Violência – Onde houver Xena, haverá violência. É apenas uma daquelas coisas. Mas este tipo não é muito gráfico, e evitamos menções de membros sendo cortados e usados como gravetos, ou qualquer descrição de glóbulos oculares sendo arrancados por um chakram errante, ou qualquer coisa assim.
Subtexto – Esta história, como foi a última, e a anterior, que fluiu como um monstro de sargaço do meu terminal, partindo da suposição de que se trata de duas mulheres que se amam muito. Mais uma vez, não há nada gráfico, mas o tema se envolve ao longo da história, e se você não aguenta, leia alguma outra boa peça de fan fiction. Farei minha declaração habitual – se o amor o ofende, envie-me um bilhete com seu endereço de correio tradicional e eu lhe enviarei uma torta de limão autêntica, encontrada apenas no extremo sul da Flórida. (ideal para verões quentes.) Porque eu realmente me sinto mal por você.
Há personagens nesta história que se originaram em uma pequena cantiga que escrevi chamada A Warrior by Any Other Name (Guerreira em sua essência). Não se sinta mal se não souber quem eles são. Não sinta que você precisa ler a história original para entendê-los – tentei dar muitas dicas.
Todo e qualquer comentário é sempre bem-vindo. Você pode enviá-los por e-mail para: [email protected]
Laços – Parte 4 (I)
por Melissa GoodXena observava o sol se pôr no céu, espalhando amplas faixas de luz avermelhada pela pequena clareira onde estavam sentadas. Ela levantou o olhar quando Gabrielle voltou do riacho, trazendo um pedaço dobrado de linho e um cantil cheio.
“Me dê suas mãos,” a barda disse calmamente, enquanto se sentava novamente e despejava um pouco de água no linho.
“Você não precisa…” Xena começou, mas parou e moveu suas mãos ensanguentadas do colo para a grama, em direção à sua parceira. Ela observou em silêncio enquanto Gabrielle limpava cuidadosamente o sangue, certificando-se de limpar entre os longos dedos da guerreira e até os antebraços musculosos. “Obrigada,” murmurou quando a barda terminou, oferecendo um pequeno sorriso. “Isso está muito melhor.”
“Sem problemas,” Gabrielle respondeu, entregando-lhe o cantil. “Você parece estar com sede.” Ela esperou e recebeu o olhar divertido da guerreira. “Sim, sim, eu sei. Mas beba mesmo assim.”
Xena riu e, retirando a rolha do cantil, bebeu um longo gole. “Fico feliz que você tenha pensado em trazer isso na volta,” comentou.
A barda sorriu. “Ferimentos exigem o kit médico e água. Você me ensinou isso, lembra?” Ela se recostou, pressionando seu ombro contra o de Xena, e olhou a cena à sua frente com um suspiro tranquilo. “Não foi o final que eu esperava.”
Elani havia endireitado os membros amassados de Ereth, tornando o menino inconsciente mais confortável. Ela havia convencido Gennen a mudar sua posição rígida para uma em que a cabeça de seu companheiro estivesse apoiada em seu colo. Gennen estava com os olhos fechados e parecia sussurrar algo para seu amigo caído. “Ele está…” a barda sussurrou, sabendo que apenas a audição aguçada de Xena captaria sua voz.
A guerreira suspirou e passou um longo braço ao redor dos ombros de Gabrielle. “Não sei,” murmurou, aproximando suas cabeças. “Ele perdeu muito sangue.” Ela olhou para cima e por cima da cabeça da barda. “Aqui vem a maca.” De repente, ela riu. “Deuses… olha só isso.”
Os habitantes da floresta estavam atravessando o riacho, carregando a maca, e empoleirado no topo, com pequenas patas apoiadas contra o movimento, estava Ares.
“Roo!!” Ele grunhiu quando seus olhos caíram sobre elas. “Roo!!!” Ele desceu rapidamente da maca e correu para elas, tropeçando nas patas com pressa.
“Olá, garoto,” disse Xena, bagunçando o pelo dele. “Nós te deixamos lá sozinho? Desculpe por isso.” Ele subiu pelo peito dela e colocou seu focinho peludo próximo à sua boca. “Ei… pare com isso.”
“Grr,” o lobo protestou, começando a lamber seu rosto.
“Ares,” suspirou Xena, revirando os olhos e muito ciente do riso da barda ao seu lado. “Já chega.” Ela fez uma careta para o lobo e começou a se levantar, sentindo a súbita pressão da firme mão de Gabrielle em seu braço para lhe dar apoio.
