voltar para a sala principal. Xena estava com os olhos meio fechados, mas eles se abriram ao se aproximar dela com um olhar levemente divertido.

– Você realmente pode? – Elaini perguntou, retomando seu lugar no banquinho.

– O que você acha? – Xena respondeu, dando-lhe um sorriso torto.

Elaini a estudou intensamente. – Eu acho que quero te ver curada, Xena, a Princesa Guerreira, porque eu pagaria bons dinares pelo privilégio de assistir você, como disse, dar uma surra nele.

Isso levantou ambas as sobrancelhas escuras. – Vou ver o que posso fazer.

A curandeira assentiu e continuou com sua tarefa, lançando olhares ocasionais para o rosto tranquilo de Xena. – Desculpa ter dado uma dura na sua alma gêmea ontem.

Xena a encarou, surpresa.

– O quê? – Elaini disse, notando o olhar. – Você sabia… Eu quero dizer… céus…você sabia, certo? – E se ela não soubesse… eu vou encontrar Jessan e enfiá-lo em um tronco oco. – Me diga que você sabia.

– Ah.. bem, sim. – Xena murmurou, a testa franzindo. – Eu só nunca… – A ouvi… pensei nela… por esse nome antes. Mas é como eles chamam, eu acho. Se for a mesma coisa, o que ainda duvido um pouco. Eu sei… que tem algo lá. Mas o que é…talvez seja apenas o amor que duas pessoas têm uma pela outra. Isso não deveria ser suficiente? Ela suspirou interiormente. Tudo bem, vou parar de mentir. Ela chegou a lugares tão profundos na minha alma que sei que não sobreviveria sem ela. Eu me afogaria na escuridão… Sem a luz dela. Então.. poderia ser mútuo? Do que ela precisa de mim, além de uma mão forte para protegê-la e um ouvido disposto para suas histórias?

A curandeira parou o que estava fazendo e observou sua paciente. – Você realmente não sabe do que se trata, né?

Xena suspirou. – Não. – Um leve encolher de ombros. – É por isso que estávamos voltando para cá. – Ela se mexeu levemente e prendeu a respiração contra a onda de dor. Começando a me irritar. Não é um bom sinal.

Sentiu uma mão em seu ombro e levantou o olhar para encontrar o de Elaini. – Eu sei. – Ela antecipou as palavras da curandeira, enquanto a mulher respirava fundo para falar. – Não deveria me mover. Não deveria nem respirar fundo. Mas Gabrielle dirá que sou a pior paciente do mundo.

Lembrando-se, de repente, vividamente, da última vez que teve que sucumbir a uma doença, uma febre que vinha se acumulando por dias e finalmente ficou tão ruim que ela não pôde ignorar ao entardecer, no acampamento.

Gabrielle estava irritada com ela o dia todo, atribuindo sua aspereza e falta de humor a algum tipo de mau humor, e ela tentou sem sucesso provocá-la para sair disso. Por que ela simplesmente não disse a Gabrielle que estava doente… Xena suspirou. Às vezes ela se deixava levar por essa rotina de guerreira estoica, ela sabia, aquela tinha sido uma dessas vezes.

O acampamento estava montado, e Gabrielle tinha alguma sopa ou outra coisa preparada para o jantar, mas o simples cheiro do cozimento estava deixando seu estômago enjoado, e ela percebeu que a febre estava piorando pelos calafrios se avolumando que faziam suas mãos tremerem e quase a deixarem de joelhos.

Ela havia deslizado até o tronco de uma árvore próxima e se sentado com as costas pressionadas contra ele, observando Gabrielle caminhar em sua direção, sabendo que a barda estava dizendo algo, mas incapaz de fazer sua mente compreender as palavras.

Xena?!A barda finalmente falou muito rispidamente, colocando as mãos na cintura. Você está me ignorando por algum motivo, ou apenas por princípio geral? Suas sobrancelhas unidas em raiva. Você fez isso o dia todo, e eu gostaria de saber que pequena infração ao código da Princesa Guerreira eu cometi desta vez, para eu poder anotar…

Gabrielle.Ela mal se ouviu falar, e sua voz parecia vir de um lugar bastante distante. Isso interrompeu a barda no meio da frase. Pare… de gritar… por favor. Ela respirou fundo. Minha cabeça dói.

E a próxima coisa que ela viu foi a mão de Gabrielle em sua testa, e a maldição murmurada pela barda. Droga, Xena… por que você não disse nada? Você está pegando fogo, pelo amor de Zeus.

Ela murmurou algo em resposta, e a barda apenas suspirou. Então ela saiu e voltou em muito pouco tempo, e Xena estava ciente da textura reconfortante da capa de lã sendo cuidadosamente aconchegada ao seu redor. Mas ela não tinha certeza se gostava mais da sensação da capa ou das mãos de Gabrielle sobre ela… e na névoa febril, ela sabia que também havia dito algo que fez aquelas mãos pararem por um longo momento antes de continuarem sua tarefa. Ela desejava poder se lembrar o que foi que disse.

Seja lá como for. Gabrielle havia terminado de ajeitá-la, e ido até o fogo, então retornou e se acomodou bem junto à forma tremendo de Xena. Envolveu os braços ao redor do corpo da guerreira e a segurou enquanto a febre a tomava em alternados acessos de calafrios gélidos e suores encharcantes. Tinha sido uma noite terrível, mas a única coisa que Xena realmente se lembrava era de quão maravilhoso havia sido ter Gabrielle a segurando. Ela havia baixado a guarda e simplesmente se abandonado ao suporte gentil de Gabrielle, acordando em seus plenos sentidos ainda aconchegada nos braços da barda adormecida.

E havia agarrado todos os seus instintos de gritaria que exigiam distância e os sufocado profundamente, e havia ficado lá até os olhos de Gabrielle piscarem sonolentos e olharem para baixo, nos dela.

Obrigada. Xena havia dito, com um sorriso cansado. Mais uma barreira derrubada. E havia começado a se levantar, dizendo que devia estar esmagando a vida de sua pobre amiga.

Gabrielle simplesmente apertou seu abraço, e Xena sentiu o súbito aumento rápido em sua batida do coração. Você está desconfortável aí?

Olhos azuis encontraram verdes, à luz rosada do amanhecer. Não. A resposta havia escapado de seu coração rebelde.

Gabrielle fechou os olhos e apertou os braços com mais força, até sentir o corpo de Xena ceder e relaxar novamente.  Nem eu. Então volte a dormir.

Contra todo o seu melhor julgamento, ela o fez, cedendo ao desejo insidioso de seu corpo com uma sensação distinta de perder o controle de algo. E enquanto a onda quente de contentamento se enrolava ao seu redor, ela percebeu que realmente não se importava se isso acontecesse.

