À medida que avançam pela trilha sinuosa, a paisagem ao redor se transforma em um espetáculo de cores vivas e sons encantadores. O tapete de folhas secas dá lugar a um manto verde exuberante, enquanto o melodioso cantar dos pássaros ecoa pelas copas das árvores. O vento, suave e constante, faz as folhas dançarem em uma coreografia hipnotizante. Diante delas, emerge uma estrutura imponente, erguida como um guardião silencioso da floresta. O templo, adornado com esculturas gregas que parecem cobrar vida sob os raios do sol, exala uma aura de mistério e poder. Gabrielle, cautelosa, varre os arredores em busca de qualquer sinal de perigo, mas sua curiosidade é despertada pela magnificência da construção.

“Lembra-se deste lugar?” Xena indaga, sua voz carregada de memórias antigas. Gabrielle franze o cenho por um instante, mergulhada em reflexão. “Não tenho certeza… Parece-me familiar, mas…” Antes que possa concluir, Xena volta sua atenção para o templo, um lampejo de reconhecimento iluminando seus olhos. Enquanto se aproximam das enormes portas de madeira, marcadas por cicatrizes de batalhas passadas, um murmúrio inaudível parece ecoar no ar. Gabrielle ergue uma sobrancelha, alerta, mas não detecta nenhum sinal de perigo imediato. O ruído, um sussurro distante e indistinto, desaparece tão rapidamente quanto surgiu, deixando-as com uma sensação de inquietação.

Gabrielle, por sua vez, observa atentamente sua companheira, detectando uma tensão sutil em sua postura. “Ouviu isso?” ela pergunta, mas Xena sacode a cabeça em negação. O olhar da barda se fixa nas sombras ao redor, instintivamente em guarda contra qualquer ameaça invisível que possa se aproximar. Um estalo ecoa pelo ar, seguido pelo silêncio tenso.

Xena por um instante permanece olhando para sua companheira, aguardando ela identificar a ameaça. De repente, ela percebe seus olhos se abrindo mais, um erguer da mão, próxima de seu rosto, e um leve incômodo em sua bochecha. Xena busca olhar para a mão de Gabrielle, e nota aquele perigo contido, a mão de sua barda segurando uma flecha.

A guerreira toma a dianteira, empurrando uma das pesadas portas do templo, enquanto Gabrielle permanece vigilante às suas costas. O som de mais flechas sendo lançadas contra a madeira sólida faz o coração de Gabrielle acelerar, mas ela se concentra em garantir que a entrada esteja segura antes de se permitir relaxar.

Com a porta finalmente trancada, Xena vira-se para sua barda, preocupação estampada em seu rosto. “Você está bem?” Sua voz é suave, mas carregada de cuidado. Gabrielle assente, embora ainda se sinta tensa com a proximidade do perigo. Um pequeno arranhão em sua bochecha é uma lembrança palpável da ameaça que enfrentaram. “Sim, estou. Obrigada.”, ela responde, forçando um sorriso reconfortante. Xena, por sua vez, desvia o olhar para o interior do templo, onde pilares antigos se erguem como sentinelas silenciosas. Gabrielle se junta a ela, seus passos ecoando pelo saguão amplo e majestoso, enquanto exploram os mistérios que aguardam dentro das paredes antigas do templo.

Gabrielle permanece em um estado de atenção, assim continuando a examinar o rosto da guerreira, Foi por pouco… tenho de me concentrar… acalme-se gabrielle… foi só um susto… A barda continua a reparar naquele  pequeno ponto vermelho na bochecha da guerreira, de onde escorre um pingo lentamente, porém usa uma parte de sua manga para a limpar. Sua guerreira, levanta um leve sorriso e segura sua mão “Obrigada…”. 

“É um prazer… sempre,” responde Gabrielle, correspondendo ao sorriso. Xena vira seu olhar para o saguão imenso, cheio de pilares da altura de gigantes. Gabrielle a segue, enquanto ela se desloca lentamente pelo lugar, tateando decorações e ornamentos, até chegar numa mesa empoeirada, próxima ao altar, e permanece olhando fixamente para a mobília. A barda para ao lado dela. “Que lembrança será que ela está tendo… será que tem a ver com a sacerdotisa Lya? Estranho ela não ter aparecido, mas esse templo não é da…” Xena busca por sua mão, segurando-a forte, desta vez entrelaçando os dedos.