Ela ficou muito grata por isso quando o mundo ao seu redor escureceu abruptamente ao se levantar, e apenas aquela mão a impediu de desabar no chão. “Droga,” murmurou baixinho, fechando os olhos e desejando que sua cabeça parasse de girar. Após um minuto, a sensação passou, e ela reabriu os olhos, focando no rosto muito preocupado de Gabrielle. “Tudo bem.” Ela deu uma leve sacudida na cabeça, sentindo um incômodo na nuca que a preocupava. “Melhor.”
“Você vai voltar para a cama quando chegarmos à vila,” disse a barda, olhando diretamente para ela.
Xena sorriu. “Ok… contanto que você se junte a mim.” Com um brilho nos olhos, o que arrancou um sorriso relutante de Gabrielle. “Isso é melhor.” Ela deu um tapinha na bochecha da barda.
Os habitantes da floresta trabalharam rapidamente para carregar Ereth com cuidado na maca e, como Xena observou interessada, colocaram Gennen ao lado dele.
“Eles fizeram isso por nós também,” Gabrielle sussurrou em seu ouvido, enquanto seguiam a procissão de volta à vila.
“Eu não…” Xena começou a dizer, mas ficou em silêncio por um momento. “Ah, espere. Sim, lembro-me de ter acordado em um momento.” Ela sorriu. “Lembro que você estava lá.”
Gabrielle sorriu. “Sim… eu estava.” Ela olhou de soslaio para Xena. “Acho que era minha vez de cuidar de você por um tempo.”
Xena levantou uma sobrancelha para ela e ergueu uma mão para afastar os fios de cabelo dourado-avermelhados que cobriam seus olhos. “Você sempre faz um bom trabalho, meu amor.”
“Faço?” Gabrielle suspirou. “Nunca parece ser assim.” Ela franziu as sobrancelhas.
Xena parou no meio do caminho e segurou o braço de Gabrielle, fazendo a barda girar e encará-la. “O quê?” A guerreira disse abruptamente, com um olhar muito direto. “O que isso deveria significar?”
Gabrielle fechou os olhos. Droga, você e sua grande boca, Gabrielle. Por que não consegue aprender a pensar antes de falar? “Nada… esqueça. Eu não estava… apenas esqueça.” Sabia muito bem que isso não ia acontecer. “Apenas… esqueça.”
Xena não respondeu, apenas continuou olhando para ela, com uma tristeza gentil nos olhos.
“Eu não estava…” Gabrielle suspirou, desarmada diante daquele olhar. “Desculpe… aquela subida na montanha depois que você se feriu da última vez ainda…” Ela hesitou. “Deveria haver algo mais que eu pudesse ter feito.” Esse era um demônio que ela nunca conseguiu exorcizar, tendo ido tão longe, dado tanto esforço, sem resultado.
Xena olhou por cima do ombro da barda, para os habitantes da floresta que se afastavam, e descartou-os de seus pensamentos. “Olha, Gabrielle – isso não foi culpa sua. Nada disso foi… deuses, você passou dias, ferida, subindo aquela montanha. Não é culpa sua eu ter decidido…” Aqui, ela parou. “Deuses.” Não é culpa sua eu ter decidido simplesmente desistir. Não é culpa sua.
“Você teria encontrado uma maneira de resolver as coisas,” Gabrielle sussurrou, olhando sem ver por cima do ombro alto da guerreira. “Você sempre faz isso. Eu simplesmente não consigo estar à altura disso.” Ela levantou seus olhos verde-mar e, relutantemente, fez contato com o olhar intenso de Xena. “Tenho tanto medo de falhar com você de novo.”
A guerreira envolveu as mãos ao redor do rosto de Gabrielle e apenas a olhou por um longo momento. “Gabrielle…” murmurou, deixando um leve sorriso surgir em seus lábios. “Você não sabe que esse também é meu maior medo?” Ela respirou fundo. “Que um dia haverá uma flecha que eu não poderei parar, uma queda que eu não poderei evitar… que eu ficarei aquém aos seus olhos?” Ela se aproximou, e sentiu os braços de Gabrielle subirem por reflexo, envolvendo sua cintura. “Acho que ambas estamos em boas mãos.”
Houve um longo silêncio enquanto Gabrielle refletia sobre aquilo e, finalmente, inclinou a cabeça contra o peito de Xena, respirando o cheiro do tecido seco pelo sol. “Você acha mesmo?”
“Acho, sim,” respondeu Xena. “Eu me sinto muito segura nos seus braços.”
Os olhos verdes piscou para ela com um pequeno sorriso. “Sério?”
