Fanfics sobre Xena a Princesa Guerreira

Não havia nenhuma explicação racional para o que havia ocorrido que – na opinião de Imogene – não coubesse na categoria de “bruxaria” ou “sorte de principiante”. Não que ela duvidasse de Ayleen, mas ela podia ver nos olhos arregalados da própria loira a mais pura incredulidade.

A flecha voou afiada pelo ar e se cravou diretamente no centro do alvo. Talvez Ayleen tivesse os favores dos espíritos, ou talvez apenas fosse uma aprendiz realmente muito boa, mas o fato é que lá estava a flecha: desafio mais do que cumprido.

-Tudo bem – grunhiu Imogene resignada – o que você quer como prêmio?

Ayleen apertou os olhos levemente, demorando mais do que o necessário para responder.

-Ainda não decidi. Quando decidir eu te informo. – disse por fim.

Um leve olhar de ultraje cruzou o rosto de Gene. Não bastava ter perdido um desafio que ela julgava fácil, ainda teria que lidar com o suspense. Isso não lhe agradava, mas não queria contrariar Ayleen.

-Certo. Até lá, espero ver mais umas 50 flechas no centro do alvo.

Ao voltarem pra dentro da taverna, tudo ocorria como mais uma noite comum. Clientes chegando, Rana e Enoch trazendo informações sobre a quantidade de homens presentes dentro do antigo palácio que pertenceu à família de Imogene e muita espera. A espera era uma das coisas que mais incomodava Imogene. Todos sabiam que era uma questão de tempo para que Agur irrompesse os limites da cidade com sua tropa, ainda mais agora que a notícia sobra a queda do seu palácio havia se espalhado, mas esperar isso acontecer era tão incômodo como a ideia disso acontecendo.

Naquela noite, entretanto, a rotina foi quebrada. Enoch entrou no porão com um envelope  amassado com um selo de cera rompido e o jogou na mesa em volta da qual estavam Imogene, Ayleen, Alderick e Rana. Edalyn ainda não tinha achado tempo para descer, ocupada em servir o salão cheio de aldeões e soldados famintos, todos com vinhos e assados de qualidade. O aroma da comida servida na Taverna atraía os nobres e a plebe, todos conduzidos pelo cheiro das ervas frescas usadas como tempero nas mais variadas receitas criadas por Edalyn e seu marido.

-É para vocês – disse acenando com a cabeça para Imogene e Ayleen. – Precisamos romper o selo para nos certificarmos de que não era nenhum engodo dos guardas de Agur. Mas tudo limpo, não passou por eles.

Imogene pegou o envelope cautelosamente e se aproximou do candeeiro que iluminava o local. Era uma mensagem de poucas linhas onde Baelish, cautelosamente, escrevia apenas o necessário. “G, me recuperei…o suficiente. Estive com a anciã. Os trovões chegam na virada da lua. Ela diz para a herdeira usar a escuridão como arma. Com as considerações, de Seu Mais Estimado Traidor”.

Imogene engoliu em seco, após passar os olhos por cada palavra e entregou a carta para Ayleen.

-Um mensageiro entregou para um dos nossos homens hoje pela manhã e ele trouxe até a mim. Disse que devia ser entregue à pessoa que desafiou os muros de Devon. No começo não entendemos e achamos que ele se referia a algum invasor, mas então Rana me disse que essa pessoa seria você.

Rana sorriu para Imogene que retribuiu com um meio sorriso. As lembranças de sua infância onde ela corria pelos corredores do palácio – no qual agora sequer podia entrar – sempre a procura de algum lugar para escapar e ir praticar lutas de espada de madeira com um então jovem Baelish tinha ficado lá atrás. Rana jamais esqueceria, pois ela era a encarregada de sair à caça de uma Imogene rebelde de 11 anos para tentar persuadir a menina a colocar um vestido e pentear os cabelos, enquanto está estava mais preocupada em escalar muros e encontrar pequenas passagens para escapar.

-Quem são os trovões? – perguntou Alderick – E quem é a herdeira?

-O exército de Agur. Essa mensagem deve ter demorado uma lua para chegar até aqui a partir de Glastonbury. A virada da próxima lua é daqui três dias. – concluiu Imogene – A Herdeira, evidentemente é Ayleen – disse olhando para a loira.

-Herdeira dos conhecimentos druidas da minha mãe – disse Ayleen com um pouco de tristeza na voz – Muirne sempre dizia que eu não me perdi para a civilização, que eu herdei a mão de minha mãe para a manipulação das energias da natureza. Não que haja alguma verdade nisso – disse se afastando da mesa.

-Mas o que ela quis dizer com a escuridão? Por que essa gente não pode falar de um modo mais claro – resmungou Alderick um pouco frustrado cheio de curiosidade.

-Eu tenho uma vaga ideia. Mas preciso pensar a respeito antes de lhes dizer qualquer coisa. Me deem licença – disse a loira subindo as escadas de madeira e retirando-se.