“Foi aqui… que… quase te perdi… e vi sua força…” Xena permanece encarando o móvel, com um olhar angustiado por um breve instante… Antes de Gabrielle perceber, ouve vozes, explosões ao longe, alguns sacerdotes correndo entre os leitos, enquanto atendem os enfermos trajados em armaduras de combate. Diante delas, surge a guerreira tentando socorrer sua barda, recentemente abatida durante uma tentativa de resgate. “Céus… não é possível… foi aqui que…” A barda permanece paralisada enquanto acompanha a angústia daquela figura tão parecida com ela, acamada, porém ansiosa pela atenção de sua salvadora.

A guerreira se afasta para falar com um soldado, cujo tom começa a se elevar para uma pequena discussão. Xena acompanha Gabrielle admirando a jovem barda no leito. “Eu não devia ter saído do seu lado…” Gabrielle sente seu coração acelerar, temendo o que estará por vir, então, de repente, a jovem solta um gemido rouco, aparentando não conseguir respirar. A guerreira volta rapidamente e a examina, mas aquela agonia explode em espasmos incontroláveis. Ambas assistem, sentindo seus corações galoparem entre os dedos, suas pulsações se confundirem.

Poucos segundos depois, a jovem para, inanimada. Sua guerreira a olha por um instante, temendo o pior, e tenta aplicar todo seu conhecimento para reanimá-la, porém, em vão. Gabrielle sente um puxar e de repente se vê envolta por ela, desta vez, mais forte, mas sente o tremor que percorre seu corpo inteiro. Seus olhos buscam conforto enquanto Xena se acalma. “Ela está aqui na sua frente, viva! Você sabe o que vai ocorrer, eu não quero te perder, fique comigo, para sempre…” A barda retribui o abraço, ouvindo de sua amada “Não me deixe… Não me deixe…” Gabrielle percebe que seu falar se confunde com o da guerreira socorrista. “Acorde…” Xena sussurra enquanto observam a cena, ao mesmo tempo em que a figura vai aumentando seu desespero, ordenando a jovem a acordar, e a amada observa, reproduzindo discretamente a ação, batendo levemente a mão de sua barda em seu busto, até que em uma última tentativa, a jovem volta à vida.

A guerreira a abraça liberando um alívio contagiante, que atinge Xena e Gabrielle. “Seu olhar, durante todo esse tempo… não era protetor… era zeloso… Céus… que sorte!” A barda dirige o olhar para sua amada. “Obrigada…” Xena retribui o olhar. “Eu quem agradeço, por você existir.” Xena permite-se afundar nos braços protetores da barda. O coração delas bate em uníssono, ecoando o alívio compartilhado pela jovem que agora está segura.

“Você está bem, Gabrielle?” A voz de Xena é suave, mas carrega uma preocupação evidente. Gabrielle assente, sentindo a familiaridade reconfortante do abraço de Xena. “Sim, estou… Ainda tremo um pouco, mas… obrigada por estar aqui… Como senti falta disso…”. Os olhos de Xena encontram os de Gabrielle, revelando um misto de gratidão e devoção. “Sempre estarei aqui, Gabrielle. Você é minha prioridade, meu fogo na escuridão.”. A barda solta um leve riso, levando a guerreira a levantar uma sobrancelha perplexa. Ela nota a confusão. “Tá… o que foi tão engraçado?”.

“Fogo na escuridão, lembrei da jovem em Amphipolys…”. Xena levanta a outra sobrancelha de surpresa, e se deixa levar pela piada fora de hora, acompanhando os risos de sua amada. “Ah céus… e eu senti falta desse seu bom humor…”. A barda então solta um suspiro e comenta “E eu de você… Essas memórias são lindas, mas…” será que devo perguntar, queria poder entender… O que tudo isso tem a ver com o que costuma ocorrer na passagem dos sonhos, onde estão meus desafios e inimigos? A barda se interrompe mordendo seu lábio inferior.

