Fanfics sobre Xena a Princesa Guerreira
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“Unidas pela guerra, ligadas pela alma”

por Elizabete

Cena 1: O Incêndio de Anfípolis

O cheiro de madeira queimada atingiu Xena antes mesmo que a fumaça ficasse visível no horizonte. Ela parou no alto da colina, os olhos se estreitando, a mandíbula travada. Atrás dela, Gabrielle segurava seu bastão com mais firmeza que o normal.

— É… é Anfípolis? — perguntou Gabrielle, já sabendo a resposta.

Xena apenas assentiu. Seus olhos não se moviam. Havia um fogo antigo crescendo dentro dela, um que ela achava ter deixado para trás.

Desceram a colina sem dizer uma palavra. Cada passo aumentava a urgência, e logo as chamas podiam ser vistas consumindo os telhados, como serpentes dançando no escuro. Anfípolis estava sendo devorada.

Gritos ecoavam ao longe. Xena não hesitou — ela disparou em direção à praça central, onde um grupo de soldados com armaduras vermelhas e negras encurralava os aldeões. Os símbolos em seus escudos eram familiares demais: uma fênix dourada envolta em espadas cruzadas.

Gabrielle correu atrás, já girando seu bastão para derrubar o primeiro inimigo que cruzou seu caminho. Xena avançava como um raio, cada golpe seu era um lembrete de por que ela era temida.

— Xena, cuidado! — gritou Gabrielle, desviando de uma lança. Xena respondeu com uma cambalhota e arremessou o chakram. A lâmina ricocheteou em três capacetes, derrubando os soldados.

Em minutos, o grupo estava derrotado. Restavam apenas gemidos e chamas. Um dos homens, ferido, tentou fugir, mas Xena o agarrou pela gola e o ergueu no ar.

— Quem enviou vocês?

O homem tossiu sangue, mas sorriu, os dentes sujos de fuligem.

— Nós somos a justiça que você não completou. Os Filhos da Fênix renasceram, Xena.

Ela o largou com força. Ele caiu desacordado.

— Eu os destrui há anos — murmurou Xena, mais para si mesma.

Gabrielle se aproximou, ofegante, observando os símbolos queimados nos escudos caídos.

— Filhos da Fênix… você nunca me contou sobre eles.

— Porque achei que estavam mortos. Era um culto… mais fanático que qualquer exército que enfrentei. Eles acreditavam que a guerra era purificação. Que eu era a escolhida para conduzi-los.

Gabrielle se arrepiou.

— E o que você fez?

— Queimei o templo deles. Enterrei os líderes. — Xena fechou os olhos por um segundo. — E amaldiçoei cada segundo do que fiz com eles.

Os dois se calaram enquanto os aldeões começavam a sair de seus esconderijos. Uma senhora idosa se aproximou, com os olhos cheios de lágrimas.

— Xena… você voltou…

— Mãe?

Cyrene correu até a filha e a abraçou, mesmo com o sangue e fuligem em sua pele.

— Eles vieram no meio da noite. Procuravam por você. Diziam que você tinha uma dívida com eles. Quando não te acharam… começaram a matar.

Gabrielle olhou ao redor. O salão principal da taverna havia sido destruído. O cheiro de corpos queimados era insuportável.

— Temos que evacuar os sobreviventes. E descobrir para onde eles foram — disse Gabrielle.

— Não. — Xena olhou para o sul, onde uma trilha de fumaça indicava que mais vilarejos podiam estar em perigo. — Primeiro, vamos até o antigo templo deles. Se os Filhos da Fênix voltaram, foi por alguma razão. E eu quero saber qual.

Cyrene segurou o braço da filha.

— Eles falavam de uma nova líder. Diziam que ela traria a era da purificação completa. Alguém… chamada “A Herdeira da Chama”.

Xena ficou imóvel. Seus olhos brilharam com algo entre medo e raiva.

— Quem quer que ela seja… ela está cometendo o mesmo erro que eu cometi. Mas dessa vez, eu vou parar isso. De vez.

Gabrielle tocou o ombro dela, firme.

— E eu vou com você.

Sem mais palavras, ambas seguiram em direção ao passado — ou ao que dele renasceu em meio às chamas.

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Cena 2: A Sombra de Callisto

A floresta ao redor do antigo templo dos Filhos da Fênix parecia mais escura do que deveria. O céu estava limpo, mas a luz do sol mal atravessava as copas. Xena avançava na frente, atenta aos ruídos, aos movimentos — como se a mata respirasse.

Gabrielle seguia atrás, em silêncio. Algo naquela terra parecia… errado. O templo ficava em uma clareira isolada, abandonado havia anos. Ou, pelo menos, deveria estar.

Quando o santuário surgiu entre as árvores, era como se o tempo tivesse se curvado ali. Estátuas de pedra — algumas partidas, outras restauradas com argila recente — retratavam Xena em sua versão mais cruel: armadura sombria, sorriso arrogante, chakram erguido como um símbolo de domínio.

Gabrielle estremeceu.

— Eles te adoram como uma deusa da guerra…

— Eles me transformaram num ídolo de destruição. — A voz de Xena era amarga. — E eu deixei.

