No jantar de boas vindas à Conquistadora oferecido pelos nobres de Corinto em uma festa em honra da Sacerdotisa de Atena no palácio e usado para apresentação de alguns embaixadores, após revisar alguns planos durante a noite com um dos seus mais leais e antigos camaradas, Xena resolve partir em uma viagem sem rumo definido nem tempo para retorno, deixando para Terquien e Elthor o governo do Império e de Corinto por um tempo. Qualquer necessidade, Terquien saberia encontra-la.
Duas noites após a partida de Gabrielle para as terras amazonas Xena decidiu visitar a Guarnição de Mosinia e partir para averiguar pessoalmente algumas incongruências demonstradas nos últimos relatórios sobre a região de Pisatis.
Os vinte e cinco homens do primeiro pelotão saíram em missão de caça com a Conquistadora no romper da alvorada, encontrando uma clareira propicia para acampar a quatro marcas de vela a leste da guarnição de Mosinia e enquanto treze estabeleciam o acampamento os outros doze foram divididos em três grupos de quatro para cobrirem mais território.
O grupo que conseguisse capturar o maior animal ou a maior quantidade de carne antes que o dia terminasse seria o vencedor e receberia dos outros dois uma dúzia de barris .
O jogo já havia sido iniciado e Hisar sabia que por mais sorte que seus irmãos tivessem nos outros grupos, ninguém chegaria nem perto deles em capturas. A Conquistadora dividiu seu grupo em dois para procurar rastros que indicassem um javali, cervo ou mesmo um urso .
Ela se sentia livre e pensava nas notícias que tinha recebido de Atenas e sobre grupos agindo a margem da lei, literalmente buscando aniquilar amazonas que se aventurassem dentro do Império.
A ideia da caçada já havia rendido bons frutos e após duas marcas de vela, seu

grupo estava na pista do cervo que possuía uma boa dianteira e corria como se sua vida dependesse disso.
Hisar não cansava de admirar as habilidades de sua líder. Era capaz de ficar imóvel marcas de vela a fio, com imensa paciência esperando o melhor momento para atacar e seus tiros, sempre certeiros atingiam o alvo impedindo-o de continuar a fugir. Caía no local, esperando apenas a vida ir embora pouco a pouco.
O sol estava a pino quando ele encontrou novamente o rastro, avisando os demais chegando a conclusão de que Xilant e Gaius ficariam mais pra trás com os cavalos, seguindo no mínimo uma marca de vela atrás, enquanto ele e a Conquistadora avançariam velozmente na pesquisa. Sem os cavalos, poderiam ir mais rápido pela mata, não precisando dar a volta nas zonas em que a vegetação era mais espessa, utilizando a mesma rota do cervo fugitivo.
Hisar sabia ter sido escolhido para parceiro da Conquistadora devido as suas habilidades escoteiras de rastreamento, mas principalmente de arvorismo. Era uma honra e faria o possível para não decepcionar sua senhora.
Após duas marca de vela os rastros indicavam que o cervo se aproximava do curso d’água e a Conquistadora lhe fez sinal de que atravessariam o córrego para a outra margem. Deixando sinal de pedras indicando o caminho a tomar para seus companheiros vadearem o riacho no mesmo ponto, foram encontrando mais adiante as marcas de cascos que esperavam.
Três marcas de vela caminhando contra o vento, correnteza acima eles avistaram o animal que evidentemente se desgarrara da manada alguns dias antes, pois todas as marcas eram solitárias e não demonstravam o contrario, indicando que ele estava num andar a esmo. Seu porte magnífico e suas galhadas atestavam tratar-se de um macho adulto de aproximadamente dez verões de idade .
Subindo nas árvores longe de sua presa, aproximaram-se de árvore em árvore e posicionando-se de frente ao animal, a Conquistadora calmamente ergueu seu arco retesando as cordas com lentidão, aguardando o momento em que ele deixasse de beber e levantasse a cabeça. Fixou seu olhar e contando as batidas de seu coração, deixou voar a seta no intervalo exato entre duas batidas, atingindo o cervo que tomba de imediato. Acertara-o no coração.
Aproximaram-se do espécime, aguardando a morte completar seu ciclo. Percebendo que ele já não respirava, sentaram-se nas pedras para esperar seus companheiros que não tardariam a chegar.
A Conquistadora estava satisfeita e Hisar iniciou uma fogueira para serem mais facilmente localizados por seus companheiros e levarem a carga para o acampamento. Uma marca de vela depois Xilant e Gaius alcançam a Conquistadora que faz com que Giltar se abaixe e os quatro num esforço coordenado conseguem acomodar o cervo em sua garupa.