Xena sentiu um sorriso brotar em seus lábios com a memória, e com um olhar para Elaini, ela deliberadamente colocou ambas as mãos no leito e se empurrou para cima, ignorando as pontadas de dor e se acomodando mais confortavelmente contra o encosto do leito.

Elaini observou isso com uma expressão curiosa. – Você não é nada do que eu esperava.

Xena lhe lançou um olhar cansado, mas divertido. – Se eu tivesse um dinar para cada vez que ouvi isso, eu poderia comprar Atenas. – Ela engoliu e deixou seus olhos se fecharem.

Uma mão coberta de pelo moveu-se para sua cabeça e a sentiu gentilmente. – Você está com febre. – Sentindo uma onda totalmente inesperada de compaixão por essa humana cuja estranheza começava a se tornar cada vez mais familiar.

Agora o rosto de Xena ficou sério. – Eu sei. – Ela havia sentido o início de um calafrio antes de Gabrielle sair. – Droga. Esperava evitar isso…

– Eu posso fazer uma infusão de…  – Elaini começou, virando-se para seus suprimentos.

– Não. – A guerreira respondeu, quietamente. – A febre tem um propósito. Neste caso… provavelmente um bom. – Sabendo que qualquer dano que ela tivesse sofrido estava fazendo as defesas do seu corpo reagirem, e ela tinha muito respeito por isso. – Vou ficar bem. Espero. Se a febre não sair de controle.

A curandeira a estudou, notando as linhas tensas de dor em seu rosto e o leve vidro nos seus brilhantes olhos azuis. – Eu espero que sim. Você tem ideia do que aconteceria se você não ficasse bem? A voz de Elaini era muito gentil.

A resposta usual veio aos seus lábios, que Gabrielle ficaria chateada, claro, mas ela sobreviveria, ela era uma mulher forte. Mais forte que a própria Xena. Era um pensamento que a havia consolado muitas vezes perigosas, quando ela estava arriscando sua vida por mil diferentes razões. Veio aos seus lábios, sim, e parou ali.

Isso era realmente verdade ainda? Xena piscou para a curandeira. – Eu não sei… o que você quer dizer. Nós enfrentamos perigos o tempo todo. Ambas.

Elaini baixou o olhar para o chão, depois estudou suas mãos paradas, descansando quietamente uma na outra, manchadas com o fluido de limpeza dourado pálido. Como ela pode não saber? Ela pode ser tão hábil em mentir para si mesma? Ou ela está apenas mentindo para mim… – Eu acho que você. – E levantou seus olhos dourados avermelhados para encontrar os de Xena.

E viu, naquelas portas da alma de cor estranha, uma verdade que a guerreira hesitava em pronunciar. Ela sabia. Era o conhecimento que permitia a ela, se Jessan havia dito a verdade sobre o que ele havia Visto, manter a própria morte à distância, e a manteria, com toda a força de sua vontade aparentemente muito poderosa, apegada a esta vida independentemente dos obstáculos à sua frente. – Eu sei que você sabe. –  Ela acrescentou, encontrando-se capturada e mantida por aqueles olhos. – Você deveria tentar descansar um pouco.

Xena acenou um pouco, puxando o cobertor macio mais para perto de seus ombros por reflexo, enquanto um calafrio frio a percorria. Provavelmente uma boa ideia.

Elaini deu um tapinha em seu ombro, depois se levantou e saiu suavemente pela porta, virando-se para observar sua paciente enquanto pausava na entrada. Viu-a tomar uma respiração profunda e deixar a cabeça cair para trás contra a borda acolchoada do leito, enquanto uma expressão de paciência resignada cruzava seu rosto. Não tão diferente afinal. A curandeira refletiu, balançando a cabeça e saindo pela porta para a luz do sol.

Xena ouviu-a sair e percebeu que estava sozinha pela primeira vez desde… sua mente se desviou do pensamento. Oh oh. Não é bom. Teimosamente, ela reorientou seus pensamentos sobre o que havia acontecido no dia anterior, deixando de lado a onda desconfortável de medo escuro que veio com eles.

Ok… ok. Eu quase morri. O choque contundente tremia sobre ela, e ela deixou passar. Eu deveria ter morrido. Não havia mais ar naquela pequenina… Whoa. Melhor evitar isso por um tempo. Suor brotou em sua testa, e ela sentiu as paredes se aproximando dela. Ela fechou os olhos e tomou várias respirações, não deixando o antigo terror tomar controle. Eu posso dominar isso. Eu já dominei antes. Vamos lá.

Isso diminuiu um momento depois, e ela suspirou aliviada. Então, eu deveria ter morrido. Por que não morri? Os últimos minutos em que ela estava presa eram nebulosos demais para ela ver claramente na memória… mas ela se lembrou de ficar com raiva. Raiva de que a morte parecia determinada a separá-la de Gabrielle. Uma separação permanente, e agora ela colocou o dedo na parte que realmente a incomodava.

O quarto parecia pequeno, de repente, e ela focou seus olhos na janela, enquanto um espasmo de calafrios a tomava. O sol da manhã agora entrava pela janela, e como se estivesse hipnotizada, ela assistiu ao seu lento progresso pelo chão de madeira. O leito em que ela estava deitada estava em uma sombra profunda, e isso, combinado com sua febre, fazia com que ela sentisse frio até o âmago, e ela olhava nostálgica para a luz quente, desejando seu toque.

Engraçado. Eu costumava gostar da noite. Sombras… combinava perfeitamente com a escuridão dentro de mim e se adequava aos meus sonhos. Antes deles se tornarem pesadelos. Agora… agora eu amo a luz… porque a luz é o que ela é. Mas tudo o que posso fazer é maravilhar-me com toda essa luz que ela traz para a minha vida… Eu nunca posso conhecê-la como ela conhece. Eu observo… e a observo de pé no sol… e me sinto como uma criança às vezes, olhando pela janela de um prédio que nunca pode… nunca entrar.

Ela sentiu a umidade se acumular no canto de seus olhos e focou seu olhar no teto. Piscou. Esperou. Respirou e a onda de emoção passou. Eu fiz muito mal. E eles não vão me perdoar, mesmo que ela perdoe. Eu fiz muitos inimigos, machuquei muitas pessoas. Eu sou demais parte da escuridão, e ela é demais parte da luz, de modo que eu sei que quando nosso tempo aqui acabar, ela irá para um caminho… e eu irei… para onde eu pertenço. Desta vez as lágrimas vieram, e ela não pôde impedi-las.

Irritada, ela usou um canto do cobertor macio para enxugá-las. Deve ser a febre. Eu sei disso há muito tempo… então vamos lá, Xena. Por que é diferente agora?