Xena demonstra um leve incomodo, arqueando uma sobrancelha “Pode perguntar, sem medos, tudo bem?”, a guerreira se mantém atenta aguardando. “Certo… Eu não entendo uma coisa, essa é a minha passagem dos sonhos, não era para ter desafios com inimigos passados, como ocorreu contigo?”. A barda, se incolhe um pouco, temerosa da resposta, porém sua guerreira levanta uma mão, e ajeita o cabelo dela, enquanto pensa na resposta.

“Eu diria que sim, porém, as vezes, nosso maior inimigo está aqui…” A guerreira pausa por um instante, e encosta em seu coração. “Chegou uma hora que tive de enfrentar minha escuridão, e… você foi a chama que me iluminou…”. Gabrielle esboça um sorriso surpreso, porém ela começa a sentir um cansaço, as paredes do lugar começam a se aproximar, enquanto sua amada parece se distanciar. Que sensação é essa, o que está acontecendo? Xena percebe o mal estar repentino, e a segura com os braços. Ela está enfraquecendo… seu corpo… seu tempo está acabando… ela precisa terminar sua passagem, antes que seja tarde… “Gabrielle… Ei… estou aqui… Você precisa chegar à saída da passagem.”

Gabrielle ao ver seus olhos azuis, cheios de preocupação, se concentra por um instante, e reúne novamente suas forças. Xena a acompanha pelo olhar, sabendo de sua luta interna, torcendo pela vitória, porém ouve seu sussurro. “Não sem você…”. A guerreira a olha, surpresa e perplexa. “Vamos, então…” A barda segura em sua mão e se dirigem à saída do templo.

“Gabrielle… lembre-se, essa é sua passagem, você a controla…” Xena a encara por um leve instante, levantando um leve sorriso. “Nossa passagem…” Complementa a barda. Olhando ao redor elas percebem a saída para outra clareira, e nela uma parede rochosa alta, bem semelhante a do início da passagem. “Vamos, estamos quase lá” Gabrielle aponta na direção da saída e ambas disparam em uma corrida.

Ao redor delas, o ambiente se transforma novamente, o cantarolar dos passaros se distancia, até sumirem, a escuridão de uma noite sem lua vai se aproximando rapidamente, acompanhado de um silêncio absoluto, exceto o som da respiração ofegante de ambas. Seus passos duros e secos. No centro da clareira, encontram uma nova figura, somente é possível ver sua silhueta como uma sombra a frente de tochas perfiladas. A forma desconhecida aos poucos vai exibindo mais detalhes.

Um ser forte e alto, trajado em uma armadura de couro escuro, de aparência formosa, com uma espada em sua cintura. Uma risada começa a ser ouvida partindo dessa figura misteriosa. Estando mais próximas dela escutam uma voz retumbante “Meus parabéns, sejam muito bem vindas ao teste final.” Gabrielle sente a mão de sua guerreira apoiar sob seu ombro, seu olhar se afia tentando desvendar a identidade da pessoa. Essa risada, o tom irônico na voz, só pode ser… Ares? A figura ouve seus pensamentos. “Muito bom, Gabrielle, surpresa!”. Ares abre os braços se apresentando.

“É interessante ver quais foram suas decisões, porém você ainda não encontrou a chave para sair… Me diga, como é estar à sombra dela?”. Ares aponta para Xena, que a encara com um olhar penetrante, o sondando. “O que você quer, Ares?”. Gabrielle cruza os braços, esperando uma resposta. “O que eu quero… pergunta interessante, eu quero o que sempre quis, um mundo regido por uma grande guerreira, conduzindo ele à paz e prosperidade, porém, o foco aqui é você, o que você quer, hum?”. Seus olhos se abrem um pouco mais e com os braços cruzados encara a barda.

Gabrielle permanece em silêncio por um instante, enquanto Ares levanta uma mão e aponta para à esquerda. “Muito bem, vamos refrescar sua memória…”. Da direção que ele apontou, surgem duas personagens familiares, se confrontando em uma discussão acalorada, os berros retumbantes ecoam pelo lugar, ambas sentem em seu íntimo o vibrar e o peso do clima.