De repente, um som — um canto suave, quase infantil — ecoou por entre as colunas quebradas.

— Tarde demais para arrependimentos, Xena.

Xena se virou de imediato, espada em punho. Gabrielle já tinha o bastão preparado.

Da escuridão do templo surgiu uma figura. Os cabelos loiros soltos, os olhos faiscando com uma loucura serena. A roupa era diferente, mas a presença era inconfundível.

Callisto.

— Você… — Xena sussurrou.

— Eu! — respondeu Callisto com um sorriso largo, braços abertos como se fosse receber um prêmio. — De volta ao lugar onde tudo começou, não é? O templo… os seguidores… a fé cega em uma guerreira que trouxe apenas morte.

— Eu te enterrei, Callisto. Você não pode estar aqui.

— E, no entanto… — Callisto girou no lugar, a luz do sol batendo em sua pele pálida — aqui estou. Talvez um milagre. Talvez um castigo.

Gabrielle se colocou entre ela e Xena.

— O que você quer?

— Não quero. Ofereço. — Callisto apontou para dentro do templo. — Os Filhos da Fênix me libertaram. A nova líder quer uma guerra. Mas não entende o que está invocando. E, por mais que eu ame o caos… há algo pior vindo aí.

Xena cruzou os braços.

— Por que nos avisar?

— Porque não quero que o mundo acabe antes de ter minha chance de te destruir de novo, Xena. — Callisto sorriu. — E, no fundo, sei que ninguém mais pode impedi-la. Só você.

— Então é isso? Você quer ser nossa aliada?

— Vamos dizer… uma trégua conveniente.

Xena olhou para Gabrielle. Havia algo nos olhos da companheira — dúvida, mas também uma centelha de curiosidade. Callisto nunca mentia quando se tratava de dor. E isso a tornava, paradoxalmente, confiável.

— Fale, Callisto. O que a tal “Herdeira da Chama” está tramando?

Callisto caminhou lentamente até uma parede rachada, onde uma pintura antiga mostrava Xena cercada de chamas.

— Ela quer renascer. Não como líder… mas como deusa. Usando seu nome, sua história, seu sangue. E ela tem algo que pode conseguir isso.

— O quê?

— Um artefato. Um fragmento da chama original de Prometeu. Encontrado entre os destroços que você achou ter destruído.

Gabrielle franziu o cenho.

— Isso é impossível. A chama foi extinta.

— Extinta? — Callisto riu, de forma quase musical. — Nada realmente desaparece, querida. Apenas muda de forma. E agora, nas mãos erradas, ela pode transformar um culto fanático num exército divino.

Xena guardou a espada.

— Onde ela está?

— Ao sul. Nas ruínas de Thalon. Recrutando. Queimando os fracos. Convertendo os fortes. Ela já tem centenas. E vai marchar até Anfípolis novamente — desta vez, para erguê-la como sua capital.

Gabrielle olhou para Xena.

— Não podemos deixá-la continuar. Mas… confiar nela? — apontou para Callisto — É loucura.

Xena respirou fundo. Olhou para Callisto.

— Você vem conosco. Mas ao menor sinal de traição…

— Ah, Xena… — Callisto sorriu, quase melancólica. — Eu não saberia ser outra coisa.

Elas partiram juntas, não como aliadas, mas como peças de um mesmo tabuleiro prestes a explodir.

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Cena 3: O Julgamento de Ares

Ares sempre aparecia quando menos se esperava — e geralmente quando a situação já estava suficientemente ruim para piorar. Por isso, quando uma rajada de vento fez as tochas da trilha apagarem e o ar ficar denso, Xena já soube. Ela se virou antes mesmo de ouvir o estalo.

— Xena… — disse Ares, surgindo no meio da estrada de terra batida, braços cruzados, um sorriso tão irônico quanto indecifrável. — Ainda colecionando sociopatas loiras como companhia?

Callisto bufou. Gabrielle revirou os olhos. Xena não reagiu.

— O que você quer?

— Talvez a pergunta certa seja: o que você precisa, e a resposta é óbvia — disse ele, aproximando-se com aquele caminhar descompromissado, cada passo medido como se fosse parte de uma dança. — Os Filhos da Fênix não são apenas lunáticos com espadas. Estão canalizando algo antigo. Algo divino. E não é de minha autoria.

Gabrielle se adiantou, desconfiada.

— Você sempre manipulou cultos e guerras. Qual a diferença agora?

— A diferença, querida bardazinha, é que isso não é meu jogo. Eles estão fora de controle. — Ares encarou Xena. — E isso me irrita.

Xena cruzou os braços.

— Desde quando o Deus da Guerra se importa em perder o controle?

— Desde que mortais começaram a brincar de deuses com relíquias que nem os Titãs ousariam tocar. Essa “Herdeira da Chama” — ele fez aspas no ar — não está só reunindo guerreiros… Ela está tentando ascender. E se conseguir, a balança entre deuses e homens será destruída. Para sempre.

Callisto soltou uma risada baixa.

— Que medo… Está preocupado em perder o trono, Ares?

— Estou preocupado em perder a guerra. E antes que vocês riam, pensem: se ela conseguir se transformar em algo mais, vocês acham mesmo que vão poder detê-la com bastões, chakrams e piadinhas sarcásticas?