A sólida faixa de luz solar havia alcançado a borda do leito e dançava pela superfície inferior, fazendo a poeira flutuar em sua névoa dourada. Xena olhou para ela com desejo, encolhendo-se mais nos cobertores. Droga. A febre deve estar piorando.

É diferente porque eu fiz uma coisa estúpida. Quebrei todas as minhas próprias regras e desisti da minha capacidade de controlar meu próprio destino, foi o que fiz.

Ela tomou posse da minha alma, embora por que ela iria querer essa coisa velha e desagradável, eu nunca saberei. E ela me deu o presente da dela, e aí reside o problema. Eu não quero machucá-la. Nunca.

Morrer faria isso. E fazer o que eu faço me obriga a me jogar em situações onde isso se torna uma possibilidade. E quanto mais velha eu fico, maior a possibilidade.

Então, o que eu faço? Posso parar de ser o que passei a maior parte da minha vida me tornando? Posso parar de lutar, me estabelecer em algum lugar pequeno… talvez em casa.. e apenas ser uma pessoa comum, vivendo minha vida. Desistindo de qualquer chance de redenção possível em troca de tempo. Tempo com ela?

Vou ter que pensar sobre isso. Sobre se ela até desejaria algo… nesse sentido. Aquela quinzena com ela em Anfípolis… Xena suspirou. Tempo gasto tomando sol e nadando. Fazendo longas caminhadas no crepúsculo em uma floresta familiar. Rindo com sua família. A cabeça de Gabrielle em seu ombro, e sua voz dizendo, Eu poderia viver aqui… As memórias a chamavam, desencadeando uma saudade totalmente inesperada que a deixou quase sem fôlego. Oh Hades, Xena, guarde isso para depois de não estar em um estupor febril e cheio de dor, ok? Ela finalmente decidiu.

E para sua surpresa, o redemoinho de pensamentos obedientemente diminuiu, e ela ficou em relativa paz.

A luz do sol agora envolvia suas pernas, trazendo calor abençoado, e ela esticou-se cautelosamente em direção a ele. A agonia em seus braços e pernas havia diminuído para uma dor muito leve, e por isso ela estava grata. Pelo menos posso me mover um pouco… Contanto que eu não… Augh.

Uma onda de dor passou por ela, quando ela acidentalmente tentou mover a parte superior do corpo. Oh deuses… ela gemeu silenciosamente, e soltou uma respiração contida enquanto os espasmos diminuíam. Isso vai me matar.

Um gemido a distraiu, e ela olhou para a esquerda, para ver a cabeça escura de Ares espiando sobre a borda do leito, provocando um sorriso inesperado. – Olá, garoto. – Ela olhou para cima e inclinou a cabeça para ouvir. – Você fugiu de Gabrielle e Jess? Qual é o problema… eles não te dão gostosuras como eu dou?

– Roo! – Ares exigiu, arranhando com as patas na borda do pallet, tentando levantar seu corpo descoordenado para ficar com ela.

Xena sorriu e estendeu cuidadosamente seu braço esquerdo, agarrando-o pela grossa pelagem do cangote. – Vamos, pule. – Ela instruiu, e quando o filhote pulou, ela levantou, e ele cambaleou pelo cobertor e colidiu com seu ombro. – Whoa.. vá com calma.

Ele deu algumas voltas antes de se aconchegar no canto do cotovelo dela, colocando a cabeça em seu peito, olhando para ela com seus olhos amarelos, e soltando um pequeno suspiro de filhote. Xena olhou ao redor cuidadosamente e, satisfeita por estar bastante sozinha, beijou-o no nariz. Ele levantou a cabeça e lambeu seu rosto entusiasmado em resposta, e ela sorriu.

– Você não se importa com quem eu sou, não é, garoto? – ela refletiu ociosamente, acariciando seu pelo macio. – Sou apenas uma loba grande e de aparência engraçada que te alimenta com gostosuras, huh?

– Roo! – Ares concordou, aconchegando-se mais perto e lambendo os lábios com um som satisfeito. Seu corpo quente se sentia muito bom pressionado contra o dela, enquanto um espasmo de calafrios a sacudia novamente. – Obrigada, Ares. – Ela sussurrou, recostando a cabeça no acolchoado e tentando relaxar um pouco. Era difícil, os calafrios da febre continuavam fazendo seus músculos endurecerem, e isso realmente doía. Mas a luz do sol estava se espalhando como um cobertor sobre seu corpo agora, e ela acolhia cada partícula de poeira banhada de luz, enquanto o calor penetrava no cobertor, banhando-a em uma onda dourada de alívio.

 – Deveríamos tentar dormir um pouco, Ares. – Ela murmurou para o lobo, que já estava cochilando. Talvez esteja melhor quando eu acordar, huh? Ela deixou seus olhos se fecharem, e sentiu a luz tocar seu rosto enquanto deslizava de volta para o mundo crepuscular dos sonhos.

Gabrielle manteve a mão no braço de Jessan enquanto deixavam a cabana do curandeiro, e começaram a atravessar a praça central da aldeia em direção ao complexo residencial dele. – Então… o que foi aquilo? – A barda perguntou, dando-lhe um olhar de soslaio.

– O quê? – Jessan perguntou, trazendo à tona um olhar inocente de algum lugar, e não encontrando os olhos dela, em vez disso, observando curiosamente enquanto Ares tropeçava à frente deles, cheirando cada folhinha de grama.

– Não tente isso comigo. – Gabrielle respondeu, encontrando seu olhar. – Lembre-se de com quem eu viajo, ok? A própria Campeã da Evasiva.

Jessan sorriu e baixou a cabeça em reconhecimento. – Ok..Ok.. podemos comer algo primeiro, porque preciso conversar com você antes de explicar por que estávamos discutindo.

A barda assentiu. – Claro. – E olhou ao redor da aldeia com interesse. – Não tive realmente a chance de ver este lugar na última vez. – Ela comentou.

Era um lugar estranho, um círculo aproximadamente simétrico de cabanas, cercado por uma floresta antiga tão densa que a copa se estendia sobre as cabanas em alguns lugares, quebrando a luz do sol em explosões esverdeadas de luz filtrada. As cabanas eram redondas, e de fato, a maior parte da geometria da aldeia era arredondada, fazendo com que as estruturas se misturassem às árvores mais do que as moradias quadradas usuais dos humanos.

Isso parecia… pacífico para ela. Gabrielle observou. Ela podia ouvir o som de água corrente à sua esquerda e supôs que era onde ficava o riacho que fornecia água para a aldeia. Agora, uma brisa suave da manhã soprava pelas árvores, chacoalhando as folhas em um ritmo agradável e soprando seu cabelo para trás da testa com uma gentileza fresca. – Bela manhã. – Ela sorriu para Jessan.