“Gabrielle, ela é o mal encarnado, vai trazer a destruição ao mundo, ela não é sua filha!” Diz a figura mais alta, imponente. Porém é confrontada por sua companheira. “Ela é minha filha!!!” Aquele arrepio sombrio começa a tomar forma dentro delas, um tremor começa a ser sentido. Repentinamente a cena muda, para outro ambiente, outro lugar… Desta vez estão em uma casa menor, decorada com mobílias comumente usada pelos centauros. Um menino permanece sentado próximo ao altar, cabelos levemente claros, longos, com um olhar semelhante ao da guerreira, os mesmos olhos azuis. Outra aparece, uma menina ruiva, de olhos verdes, carregando uma boneca, aparentando estar assustada, parece conversar com o menino, logo depois ele parece cair deitado sob o altar, em um sono profundo.

De repente, alguém abre a porta em disparada entra no recinto. “Solan? Solan… estou aqui agora, sua mãe está aqui agora, por favor, acorde…” A criança não esboça reação alguma. Gabrielle consegue sentir a dor percorrendo seu interior, drenando suas forças vitais tal como a uma vela acesa se derreterndo. Um arrepio tenebroso é sentido quando ambas escutam aquele uivo rouco e desesperado ecoando por centenas de metros, em negação ao ocorrido.

Logo depois, um novo ambiente, em um pasto verde, reparam haver uma jovem, e uma menina, a mesma menina da cena anterior, a jovem, reflete antes de agir, por um momento reluta, mas dá algo para sua filha beber, pouco depois ela se deita, e permanece inerte, a jovem, perdida em meio ao luto, ameaça tomar da mesma bebida, porém repensa e a despeja ao solo.

Ambas sentem e conseguem ouvir cada pensamento das figuras observadas. Para a guerreira, a dor ressoa com mais intensidade, seu corpo reage se encolhendo um pouco, como se estivesse sentindo algo a transpassar. Gabrielle percebe e a envolve em um abraço.

“Me perdoe… tudo isso, foi culpa minha… eu achei que você estivesse segura naquele templo… me perdoe, todo esse ciclo se iniciou por lá”. A voz da guerreira surge como um sussuro, entre gemidos e soluços. Gabriella assente em preocupação com sua amada. “Ei… calma, já passou, eu também me sinto culpada… me perdoe”. Aquela cena se desfaz e surge outra cena.

Desta vez, em uma taverna, uma nova figura jovial acomoda-se na mesa enquanto lê alguns pergaminhos contando histórias de sua mãe, outra pessoa permanece atrás dela, ao seu redor, três figuras fantasmagóricas seduzindo a barda a agir em vingança. Após alguns instantes, o golpe é desferido, e a leitora agora permanece deitada sob a mesa, um berro é escutado “Eve! Não!” e a atacante recebe um golpe na cabeça, caindo abatida e inerte ao chão, enquanto a mãe da jovem se aproxima. Aquela sensação já presente se intensifica em ambas, e de repente elas estão novamente a diante de Ares.

“Veja bem, Gabrielle… Quem ama cuida, não machuca, estou certo? E acredito que esses não foram momentos, tão… agradáveis, correto?” Ares anda ao redor delas “Você é inteligente, pense um pouco… tudo isso, valeu a pena? Tanto sofrimento, tanta dor, enquanto você queria ser igual a ela, ela te via como um peso, uma fraqueza, isso é justo depois de tudo o que você fez, tudo que você abriu mão… por ela? Eu, pelo contrário te dou duas escolhas: uma, junte-se a mim, e te tornarei numa rainha, não só das amazonas, mas do mundo e o regeremos em prol da paz e prosperidade, ou escolha… ela, e permaneça somente com sua lembrança”.

Xena volta seu olhar para Gabrielle, que permanece mirando ele como se fosse um alvo, uma presa a ser abatida, em seu interior, ela sente um arrepio surgir. Esse olhar, esse fogo que está surgindo, tenho de impedir isso, eu sinto… ela não vai conseguir se controlar… é um caminho sem volta…”.