Xena deu um passo à frente.

— O que você sabe?

Ares estalou os dedos. Uma faísca brilhou no ar. Diante deles, surgiu uma projeção mágica, uma espécie de janela flamejante. Do outro lado, viram as ruínas de Thalon — mas não em ruínas. Reconstruídas. Colunas douradas, tochas eternas, e no centro… uma mulher envolta em chamas, sentada num trono de pedra vulcânica. Rostro oculto, mas corpo ereto, imponente.

— Ela já iniciou o ritual. A chama de Prometeu está sendo alimentada por sacrifícios — centenas de vidas. Se completar a ascensão, nem mesmo os deuses poderão tocá-la.

Gabrielle observou horrorizada.

— Isso é um massacre.

— É uma coroação — corrigiu Ares.

Xena deu um passo na direção da visão, depois se virou para o deus.

— Se você realmente quer impedir isso, por que não vai lá e resolve sozinho?

Ares suspirou.

— Porque há regras. E, nos últimos tempos, parece que só você consegue quebrá-las sem destruir o mundo no processo.

Callisto inclinou a cabeça, divertida.

— Você está admitindo que precisa da ajuda dela? Isso é histórico.

— Não é ajuda — respondeu Ares. — É um acordo. Uma trégua, se quiserem chamar assim. Vocês me ajudam a derrubar essa “deusa”. E eu… deixo Anfípolis em paz. Não interfiro mais com os mortais. Por um tempo, pelo menos.

Xena estreitou os olhos.

— E o que ganha com isso?

— O equilíbrio volta. Eu continuo sendo o Deus da Guerra. Vocês continuam sendo as heroínas atormentadas. O mundo segue girando.

Gabrielle sussurrou para Xena:

— Podemos confiar nele?

— Não. — Xena respondeu sem hesitar. — Mas se ele está mesmo assustado… então a coisa é pior do que imaginamos.

Ares sorriu, satisfeito.

— Ótimo. Estamos todos no mesmo barco, então. Só que este barco está prestes a afundar.

Com um estalar de dedos, a visão desapareceu. Ele deu meia-volta para partir, mas fez questão de lançar um último olhar a Xena.

— Lembre-se: só você pode detê-la. Mas não sozinha. Vai precisar de mim. Vai precisar dela — indicou Callisto com o queixo — e da pequena amazona ali.

Gabrielle ergueu o bastão, meio em provocação.

— Pequena é o seu ego, Ares.

Ares piscou para ela e sumiu no ar.

Xena olhou para o vazio onde ele estivera. Depois para Callisto. Depois para Gabrielle.

— Vamos reunir um exército. Agora.

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Cena 4: Gabrielle em Chamas

A floresta ao norte de Thalon já ardia quando Gabrielle, separada do grupo durante uma emboscada, foi capturada. A armadilha foi rápida, precisa. Cordas camufladas se ergueram do chão e flechas voaram das árvores, obrigando Xena e Callisto a recuarem. Quando Gabrielle tentou alcançar seu bastão, já estava envolta por uma rede com cheiro de óleo e fumaça.

— Cuidado com essa aí — disse uma voz feminina, autoritária e debochada. — Ela é a alma do grupo.

A mulher que surgiu da sombra trajava armadura de placas de madeira escura e metal fundido. Os olhos, cor de âmbar, ardiam com desejo de confronto. Ela era uma exilada conhecida por poucas: Velasca, a amazona renegada.

Gabrielle a reconheceu na hora.

— Você devia estar morta.

— Ah, querida… no Xenaverse, só morre quem quer.

Velasca se aproximou e cortou parte da rede com uma adaga curvada.

— Onde está a guerreira? Xena. Quero vê-la ajoelhar de novo. Mas, por enquanto… você serve.

Gabrielle tentou resistir, mas foi arrastada por duas seguidoras de Velasca, guerreiras endurecidas pela selva. Não eram amazonas do clã de Ephiny ou Varia. Eram fanáticas — mulheres que abandonaram a irmandade para seguir Velasca e sua promessa de glória e fogo.

Gabrielle foi levada até um acampamento escondido nas ruínas de um antigo templo amazona. As colunas estavam marcadas com símbolos dos Filhos da Fênix. Velasca fez um gesto e os soldados se afastaram.

— Sabe o que é irônico, Gabrielle? Você era a rainha. A poetisa. A “boa influência”. E agora… você vai ser o combustível da nova era.

— O que você está dizendo?

Velasca tirou de dentro do manto um frasco de vidro. Dentro dele, uma chama azul pulsava viva — pequena, mas intensa.

— Fragmento da chama de Prometeu. Estão usando isso para alimentar a ascensão da Herdeira. Cada sacrifício queimada por essa chama aumenta o poder dela. Cada vida — uma oferenda.

Gabrielle tentou conter o medo. Precisava ganhar tempo.

— Você está servindo alguém mais poderosa que você, Velasca. Isso não te incomoda?

— Eu não sirvo ninguém. Mas esta Herdeira… ela me prometeu o que você e Xena nunca dariam: domínio. Sobre todas as amazonas. Sobre as terras, os homens, os deuses.