A caçada havia sido produtiva, pois o cervo vinha a completar de forma brilhante o porco do mato e os coelhos que haviam apanhados naquela manhã e pendiam na sela de Gaius. Gaius dá umas risadas .
– Creio que não deixamos coelhos suficientes para que eles vencessem nosso amigo de quatro pernas ali.
– Hisar não esconde a satisfação de ter obtido êxito na missão. A vitória é nossa.
Não tem equipe melhor, não te parece Xilant?
– Provavelmente não haverá um animal maior por estas paragens, mas não podemos desconsiderar os animais pequenos nem que os outros também são bons caçadores Hisar, mas não esqueças teu lugar.
– Não quis mostrar desrespeito Conquistadora, apenas estava dizendo que formamos uma boa equipe de caça ao capitão.
– Nenhuma ofensa tomada, Hisar. Vamos voltar na facilidade , homens. Creio que acabamos de obter do primeiro pelotão uma dúzia de barris.
Xilant começou uma canção de soldados, sendo seguido por seus companheiros. Neste por do sol Xena cavalga em silencio, percebendo a falta que sentia de estar no campo com seus homens e não naquela corte sufocante com suas intrigas e nobres gananciosos. Por algumas marcas de vela, gozava de uma liberdade a muito abandonada. Neste momento tudo que desejava era acampar sob as estrelas, saboreando uma carne obtida com seus esforços e conversar com os homens que
confiava com a sua vida.
Avistando o acampamento Hisar provoca Gaius a uma corrida.
– Duas moedas de prata que chego primeiro que vocês no campo.
– Nem que a Horda estivesse em seu encalço companheiro, o que acha capitão?
Duas dracmas?
– Acho que não ficaria bem chegar no acampamento disparados como crianças que ganharam pôneis. Acredito que Giltar mesmo carregando este peso duplo venceria qualquer corrida.
– Eu e Giltar não vamos participar rapazes, mas eu gostaria de ver esta corrida. Lembrem-se que quando os cavalos são equiparados é a habilidade do cavaleiro que faz a diferença. Para tornar as coisas mais interessantes darei pessoalmente vinte dracmas ao vencedor.
Chegaram num galopar desenfreado, onde Gaius venceu apertado e descendo com sua caça, deram seus cavalos para os companheiros responsáveis pela guarda e rindo dirigiram-se ao grupo que estavam reunido e comemorando em torno da fogueira central.
– Chegaram na hora Hisar ! Vamos ver o que trouxeram os retardatários .
Parcicles!
Parcicles era o cozinheiro do primeiro pelotão e havia sido designado juiz do

concurso.
– Teus coelhos e porco não são suficientes para passar a frente dos demais Gaius. Leoni e seu grupo capturaram um veado de sete verões e o grupo de Ademon trouxe cinco lebres e um porco do mato.
Leoni entusiasmado convida seus amigos a brindar a sua vitórial
– Senhores, pela primeira vez a Conquistadora não venceu uma festa de caçada!!!!!!! Creio que nos devem seis barris, Xilant.
Saindo da sombra, por detrás da barraca da intendência a Conquistadora se aproxima do grupo que discutindo não percebeu sua chegada.
– Não deve declarar o vencedor sem receber todos os prêmios Parcicles.!
– Conquistadora! Perdão minha senhora, mas eu estava avaliando as entregas e não dando veredicto.
– Então aguarde um instante, que os homens estão descarregando Giltar. Ele foi muito valente e eu não quis fazer com que presenciasse esta algazarra de vocês.
Seis homens entram no círculo trazendo o veado que Xena abatera.
– Este nos levou muito longe, mas valeu a pena, não concordas Leoni?
– Claro Conquistadora. É um espécime campeão. Eu devia saber melhor do que competir num jogo contra a senhora e sua equipe. Um brinde aos campeões meus amigos!!!!!!!!!!!!
Tendo as capturas entregues na cozinha do campo para retalhamento e preparação, a noite foi longa, entre risos , canções e histórias de caçadas. No dia seguinte, tudo embalado, o primeiro pelotão toma a estrada em formação dupla e passando pela zona rural, avistariam construções somente pelo início da noite.
A Conquistadora viajava incógnita usando um manto de curandeiro, carregando a insígnia de sargento, deixando Xilant assumir como oficial comandante deste grupo. Esta era agora uma viagem de investigação onde iriam averiguar os desvios de recursos e denuncias de desmandos que a inteligência levantou nas províncias a sudoeste do Império . Akiba havia levado a seu conhecimento que os impostos provindos da região estavam adequadamente distribuídos nos diferentes setores da administração mas de acordo com o informado, o hospício de Larínia estava negando atendimentos simples, alegando ter a loja de ervas desabastecida apesar de receber aporte de recursos e suprimentos constantemente.
A província de Elis sempre teve desavenças com o trono, mas quem estava por trás deste roubo em Larinia havia cometido um erro grave ao assassinar seus homens na estrada para Pisatis.
Xena decide que iriam trocar os coelhos e o veado por pouso e uma refeição quente na primeira granja que encontrassem. Xilant tinha ordens de buscar informações junto ao povo e requisitar espaço da granja para estabelecerem o descanso e cuidarem dos cavalos. De maneira alguma os moradores deveriam ser prejudicados

pelos soldados, pagariam por tudo que fosse consumido e pela hospedagem. Seu comportamento seria exemplar, respeitando os proprietários como homens livres da Grécia, acampariam no pátio da propriedade se não coubessem todos no celeiro e no dia seguinte ao anoitecer estariam na vila de Abelar .