“O motivo disso tudo foi você… você quem orquestrou tudo isso… eu não serei sua marionete!”. Gabrielle ergue sua voz, ansiosa para desembanhar sua katana, porém Xena entra na sua frente, segura em seus ombros e a olha fixamente. Um olhar penetrante, repleto de uma paz, expressivo o suficiente para atrair sua atenção. Vamos Gabrielle, eu não posso decidir por você, não lute, por favor… lembre-se do conselho… não se torne no que eu me tornei… por favor! A barda lentamente começa a relaxar suas mãos e esboça um sorriso meigo para sua amada. “Sabedoria antes das armas…”. Xena sente um alívio a preencher, soltando um suspiro.

“E então, já tomou sua decisão? O tempo está correndo…” Ares cruza seus braços enquanto faz surgir no ar uma ampulheta em contagem regressiva. Xena se vira para ele, e move-se para o lado dela. Gabrielle permanece o olhando por alguns instantes e assente com a cabeça. A ampulheta congela e Ares levanta as sobrancelhas, aguardando uma resposta.

“Eu, fui responsável pelas decisões que tomei… não importava as consequências… e quem me trouxe forças foi ela.” A barda acena para Xena, que acanha-se levemente. “Não me importo com o que decida fazer, a única coisa que quero, é estar com ela, para sempre, você gostando ou não…”, Gabrielle então puxa a guerreira em um abraço, pouco se importando com o olhar cínico lançado por ele. 

“Está decidido então, muito bem… Eu não queria ter de fazer isso, mas, lembre-se, foi sua escolha.” Ares suspira, faz um gesto com as mãos e desaparece no ar. Do alto do precipício descem duas figuras bem familiares, duas guerreiras aparecem, cuja aparência reflete a de Xena e Gabrielle, porém carregadas por uma aura tenebrosa, olhares vazios, escuros, somente sendo possível ver o reflexo das chamas das tochas acesas.

A dupla hostil se aproxima em um andar solto, relaxado, preenchidas por um sorriso sarcástico. “Finalmente, estávamos pensando que não chegariam até aqui…”. Gabrielle e Xena, com um olhar mais rígido as encaram, o silêncio predomina as quatro.

Gabrielle, está muito estranho… esse olhar delas é muito familiar…”, Repentinamente, ela escuta uma voz. “sim… parece bastante o olhar da… Alti, não acha?”. Guerreira e Barda cruzam seus olhares, sobrancelhas erguidas se seguem, ambas conseguem ouvir seus pensamentos. “Como você… está me escutando mesmo?” A guerreira, em aparente incredulidade, permanece aguardando uma resposta. “Sim… estou escutando, agora, como eu não faço ideia, mas é uma baita vantagem… Vamos usá-la ao nosso favor”. Xena assente com a cabeça “Certo, o que você tem em mente…? (tá isso ficou redundante, mas você me entendeu, certo?)”.

As duas permanecem em suas posições, punhos cerrados, em posição de defesa, Gabrielle mais a frente de Xena que ainda está recuperando suas forças. “Certo… da última vez, lembra do que ela fez… precisamos encontrar uma forma de persuadi-las, ou alguma distração…” Gabrielle tenta imaginar algumas alternativas, enquanto Xena a acompanha, uma a uma, são analisadas, porém, a última alternativa chamou a atenção. “Gostei disso… podemos nos aproveitar do ambiente, a final de contas, é nossa passagem dos sonhos, nós a controlamos.”.

Enquanto isso, suas oponentes se aproximam, porém param a alguns passos de distância. “Vejo que você amadureceu bastante, de uma jovem camponesa, para uma barda e guerreira, quanta versatilidade… Mas sua queridinha não gostou muito disso.” Cantarola a figura semelhante a Gabrielle. “E você, era tão forte e imponente, agora, só melancolia e fragilidade… Que patético, deixando uma camponesazinha qualquer te dar ordem unida, prefiriria que voce nem tivesse sobrevivido ao desafio do corredor…” A outra figura diz numa voz mais áspera e rouca.