Velasca se aproximou e tocou a face de Gabrielle.

— Mas antes disso, preciso apagar sua luz.

Naquele momento, o céu rugiu com um trovão seco. Um assovio cortou o ar. E então — o chakram.

Ele ricocheteou em três colunas e partiu a corrente que prendia Gabrielle.

Xena surgiu como um raio. Espada em punho, o rosto furioso, selvagem. Callisto vinha logo atrás, girando duas adagas. O acampamento mergulhou no caos.

Gabrielle se ergueu, pegando o bastão do chão. Uma guerreira correu em sua direção — ela girou e a derrubou com um golpe seco. Callisto passou por ela, abrindo caminho com uma fúria quase teatral.

— Vejo que chegaram cedo pra fogueira! — gritou Callisto, rindo.

Xena avançou contra Velasca. As duas se chocaram com força brutal, lâmina contra lâmina, faíscas no ar.

— Vai queimar comigo, Xena! — rosnou Velasca, cuspindo ódio.

— Só se for no inferno — respondeu Xena, girando e desarmando-a com um chute.

Velasca recuou, ferida, mas sorriu.

— A chama vai consumir tudo. Até você, guerreira.

Antes que pudessem capturá-la, ela quebrou o frasco de chama no chão. Uma explosão de fogo azul se espalhou, forçando Xena a cobrir Gabrielle e Callisto a saltar para trás.

Quando a fumaça baixou, Velasca havia sumido.

Gabrielle se levantou, ainda ofegante.

— Ela está mais louca do que nunca.

— E agora sabemos que o ritual já começou — disse Xena, olhando para os restos da chama, que ainda queimavam o solo como brasas vivas.

Callisto chutou uma coluna quebrada.

— Vocês precisam de mais do que coragem e frases de efeito. Precisam de um exército.

Xena assentiu.

— E eu sei onde encontrá-lo. As amazonas verdadeiras ainda existem. E vão querer vingar esse nome sendo usado em vão.

Gabrielle tocou o ombro de Xena.

— Vamos atrás delas. Mas rápido. Antes que o fogo seja grande demais para apagar.

Elas partiram — agora mais unidas, mais decididas. E conscientes de que a guerra contra a Herdeira da Chama estava apenas começando.

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Cena 5: O Retorno das Amazonas

As montanhas de Arkanis ficavam distantes do conflito central, escondidas por florestas densas e trilhas mortais. Era ali que o último clã amazona, liderado por Varia, permanecia isolado, recusando-se a interferir nas guerras dos homens. Mas o mundo estava mudando. E Xena sabia: se não conseguisse o apoio delas agora, talvez não houvesse mais mundo algum para defender.

Ao se aproximarem da fortaleza natural, Gabrielle foi quem tomou a frente. As guerreiras nas copas das árvores reconheceram-na de imediato. Em segundos, o grupo foi cercado, mas sem hostilidade.

— Rainha Gabrielle… — disse uma voz firme. — Você retornou.

Varia surgiu entre as árvores com sua armadura tribal reluzente e o semblante duro. Havia uma cicatriz nova no rosto e mais peso nos ombros — responsabilidade e anos de combate silencioso.

— Estou aqui por necessidade, não por honra — respondeu Gabrielle, direta. — Precisamos de vocês. Todas.

— “Nós”? — Varia olhou por cima do ombro da rainha amazona e viu Xena… e Callisto. O olhar se estreitou como uma lâmina. — Está trazendo fantasmas agora?

Callisto ergueu a mão em sarcasmo.

— Eu preferia “convidada ilustre”. Mas aceito “ameaça contida”.

Varia não riu.

— Diga por que deveríamos arriscar nossas guerreiras em uma guerra de deuses.

Xena falou, seu tom mais grave do que nunca:

— Porque essa guerra não é apenas de deuses. É por tudo. A Herdeira da Chama está reunindo fanáticos, usando fragmentos do fogo de Prometeu. Cada cidade caída se torna um altar. Ela quer ascender como deusa… sobre nossos ossos.

Gabrielle completou:

— E ela está usando o nome das amazonas para legitimar seu império. Transformando nossas irmãs em carrascas.

Um silêncio pesado caiu.

Varia olhou para as guerreiras ao redor. Algumas murmuraram. Outras cerraram os punhos. Então, ela se virou e caminhou até um grande tronco marcado com símbolos antigos — o altar da decisão.

— Convocaremos o Conselho das Lâminas. Se vocês forem ouvidas… se convencê-las… então marcharemos.

Horas depois, em um grande círculo cercado por lanças fincadas no solo, o conselho foi formado. Anciãs e guerreiras veteranas se sentaram ao redor de uma fogueira. Xena, Gabrielle e Callisto estavam ao centro.

— Falam de guerra. — Uma das anciãs ergueu a voz. — Mas guerra é o que nos destruiu.

Gabrielle respondeu:

— Falo de justiça. De proteger as nossas. Ou essa falsa deusa usará nossa imagem para justificar seu domínio.

Callisto deu um passo à frente. Todas a observaram com nojo contido. Ela ergueu as mãos.

— Eu matei. Destruí. Atraiçoei. Sei como pensa um monstro… porque fui um. E digo a vocês: a Herdeira da Chama é pior.