Xena assentiu e beijou sua testa. “Sério. Você é uma pessoa muito engenhosa, minha barda. Eu confiaria meu destino a você a qualquer momento.”
“Roo!” Ares grunhiu da posição sentado ao lado da bota esquerda de Xena. Ele esfregou o focinho em sua panturrilha e puxou um pedaço do couro. “Roo?”
As duas olharam para baixo e riram. “Estamos te entediando, Ares?” Xena perguntou, sem soltar Gabrielle.
“Roo.” O filhote resmungou, sentando-se sobre as patas traseiras e mastigando um cadarço da bota de Xena.
“É…” Gabrielle concordou suavemente, sentindo uma surpreendente onda de calor inundar seu coração. “Sei que estava sendo um pouco insegura… é engraçado, depois de todo esse tempo, achei que já tivesse superado isso… mas foi muito bom ouvir você dizer isso… Desculpe por ter agido de forma boba. Tudo isso me pegou de surpresa.”
Xena riu de forma irônica. “Eu também.” Ela deixou os antebraços caírem sobre os ombros de Gabrielle e entrelaçou os dedos delicadamente atrás da cabeça da barda. “Vamos… não sei você, mas para mim, foi um dia bem longo.” Admitiu finalmente, a contragosto, que não estava nem perto de sua condição física usual.
Gabrielle ficou séria imediatamente, entendendo a confissão pelo que ela era. “OK – eles nos levaram para um lugar tranquilo perto da casa de Jessan. A menos que você precise voltar para o curandeiro…” Ela fez uma pergunta com a voz.
“Não.” Foi a resposta. “Só preciso de uma cama quente e de você.”
“Ah, é?” Gabrielle riu baixinho. “Isso é um convite?”
“Uh-huh.” Xena respondeu, inclinando a cabeça e capturando os lábios de Gabrielle em um longo beijo. “Interessada?” Ela perguntou, quando fizeram uma pausa, sentindo as mãos da barda começarem a explorar seu corpo. “Parece que sim.” Xena riu levemente, traçando um dedo pelo pescoço de Gabrielle, sentindo-a engolir em seco. Sentiu o pulso acelerado contra suas pontas de dedos sensíveis, enquanto parava sobre a jugular.
Então, sua própria respiração se prendeu, quando as mãos quentes de Gabrielle deslizaram sob sua túnica, começando a subir pela caixa torácica, os polegares deslizando suavemente sobre os músculos tensionados. “Gabrielle…”
“Mmm?” A barda respondeu, aproximando-se mais.
“Uma floresta cercada por inimigos em potencial não é o melhor lugar que eu poderia pensar para fazer isso,” a guerreira lembrou, com um sorriso maroto.
“Ei.” Gabrielle riu. “Foi você quem começou.” Mas ela retirou as mãos a contragosto e passou um braço ao redor da cintura de Xena. “Mas acho que você tem razão.”
“Ele tem certeza de que era a patrulha de Secan?” Lestan perguntou com um suspiro. “As botas de Ares.” Ele lançou um olhar para o filho, que estava sentado em um canto da mesa com os braços cruzados sobre o peito coberto de pelos dourados.
Jessan assentiu e balançou a cabeça. “Pobres jovens.” Ele se virou quando Wennid entrou na sala de reuniões, trazendo uma bandeja com grandes canecas. “Obrigado, mãe,” disse ele, pegando uma caneca fumegante.
Wennid entregou uma caneca a Lestan e pegou a terceira para si. “Elaini diz que ele tem uma chance.” Ela olhou para ambos. “Não é uma boa chance, mas é uma chance.” Ela se espreguiçou, cansada. “Vou passar um tempo lá, só por precaução.” Virando-se para Jessan, ela perguntou: “Elaini disse que ele nem teria essa chance se não fosse por Xena. Isso é verdade?”
Jessan sorriu e abaixou a cabeça. “Você duvida da palavra de Elaini?” Ele rebateu, erguendo uma sobrancelha peluda. “É claro que é verdade.”
Wennid se sentou na cadeira da ponta e apoiou o queixo nas mãos de pelo claro, olhando para ele debaixo dos olhos. “Olha, sinto muito, mas tenho um problema em reconciliar a carniceira que me lembro de ter incendiado uma vila no vale ao lado com essa pessoa por quem você parece ter tanto carinho, Jessan.” Ela deu um longo gole de cidra temperada e olhou sombriamente para o restante no fundo da caneca. “Mas estou me ajustando. Agora tenho que imaginá-la como uma curandeira. É um pouco demais, querido.”
