Parte 1: Boas Vindas ou Nem Tanto
por IsaachintoshGabrielle abriu os olhos lentamente, ainda imersa nas lembranças da passagem pelo mundo dos sonhos. O peso da jornada espiritual parecia pulsar em sua mente, mas, ao focar a visão, ela encontrou uma cena que a fez prender a respiração: Xena estava ali, deitada em seu colo, dormindo profundamente, com uma expressão de serenidade rara, que só alguém verdadeiramente em paz poderia ter.
Ela estendeu a mão, hesitante, e os dedos deslizaram suavemente pelos cabelos de Xena, como se receasse que um toque mais firme pudesse dissipar a visão. Era quase inacreditável. Estava mesmo ali, após todo o sofrimento, toda a busca. Sentiu o calor da pele dela, o peso real sobre suas pernas, e sorriu involuntariamente.
Gabrielle sussurrou para si mesma: “Então… não era um sonho.”
Xena, ainda sonolenta, esboçou um sorriso travesso e, sem abrir os olhos, murmurou: “Eu também esperava que você fosse mais silenciosa, Gabrielle.”
A barda riu baixinho, contendo o impulso de apertá-la em um abraço, mas o sorriso de Xena apenas aumentou.
“Vamos testar se é ou não um sonho…” Ela diz em um tom aveludado porém travesso.
Com um súbito movimento, Xena abriu os olhos e, antes que Gabrielle pudesse reagir, atacou-a com cócegas nos joelhos, arrancando gargalhadas inesperadas. Gabrielle tentava se esquivar, rindo descontroladamente.
“Pelos Deuses, Xena! Hahaha! Pare com isso!”
Xena finalmente recuou, divertida, e se sentou ao lado de Gabrielle, ambas ofegantes, mas radiantes. Elas se encararam por um momento, e Gabrielle sentiu que as palavras não seriam suficientes para expressar tudo o que aquele reencontro significava. Mas o silêncio era acolhedor, uma linguagem entre elas que dispensava explicações.
“Então, ‘não era um sonho’?”, Xena repetiu, com um sorriso de canto de boca. Gabrielle retribuiu com um olhar emocionado, e, após um suspiro, brincou:
“Sim… mas agora você me deve mais uma, sabia?”
Xena ergueu uma sobrancelha, fingindo surpresa. “Ponha na conta então,” respondeu com aquele tom despreocupado e charmoso que era tão dela. Ambas caíram na risada, e a sala parecia vibrar com a leveza que só o reencontro entre duas almas tão unidas poderia trazer.
“Sabe, por um breve instante pensei que tinha te perdido para sempre”
Gabrielle interrompe o momento de descontração, sua voz entoa isso um pouco embargada, e falhando. Um suspiro confuso se segue e um novo silêncio toma o ambiente por alguns instantes.
“Eu conseguia te ver, mesmo não estando por perto, e na taverna, a vi no piquenique que fizemos em anfípolis…” Seu tom fica aveludado e nostálgico.
Xena a observa atenta, porém preocupada por dentro, na face esboça zelo e serenidade, suspira e segura a mão dela. Por um breve instante ela olha para a janela e comenta.
“Eu sei, não foi uma lembrança, foi uma visão, da sua passagem dos sonhos, quando você viu o prato, sua concentração foi tão forte, que acabou me acordando na sua passagem dos sonhos, aquilo aconteceu mesmo Gabrielle. Sou grata por ter ocorrido.” Ela suspira ao terminar de falar, e permanece introvertida por um instante, lembrando das cenas vividas.
Gabrielle respirou fundo, sentindo o peso daquelas palavras. Era como se, de alguma forma, ela e Xena estivessem ligadas por algo mais forte que o destino ou as circunstâncias. Uma força silenciosa e eterna.
“Eu também, foi especial ter visto você novamente após tudo o que ocorreu”
Gabrielle comenta quase que em um sussurro, seu suspiro denota a profundidade com a qual ela apreciou cada segundo daquela reunião momentânea. Ambas olham para a mesa, e notam ali repousadas as armas: O chakram e a espada de Xena, e a Katana que Xena tinha dado a ela.
“Sim, é ela mesma Xena, eu consegui resgatar seu corpo com ela, seu algoz caiu no fio do seu chakram, não por vingança, mas por justiça”
Gabrielle diz em um ritmo fúnebre, relembrando a cena do resgate de seu corpo, sua visão fica turva, revivendo a ânsia do instante em que ela se deparou com a realidade passada.
