Fanfics sobre Xena a Princesa Guerreira

Sou a amante dela.

Vim aqui para matá-la e agora sou amante dela.

E as pessoas sabem, e odeiam. Principalmente Theodorus.

Ele me disse que estou fodendo meu caminho até o topo.

Ele não está errado. Mas não era minha intenção.

Eu era uma garota simples com um desejo de vingança.

A vingança parece ter sumido e só o desejo permaneceu.

Honestamente, nem consigo dizer se é isso é bom. Me sinto como se estivesse fisicamente doente. Esse desejo permanente por ela me machuca o corpo.

Tenho encargos mais sérios agora. Obrigações. Ela me coloca na liderança de pequenas missões constantemente. As cumpro à risca. E percebo, surpresa, lealdades surgindo a meu favor. Homens e mulheres olhando para mim como olhariam para ela.

Lembro quando ela falou sobre poder. Acho que estou entendendo.

Percebo que se quisesse ter brinquedinhos, poderia.

Mas só quero um.

Você pensaria que a tendo como a tenho agora, eu a desdivinizaria mais.

Mas ela permanece sendo uma deusa aos meus olhos.

A deusa da dor, do prazer e da violência.

Ela não saiu dos meus sonhos porque se tornou realidade.

Não deixou de ser meu tormento porque se tornou meu êxtase.

A odeio, com tudo que sou.

Mas percebo, com realização estonteante, que tenho algum tipo de poder sobre ela. Tem algo em mim que a enlouquece. E confesso, isso já me faz sentir parcialmente vingada. Ela me enlouqueceu. É apenas justo que eu a enlouqueça um pouco.

Acho que ainda sou capaz de ler a alma dela.

Acho que sei o que em mim a afeta.

É que ela me deixaria matá-la, se eu quisesse. Eu poderia, se eu quisesse.

Eu quero?

Quero.

Vou fazer?

Não sei. Cada dia sei menos sobre tudo que eu achava que sabia.

Talvez um dia eu ainda a mate – quem sabe entre um beijo e outro, quando ela menos esperar. Mas, por ora, apenas saber que posso é o bastante. Talvez seja ela que um dia se canse disso e acabe comigo.

Sei que Theodorus certamente vai tentar. Ele tenta sempre me envenenar para ela. Mas não tem efeito, porque ela já sabe que sou veneno. Ela está me bebendo lentamente. Meticulosamente.

E chega o dia que ele tenta.

Quando não estou com ela, quando não estou em batalha, estou sozinha. Continuo sem amigos. Continuo sendo quem só fala quando precisa. Quando dou ordens, para tropas, para ela.

E num desses momentos solitários de tempo perdido, sinto e ouço.

Agarro o dardo antes que atinja meu pescoço.

Cheiro sua ponta. Está envenenada.

Não se passam segundos, outro dardo. Agarro e começo a correr na direção de onde ele veio.

Pego o maldito tentando fugir e o derrubo no chão.

– Tsk, tsk, Theo… porque esse rancor todo?

Ele se debate embaixo de mim, mas não consegue se libertar.

– Puta maldita! – ele esbraveja – você é uma porra de uma doença!

– Me diz, Theo… é ciúme?

– Você vai destruir tudo! Sei que vai! Só ela não vê!

– Não sabia que a tinha em tão baixa estima… – tiro a adaga da minha cintura, a minha favorita, a que ela me deu – o que devo fazer com você agora?

– Me mate logo, sua vadia! Quem sabe assim ela finalmente vê…

Soco o rosto dele e ele cospe sangue.

– Apenas ela pode me chamar assim, Theo. Seja educado.

– Pu…

O soco novamente e ele tosse. O amordaço, amarro as mãos e os pés dele. Depois o amarro num tronco de árvore.

– Não vou matar você. Ela vai decidir seu destino. Mas não vou levar você assim, na frente das tropas todas. Pode haver grande dissensão – o soco com força do estômago e ele tosse, sem fôlego – mas fique aqui aproveitando um pouco essa linda paisagem. Vou chamá-la… daqui a umas horas.

O deixo apodrecendo um bom tempo antes de levar Xena até ele.

Ela tira a mordaça dele com fúria. Ele imediatamente começa a disparar uma série de impropérios e ela o estapeia.

– Cala a boca, desgraçado – ela resmunga – você tem ideia da situação em que está me colocando? As tropas te admiram!

– Se você me matar, haverá motim – ele fala, seu sorriso sádico – mas se você se livrar dela, apenas uns poucos vão se lamentar. Seja sábia, Xena.

Ele está correto. Sinto uma mistura de medo e excitação. Me matar é muito mais vantajoso para ela. Ele é uma figura consolidada. Eu, apenas uma estrela em ascensão.

Encaro ele sorrindo e coçando meu pescoço, enquanto ele tenta me assassinar com os olhos.