– É bom ver você sorrindo. – O morador da floresta respondeu, dando-lhe um olhar caloroso. – Olha… Eu sei que ontem foi um dia realmente ruim para você. Eu estou feliz… – ele hesitou, então colocou a mão no ombro dela. – que terminou muito melhor.

Gabrielle suspirou e fechou os olhos por um momento. – É, eu também. – Ela finalmente respondeu. – Graças a você. – Ela esfregou as costas dele, e ele corou, visto como um fluxo de cor atravessando seu focinho e lábios.

Eles subiram na varanda e foram recebidos por Wennid, que os tinha visto se aproximando pela janela.

– Roo! – Ares latiu, sentando-se em suas patas traseiras diante dela, inclinando a cabeça para o lado.

Wennid piscou para ele. – Nossa. – Ela murmurou, olhando para Jessan, mas sem fazer mais comentários sobre o lobo. Virou-se para Gabrielle e sorriu. – Olá, Gabrielle. – Segurando seus ombros. – Lamento que sua visita de retorno tenha sido sob circunstâncias tão horríveis. – Ela olhou nos olhos de Gabrielle, então piscou e desviou o olhar. – Estou feliz que tudo tenha dado certo. – Droga… ele está certo. Sua Visão mal precisava ser usada neste ponto… ela podia sentir a energia do vínculo desta humana como quase uma força física.

– Obrigada. – Gabrielle disse, observando seu rosto. – Eu tenho seu filho e seu Elo de Alma a agradecer por isso. – Ela sorriu para Wennid. – Elo de alma… é assim que eles se chamam, certo? Me pergunto como me chamariam. Eu seria isso também? Acho que vou descobrir.

– Pois é. – Wennid respondeu, depois olhou para seu filho, esperando quieto de lado. – Venham… tenho um café da manhã dentro. – Ela os guiou para dentro da cabana e fechou a porta, indicando-lhes lugares à mesa. – Sentem-se. Eu volto já.

– Então. – Jessan disse, com um leve sorriso. – Se importa de me contar o que tem acontecido com vocês?

Gabrielle soltou uma risada leve. – Por onde começo? – Mas ela sabia do que ele estava falando. – Uhnm… acho que começou a mudar depois que te deixamos aqui. – Ela fez uma pausa e organizou seus pensamentos. – Desculpa… isso é um pouco embaraçoso para mim. Eu normalmente não discuto…

– Eu sei. – Jessan disse, segurando a mão dela. – Mas isso é diferente… porque o que vocês dois compartilham é algo muito especial para nós.

– Então é o mesmo. – A barda respirou, olhando para ele. – Eu… nós… – Ela interrompeu ao seu aceno lento. – Você sabia. – Outro aceno. – Como? – Ela sentiu Ares pressionar contra sua perna e baixou a mão para acariciar sua cabeça. Sentiu sua língua coçar seus dedos em resposta.

– Nós podemos ver. Wennid respondeu em voz baixa, colocando pratos na frente deles. E, por mais que eu não quisesse acreditar, meu filho está certo. É o mesmo.

Sua honestidade direta deixou a barda quieta por um momento. – Então… Por que você não queria acreditar? – Uma pergunta suave de Gabrielle. – Você ainda acha que Xena é o mesmo monstro horrível que você se lembrou de muito tempo atrás?

Wennid a estudou. Sempre havia gostado dela. – Não. – Ela balançou a cabeça, cansada. – Não tenho nada contra você. Ou seu Elo de alma.

Então. Gabrielle pensou. Isso é o que eu sou. O que nós somos. Parecia… engraçado. Como se não tivesse sido real antes… algo que elas meio que evitavam uma com a outra, e encontravam desculpas para isso. E agora?

A mãe de Jessan apenas balançou a cabeça. Nada que você entenderia, Gabrielle. Não se preocupe com isso. Coma… está esfriando.

Após o café da manhã, Jessan se levantou e lhe deu um sorriso peculiar. – Quer fazer o passeio?

Gabrielle assentiu. – Claro. E levantou-se, pegando seu prato e o de Jessan e levando-os de volta à pequena cozinha, onde Wennid estava em pé perto da grande lareira. – Obrigada. – Ela disse, quietamente, para as costas da mulher, enquanto limpava os pratos.

Ouviu Wennid se aproximar por trás dela e relaxou conscientemente sua postura, virando-se com um olhar inquisitivo enquanto a moradora da floresta se erguia sobre ela. Nunca recue… a voz disse calmamente em sua mente. Então ela manteve sua posição, deixando apenas meio sorriso aparecer em seu rosto. E encontrou o olhar firme de Wennid mantendo firme o seu próprio.

Ares rosnou, e ambas olharam para baixo, para ver o filhote, que havia se colocado entre elas, olhando para Wennid com olhos amarelos inabaláveis. A moradora da floresta ergueu as sobrancelhas, mas deu um passo para trás e depois voltou seu olhar para o rosto de Gabrielle.

Parece que ele puxou à mamãe dele. Gabrielle não pôde evitar de pensar, mordendo o interior do lábio para não sorrir, pois sabia que Wennid estava muito, muito séria naquele momento.

– Diga-me, criança. – Wennid arrastou as palavras, mantendo os olhos fixos. – Como você sente com isso? – A cozinha estava envolta em sombras profundas do dossel da floresta, e os flashes de luz verde apenas serviam para destacar os tons pálidos na pelagem de Wennid e lançar seu rosto em uma meia escuridão, mascarando suas expressões do olhar inquiridor de Gabrielle.

– Como o quê se sente? – A barda perguntou, com uma voz comum.

Silêncio de Wennid.

Ah. Isso. Gabrielle mastigou seu lábio em pensamento. Como você descreve o que… Ela imaginou em sua mente a maravilhosa sensação de… plenitude que sentia quando estava nos braços de Xena. E o efeito que aquele sorriso deslumbrante tinha sobre ela. Havia uma maneira de colocar isso em palavras? Colocar em palavras a sensação que ela tinha toda vez que olhava nos olhos dela? Isso enchia seu coração agora com um fogo dourado, e enquanto olhava de volta nos olhos de Wennid, esperando encontrar as palavras em seus lábios, a expressão da moradora da floresta mudou, e se suavizou, e ela levantou a mão.

– Silêncio. Não precisa. – Seus olhos dourados se suavizaram. – Lamento, criança, por ter duvidado de você.

– Mas eu não disse nada. – Gabrielle respondeu, confusa.

Wennid a olhou com uma mistura de tristeza e compreensão no rosto. – Seu rosto disse. E o que eu vi lá, aquela luz de dentro, era tão familiar para mim quanto esta cabana. Não é justo. Vá agora. Falaremos mais tarde. Deixe Jessan contar algumas coisas primeiro. O bom e o ruim. E então terá que ser tomada uma decisão.