Lestan bufou e pousou as mãos nos ombros dela. “A vida é apenas uma série interminável de ajustes, meu amor.” Ele olhou para o filho. “Então, Elaini é mais uma convertida ao culto de Xena?”
Jessan sorriu. “Acho que sim.” Ele corou um pouco. “Ensinei-a a nadar hoje.”
Lestan e Wennid trocaram olhares. “Que gentil da sua parte, querido,” comentou Wennid, tomando um longo gole de cidra. “Ouvi dizer que vocês fizeram um piquenique.”
O líder dos habitantes da floresta resmungou. “E foi uma sorte para Ereth.” Ele lembrou sua companheira de vida.
Wennid suspirou. “Eu sei. Eu sei.” Ela olhou para ambos. “Tudo bem…” Respirou fundo e olhou para dentro de si mesma. “Será que posso esquecer o que vi?”
Uma manhã fria e enevoada, e ela estava escondida entre as árvores, observando a atividade ao redor da aldeia humana. Era uma comunidade predominantemente de pastoreio, rica em gado e colheitas, mas pouco mais do que isso, e sem comércio digno de menção.
De repente, ouviu-se o trovejar de cascos, e então os invasores estavam sobre eles, chutando e golpeando, ateando fogo aos telhados de palha e espalhando os rebanhos frenéticos de pessoas e animais. Tudo começara como uma tentativa de intimidação, mas a resistência obstinada dos aldeões enfureceu os invasores, e os golpes e chutes degeneraram em ataques implacáveis e irreversíveis de aço nu.
O sangue tinha sido terrível, Wennid lembrava, enquanto espiava através da espessa névoa negra das cabanas em chamas, observando as formas correndo e gritando que passavam entrando e saindo de vista, seguidas por invasores que riam e as perseguiam como animais.
Wennid havia engasgado de desgosto e se virado, mas não antes de avistar a figura galopante que se aproximava da aldeia. Seus olhos se prenderam nela: uma humana em um cavalo dourado, tão bem armada e equipada quanto qualquer um dos invasores. Ela cavalgava para se juntar a eles com uma risada retumbante, que ainda ecoava nos ouvidos de Wennid, mesmo depois de tanto tempo.
Ela nunca tinha esquecido aquela risada, ou aquela figura, ou o silvo do aço vivo quando a mulher desembainhou sua espada e desapareceu nas nuvens de fumaça negra. Mas Wennid havia ouvido os gritos que se seguiram e visto as ruínas da aldeia depois.
Foi uma longa caminhada até a silenciosa e enevoada cidade da morte, segura, porque ela tinha certeza de que era a única coisa viva em quilômetros. Sua Visão lhe havia dito isso. Os invasores já tinham ido embora há muito tempo… Ela apenas ficou por um momento, o suficiente para gravar em sua mente a impressão que sabia que duraria por toda a sua vida.
E então, no meio das lembranças, detalhes há muito nebulosos em sua memória surgiram e se clarearam. Havia corpos mortos, sim — tanto de invasores quanto de aldeões — e os invasores haviam sido massacrados tão completamente quanto suas vítimas.
Ela se perguntou: teriam os aldeões sido capazes de pegar, talvez, uma espada capturada de um invasor caído e causar aquele tipo de dano? Os invasores se voltaram uns contra os outros?
Ou, sua mente apresentou logicamente e sem piedade, talvez aquela humana risonha que ela assumira ser a líder deles na verdade não fosse nada disso? E se, em vez disso, ela fosse uma vingadora, cavalgando com a risada alegre que guerreiros de sua própria espécie exibem quando vão à guerra… algo que ela nunca entendera?
E se?
E se eu estive errada todo esse tempo… embora todas as atrocidades dela não possam ter sido erros. Ela fez coisas horríveis. Ela mesma disse isso. Mas dizem que ela mudou. E se ela realmente, verdadeiramente, mudou?
“Eu acho que quero falar com esse seu exemplo de virtude.” Wennid ponderou, surpreendendo os dois. “Quero olhar nesses olhos estranhos e pálidos que todos vocês parecem achar tão hipnotizantes e ver que tipo de pessoa ela realmente é. Ver por que os deuses parecem zombar de nosso dom ao concedê-lo ali… Sim, eu quero.”
Lestan deu de ombros e massageou levemente seus ombros. “Queria perguntar a ela sobre Secan eu mesmo… por que não vir junto?”
Jessan se levantou e estendeu a mão. “Não.”