Xena assentiu.

— Estamos pedindo que lutem não por nós. Mas por tudo que vocês são. Pela memória de Ephiny. Pelo legado de Melosa. Pela liberdade que ainda existe em cada canto da floresta.

Varia se ergueu. Caminhou até o centro do círculo. E fincou sua espada no solo.

— Pela rainha. Pela tribo. Pela vida. — Sua voz ecoou. — As amazonas marcharão.

O círculo explodiu em gritos de guerra.

Gabrielle sentiu o peito se aquecer. Pela primeira vez em dias, havia esperança. Mas ela sabia: a luta ainda estava por vir. E não seria limpa.

Xena se aproximou dela, olhos sérios.

— Agora temos guerreiras. Mas precisamos de mais do que força.

Callisto, de braços cruzados, falou com um sorriso torcido:

— Então é bom que vocês comecem a planejar… porque a Herdeira já começou a queimar os céus.

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Cena 6: A Ascensão da Herdeira

As muralhas de Tyrana, cidade fortificada no alto das colinas do sul, caíram em silêncio quando os primeiros tambores soaram. Não vinham de dentro. Mas de fora — de uma procissão flamejante que avançava sob o céu escurecido. Homens e mulheres com túnicas vermelhas marchavam em ritmo cerimonial, olhos fixos no topo da colina, onde se erguia um templo esquecido.

E no centro de todos eles, vinha Ela.

A Herdeira da Chama.

Vestida com um manto de tecido negro cravejado de ouro fundido e brasas vivas, seu rosto era coberto por uma máscara feita de cinzas e pedra. Os cabelos — longos e vermelhos como o fogo eterno. Caminhava descalça, e o chão queimava sob seus pés sem a tocar.

Atrás dela, dois guardiões — guerreiros marcados por rituais antigos, olhos sem pupilas, segurando lâminas forjadas com metal celestial.

Quando chegaram ao templo, a multidão se ajoelhou.

Ela subiu os degraus em silêncio.

— A cidade resiste, minha senhora — disse um sacerdote. — A fortaleza de Tyrana não caiu.

A Herdeira ergueu a mão. O fogo da tocha mais próxima se apagou por completo. O ar ao redor dela se contorceu, como se o calor fosse controlado por sua vontade.

— Então acenderemos um novo sol — disse ela, com voz baixa, carregada de poder antigo.

De dentro da túnica, retirou um fragmento do fogo de Prometeu — muito maior do que o que Velasca havia usado. O colocou sobre um altar.

— Que a resistência se purifique. Que as cinzas sejam o início do novo mundo.

Ela falou em uma língua extinta — a antiga língua dos Titãs — e o altar explodiu em uma coluna de fogo azul que subiu aos céus, perfurando as nuvens.

Na cidade abaixo, os portões começaram a queimar… sem que ninguém os tivesse tocado.

Gritos ecoaram. O exército de Tyrana tentou resistir. Flechas voaram. Mas antes que pudessem atingir a sacerdotisa ou a Herdeira, queimaram no ar.

Foi então que Ares apareceu.

Ele surgiu com seu exército pessoal de espectros armados — guerreiros caídos que serviam ao Deus da Guerra mesmo após a morte. Cercaram o templo. Ares, em sua armadura negra completa, avançou sozinho até a Herdeira.

— Brincando de deusa, eu vejo. Você é ousada.

A Herdeira virou lentamente o rosto para ele.

— E você é antiquado. Está obsoleto.

— Ainda sou um deus. — Ele ergueu a espada.

A Herdeira sorriu por baixo da máscara.

— Então venha… e seja o primeiro a cair.

A luta foi brutal.

Ares avançou com velocidade divina, cada golpe capaz de partir pedra. Mas a Herdeira não lutava como um mortal. Ela se movia com o calor, evaporando no ar, ressurgindo em chamas. Desviava, contra-atacava, e com um gesto, derretia o solo sob os pés dele.

Ares foi arremessado contra uma parede de pedra. Tossiu sangue. Levantou-se com esforço.

— Você… não é uma mortal.

Ela se aproximou dele.

— Não mais.

Com um toque, o peito de Ares foi marcado por um selo flamejante — ele gritou de dor.

— Leve esta mensagem para os deuses: o fogo pertence aos novos tempos.

Com um gesto final, ela explodiu o chão ao redor, lançando Ares para fora do templo.

Quando a poeira baixou, Tyrana estava em ruínas.

A Herdeira da Chama subiu ao altar, observando o fogo consumir a cidade.

— Que venha a guerreira renegada. Que tragam as amazonas. Que tragam até os céus… eu os queimarei também.

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Cena 7: Reunião no Submundo

A entrada para o Submundo ficava oculta nas profundezas de uma caverna esquecida, guardada por rios venenosos e criaturas sem nome. Apenas aqueles que já desafiaram a morte — ou que caminharam ao lado dela — sabiam como chegar lá. E Xena, com cicatrizes de ambos os lados da vida, era uma dessas poucas.

Gabrielle hesitou quando chegaram à beira da fenda.

— Se você entrar… pode não voltar.

— Já voltei antes. Volto por você. Por todas.