-Temos duas alternativas aqui. Um confronto direto ou um ataque furtivo como fizemos na Cornualha. Exceto que agora temos menos homens disponíveis na resistência, e o exército de Agur não estará mais dividido com ele presente.  – disse Rana.

-Dentro do palácio devemos ter umas duas dezenas de homens que lutariam do nosso lado – continuou Imogene – Os irmãos Bristol eram fiéis ao nosso clã. Hanshaw e os filhos dele também, sempre tiveram uma lealdade ímpar para com meu pai. Eles choraram no dia em que Devon foi entregue à Agur.

-Todos choramos – comentou Alderick num quase sussurro.

-A caserna dos lanceiros está a disposta a lutar conosco. – disse Enoch – Mas não podemos dizer o mesmo dos homens de Hynes. Ele teve a cara de pau de dizer que se juntaria a nós pela quantidade certa de peças de ouro.

-Não seria uma ideia ruim. Hynes e seus garotos sempre foram fortes como porcos selvagens. Exceto que não temos peças de ouro – lamentou Imogene.

-Quem é que tem ouro nos dias de hoje? Agur deixou o condado à míngua. – Reclamou Alderick.

-Vamos ver o que é possível fazer com o que temos. Se conseguirmos formar um pequeno pelotão, talvez exista alguma chance de um ataque direto. Caso contrário, seria apenas tolice colocar a vida de todos em risco sem nenhuma vantagem saindo disso. Agur tem dinheiro de sobra de venda de escravos para pagar mercenários pra lutar pra ele por várias luas caso a briga se estenda. Não podemos permitir isso, temos que acabar com ele o mais rápido possível – concluiu Imogene se retirando.

Quando Imogene entrou no quarto, Ayleen estava sentada à mesa de madeira perto da porta com um candeeiro iluminando as páginas do livro de sua mãe. A carta de Baelish também estava ao lado, e ela fixava os olhos em alguns pequenos símbolos que, provavelmente Muirne, havia rabiscado perto do final da mensagem.

-Uma moeda de estanho pelos seus pensamentos  – disse Imogene – É tudo que eu tenho. E olha que eu achei no chão perto da entrada da taverna.

Ayleen ergueu os olhos e a fitou por alguns segundos.

-Não creio que valham tanto. – disse fechando o livro com a carta dentro e o colocando de lado. – Mas talvez eu tenha entendido a mensagem. Se os cálculos estiverem certos, o que Muirne quis dizer com “escuridão” é o eclipse que acontecerá em cerca de 3 dias e irá coincidir com a chegada de Drachen. Acha que pode tirar algum proveito disso?

-Que tipo de eclipse?

-Solar. Escuridão total em pleno dia.

-Talvez possamos usar isso ao nosso favor. Já ouviu falar em Sköll?

-Sköll e Hati? Muirne me contou alguma fábula sobre isso quando eu era mais nova.

-Para você é uma fábula, talvez para Agur seja uma história de terror – riu Imogene.

-Isso sem dúvida abalaria o ânimo dele numa batalha – concordou a loira também rindo.

O olhar de ambas se fixou por alguns segundos. Era a primeira vez que um sinal de leveza se fazia presente entre ambas desde muito tempo. Seria mentira dizer que as duas não haviam sentido falta daqueles risos leves e semblantes relaxados. Era difícil manter uma mágoa – Ayleen tinha que concordar – e era mais difícil ainda, ser o alvo de uma mágoa. Era pesado, denso, e quase que doía fisicamente.

Imogene suspirou pesadamente e sentou-se em sua cama.

-Eu não sei como e quando todo esse pesadelo irá acabar. Eu não sei se irá acabar bem. Mas você acha que… Se as coisas melhorarem e não precisarmos mais nos preocupar com… conflitos… você conseguirá um dia me perdoar?

-Como você gostaria que acabasse? – lhe devolveu outra pergunta, sem sequer pensar em responder.

-Eu… não sei. Por mil vezes eu fantasiei um cenário onde minha espada encontrava a garganta de Agur e eu poderia voltar para casa. Voltar para cuidar do Condado do meu pai. Mas o que aconteceria depois? Outro tirano qualquer chegaria para tomar tudo novamente e a partir daí mais batalhas para serem lutadas? Eu queria tanto provar que era capaz, mas…a que custo e para que?  – Sua voz hesitou um pouco e Ayleen podia jurar que havia um tom embargado que a morena lutava pra esconder. – Às vezes eu só queria acabar com isso e… ir para longe. Todas as pessoas que eu amava, e por quem valia a pena eu lutar, me deixaram.

-Eu não te abandonei, Imogene. – disse sentando-se na sua própria cama e olhando seriamente para a outra mulher.

Imogene levantou o olhar e sorriu com tristeza, mas aliviada. Não era o perdão que ela esperava, mas já era um acalento para o seu coração.

-E então… Já escolheu o seu prêmio?

-Sim, mas te informarei depois que todo esse pesadelo terminar. Boa noite, Gene.

Nota