Xena a observa com angústia e remorso, se dando conta da profundidade do que se passou, sendo capaz de sentir o acelerar da pulsação de Gabrielle pela mão, mais fria agora, sua parceira está pálida e trêmula.
“Ei, vem cá, já passou tá? shhh… já passou, eu to aqui, contigo, nada vai nos separar, eu prometo, ok?”
Xena a envolve em um abraço caloroso, quase maternal, percebendo o quão profundamente ficou marcada a cena em sua parceira.
“Por favor, Xena. Não me deixe, não vou suportar se isso ocorrer novamente”
Gabrielle entoa isso em um sussurro, entre soluços, de modo falho na voz um pouco rouca. A guerreira absorve profundamente o peso das palavras dela e sente como se algo a golpeou em seu interior, seu emocional foi profundamente tocado com tamanho apreço.
Por um instante, Xena não respondeu, apenas a envolveu em seus braços, como se tentasse, com o próprio silêncio, acalmar o temor de Gabrielle. O mundo ao redor parecia ter desaparecido, e naquele momento, Gabrielle só queria acreditar que as palavras de Xena seriam eternas.
“Eu prometo Gabrielle, nunca mais vai acontecer, eu prometo, estou aqui, para sempre, ok?”
Seu tom é mais aveludado, apesar de rouco e sussurrado, também afetada pela emoção ela se recompõe para fortalecer ela, a acalmar.
Gabrielle confirma com a cabeça, a olha por um instante, e após tomar fôlego sussurra para ela: “Eu te amo”.
Xena retribui com um leve sorriso “Eu também, Gabrielle. Sempre foi você. Minha luz quando tudo era… escuridão,” sussurrou Xena, a voz baixa, quase como se falasse para si mesma.
Seus olhos brilham de emoção, e lentamente elas se reencontram em um beijo demorado, o mundo e o tempo pararam, nada mais existia somente elas, e sua união, suas pulsações e lágrimas se confundiam entre si de tão intensa a emoção.
O contato delas se aprofunda mais, totalmente envolvidas pelos seus corações pulsando quase que de modo sincronizado, porém relutantemente elas interromperam, e Xena a olha profundamente nos olhos.
“Estamos juntas, para sempre” Ela diz com um sorriso se formando no canto da boca enquanto apoia o maxilar de Gabrielle e recebe como contribuição um sorriso tranquilizador por parte de sua amada.
Aos poucos o tempo e o mundo ao redor vão retomando sua forma original, sentindo o peso e a proporção da promessa, elas seguram suas mãos sem dizer mais nada, somente as admirando entre si, e o significado dessa nova fase de suas vidas, o aprofundar da relação ocorrendo.
No entanto, o momento foi interrompido discretamente pelo som de seus estômagos roncando em uníssono.
“Acho que já é hora de comer algo,”
Xena comenta levando a mão ao estômago e se espreguiçando com um bocejo exagerado. “Afinal, parece que dormi como uma pedra.”
Gabrielle balançou a cabeça, sorrindo. “Só você para fazer piada com isso, Xena. Mas sim, precisamos comer, ou ficaremos fracas demais para a próxima batalha.”
As duas riram, e Xena, já se levantando, estendeu a mão para Gabrielle. “Vamos, antes que eu comece a pensar que estou ainda em algum limbo espiritual, faminta e alucinando com comida.”
Gabrielle aceitou a mão e se levantou, notando o toque quente e forte de Xena como uma lembrança tangível da força que ela sempre carregou. Desceram juntas para a taverna, onde o burburinho de conversas, risadas e o aroma da comida tomava conta do lugar.
Quanto mais se aproximam, mais alto fica o falatório caótico do lugar, conversas, discussões, risadas, burburinhos, os barulhos dos pratos e copos, o cheiro das refeições, porém cessa imediatamente quando todos notam Xena parando ao pé da escada, como se vissem uma aparição.
“Nossa, é mesmo ela? não é possível, que incrível, mas como?” Era possível ouvir sussurros semelhantes a esse no meio de burburinhos cochichados.
Ela nota e levanta uma das suas sobrancelhas, surpresa, porém estoica ela se aproxima do atendente e fala:
“2 ensopados de lebre por favor, e vinho, vamos estar naquela mesa, obrigada.”