Callisto cruzou os braços.

— Quer que eu vá junto?

Xena olhou para ela.

— Não. Preciso que protejam o exército. E preciso que confiem que saberei como sair.

Ela desceu sozinha.

As pedras ao redor pulsavam com uma luz esverdeada. Vozes antigas ecoavam — nomes sussurrados, memórias de almas que nunca partiram. Ao pisar no solo do Submundo, o ar ficou denso, frio… e hostil.

Hades a esperava.

O deus do Submundo estava mudado. Trajava uma túnica feita de sombra e prata, e sua expressão era mais severa do que nunca.

— Xena.

— Preciso de respostas.

— Você quer sobre a Herdeira. — Ele já sabia. — Ela não é apenas uma sacerdotisa. Não é apenas humana. É filha de duas eras esquecidas.

— O que é ela?

— O fogo de Prometeu… foi dividido há milênios. Uma parte foi escondida nas terras mortais. Outra… selada no Submundo. Mas houve uma época em que alguém tentou fundi-las. E o ritual foi interrompido… mas não destruído.

Ele apontou para um lago negro. No reflexo da água, Xena viu uma imagem distorcida: a Herdeira, ainda criança, envolta por chamas, sendo retirada de um templo por monges mascarados.

— Eles a criaram. Alimentaram-na com histórias. Com poder. Ela acredita ser o novo elo entre o mundo dos homens e o trono dos deuses. Um elo forjado em vingança.

Xena cerrou os punhos.

— Como podemos detê-la?

— Você não pode detê-la com espada. Nem com exércitos. Apenas com vontade superior à dela.

— A alma?

— A dela está dividida. Fragmentada. Mas há uma que pode alcançá-la. Uma alma que já a conheceu antes.

Xena olhou fixamente para ele.

— Quem?

Hades hesitou. Então revelou:

— Gabrielle.

O chão tremeu.

— O quê?

— A alma da Herdeira é antiga. E em vidas passadas, já cruzou com a de Gabrielle. Houve um tempo em que elas caminharam juntas como irmãs… antes da escuridão.

Xena deu um passo para trás. O mundo parecia inclinar.

— Se ela morrer… Gabrielle morre junto?

Hades olhou nos olhos da guerreira.

— Se você matá-la… Gabrielle queima com ela.

O silêncio caiu como uma lâmina.

— Então temos que separá-las — disse Xena, a voz baixa, firme. — Encontrar o fragmento de alma dentro da Herdeira. E salvá-lo antes que seja tarde.

Hades assentiu.

— Mas prepare-se. A Herdeira já sabe quem Gabrielle é. E vai usá-la… para destruir você.

Com o coração pesado, Xena virou-se para partir. Mas antes de desaparecer nas sombras, Hades disse:

— Ah, e Xena… diga a Callisto que se ela quiser realmente redimir-se, terá a chance. Mas o preço será alto.

A guerreira não respondeu. Ela apenas subiu de volta ao mundo dos vivos, com uma nova verdade ardendo na alma.

Ao emergir da caverna, Gabrielle correu até ela.

— O que descobriu?

Xena olhou para sua melhor amiga. A companheira de tantas vidas. A outra metade de tudo que era.

— Que precisamos vencer sem matar. E que você… é a chave de tudo.

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Cena 8: Marcha para Tyrana

A marcha foi silenciosa, mas as tensões estavam no ar. O exército de amazonas estava unido, mas os rostos de todas as guerreiras carregavam um peso imenso. Elas marchavam para Tyrana, a cidade agora marcada pelas chamas e pela destruição da Herdeira. Sabiam que a batalha seria feroz, mas não podiam se dar ao luxo de hesitar.

Xena, Gabrielle e Callisto cavalgavam na frente, os cascos dos cavalos cortando o silêncio da madrugada. O céu estava coberto por nuvens pesadas, como se o próprio mundo soubesse que um novo amanhecer estava prestes a acontecer — ou a ruína.

Gabrielle olhou para Xena, o rosto sério, mas os olhos ainda cheios de perguntas não ditas.

— O que você realmente sabe sobre a Herdeira? — perguntou Gabrielle, sem desviar o olhar do horizonte.

Xena respirou fundo, sabendo que a verdade era ainda mais complexa do que ela gostaria de admitir.

— Eu sei que ela não é apenas um inimigo. Ela é uma parte de um ciclo. Um ciclo que conecta nossas almas. Se não conseguirmos separá-la… tudo o que fizemos será em vão. E você… — Xena hesitou por um momento, antes de continuar. — Você é a chave. Não só para destruí-la, mas para libertar o que restou de humanidade nela.

Gabrielle ficou em silêncio por um momento, processando a gravidade das palavras de Xena.

— Então, se falharmos, tudo o que nos resta é a destruição?

— Sim. E se isso acontecer, não será apenas Tyrana que cairá. Toda a esperança, toda a liberdade, será apagada.

Callisto, que estava ao lado delas, soltou uma risada amarga.

— E eu, no meio disso tudo? Uma ex-paraíso de guerra. Vou ser a anjo que salva a Terra? Porque isso já está ficando cansativo.