Ambos o olharam como se ele tivesse acabado de criar um rabo. “O quê?” Lestan gaguejou, “Você… esta manhã… eu pensei…”
Seu filho rapidamente contornou a mesa e colocou uma mão em seu braço. “Ainda não.”
“Por que não?” Lestan perguntou, de forma razoável. “Jessan, você não está fazendo sentido.”
“Eu a conheço.” Jessan respondeu calmamente. “Ela ainda está machucada, pai, e se você falar com ela sobre Secan, ela vai querer fazer algo a respeito. E… você disse que ainda tínhamos alguns dias. Espere.”
Lestan o estudou em silêncio por um momento. “Só estou pedindo conselhos a ela, filho. Ela não pode se envolver nisso, e você sabe disso muito bem. Não deveria. Não pode.” Não pode por três razões, sua mente detalhou. Ela não era de seu povo. Ela não era de seu clã, e, negue embora muitos, ela era metade de um vínculo vital. “Mas… se você acha que devo, esperarei até amanhã ou algo assim… Eu sei que aquelas feridas que ela sofreu foram terríveis.”
Mas parte dele sabia que Jessan estava certo. Parte dele sabia que, uma vez que a envolvesse, coisas poderiam acontecer sobre as quais ele não teria controle. Porque ele não tinha controle sobre ela, e ela caçava de acordo com suas próprias regras, perseguia sua própria presa sem se importar com as tradições de ninguém. Parte dele tinha medo disso. Mas uma parte maior sentia aquele arrepio sob a pele, que eriçava parcialmente seus pelos e o fazia pensar que as coisas… eram possíveis. Ela fazia isso. E era uma sensação intoxicante.
Enquanto considerava a advertência de Jessan, uma outra realidade se formava em sua mente. Ela, a guerreira com o riso que ecoava nas batalhas, era um enigma que desafiava expectativas e quebrava moldes. No entanto, a simples ideia de sua presença trazia um vislumbre de esperança, uma faísca de mudança que ele não podia ignorar. Por mais imprevisível que fosse, ele sabia que não poderia evitar o encontro por muito tempo. Algo dentro dele clamava para ver o que poderia acontecer, mesmo que significasse abrir mão do controle que tanto prezava.
Lestan suspirou profundamente, deixando o ar escapar de seus pulmões em um lento suspiro. “Tudo bem, Jessan. Eu esperarei. Mas saiba que há uma tempestade se formando, e quando chegar a hora, não poderemos fugir dela. Talvez ela seja o único farol em meio a essa escuridão que está por vir.”
Xena gostou muito do pequeno leito que lhe haviam oferecido. Estava em uma alcova logo ao lado da praça principal, com espaço ao redor, mas ainda protegido da maior parte da agitação da aldeia por um anel de pacíficos carvalhos que balançavam suavemente na brisa da tarde. Por dentro, o leito era simples, mas tinha janelas amplas, e as esteiras nas paredes eram tingidas de um azul relaxante que combinava com os tecidos da cama e o sofá largo e baixo, que ficava voltado para a janela principal da área de estar.
“Eu gosto de azul,” Xena comentou, tirando sua túnica manchada de sangue e agora novamente úmida, e vestindo uma suave camisa de dormir. Ela dobrou a túnica para limpar mais tarde e se sentou no sofá largo, deixando a cabeça descansar contra o encosto. Droga. Suspirou internamente. Os episódios de tontura não tinham diminuído, e ela estava começando a se preocupar com isso. O sangue deveria ter sido reposto antes disso e… sua mão alcançou a parte de trás do pescoço e tocou o ponto dolorido, onde podia sentir uma leve pressão desconfortável que havia notado pela manhã.
Isso não tinha passado, e agora ela se perguntava, enquanto um calafrio frio percorreu seu corpo, se não teria causado um dano mais permanente a si mesma do que havia pensado inicialmente. Lesões nas costas a assustavam – ela só teve uma vez, e aquilo… levou muitas luas para cicatrizar, e ainda mais para recuperar o uso completo de seu corpo. Isso… não era um bom momento para uma repetição.
O tecido se moveu, enquanto Gabrielle se acomodava ao seu lado, e Xena a olhou. “Oi,” a barda anunciou. “Estou de volta.” Vinda da cozinha comunitária, onde ela tinha ido buscar o jantar. “Você parece exausta. Quer apenas se reclinar e deixar que eu te alimente?”
A sobrancelha de Xena se ergueu. “Isso é bastante decadente, não é?” Mas ela estava sorrindo e afastou suas preocupações por um tempo, enquanto relaxava e permitia que a barda colocasse um prato entre elas, com uma enorme tigela de ensopado levemente fumegante e um monte de pão fresco assado.