O atendente acena com a cabeça e avisa ao cozinheiro enquanto elas vão em direção a mesa onde encontram Lord Helton e Virgil.
“Bem vinda de volta Xena, por favor, sentem-se aqui conosco.” Lord Helton diz com sua voz um pouco rouca porém aveludada em admiração e alegre.
Xena e Gabrielle aceitam com um aceno de cabeça e se juntam a eles na mesa. Lord Helton e Virgil se entreolham maravilhados enquanto recebem dela um sorriso e um cruzar de braços.
“Então quer dizer que o senhor liderou meu resgate, hm?”
Xena olha para Helton enquanto esboça um sorriso de admiração e apoia seus cotovelos na mesa, se inclinando um pouco para a sua direção, ansiosamente aguardando pela resposta dele.
“Era o mínimo que podia fazer como agradecimento”.
O lord responde após um suspiro de alívio e também de zelo, relembrando o modo como ela cumpriu a profecia que o fez retornar a liderança da ordem de Morfeus no vale próximo a terra natal de Xena.
Xena sorri e responde “Bom, obrigada” ela sorri acenando com a cabeça.
“O que pretendem fazer agora?”
Virgil quebra o momentâneo silêncio e recebe a atenção de todos da mesa. Xena olha por um instante para Gabrielle, que abre um pequeno sorriso
“Excelente dúvida, para casa talvez” e por debaixo da mesa segura a mão de Gabrielle.
As refeições chegam, Xena e Gabrielle se impressionam com a beleza dos alimentos e começam a atacar a comida, na velocidade necessária para denotar em quão boa hora veio esse momento para elas.
“Delicioso, diga-se de passagem” Gabrielle comenta tentando puxar assunto entre uma garfada e outra.
“Hm… uhum” Xena nota e complementa Gabrielle porém se limitando a somente entoar isso enquanto prossegue se alimentando.
“Sim, é um ótimo lugar, com boa comida, e de vez em quando com umas boas brigas, dignas de contos épicos”
Virgil comenta enquanto escreve algo em um longo pergaminho, o que chama a atenção de Xena e Gabrielle.
“O que está escrevendo Virgil?”
Xena pergunta curiosa, tentando decifrar o que está escrito lá. Virgil percebe e lê para elas, se trata de uma versão épica dessa jornada pelos sonhos, descrevendo como encontraram Gabrielle e a materialização repentina de Xena na cama.
Ambas por um momento param de comer e se entreolham admiradas com a riqueza de detalhes que Virgil descreveu as cenas, profundamente tocadas com tamanha dedicação.
“Sabe… Seu pai com certeza está muito orgulhoso de você agora Virgil, mandou muito bem na narração”
Xena pondera, dizendo isso mais para ela mesma do que para o jovem, que levanta o rosto em um suspiro humilde porem satisfeito com a resposta dela.
“Ficamos lisonjeados e honrados por ter desfrutado desse belo jantar com as senhoritas, porém temos de retornar ao Vale, tenho de estar lá para um evento regional onde Virgil irá contar algumas histórias sobre vocês, e já sabem, quando quiserem podem se sentir a vontade para voltarem lá no vale.”
Lord Helton sorri enquanto comenta antes de se levantarem.
Xena e Gabrielle como um gesto nobre se levantam e os agradecem com um abraço, e observam eles partindo para o noroeste, em uma carroça.
“Esses dois viu, quem diria” Gabrielle comenta em um desabafo, mais para ela mesma, porém Xena ouve e sorri um pouco enquanto apoia um dos braços sobre os ombros de Gabrielle.
“Sim, foram muito nobres conosco, têm minha gratidão, com certeza” Xena entoa isso de modo reflexivo, denotando o quão profundo o gesto de zelo deles para com Gabrielle e ela mesma.
“Xena, olha aquilo ali” Gabrielle aponta para o centro da vila portuária, são quatro homens armados, estão rendendo um comerciante que estava de passagem, em plena luz do dia, o homem acuado está visivelmente preocupado.
Os quatro bandidos estão com punhais apontados para ele, falando algo para o amedrontar, apesar de sussurrar, Gabrielle e Xena possuem um ouvido aguçado e conseguem ouvir o que é falado pelo líder
“Não se mexa e entregue o saco de dinheiro, sabemos da venda, e queremos ele, se não você fará uma viagem de ida para tártaros.”