Ambas permanecem em silêncio, se negando a proferir, ou demonstrar qualquer resposta, somente as sondando com o olhar concentrado. Suas oponentes, já impacientes, desembanham suas armas, preparam suas posturas de combate e tentam se aproximar, esperando um combate feroz, porém, sentem uma barreira invisível impedir seu avanço. Elas reparam que Xena e Gabrielle permanecem imóveis, porém seus corpos denunciam o esforço físico, a tensão estravaza de suas faces.

De repente, as duas figuras começam a ouvir em suas mentes “Esse não é seu território, você não tem poder aqui, essa é a nossa passagem dos sonhos… e nós ordenamos que vocês sumam.” A voz de Xena e de Gabrielle se misturam, e aproveitando o estado de choque de suas inimigas, iniciam um lento avanço. A cada passo dado, suas agressoras sentem um tremor, e reagem como se tivessem levado um golpe extremamente forte.

Após alguns passos, sua agonia ja era evidente, e em um golpe final, ambas erguem suas cabeças, levantam os braços para uma última explosão de força. De olhos fechados exploraram o máximo de foco possível, suas imagens se formam em suas mentes, e um sorriso é esboçado, elas ouvem gritos de pânico, misturados com gemidos, cada vez mais distantes, porém permanecem nesse esforço até não mais as ouvirem.

A presença delas deixa de ser sentida, somente restando as duas, uma escutando o coração da outra, enquanto relaxam, exauridas. Gabrielle procura recuperar rapidamente seu folego, enquanto que Xena amolece ofegante. Sua barda percebe e corre em sua direção, desta vez a tempo de oferecer um apoio. A barda a olha, sendo correspondida por aqueles saudosos olhos azuis, preenchidos por uma esperança jamais presenciada. “Ei… tudo bem?” Gabrielle, pergunta preocupada enquanto Xena assente com a cabeça e levanta um sorriso “Sim… Agora bem melhor.” arqueando uma sobrancelha. Gabrielle se prende no olhar de sua amada, seus rostos se aproximam e se encontram eu um beijo.

Adiante delas, surge na base do precipício uma porta de madeira maciça, com uma textura enrugada, Xena se levanta com a ajuda de Gabrielle e permanece encarando aquela porta, com uma seriedade profunda, ela sente um ardor nos olhos, e uma lágrima escapa. Gabrielle a envolve em um abraço, e sente o coração de sua amada galopar. “Então é isso…”. O olhar da guerreira não contém a frustração, como se estivesse a se despedir. Eu te amo tanto, minha barda… queria que ficasse para sempre comigo… ah se pudesse… mas te aguardarei em seu próximo sonho… nem que seja só por aqui, já me é suficiente.”

“Xena, calma… isso não é o fim… venha…” Gabrielle sorri para ela, e termina seu abraço caloroso, a porta está a alguns passos de distância e ela começa a andar em sua direção. Xena permanece com um olhar fixo, vidrado, lutando para censurar seu nó interior, ao ponto de não conseguir sentir mais seu corpo. Porém, vê seu braço se levantando, segurado com força pela mão de sua barda, que a puxa em direção a saída, de repente ela cruza seu braço no da guerreira, e seguindo o impulso dado por Gabrielle, atravessam juntas a saída em um salto.

Gabrielle volta a sentir sob suas costas uma maciez peculiar, o lado direito do seu corpo mais aquecido, porém não sente mais o abraço de sua amada. Surge nela uma confusa sensação de tranquilidade e abandono, porém determinada a vencer sua escuridão repentina, abre seus olhos, um pouco embaçados, e percebe ao seus pés, aquele manso ancião, acompanhado pelo jovem bardo, olhando assustados para ela. Antes de levantar, ouve um roncar familiar ao seu lado, tranquilo e profundo. Ela se vira, percebendo que não está só, aquela figura tão próxima, deitada em plena paz, seus cabelos longos esparramados no travesseiro, ela se aproxima mais, para conseguir ver sua face, olhos fechados, acompanhados por um sorriso inconsciente. A barda então levanta delicadamente sua amada, a reclinando sob seu colo, e enquanto alisa seu cabelo, permanece despreocupadamente a olhando, sem falar nada.