Ares trotou até elas, subiu em seu colo, acomodando-se e olhando de um rosto para o outro com expectativa.
“Veja o que você criou?” Gabrielle provocou gentilmente, enquanto começava a servir, alternando garfadas para si mesma e para a guerreira. “Um monstro.”
“Mmm hmm.” Xena assentiu, mastigando pensativamente um pedaço de carne de veado. “Terrível.” Engoliu e tomou um gole da cidra aromática que a barda trouxe. “Não está ruim.” Ela elogiou a caneca e a levantou para Gabrielle experimentar.
“Ooo…” A barda provou com apreciação. “Nada mal mesmo.” Ela espetou outro grande pedaço de carne e ofereceu à sua parceira. “Vamos lá… ainda tem muito aqui.”
“Uh huh.” Xena murmurou, mordendo o pedaço ao meio e dando a outra metade para Ares. “Bom que você trouxe bastante.” Ela sorriu para a expressão da barda. “Ei… ele também precisa comer, você sabe.”
“Roo.” Ares concordou, e se acomodou no colo de Xena, segurando seu prêmio entre suas patas crescentes e mastigando, olhando para cima de vez em quando para ver se mais estava a caminho.
Gabrielle manteve um fluxo constante de conversa enquanto comiam, incluindo as fofocas da aldeia que ela havia ouvido enquanto preparava o jantar. “Rumores sobre Jess e Elaini já.” Ela riu, enquanto passava manteiga na última fatia de pão e dava uma mordida, então ofereceu a fatia a Xena.
A guerreira riu e mastigou seu pão, notando com surpresa que haviam quase terminado aquela enorme porção de ensopado entre elas. “Isso foi muito bom,” comentou, então pegou a tigela do prato e ofereceu o restante a Ares. “Aqui está, garoto.”
O lobo se levantou no colo de Xena e enfiou a cabeça na tigela, abanando o rabo entusiasticamente, terminando o conteúdo, lambendo a tigela, e então transferindo sua língua áspera para a mão de Xena, que ainda segurava o recipiente. “Ei…” A guerreira protestou. “Para com isso.”
Gabrielle terminou o pão e suspirou feliz, movendo o prato para fora do caminho e aninhando-se nos braços acolhedores de Xena. “Eu me sinto muito melhor agora,” admitiu, deslizando os braços ao redor do corpo da guerreira e apoiando a cabeça no ombro conveniente.
“Eu também,” Xena concordou, refletindo que era, de qualquer forma, a verdade na maior parte. Além da dor no pescoço, tudo parecia ter se resolvido, e ela não estava nem sofrendo com rigidez das atividades do dia. Então, isso estava mais ou menos OK. E, desde que ela não se levantasse… sua boca se curvou um pouco. Bem… isso poderia ser arranjado… “Agora…” Disse ela, inclinando-se e removendo as últimas migalhas de pão dos lábios de Gabrielle com habilidade experiente. “Onde estávamos?”
Uma risada baixa e gutural da barda, que moveu as mãos sobre o corpo de Xena. “Bem, eu estava bem aqui…” Ela sorriu ao sentir Xena reagir ao seu toque. “E eu acho que você estava…” Uma longa pausa enquanto os lábios de Xena encontravam seu lugar. “Ah, sim.” Gabrielle respirou. “No alvo.” Ela fechou os olhos ao sentir o choque sensual causado pela pressão das pontas dos dedos da guerreira em sua pele sensível. “Definitivamente mais agradável do que ficar ao ar livre em uma floresta,” murmurou, então deixou a onda quente de paixão tomar conta dela.
O longo hábito fez com que Xena acordasse antes do amanhecer, e ela passou alguns minutos apenas ouvindo os suaves sons da vila adormecida que entravam pelas janelas largas, junto com o doce aroma de flores silvestres e o cheiro distinto de uma leve chuva antes do amanhecer.
Eu gostaria de me sentir tão em paz quanto esta vila parece. Sua mente refletia. Ela olhou para baixo quando Gabrielle se mexeu, apertando ainda mais seu abraço, enterrando a cabeça de forma mais segura no vão do ombro de Xena. Na escuridão, ela mal conseguia distinguir o perfil da barda e levantou a mão para alisar o cabelo do rosto dela, seu toque trazendo um leve sorriso ao rosto adormecido da parceira.
A guerreira suspirou e recostou a cabeça nos suaves travesseiros do sofá largo, onde decidiram se aconchegar na noite anterior depois de terem passado… Xena sorriu para si mesma. Bastante tempo aliviando o estresse do dia. Ela estremeceu ao sentir a pressão ainda roendo sua coluna e tentou girar suavemente o pescoço, parando quando uma dor aguda atravessou sua espinha.