Xena e Gabrielle se entreolham, e acenam com a cabeça já planejando como irão prender esses criminosos, e imediatamente partem na direção deles, de modo discreto.
Xena vai andando normalmente pelo canto direito da rua, enquanto gabrielle acompanha à esquerda, rente as paredes das cadas na pequena calçada de grama, sempre mantendo seus olhos cravados nos bandidos.
A poucos metros de distância, Xena acena com a cabeça e com o cabo das espadas, ambas desfere violentamente um golpe no canto dos 2 bandidos que estavam nas pontas da fileira que acuava a vítima, ambos imediatamente vão ao chão desacordados.
Os outros 2 que permaneciam em pé resolvem entrar em combate com elas, porém já estavam esperando por isso, tomando uma postura defensiva.
Ambos os criminosos desferiram golpes grosseiramente violentos, mas desajeitados, Xena e Gabrielle percebem que eles confiam somente na força e não na técnica, sendo mais facil se desviar dos golpes, o que resulta em uma bela dança acrobática performada por elas.
Entre os movimentos, os bloqueios com as espadas ocorrem ocasionalmente, Xena sorri, ri e diverte-se com a imperícia de seu oponente.
“Olha só que fortão que ele é… vamos, me acerta, se for capaz” Ela cantarola, com seu olhar já sedento por uma luta, o bandido fica surpreso, leva uma rasteira e tem a espada de Xena sobre seu pescoço, e ela o olhando sorrindo, com as sobrancelhas abaixadas, ela respira mais forte, forçando a impressão de que está ofegante, para o amedrontar, o que foi bem sucedido.
Enquanto isso, Gabrielle repete os gestos de Xena, porém adotando uma postura de luta mais próxima das feitas por samurais, sem exceder-se nos passos para desviar dos golpes. Apesar de Xena estar focada no seu bandido rendido, ela discretamente aprecia com admiração a evolução de gabrielle, uma barda, e agora guerreira com exímia elegância, sutileza nos golpes.
Não demorou muito para Gabrielle o fazer cair em um último golpe e o imobiliza, batendo algumas vezes com a parte lateral da katana na retaguarda do bandido, como se fosse uma mãe corrigindo o próprio filho.
“Que… isso… sirva… de… lição… para… nunca mais… roubar ninguém!” Gabrielle intercala cada palavra com um golpe, fazendo com que o bandido grite, pedindo desculpas.
“Prometa, nunca mais fará isso com ninguém.” Gabrielle assume um tom autoritário, Xena se impressiona discretamente.
“Prometo, eu prometo! Para, por favor, eu imploro!” O bandido geme um pouco ainda sentindo o ardido da palmatória.
“Bom menino, agora fique aqui e não suma, se não a conversa vai ser pior.” Gabrielle bufa um pouco e olha para Xena que já estava a olhando impressionada.
“Muito bom Gabrielle, mandou bem, tô orgulhosa” Xena disse, entre risos, enquanto a barda dava o último golpe no bandido. “Nunca vi alguém receber uma lição de moral tão boa.” Gabrielle sorriu, fazendo uma pequena reverência em direção a Xena.
“Então vamos ao que interessa, quem contratou vocês, o que fazem aqui, e por quê assaltaram esse comerciante?” Xena mantém sua espada sobre o pescoço do bandido que ela rendeu.
“Íamos só pegar o dinheiro, nada mais, eu juro!” O bandido está atônito com a cena, porém Xena continua com seu olhar frio para ele.
Gabrielle e Xena se entreolham, e notam que a vítima está lá, paralizada na frente delas, atônita com a cena. É um homem de idade avançada, sua bolsa possui algumas ervas medicinais, claramente para uso pessoal, no seu tratamento.
“Senhor? O senhor está bem? O perigo já passou, eles te machucaram?” Gabrielle pergunta para ele, que acena com a cabeça de que está bem, porém Xena nota que a mão dele foi ferida por um dos criminosos, e sua face escurece.
“Quem fez isso com ele… garoto?” Sua voz entoa mais grave, com um olhar predatório. O jovem desvia o olhar e fala “Não sei.”