– Certo. – Gabrielle respondeu. – Mais tarde, então. – Ela passou por Wennid e se juntou a Jessan. – Você disse um passeio? – Ela perguntou, desafiando-o a fazer um comentário sobre sua longa viagem à cozinha.

– Uh. Sim. – O alto habitante da floresta confirmou, segurando a porta para ela e para Ares.

Eles circularam a vila e acabaram perto do riacho, onde Jessan se sentou nas grama macia e rica, batendo um lugar ao seu lado. Ela se juntou a ele e arrancou um talo de grama longo, mastigando-o pensativamente.

– Você estava dizendo que começou depois que te deixamos. – Jessan começou, dando-lhe um olhar tímido por baixo de suas grossas sobrancelhas. – Se você não se importa de me perguntar. Eu…

A barda suspirou e se inclinou para trás sobre os cotovelos, observando o riacho que gargalhava e apreciando a brisa suavemente fresca que mexia com seu cabelo e com o pelo mais grosso dele. – Não.. Quero dizer… Eu preciso saber mais sobre isso. Então vou te contar… mas isso é difícil para mim, Jessan. Difícil porque é… é uma coisa muito intensa, muito pessoal, sabe?

– Não, eu não sei. – Jessan respondeu baixinho. Eu queria a todos os deuses saber.

Gabrielle fez uma pausa, perturbada pelo sentimento desconfortável no fundo de seu estômago. O sentimento que ela havia começado a associar, recentemente, com as coisas não estando completamente bem com sua parceira. Não era um sentimento forte, mas… – Ares, vem aqui.

O lobo olhou para cima, de sua investigação de um buraco de coelho, e trotou até ela, para cheirar seus dedos estendidos. – Vá encontrar Xena, ok? Fique com ela. – Ela esfregou a cabeça do filhote. – Diga a ela que eu estarei lá em breve.

Ares piscou para ela, então aparentemente focou no nome familiar, porque ele espirrou e depois virou e trotou desajeitadamente de volta para a cabana da curandeira.

– Problemas? – Jessan perguntou, calmamente.

Gabrielle deu de ombros. – Pode ser apenas porque ela está com muita dor, eu não sei… mas… preciso te dar a versão resumida de tudo. Eu fico… – Ela olhou para ele. – Meio que com este sentimento…

Jessan sorriu. – Tudo bem. Minha mãe diz isso milhares de vezes. Apenas me dê a versão curta, para pelo menos eu saber por onde começar a explicar.

Ela o olhou em silêncio por um longo momento. – Realmente começou depois de Cirron, sim.. mas a gente já estava meio que… Sua mente procurou por uma palavra apropriada. Na verdade começou quando ela morreu.

– O quê? – Jessan começou, piscando forte para ela. – Descul.. o quê.. eu..

– Shh. – Gabrielle o acalmou. – Eu vou te contar. – E ela contou, toda aquela história, do começo ao fim, porque tinha uma ideia de que algo havia mudado durante aquele tempo que os levou a onde estavam agora.

– Oh. – Jessan respirou, seu grande queixo apoiado em um punho, agora que ele estava deitado na grama ao lado dela. – Uau.

– É, uau. A barda concordou. – Então, depois que te deixamos, coisas como toques acidentais se tornaram deliberados, abraços ficaram mais longos e mais frequentes. Eu parei de não gostar de montar em Argo. E a noite em que ela teve pesadelos pela última vez.

Eles haviam passado por um dia bastante difícil, desviando de um rio em enchente pela manhã e ajudando três vilas a evacuar à frente da parede rugidora de água. Xena a tinha puxado para fora do riacho corrente mais vezes do que ela poderia contar, e ela estava totalmente exausta. Cansada demais até para comer, o que recebeu um olhar preocupado de sua companheira.

Apenas me deixe dormir. Ela implorou a Xena. Eu como alguma coisa de manhã. Não consigo dar mais um passo. Claro. Xena havia dito, guiando-a pelos ombros em direção ao seu saco de dormir. Vamos lá, minha barda.

E ela havia agarrado aquele termo carinhoso como sempre fazia, enrolou-se em seus cobertores e adormeceu rapidamente.

Só para despertar abruptamente pouco tempo depois, coração acelerado, cabeça pulsando, com uma Xena preocupada agachada sobre ela, uma mão em seu braço. Ei.. calma… deve ter sido algum sonho.

Ela se sentou e sentiu lágrimas rolando pelo seu rosto. Deuses. E não conseguia, por tudo, lembrar do que o sonho se tratava. Apenas que era… você estava lá… eu estava lá… e então você se foi, e foi…

Xena a tomou em seus braços, e quando o fez, Gabrielle sentiu uma inundação tão avassaladora de alívio que entrelaçou suas mãos na camisa de Xena e enterrou seu rosto no ombro amigo com desespero silencioso. Não queria soltar.

E Xena, em vez de colocá-la gentilmente de volta na cama, como tinha feito todas as vezes antes quando a barda acordava suada de pesadelos, manteve o abraço, deitando-se no saco de dormir e puxando Gabrielle para perto, com a cabeça dela aconchegada seguramente no vão de um ombro largo, e seu braço envolvendo-a.

Havia acariciado suas costas gentilmente até Gabrielle ter voltado a dormir meio sem perceber. E dessa vez, nenhum pesadelo aconteceu. Ela acordou ainda envolvida na forma musculosa de Xena, e olhou para cima, surpresa, nos olhos azuis que sorriam gentilmente.

Se é isso que é preciso para se livrar desses pesadelos, Gabrielle. Xena tinha dito, de forma arrastada, Então acho que teremos que compartilhar um saco de dormir de agora em diante.

Muito pragmático. Muito… lógico. Razoável. E isso fez seu coração quase sair do peito. Uma dúzia de protestos saltou aos seus lábios. Mas o que saiu foi “Claro.”

 Agora ela olhou para Jessan e sorriu. – A coisa simplesmente evoluiu a partir daí, até que eu fui convocada pelas Amazonas.

 – As Amazonas? – Questionou Jessan. – O que você tinha a ver com elas?

– Oh. – Gabrielle riu. – Acho que esqueci de mencionar que sou… bem, na verdade, sou a rainha delas.

Jessan apenas a encarou maravilhado, piscando os olhos. – Sério?

– Sim. Então, elas queriam que eu fosse como mediadora contra uma facção particularmente belicosa nas Amazonas. Xena decidiu, e eu concordei, que sua presença seria mais prejudicial do que útil. Então ela foi para Anfípolis e eu fui para as Amazonas.