Droga. Ela virou os olhos para o escuro teto e soltou uma longa respiração. Isso significava apenas problemas, embora, de certo modo, isso pudesse tornar sua decisão mais fácil. Baseada na sua última experiência com uma lesão nas costas, isso era definitivamente algo que exigiria bastante tempo de recuperação, e não havia dúvida de que casa seria um bom lugar para isso.
Não é como se você não estivesse pensando em fazer isso de qualquer maneira. Ela se disse. Mas ter a decisão forçada sobre ela… isso, ela não gostava muito.
Ares ergueu a cabeça sonolenta e bocejou, piscando para ela. “Shh.” Ela sussurrou para ele. “Ninguém está acordado.” Ela deixou a mão descansar nas costas dele, e o filhote obedeceu, recolhendo o focinho de volta entre as patas e fechando os olhos. “Preguiçoso.” Xena riu baixinho.
Não é isso que tenho medo que aconteça comigo se isso me forçar a voltar para casa? Uma avaliação honesta. Seria tão, tão fácil voltar para lá e se recuperar… mas da última vez, ela teve uma necessidade sombria que a impulsionou a superar a lesão e recuperar sua forma. E agora?
Xena suspirou. Agora, ela sabia, ela iria para casa e cairia de volta na rotina diária, e deixaria tudo se perder… sua agudeza, suas habilidades… porque não haveria uma razão urgente para ela se forçar a passar pela dor necessária para recuperá-las.
Ela simplesmente não parecia ter a autodisciplina para fazer isso mais, ela sabia depois de duas semanas passadas relaxando com Gabrielle em casa. Ela não havia feito um único exercício durante todo esse tempo, e o que era mais assustador… ela não sentiu falta deles. Nem um pouco. E essa era uma verdade difícil de aceitar. Toris a provocou no último dia em que esteve lá, sobre ela perder o fio da meada; e ela o jogou em um buraco de lama, depois o jogou no poço para provar que ele estava errado. Mas ele não estava. E ela sabia disso muito bem.
A questão era, será que ela se importava?
Xena inclinou a cabeça para trás e pensou sobre isso por um longo tempo, ouvindo enquanto o equilíbrio começava a se deslocar entre noite e dia, escuridão e luz do dia. Um longo momento imóvel, quando o mundo inteiro parecia prender a respiração, esperando pelo primeiro leve tom de cor no horizonte.
Ela pensou em como se sentia sobre o que fazia. E quem era. E sabia que suas habilidades estavam tão entrelaçadas com a sua imagem de si mesma que não tinha certeza do que restaria se deixasse isso se desfazer.
Sim, eu me importaria. Xena admitiu para si mesma. Então, eu acho que tenho que descobrir quão ruim isso é e que tipo de limitações isso vai impor a mim. Talvez, se eu continuar me lembrando o quanto eu odeio estar doente, eu possa me motivar a superar isso.
“Quando estiver pronta para falar sobre o que está te incomodando,” uma voz suave a assustou. “Você sabe onde me encontrar, certo? Sou a baixinha de cabelo claro que fala muito.”
Xena sentiu um sorriso puxar seus lábios contra sua vontade e olhou para baixo para encontrar os olhos verdes sonolentos que a observavam. As palavras da barda ecoaram as suas próprias, não muito tempo atrás, em uma clareira não muito longe de Potadeia. “Oi.” Ela disse, enquanto levantava a mão e alisava o cabelo macio de Gabrielle. “Eu estava apenas pensando.”
“Sobre o quê?” Gabrielle perguntou suavemente, enquanto se aconchegava mais perto e moldava seu corpo contra o da guerreira. “Por favor.” Seus olhos procuraram os de Xena e ela colocou uma mão no peito dela. “Não me exclua disso.”
“Jamais.” Xena disse, respirando fundo. “Você sabe melhor.” Ela fez uma pausa por um momento. “Uma dessas pedras aparentemente atingiu o ponto errado.” Ela parou e observou o rosto de Gabrielle se tensionar.
“Esses momentos de tontura.” A barda percebeu, suas mãos se fechando inconscientemente no tecido da camisa de Xena.
A guerreira assentiu um pouco. “Eu acho que sim.” Ela mexeu os ombros desconfortavelmente. “Eu sinto essa pressão no pescoço.” Ela levantou uma mão e indicou o local. “Dói.”