Xena levanta uma sobrancelha, seu rosto se inclina para o lado, ela guarda a espada, seu rosto gradualmente fica mais sério, aprofundando a sensação de ira percorrendo em suas veias. Com muita precisão ela aplica o golpe do beliscão no pescoço e o jovem paraliza catatônico.
Xena se levanta, cruza os braços e dá uma volta em torno de si mesma, olhando aos arredores enquanto diz “Eu acabei de cortar o fluxo de sangue para o seu cérebro. Você estará morto em 30 segundos se não começar a falar quem fez isso com ele, e por quê queriam os medicinais desse senhor.”
Ela para o olhando, agora seu olhar mudou para outro sedento por sangue e medo, inquisitivamente ela o encara de braços cruzados e cantarola “25 segundos.”
O bandido começou a tremer, o suor escorrendo de sua testa enquanto os olhos se arregalavam, buscando uma escapatória que ele sabia não existir. “Por favor… eu… eu só estava seguindo ordens…”
“20 segundos…” Xena disse, a voz fria dela ecoa de modo aveludado, porém aveludado de um modo sombrio.
Gabrielle observava a cena em silêncio, o olhar firme, mas uma sombra de preocupação cruzava seu rosto. Mesmo que já tivesse visto Xena usar esse golpe inúmeras vezes, a intensidade da situação nunca deixava de impressioná-la.
O bandido olha para ela vidrado no que escutou, ele começa a tremer, o mundo começa a desaparecer, diante dele, somente permanecendo ele ali no chão olhando para Xena, que o encara com um olhar mais predatório ainda.
“Estavamos numa missão, para recolher essas ervas, uma poção para fortalecer nosso exército… nosso chefe, Gaius, quer controlar todo o sul da grécia, rapidamente…” O jovem balbucia rapidamente.
Xena vendo isso, se aproxima vagarosamente e desfaz o golpe, ele imediatamente retorna a respirar normal e a corar para sua tonalidade de pele original, porém se mantém deitado, apoiado pelos cotovelos no chão, para manter seu torso elevado e a olhando ofegante.
“Muito bem, e onde está esse Gaius? Hm?” Xena levanta uma das suas sobrancelhas, mantendo o mesmo olhar, o que acrescenta mais uma sensação ao interrogatório, a vigilância sombria dela assombra o jovem, que se assusta.
“Na fronteira leste, 1 dia de caminhada pela estrada que ruma em direção aos turcos.” o jovem gaguejou, sua voz quase um sussurro ao mencionar o nome de Gaius, como se o simples ato de pronunciar o nome pudesse lhe trazer consequências.
Xena lançou um olhar para Gabrielle, e em um instante silencioso, ambas entenderam a urgência da nova ameaça. Gabrielle assentiu levemente, já antecipando a próxima etapa de sua jornada.
Ela retorna seu olhar para o jovem bandido, e percebe que há algo ainda a esclarecer, e pergunta ainda ajoelhada sobre uma das pernas.
“Há quantos soldados no acampamento dele?” Ela o olha, e apoia o cotovelo sobre o joelho enquanto esfrega as mãos, dando uma nova sensação de que ela está pronta para aprofundar ainda mais o interrogatório, sua face estoica revela sua ansiedade para que ele pare de cooperar e ir além, ela deseja mais, e denuncia isso com seus gestos.
“Eu… não posso, ele vai se livrar de mim se eu contar…” Ele treme mais um pouco, temeroso com as consequências que ele pode ter gerado para seu chefe.
“Ah, valentia e lealdade? Adoro,” Xena murmurou, um sorriso frio surgindo em seus lábios. “Sempre tornam as coisas… mais interessantes.”
Xena para por um instante acrescenta um tom de indignação silencioso no olhar e na fala, e se aproxima lentamente dele, o olhando fixamente, abrindo um sorriso distinto, e um tom enovelado.
O jovem se contorce levemente sob efeito do olhar, não consegue desviar, parece hipnotizado com o movimento inesperado dela, e ele emudece pasmo com o efeito dela, e começa a ficar pálido de pânico.
“Onde está sua coragem agora, hm? Não aguenta nem um olhar direto? Justo? Continue assim, por favor (sua voz fica mais enovelada), estou ansiosa para fazer você falar, e vai falar, até perder a voz…” Ela se aproxima mais, agora falando de um modo mais envolvente, um tanto sedutor “Você não é capaz nem mesmo de imaginar o que posso.. e vou fazer para você contar tudinho, então, continue, eu te peço.” Seu olhar é friamente obscuro e risonho.