Jessan recostou-se e a observou. – Por quanto tempo vocês ficaram separadas? – Uma pergunta curiosa.

– Um mês –, respondeu a barda, com um sorriso tranquilo para dentro.

– Aposto que foi difícil –, Jessan arriscou, observando-a com olhos fascinados.

– Oh… deuses. Foi impossível –, Gabrielle riu. – Você não faz ideia –, suspirou. – De qualquer forma, no final disso… aconteceu algo que fez Xena vir para as Amazonas… ela sentiu que algo estava errado. E ela estava certa. Ela chegou… na hora certa.

Jessan sentou-se, intrigado. – Então… ela podia sentir que você estava em apuros? – Ele foi direto ao ponto.

Gabrielle assentiu. – Sim… e nós… bem, depois, começamos a conversar, e ela me disse o que você tinha dito… e nós simplesmente… concluímos que poderíamos ser como seus pais.

– Vocês são –, afirmou Jessan, dando um beliscão em seu cabelo. – Vocês têm uma conexão muito forte e distintiva.

Gabrielle engoliu em seco e ergueu a cabeça na direção da cama do curandeiro. – Eu sei. E agora mesmo, essa conexão está me dizendo que eu preciso ir. Deveria ter ido antes –, se repreendeu. – Você não percebeu até agora que isso é real, Gabrielle? – Ela se levantou e sacudiu a poeira do vestido, enquanto Jessan se juntava a ela.

– Você quer… hm…? – Ele hesitou, olhando para ela.

Ela pôs a mão em seu braço. – Não fique bravo, mas não agora. Se você estiver lá… ela sentirá a necessidade de assumir aquele papel de Princesa Guerreira, e, Jess… eu não acho que ela esteja preparada para isso. Dê a ela um dia ou algo assim, tá? – Ela começou a andar, e ele se juntou a ela. – Já vai ser ruim o suficiente apenas fazê-la ficar quieta o suficiente para se curar direito. Ela é péssima nisso.

Jessan riu. – Consigo imaginar. Meu pai é do mesmo jeito. – Ele olhou para ela e sorriu. Além de todas essas coisas, você está ótima, aliás. Saudável, mais forte, mais confiante… sua mente pensava. – Parece que isso foi bom para ambas.

Gabrielle deu de ombros e corou um pouco. – Obrigada. – Ela retribuiu o olhar. – Você tem ficado preguiçoso? Ela brincou gentilmente, dando um tapinha em seu estômago. – O que há com isso?

Ele suspirou, e por um momento seu rosto perdeu seu humor habitual. – Tenho relaxado, eu acho. – Ele olhou ao redor do acampamento. – Às vezes eu preciso de um desafio para me animar novamente. Não tem havido muito disso por aqui ultimamente.

Gabrielle riu. – Me dê alguns dias, e você terá um.

Mas Jessan balançou a cabeça. – Não… eu não estou em condições de enfrentá-la. Mesmo ferida. – Seu rosto corou de constrangimento.

– Isso não é algo ruim –, ponderou a barda, pensativa. – Porque sempre que ela se machuca, ela se esforça três vezes mais apenas para superar isso… talvez se ela tiver que diminuir o ritmo por sua causa, eu possa fazer com que ela relaxe um pouco. – Seu rosto ficou sério. Uma dessas vezes, ela vai se esforçar demais. Ela subiu os degraus até a cama e colocou uma mão em seu ombro. – Assim fica bom?

O habitante da floresta parou e depois concordou timidamente. – Sim. Seria bom. Eu sei que também preciso disso. – Ele admitiu, piscando para ela. – Vá em frente. – Ele indicou com a cabeça em direção à porta. – Passarei mais tarde.

Gabrielle ainda estava rindo suavemente quando entrou na sala interna da cabana da curandeira, e ela parou, com uma mão no batente da porta, e apenas olhou por um longo momento.

O interior da cabana estava silencioso o suficiente para ela ouvir claramente o farfalhar das folhas lá fora e o ocasional canto de pássaros que flutuava pela janela junto com os sons abafados da vida na vila acontecendo lá fora. A maior parte do interior estava banhada na luz verde pálida refletida das árvores, mas uma grande janela deixava entrar um raio de sol que fluía preguiçosamente pelo chão e sobre a cama onde sua parceira estava deitada.

E a iluminava como uma espécie de herói mítico de uma história que Gabrielle ainda não tinha ouvido. A luz polia sua pele com um brilho dourado e destacava os reflexos profundos em seu cabelo escuro, trazendo um sorriso tranquilo de admiração ao rosto observador da barda. Banhada na luz… parece tão natural para ela. Sua mente se deliciou. Queria que ela pudesse ver isso. Ela nunca se enxerga como eu a vejo. Talvez esse seja meio que o problema dela.

Abanando a cabeça, ela caminhou para frente e sentou-se na borda da cama, dando um tapinha no alerta sonolento Ares. Depois de um momento, os olhos azuis se abriram, e Xena virou a cabeça, focando seu olhar sonolento no rosto de Gabrielle.

– Ei. – Disse a guerreira, conseguindo um sorriso, que desapareceu quando a barda pôs uma mão fresca em sua testa. – Bem quente, né? – Vendo a expressão preocupada no rosto de sua parceira e suspirando interiormente.

– Você deve estar se sentindo mal. – Gabrielle disse suavemente, – Eu trocaria de lugar com você se pudesse.

Xena olhou para cima e um sorriso brincou em seus lábios novamente. – Isso me faria muito mais miserável, minha barda. – Ela colocou uma mão no joelho de Gabrielle. – Eu vou sobreviver. – Ela olhou para Ares. – Vocês não o entretiveram o suficiente?

Gabrielle aceitou momentaneamente a mudança de assunto. – Não… eu o mandei de volta aqui. Eu senti que havia algo errado, e parece que eu estava certa, né? – Trazer o assunto de volta para Xena, que ergueu uma sobrancelha em reconhecimento. – O que há com você?

A guerreira baixou o olhar e deixou a cabeça relaxar contra o acolchoado. – Meu corpo está reagindo ao que quer que seja o dano interno. – Seus olhos voltaram para os de Gabrielle. – É uma coisa boa, amor. – Ela suspirou. – Só que é malditamente desconfortável para mim. – Um sorriso travesso para Gabrielle. – Tenho que deixar isso seguir seu curso.

Gabrielle pareceu aliviada. – Bem, isso é uma bagunça, mas… – Ela afastou os cabelos escuros dos olhos de Xena. – Acho que vou te deixar voltar a dormir então. – Mas ela realmente não queria ir embora. E, olhando fundo nos olhos azuis silenciosos diante dela, viu o silencioso pedido que Xena nunca faria verbalmente. – Mas eu não estou saindo, então você vai ter que me aguentar por aqui.