Gabrielle mordeu o lábio por um curto momento. “O que isso significa? Você vai ficar bem?”
Xena recostou a cabeça na superfície almofadada e fechou os olhos. “Eu não sei.” E essa foi uma das coisas mais difíceis que ela já teve que dizer para a parceira. “Depende de quão grave é e de quão duro eu preciso trabalhar para consertar isso.”
A barda ficou em silêncio por um momento. “Você está assustada.” Ela finalmente sussurrou.
“Sim.” Veio a resposta silenciosa na escuridão.
Gabrielle deixou suas mãos começarem um movimento suave sobre o corpo tenso ao qual estava abraçada. “Por quê?” Ela perguntou, ouvindo o coração acelerado sob sua orelha. “Você já se feriu antes… deuses, Xena, eu odeio quando você se machuca, mas você sempre…” Ela deu de ombros e sabia que a guerreira sentia isso. “Simplesmente supera.” Ela olhou de volta para cima.
“Eu sei.” Xena suspirou. “Talvez tenha a ver com o que estávamos falando antes. Sobre voltar para casa… esse tipo de dor… Hades, Gabrielle, da última vez que tive uma como essa, levou quase meio ano para eu me recuperar.”
A barda deu de ombros. “Então… vamos para casa, por um tempo. Você estava falando sobre isso de qualquer maneira, certo?” Sua testa se franzia. “Eu não vejo…” Então ela deu uma boa olhada no rosto de Xena. “Você ainda não tinha decidido. Certo?”
Uma lenta negativa como resposta. “Eu não quero que isso decida por mim.”
“O que faz você pensar que isso decidiria?” Gabrielle perguntou, de forma razoável.
“Simplesmente faria.” Xena respondeu, entrelaçando os dedos distraidamente no cabelo da barda, que estava gentilmente sobre o peito da guerreira. “Eu não sei se eu posso… recuperar tudo dessa vez.” Ela fez uma pausa e deu de ombros. “Ou se eu sequer quero.”
A barda se ergueu sobre os cotovelos e se aproximou até que pudesse olhar diretamente nos olhos de Xena. “O que está acontecendo com você?” Ela balançou a cabeça em confusão. “Durante todo o tempo em que te conheci, nunca te vi duvidar de si mesma. Destino, vida, outras pessoas, eu… mas nunca de si mesma. O que está acontecendo?”
Xena soltou uma respiração longa e esfregou o rosto com uma mão. “Eu não sei.” Ela admitiu cansada, deixando a mão sobre os olhos. “Eu… realmente não sei o que está de errado comigo.” Ela passou os dedos pelo cabelo escuro. “Desculpe. Eu devo estar te deixando louca.”
Gabrielle moveu uma mão e acariciou gentilmente a bochecha da parceira. “Depois do que você passou comigo em Potadeia, não ouse pensar que qualquer coisa que você faça me afastaria, Xena.” Ela fez uma pausa. “Olha… Eu acho que você… passou por algo realmente ruim… algo que ninguém mais que eu conheço teria conseguido superar.” Seus olhos brilhavam. “E eu quero que você saiba o quanto sou profundamente grata por você ter tido a força e a vontade de continuar, mesmo quando qualquer outra pessoa teria desistido.”
“Eu prometi, lembra?” O tom de Xena acariciou os ouvidos da barda, e isso trouxe um sorriso ao rosto dela. “Malditamente se eu fosse deixar uma montanha insignificante me fazer quebrar essa promessa.”
Gabrielle assentiu e levou os dedos da guerreira até seus lábios, beijando a ponta de cada um, seus olhos refletindo o profundo carinho que ela sentia. “Vou te ajudar a superar isso, Xena. Eu juro que não vou deixar você cair agora.”
A guerreira apertou os olhos fechados, lutando contra as lágrimas. “Você é mais do que eu mereço.” Ela murmurou, enquanto o sorriso da barda se alargava e um brilho de amor e compaixão preenchia seu rosto.
Com um leve sorriso, Xena deixou que sua mente relaxasse e se voltasse para a tranquilidade. Sabia que, com Gabrielle ao seu lado, qualquer desafio seria mais fácil de enfrentar. E quando a luz da manhã finalmente começou a tocar o horizonte, ela permitiu que seus pensamentos se acalmassem e os sonhos voltassem a invadi-la.
O mundo estava prestes a despertar e Xena estava pronta para enfrentar o que viesse. Com a ajuda da barda ao seu lado e a promessa de enfrentar juntos qualquer adversidade, ela encontrou paz na certeza de que, independentemente dos desafios que a esperavam, ela não estava sozinha.