Xena olhou para Callisto, a compreensão nos olhos, mas sem palavras para oferecer conforto. O que Callisto buscava era algo que não poderia ser dado — não ainda.

— Você tem sua chance, Callisto — respondeu Xena, com firmeza. — Todos nós temos.

Callisto não respondeu. Ela apenas observou a estrada à frente, o olhar vazio, como se procurasse alguma coisa que só ela sabia.

Quando chegaram aos portões de Tyrana, a cidade estava deserta. O ar estava abafado com um calor incomum. As casas estavam queimadas, e o som do vento parecia carregado de um sussurro de destruição.

No centro da cidade, a Herdeira estava esperando.

Ela estava de pé, rodeada por suas guerreiras. Sua máscara de cinzas agora estava caída ao chão, revelando um rosto jovem, mas marcado pela obsessão. O fogo parecia arder em seus olhos, enquanto seu manto negro ondulava, quase vivo.

— Finalmente chegaram, guerreiras. E com elas, a última esperança de destruição.

Xena cavalgou até a frente, parada diante da Herdeira, com a espada em mãos. Ao seu lado, Gabrielle estava pronta para lutar, o bastão firme.

— Não vamos lutar por você, Herdeira — disse Xena, com a voz carregada de autoridade. — Não vamos permitir que você destrua o que resta de esperança neste mundo.

A Herdeira sorriu, mas não era um sorriso de prazer. Era o sorriso de alguém que estava além de tudo. Ela levantou a mão e uma onda de fogo azul começou a girar ao redor dela, iluminando a cidade em um brilho mortal.

— Esperança? Não há mais esperança, guerreira. Apenas poder. E isso, eu tomarei para mim.

Com um movimento rápido, a Herdeira lançou uma bola de fogo direto para Xena, que desviou com uma agilidade sobrenatural. O chão se partiu onde a chama tocou, criando uma fissura profunda. Mas Xena não se intimidou.

— Vamos ver o quão forte você realmente é.

Ela avançou, mas antes que pudesse atacar, Gabrielle fez um movimento inesperado. Ela se posicionou à frente de Xena, levantando o bastão como se fosse uma barreira.

— Gabrielle! — Xena gritou, mas não pôde impedi-la.

A Herdeira olhou fixamente para Gabrielle, com um brilho no olhar.

— Ah, você… não sabe o que está fazendo. Mas eu sei. Você e eu já fomos uma vez. E você sabe o que deve ser feito.

Gabrielle olhou para Xena, com o rosto determinado, mas o coração apertado.

— Não podemos deixar que você nos destrua. Não podemos deixar que o ciclo continue.

Ela se virou para a Herdeira, e com um suspiro, disse:

— Mas você precisa ver a verdade.

A cidade ao redor deles explodiu em uma onda de calor. O céu parecia se partir, e uma força escura e poderosa começou a se formar no ar. As amazonas começaram a se posicionar, cercando a Herdeira.

Callisto, que havia ficado em silêncio até então, finalmente se moveu. Ela estava armada com duas adagas flamejantes, o rosto implacável.

— Vou destruir você — ela disse com um sorriso. — Não vou ser redimida por suas mentiras, mas pelo fogo. Pelo fogo que você acendeu.

A batalha estava prestes a começar. E com ela, o destino de todos seria decidido.

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Cena 9: O Sacrifício Final

O ar ao redor de Tyrana estava pesado, quase opressor. As chamas, embora diminuídas, ainda ardiam nas ruas e nos edifícios em ruínas, como um lembrete da força destrutiva da Herdeira. A cidade estava marcada pela batalha — e, agora, a batalha final estava prestes a acontecer.

Xena, Gabrielle e Callisto cavalgavam juntas em direção ao centro da cidade, onde a Herdeira os esperava. O chão trepidava sob os cascos dos cavalos, e o som das explosões e dos gritos distantes ecoavam ao longe, mas elas não hesitaram. A resolução estava estampada em seus rostos.

Xena, com a espada em mãos, sentiu o peso da responsabilidade sobre seus ombros. Cada golpe dado contra a Herdeira, cada movimento tático em batalha, tinha mais consequências do que ela gostaria de admitir. Mas, desta vez, a luta era mais do que uma guerra física — era uma luta pela alma de uma garota perdida. Uma garota que, de alguma forma, estava ligada ao destino de Gabrielle.

Gabrielle, ao seu lado, segurava seu bastão com firmeza, o rosto resoluto, mas o olhar inquieto. Ela sabia que a responsabilidade também recaía sobre ela. O que aconteceria à Herdeira era também o que aconteceria a ela — a linha entre elas havia se borrado de maneiras que nem mesmo ela entendia completamente.

Callisto, silenciosa e com seu próprio fardo, estava ao lado delas, as adagas flamejantes em suas mãos. Ela não falava, mas seus olhos revelavam algo mais: um profundo conflito interno. A busca pela redenção que ela tanto desejava, e a necessidade de confrontar seus próprios demônios, estavam na borda de suas escolhas.

A Herdeira estava de pé no centro da praça, o olhar fixo nas três guerreiras que avançavam em sua direção. Seus cabelos dourados estavam chamuscados pelas chamas que ela mesma controlava, e sua pele estava marcada pela dor, como se o poder em excesso tivesse começado a consumir sua própria essência. Ela sorriu, mas não era um sorriso de prazer; era um sorriso de desespero.