Um brilho de gratidão ali. – Você não precisa fazer isso, Gabrielle. Eu vou ficar bem.

– Que pena. – Respondeu a barda, alegremente. – Se você acha que vou perder a oportunidade de ficar de preguiça na cama com você o dia todo, você está com febre.

Xena não pôde evitar. Ela sorriu, incapaz de conter a onda de calor que começou em seu coração e se espalhou por todo o seu corpo, afastando a dor e a febre por um longo momento. – Acho que vou ter que superar isso então.

Gabrielle sorriu de volta e mudou Ares para o outro lado da guerreira, deslizando cuidadosamente para a cama e passando o braço direito em volta dos ombros de Xena, e o esquerdo em torno de seu peito, abraçando-a, descansando a cabeça contra Xena. E deu um suspiro contente ao sentir o calor já familiar se espalhando sobre ela.

Xena olhou para a luz do sol e deixou-a encher sua alma, misturando-se com a luz que Gabrielle já havia trazido ali. E sentiu sua mão na maçaneta daquele lugar onde Gabrielle vivia, onde ela só podia olhar de fora antes.

– Estou com febre. – Disse para si mesma. – Isso não é possível.

Os braços de Gabrielle se apertaram, e ela mordeu brincalhona a orelha tão perto dela. – Deuses, eu te amo. – Ela respirou, sentindo o arrepio correr pelo pescoço de Xena.

E com isso, tudo era possível. Xena levou esse pensamento consigo, enquanto se entregava à luz e à cura de seu corpo.

 —-

Xena abriu os olhos e olhou em volta, surpresa. O inconfundível brilho alaranjado do amanhecer estava colorindo a janela, e ela percebeu que havia dormido quase um dia inteiro. Droga! Ela olhou para o seu lado esquerdo, onde Gabrielle estava profundamente adormecida, com a cabeça apoiada em seu ombro e os braços envolvendo-a em um abraço apertado. Com um sorriso adorável no rosto. Parece que ela também não se mexeu… isso é inacreditável.

Cautelosamente, ela flexionou o braço, e um sorriso se abriu em seu rosto. Oh… isso está muito melhor. Vamos ver como está tudo o mais. Ela percebeu que sua cabeça estava mais clara e que a dor de cabeça que a havia atormentado durante todo o dia de ontem também tinha desaparecido. Ela respirou fundo e sentiu uma dor surda, mas sem dores agudas. Gosto cada vez mais disso. Sua mente riu.

Ela se permitiu um longo alongamento e, embora irritantemente rígida, seu corpo respondeu com algo próximo do seu alcance normal de movimento, e ela suspirou feliz. Parece que a febre fez o seu trabalho. E meu corpo fez suas habituais travessuras. Um dia, isso não vai funcionar. Mas… estou feliz que tenha funcionado desta vez.

Gabrielle escolheu esse momento para se mexer, flexionando as mãos e abrindo os olhos, piscando confusa para a expressão divertida de Xena. Seus olhos deslizaram para a janela, e sua testa franziu, então ela olhou de volta para Xena. – Co… Como… – Ela esfregou os olhos e arqueou o pescoço. – Uau. Isso está duro. – Ela engoliu em seco, ainda claramente meio adormecida. – Que horas… eu dormi… oh deuses. – Finalmente ela gemeu e deixou a cabeça cair de volta no ombro de Xena. – Como pude fazer isso? Eu deveria estar de olho em você.

Xena sorriu e deslizou um braço por baixo dela, alcançando em volta de suas costas e massageando seu pescoço com dedos habilidosos. – Melhor?

– Ughh. – Veio a resposta. – Espera aí. – A cabeça loira surgiu e ela olhou intensamente para Xena. – Você está se sentindo melhor. – Ela acusou, levantando uma mão e colocando-a na testa de Xena. – Sem febre, certo?

– Parece que sim. – A guerreira sorriu. E para provar, ela envolveu os dois braços em volta da surpresa barda e a apertou firmemente, sentindo as costas de Gabrielle estalarem ao longo da coluna, e ela mesma sofreu apenas um leve pontada de dor como resultado. E isso foi tão bom que ela fez de novo, desta vez levantando Gabrielle pela metade da cama, o que doeu um pouco mais, mas ainda nada como teria sido ontem. – Deuses, isso é tão bom. – Ela respirou. – Estava querendo fazer isso há dois dias.

Parando quando Gabrielle não respondeu, e levantando a cabeça para olhar para a barda. – Ei… ei.. – Ela disse suavemente, vendo as lágrimas escorrendo pelo rosto de sua parceira. E ela se pergunta por que nunca digo a ela quando estou sofrendo.

Gabrielle enterrou o rosto na camisa de Xena e tentou conter suas lágrimas, mas o alívio avassalador que sentiu só fazia com que elas continuassem vindo. – D-desculpa. – Ela gaguejou, tentando respirar fundo e soluçando. Sendo uma idiota. Me dê um minuto.

– Shh. – Xena disse. – Está tudo bem. – Ela usou a manga para enxugar suavemente as lágrimas sob os olhos de Gabrielle. – Foram uns dias difíceis, né?

A barda assentiu, fungando. – Difíceis. A Princesa do Eufemismo. Sim.

– Desculpe por ter te dado tanto trabalho. – A guerreira se desculpou, com um sorriso irônico. – Vou tentar não fazer isso de novo.

– Melhor mesmo não fazer. – Gabrielle respondeu, um sorriso puxando relutantemente seus lábios. O – u você estará em apuros.

– Ah é? – Veio a resposta rosnada de brincadeira.

– Sim. – A barda respondeu, com um sorriso. Então, em voz baixa. – Você deve estar se sentindo melhor.

A sobrancelha de Xena se ergueu. – Por quê?

– Porque eu estou. – Gabrielle respondeu. – Exceto… deuses… minhas costas estão doendo de dormir em uma posição por… quanto tempo? Eu não acredito que fiz isso. O que aconteceu comigo? Quanto tempo eu fiquei fora… quase um dia inteiro???? Ela tinha uma desculpa.. o que eu estava fazendo?

– Sim, a minha também. – Xena admitiu, esticando seu corpo novamente. – Preciso levantar.

Gabrielle observou o rosto dela de perto, e ficou satisfeita quando todo aquele movimento nem causou um gemido.. – Você está com fome? – Ela não comeu nada por dois dias. É melhor que esteja.

Xena pensou sobre isso. – Sim. – Ela decidiu. – Na verdade, bastante. Ela sorriu para a barda. – Aposto que você também, né?