– Você é completamente doente – ele resmunga.

– Certo, agora me conte uma novidade – faço um carinho no rosto dele e ele recua – Xena – falo devagar – o perdoe.

– Que? – os dois falam ao mesmo tempo.

– O perdoe. Eu o perdoo. Tadinho, ele não pode se conter. O entendo.

Ela balança a cabeça, incrédula.

– Callisto, você é uma oficial. Ele gostando ou não. E ele tentou te assassinar. Não posso deixar isso passar em branco.

– Mas também não pode matá-lo. E, suponho – olho para ela e mordo os lábios – não quer me matar também?

Ela bufa e balança a cabeça.

– Só resta o perdão – reafirmo.

– Não escute essa puta, Xena – ele começa – isso é algum jogo…

A voz dele some quando ela enfia uma adaga na barriga dele e o estripa. Ele cospe sangue, incrédulo. Uma parte de seus intestinos aparecem. Ele agoniza devagar.

– Você trouxe isso para si mesmo, maldito – ela abre mais a barriga dele – mas serei piedosa – ela sobe a adaga encharcada de sangue e enfia na garganta dele – vá em paz.

Em poucos segundos ele é um cadáver.

Ela passa um tempo encarando-o, parecendo não acreditar no que fez. Ela estremece e a adaga cai de sua mão. Às vezes tenho a sensação que, em alguns momentos, ela se assusta com a própria violência.

E, diferente de mim, ela tem o que poderia ser chamado de amigos no exército. E Theodorus era um deles.

Ela toca o rosto dele. Encara os olhos opacos dele. Depois me olha com algo que só posso classificar como angústia.

– Você… – ela grunhe – isso é por sua causa…

Estreito os olhos, tentando decifrá-la. Penso em me aproximar, mas temo. Ela parece um animal ferido.

– Por minha causa?

– Você fode minha cabeça, é isso – ela dá uma risada seca – eu não devia tê-lo matado. Realmente não devia ter feito isso.

Tomo coragem. A abraço por trás.

– Bem, você fodeu minha vida toda Xena. Que eu foda um pouco sua cabeça é apenas justo.

Ela põe a mão na testa e sacode a cabeça. Sinto ela se recostar em mim. Ficamos um longo tempo assim, em silêncio. Ela finalmente fala:

– Posso perder metade do exército por conta disso… – a voz dela é cansada.

A aperto mais contra mim. Colo meus lábios em seu ouvido. O suspiro quase imediato dela faz meus dedos apertarem mais.

– Se desfaça do corpo. Diga que o mandou em uma missão. Já fez isso antes. Não resolve, mas te dá alguns dias para pensar – falo suavemente.

Ela grunhe. Se inclina na direção de meus lábios. Dou um beijo abaixo da orelha dela.

– Só uma opção – falo, antes de soltá-la.

Ela corre os dedos pelos cabelos e começa a dar passos pra lá e pra cá. Em gestos rápidos, corta as cordas que prendem Theodorus ao tronco.

Ela começa o trabalho, em silêncio, e a ajudo. Em pouco tempo, é como se Theodorus nunca tivesse existido.

Ela acha um fio de água corrente. Nos ajoelhamos e  lavamos juntas o sangue em nossos corpos.

Depois ela enfia as mãos na terra e percebo que ela está à beira de um colapso.

Não sei o que fazer. Jamais a vi assim.

– Ele era… – eu falo – um amigo, não era?

Ela permanece em silêncio, as mãos na terra, o rosto baixo.

– Sinto muito – falo. Essas palavras, em minha voz, soam absolutamente falsas. Não são, mas soam. Por pura falta de hábito. Não sei como pronunciá-las num tom de voz convincente. Não tenho muitos tons de voz. Tenho sarcasmo, ódio e, recentemente, luxúria. Compaixão? Não sei o som da compaixão.

Ela solta um riso estrangulado.

– Sente? – ela pergunta, sem erguer os olhos.

– Vejo porque você pensaria que não – odeio minha voz nesse momento. Não consigo modulá-la corretamente – mas sim.

– Certo – ouço na voz dela a descrença – e sim… ele era o que se pode chamar de um amigo.

– Então devia ter matado a mim – na minha mente, essa frase pode ser consoladora, mas não tenho ideia. Quão incapaz eu sou nessa arte.

– Sim – ela fala, ainda não me olhou – devia. Mas não vou. Porra, eu não vou matar você. Simplesmente não vou. Se alguém morrer nessa história, serei eu.

Ela se levanta num átimo, antes que eu tenha tempo de processar aquelas palavras.

– Vou falar pros outros que o mandei numa missão – ela resmunga e vai embora.

Eu permaneço à beira daquele fio de água, tentando entender.

Ela me fez uma promessa – não me matar. E uma oferenda – a vida dela.

Pela segunda vez na vida, choro sem saber o porquê.

Nota