— Vocês chegaram finalmente. A última esperança de destruição… ou a última chance de redenção? — A Herdeira olhou diretamente para Gabrielle, os olhos ardendo com um brilho que não poderia ser ignorado. — Vocês acham que podem me parar? Eu sou mais do que isso. Sou mais do que um simples inimigo. Eu sou o fogo que pode purificar ou destruir. Eu sou o poder dos deuses.

Xena, sem hesitar, ergueu a espada. Sua postura era firme, mas seu olhar tinha algo de triste.

— Você não é mais do que uma ilusão de poder. Não sou eu quem vai destruir você. São suas próprias escolhas.

A Herdeira zombou.

— Minhas escolhas? Eu sou quem escolhe. O que é você, senão uma sombra de guerra? Nada mais do que a destruição que você prometeu acabar. Você é a última coisa que ainda mantém o mundo em chamas, Xena.

Mas, então, o que aconteceu foi inesperado.

Gabrielle deu um passo à frente, erguendo o bastão, mas não com o intuito de atacar. Ela olhou nos olhos da Herdeira, uma suavidade na expressão que refletia tudo o que havia aprendido ao longo de sua vida.

— Não, você está errada. Não somos sombras da destruição. Nós somos o que ainda pode ser salvo. Eu e Xena… estamos ligadas por algo mais forte que você pode compreender. Não importa o que você faça. Há algo dentro de você que ainda pode ser resgatado.

A Herdeira vacilou. Sua postura, antes arrogante, vacilou por um segundo. O fogo que a envolvia diminuiu, quase como se uma sombra de dúvida tivesse tocado sua alma.

Xena avançou rapidamente, sua espada cortando o ar com a precisão de uma guerreira experiente, mas quando a lâmina se aproximou da Herdeira, algo inesperado aconteceu. As chamas que antes haviam sido sua defesa agora se tornaram uma força de bloqueio, uma barreira impenetrável.

E então Gabrielle falou, em um tom calmo, mas cheio de poder.

— Você não pode lutar contra o que já faz parte de você. O fogo… a raiva… eles podem ser transformados. Mas é necessário que você aceite a verdade de sua própria alma.

As palavras de Gabrielle, carregadas de uma força imensurável, penetraram a barreira de chamas. A Herdeira vacilou novamente, como se algo dentro dela estivesse sendo despertado — algo há muito tempo adormecido.

Foi nesse momento que Callisto, observando silenciosamente, entendeu o papel que ela deveria desempenhar. Ela sempre buscara destruição, vingança e caos. Mas, de alguma forma, ela sabia que agora o maior poder que possuía era o poder de escolher.

— Eu não sou uma heroína. — Callisto deu um passo à frente, sua voz dura, mas com um toque de arrependimento. — E nem você. Mas… talvez possamos ser mais do que o que fomos. — Ela avançou, não com suas adagas flamejantes, mas com a intenção de desarmar a fúria da Herdeira.

Em um movimento que parecia desafiar todas as probabilidades, Gabrielle se aproximou da Herdeira. O bastão da guerreira começou a brilhar com uma luz dourada, uma energia ancestral que emanava de sua alma. Ela a ergueu, conectando-se com a essência da Herdeira, e com um suspiro profundo, disse:

— Eu sei que você tem arrependimentos. Eu sei que você sente dor. Mas você não precisa mais carregar isso. Liberte-se.

A Herdeira, com os olhos dilatados pela surpresa, caiu de joelhos, as chamas ao seu redor diminuindo à medida que sua energia se desvanecia. Ela não estava mais cercada pelo fogo imbatível. Em vez disso, havia um espaço de calma — um silêncio profundo que se espalhava por toda a cidade destruída.

Finalmente, as chamas se apagaram completamente.

A cidade estava em silêncio. O fogo havia sido domado, mas as cicatrizes de Tyrana eram visíveis — não apenas nas ruas e edifícios, mas também nas almas das guerreiras que ali haviam lutado. O sacrifício havia sido grande, mas a vitória, mesmo que amarga, estava diante delas.

Xena olhou para Gabrielle, os olhos carregados de gratidão.

— Você fez o impossível, Gabrielle. Não apenas para nós, mas para ela também.

Gabrielle sorriu, embora o peso da batalha ainda estivesse em seu olhar.

— Não foi só eu. Foi você também. E Callisto… todos nós tivemos que fazer escolhas. E talvez isso seja o que nos torna quem somos. Guerreiras. Não de destruição, mas de redenção.

Callisto olhou para elas, um sorriso tênue aparecendo em seus lábios.

— Eu ainda não sei onde pertenço… mas talvez isso seja o começo.

Enquanto o sol nascia, iluminando a cidade em ruínas, as três guerreiras sabiam que o futuro seria cheio de desafios. Mas, pela primeira vez, havia uma sensação de esperança. Não a esperança de uma vitória sem custos, mas a esperança de um novo começo, uma nova chance para todos.

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  2. : Ecos do sangue e da…
  3. Ecos do sangue e da alma: Ecos do sangue e da…
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