O jovem bandido tentou desviar o olhar, mas algo em Xena o prendia. Uma gota de suor escorreu por sua testa, e ele engoliu em seco, como se estivesse diante de uma fera prestes a atacá-lo.
“Última chance,” ela sussurrou, a voz baixa e penetrante. “Ou fala agora… ou vamos descobrir juntos até onde essa valentia durará.” Seu olhar acrescenta uma nova sensação, de súplica sombría, subliminalmente pedindo que ele continue a resistir, para ir além.
Gabrielle, apesar de ter visto isso antes, não deixa de esconder sua preocupação, porém admirada com o controle que Xena demonstra nessa atuação, ela nota a interação tomando uma nova forma, uma espécie de controle emocional, dominação sendo feita.
O jovem por um instante fica em silêncio, e ela acrescenta uma nova expressão facial ao contexto, surpresa irônica, e com um tom sadicamente enovelado ela diz
“Own, que fofo… nosso queridinho quer se exibir como um homem para nós, não é mesmo? Muito bem… vamos começar…” Xena inclinou levemente a cabeça, uma satisfação fria dançando em seu olhar, como se apreciasse cada segundo em que o bandido perdia o controle.
Ela começa a se aproximar mais, seus dedos replicam a posição do golpe do beliscão, porém param de repente quando ele solta um berro “Não, eu falo, eu falo, por favor, para!!!”
“Ah, que pena. E eu estava me divertindo,” Xena disse friamente, deixando que suas palavras fossem a última lembrança da ameaça que pairava no ar.
Ao ouvir o grito de rendição do bandido, Xena encontrou o olhar de Gabrielle. Em silêncio, elas compartilharam um entendimento mútuo. Não era necessário dizer nada; ambas sabiam o peso daquele momento.
“São 80 soldados, dois pelotões de combate, e mais 2 esquadrões de reconhecimento, 88 homens ao total, e o Gaius” O jovem diz aceleradamente.
Xena estreitou os olhos, absorvendo cada palavra. A ameaça parecia crescer em sua mente, mas sua expressão se mantinha firme, revelando apenas um lampejo de determinação sombria.
“88 homens, que festão hein, para quê tudo isso, não é só para meros saques, com certeza…” Xena murmurou, um sorriso frio surgindo no canto dos lábios.
“Ele está trabalhando aliado com os turcos, preparando terreno para uma possível invasão.” O jovem complementa ainda ofegante.
Gabrielle soltou um leve suspiro, sentindo o peso da missão à frente. Mas ao olhar para Xena, seus próprios temores dissiparam-se. Com Xena ao seu lado, sabia que estariam prontas para o que viesse.
Xena estreita seu olhar, sentindo um arrepio percorrendo toda sua coluna, e arrepia, as íris dos seus olhos se dilatam enquanto permanece encarando o jovem, e ela permanece parada por um breve instante, o olhando de modo penetrante.
“Que maravilha, vocês são bem criativos, sabiam?” Seu tom de voz transborda ironia e desgosto, sabendo a gravidade da situação. Ela se levanta, amarra cada um dos bandidos, e os põe em pé.
“Muito bem, rapazes, vocês vão para a prisão… Gabrielle, avise o mensageiro da vila, peça para ele avisar Atenas sobre os turcos, vamos precisar de todo mundo dessa vez.” Ela diz após um suspiro.
Gabrielle acena com a cabeça sabendo da gravidade da situação, e após ajudar ela a prender os ladrões, corre até o posto de correspondência e avisa o mensageiro.
De onde Xena está, ela nota o ar de urgência no mensageiro, que imediatamente sai em uma brutal disparada rumo ao norte, espalhando uma gigantesca poeira de terra por onde passa, a toda velocidade.
Gabrielle volta, acena com a cabeça de que a mensagem foi enviada e ambas conduzem os bandidos para a prisão da vila.
Gabrielle se aproximou, o olhar determinado, e encontrou os olhos de Xena. “Estamos prontas para isso,” ela murmurou.
Xena assentiu, uma faísca de orgulho brilhando em seus olhos. “Como sempre, Gabrielle.”
“Temos pouco tempo antes que o exército de Gaius e os turcos avancem,” Gabrielle observou, olhando para o horizonte. “Precisamos estar preparadas.”