– Com certeza. – Gabrielle respondeu, deslizando uma mão dentro da camisa de sua parceira e deixando seus dedos traçarem o contorno do estômago de Xena. – Deuses, você está toda oca aí, amor. – Mas a pele estava fria ao seu toque, não o calor doentio do dia anterior.

– Aposto. – Xena riu. – Infelizmente, não tenho muitas reservas. Não.. elas se queimavam tão rápido quanto ela as adquiria, com seu nível de energia.

Gabrielle olhou para cima dela. – É bom te ouvir rindo. – Ela deixou sua mão vagar mais, deslizando pelo lado da caixa torácica de Xena. – E como está tudo o mais?

A guerreira mastigou o lábio por um minuto. – Bem.. eu acho. – Ela finalmente respondeu. – Sem dor de cabeça, febre se foi.. estou um pouco dolorida aqui.. Ela indicou sua região do meio do corpo. Mas nada como antes.

A barda a olhou. – Hum hum. E você ainda não acha que é mágica, certo?

Xena hesitou, então deu de ombros. – Eu realmente não… – Seja honesta, Xena, você sabe muito bem que cicatriza muito mais rápido e com muito mais facilidade do que deveria. – Eu tento não pensar sobre isso. Ela suspirou. Não tenho certeza se quero saber a resposta para isso.

E isso, pensou Gabrielle, foi muito mais do que ela já tinha conseguido de Xena sobre esse assunto. – Hora de deixar isso pra lá. Bem, seja o que for, estou realmente feliz por você ter isso. ela terminou alegremente, dando uma cutucada em suas costelas, o que provocou uma risada, e um retorno de cutucada.

– Cuidado.. – Xena advertiu, um brilho travesso aparecendo em seus olhos.

Gabrielle viu o olhar e mordeu o lábio, tentada. – OK..OK.. – ela suspirou, desistindo de uma luta de cócegas por enquanto. – Vamos ver.. muito cedo para incomodar alguém.. Acho que ainda temos algumas coisas de viagem em nossas mochilas. Interessada?

– Qualquer coisa. – Xena respondeu, virando-se de lado e se deleitando com o fato de poder fazer isso sem se dobrar de dor. – Embora.. – ela moveu sua cabeça para frente e beliscou Gabrielle no braço. – Tem uma barda saborosa aqui.

– Xena!! – Gabrielle exclamou, rolando para longe da guerreira e fora da borda da cama. – Eita! – Ela gritou. – Urk. – Enquanto Xena estendia um braço e a puxava de volta para a cama com uma risada.

– Calma ai!! Eu não vou pegar muito.. só uma mordida.. – Um lampejo de dentes brancos, e então Xena cedeu, e apenas puxou a barda para um abraço caloroso.

– Não se preocupe. – Gabrielle murmurou em seu peito, depois olhou para cima. – Eu senti falta de brincar com você.

Xena a olhou afetuosamente. – Você nos faz parecer um casal de crianças. – Ela protestou, mas com um grande sorriso.

– Algum problema com isso? – A barda perguntou, com um sorriso insolente.

O rosto da guerreira suavizou. – Não. – Ela estendeu a mão e segurou o rosto de Gabrielle gentilmente. – Acho que nenhuma de nós teve muita infância da primeira vez. – Ela pausou ao sentir a barda engolir algumas vezes. – Estou realmente aproveitando minha segunda chance nisso.

Gabrielle fechou os olhos, então os abriu novamente, enquanto um sorriso incrível se formava em seu rosto. – Ah.. eu também. – Ela respondeu, então riu, e estendeu uma mão para pegar Xena atrás dos joelhos. – Peguei!

– Argh. Xena rosnou e rolou para trás.

– Roo! – Ares respondeu, saltando de seu lugar na extremidade da cama e piscando olhos sonolentos. Ele subiu desajeitadamente sobre o peito de Xena e ficou olhando para ela, com o rabo balançando suavemente. – Roo! – Ele repetiu e então se jogou para baixo, começando a lamber o rosto dela.

Gabrielle riu.

Xena suspirou. – Ares.. – Ela fechou os olhos enquanto o filhote lambia com mais força. – Vamos lá..

– Aww.. – A barda riu. – Ele te ama! – Então seus olhos brilharam e ela rolou mais perto, se aconchegando ao lado da guerreira e lambendo sua orelha. – E eu também.

– Gabrielle!! – Xena riu indefesa, enquanto a barda continuava a lamber a borda de sua orelha, e o filhote começou a trabalhar em suas pálpebras agora fechadas. – Ares! Vamos lá agora!

Gabrielle começou a rir, mas continuou seu ataque, agora mordiscando a borda da orelha dela.

– Tudo bem. – Xena disse finalmente, em seu melhor tom de guerreira. – Agora parem com isso, os dois.

Ela foi ignorada. Eu tentei falar. Sério, eu tentei. Ela refletiu para si mesma. Prometi para Gabrielle que tentaria falar primeiro, não é? Certo. Então, eu tentei. Todo mundo viu isso.. não tem como dizer que não tentei. Além disso, ela estava começando a gostar do que Gabrielle estava fazendo.

Eu costumava governar metade da Grécia, e aqui estou, derrotada por uma barda rindo e um filhote de lobo meio crescido. Que vergonha, Xena. Tudo bem. Tenho que fazer algo sobre isso.

Ela alcançou e pegou Ares firmemente pela pele do pescoço, movendo-o para fora de seu peito. Então ela passou um braço em volta do corpo ainda rindo de Gabrielle.

– Whoa.. ok.. ok.. eu estava só.. whoa.. Xena!!! O que.. uh.. – A barda se viu sendo balançada pelo ar, e acabou meio esparramada sobre o peito de Xena, com os olhos a centímetros dos olhos da guerreira. – Ih. – Quando ela viu o sorriso feroz de Xena. – Oh, droga.

– Agora. – Xena falou lentamente, dando a ela uma versão muito particular do olhar, enquanto mordiscava o ombro próximo da barda e observava os arrepios subirem pelo braço dela. – Eu me pergunto… – Ela se moveu para a clavícula de Gabrielle e sentiu o pulso pulsar sob seus lábios. – O que aconteceria… Agora ela viajou pelo pescoço de sua parceira e sentiu a respiração ofegante repentina quando chegou ao ponto de sua mandíbula. Se nos beijássemos.

E fez exatamente isso, enquanto sentia as mãos de Gabrielle começarem uma exploração suave, e as suas faziam o mesmo, movendo-se com certeza conhecida uma da outra.

– Eu ficaria muito brava se parássemos. – A barda respirou, em um tom rouco, enquanto se separavam por um instante, e então continuaram. – Pensei que você estivesse com fome. Ela murmurou, enquanto respirava fundo.

– Oh sim. – Xena respondeu, com uma longa risada baixa em seu peito. – Vem cá.