Fanfics sobre Xena a Princesa Guerreira

Pelos próximos dois dias que se seguiram, Ayleen praticou com o arco por incansáveis horas. Tinha plena noção de que nenhum milagre aconteceria a ponto dela se tornar uma guerreira habilidosa em tão pouco tempo, mas queria ter pelo menos algum recurso para não se sentir tão indefesa e poder ajudar. O resto do tempo, ajudou Edalyn a manter a taverna em ordem, exceto no horário de almoço do segundo dia quando o casal de taverneiros, para espanto da população local, decidiu não abrir.

Imogene não havia parado muito tempo na taverna. Ainda encarnando seu disfarce de fragilidade, caminhou pelas vielas de Devon conversando com diversas pessoas do condado, até mesmo com aquelas com os quais a maioria das pessoas não faziam questão de conversar. Mas se suas maquinações funcionassem, talvez tivesse um trunfo a mais que poderia equilibrar o confronto contra Agur.

No final do segundo dia desde a última reunião, dois soldados batedores anunciaram a chegada de Agur Drachen em Devonshire. O barulho pesado dos cascos da cavalaria vinha como um estrondo, levantando a poeira da estrada e ofuscando os raios laranja do sol de final de outono, até cruzarem os limites da cidade que foi encontrada calma e sem perturbações. Parecia apenas mais um entardecer normal no condado, exceto que muito calmo. O silêncio chegava a ser incômodo e era como se a energia no ar estivesse mais densa, como naquelas horas de calmaria que precedem uma grande tempestade, até que tudo fosse perturbado pela algazarra insuportável dos homens de Agur.

O autoproclamado rei irrompeu pelo salão principal sem cerimônias ou saudações, se jogando pesadamente na cadeira à ponta da mesa do Conselho e batendo insuportavelmente com seu punho na madeira, fazendo o barulho ecoar pelo salão.

-Eu quero que todos os homens sejam reunidos imediatamente para arregaçar essa escória que chamam de resistência. Eu quero a cabeça de cada um dos responsáveis pela destruição do MEU Castelo em uma estaca, e a cabeça dos que permitiram que isso acontecesse na minha ausência também, incluindo aquele regente incompetente que ninguém sabe o paradeiro… Eu dou um dia para descobrirem para onde levaram a Rainha ou eu mesmo começarei a decapitar os incompetentes com o meu machado de guerra. E pelos deuses, providenciem também uma mesa farta e um barril do melhor hidromel, porque eu estou cansado de cavalgar por dias e noites sem ter uma refeição decente para me saciar.

-Majestade, a comida é escassa na cidade. Sem recursos não conseguiremos providenciar um banquete à altura – disse um dos servos com a voz hesitante.

-E quem disse que isso é um problema meu? – rosnou o tirano – Confisquem a caça, os grãos e a produção se for preciso. Providenciem também comida de sustância para meu exército, pois logo estaremos nos lançando em outra batalha para limpar a Bretanha desses vermes.

A Taverna de Edalyn e Alderick teve suas portas chutadas por guardas reais que demandaram a entrega dos melhores suprimentos. Não houve sequer tempo para negociar ou protestar, o depósito do simplório estabelecimento foi atacado sem piedade, tendo muita da sua estrutura danificada, sua louça e seus móveis quebrados.

-Não, não o estoque da minha safra especial de bebidas. O que vamos servir para os clientes? Ficaremos à míngua e fecharemos as portas – Protestou Edalyn caindo de joelhos aos prantos, apenas para ser ignorada pelos guardas.

-Cale-se mulher. Ele é nosso rei. Merece o melhor que podemos ofertar. Tomem, levem mais esses engradados da melhor e mais forte bebida que produzimos. – Apaziguou Alderick, tentando evitar qualquer confronto direto com os guardas que carregaram tudo em uma carruagem de carga e levaram para o castelo.

Imogene e Ayleen haviam sumido da taverna, se juntado à Rana e Enoch em um casebre estratégico do condado que definitivamente não seria um ponto de interesse para os guardas nesse momento. Era o melhor que poderiam fazer enquanto aguardavam o momento certo. Naquela noite ninguém dormiria, haviam coisas demais para serem discutidas e havia tensão demais para que qualquer pessoa conseguisse descansar naquele condado.

-Rana, você conseguiu passar a mensagem que eu lhe pedi? – perguntou Ayleen.

-Sim, tudo certo. – respondeu a rebelde com um sorriso empático. Imogene havia estranhado a pergunta, mas não comentou nada. Não queria pressionar Ayleen.

Os primeiros raios pálidos do amanhecer do terceiro dia romperam as nuvens cinzentas que decoravam aquele céu de quase inverno.

-Eu vou até o curtume buscar uma encomenda, me desejem sorte – disser Imogene colocando um manto e capuz maltrapilhos e abrindo a porta do casebre. Ao sair pela viela principal, quase foi atropelada por um guarda real, mas havia algo estranho no semblante do homem.  Sem tempo para tentar entender, e com cautela para não ser reconhecida por ninguém indesejado, se esgueirou entre as casinhas simples que compunham a paisagem. Ao voltar, colocou dois pacotes volumosos em cima da mesa e de uma outra sacola, retirou um saco pesado que jogou em cima da mesa.

-Pelos espíritos, onde conseguiu isso? – exclamou Enoch atônito olhando para um recheado saco com peças de ouro.

-Romnichals. Tiveram membros do seu clã escravizados por Agur perto da Gália. Tem tanto interesse de vê-lo morto quanto nós.

-Quem? – perguntou Ayleen.

-As pessoas o chamam de ciganos – explicou Rana – mas não é muito respeitoso.  O povo Romani tem muita riqueza acumulada, viajando como nômades, o jeito mais fácil de se acumular fortuna é guardando ouro. Se meu pai não tivesse se recusado a casar com uma mulher Romani e não tivesse deixado o clã pra se casar com uma forasteira, talvez hoje eu tivesse tanto ouro quanto possível.

-Eu sinto muito Rana. Eu não fazia ideia. – respondeu Imogene com empatia.

-Não sinta. Pode ser que eu estivesse escravizada ou morta também. As coisas são como elas são.

-O fato é que eles me cederam o ouro suficiente para convencer uma bela quantidade de homens a lutar conosco. Vá às compras, companheiro – disse, entregando a sacola à Enoch. – Ayleen, me escute. Eu detesto a ideia de você se arriscar, mas eu preciso pedir algo, e espero que você me perdoe por te colocar nessa situação. Hoje quando o dia virar noite, os rebeldes vão se esgueirar pelo castelo e tentar derrotar o máximo possível de soldados. Mas nós duas não poderemos estar entre eles. Você precisa vir comigo até os aposentos de Agur – disse mostrando para a loira o que havia nos embrulhos que trouxera junto do ouro.

-Entendi – respondeu a loira de olhos um pouco arregalados- Mas como teremos certeza que Agur estará nos aposentos?

-Ah, ele estará. Algo me diz que ele não se sentirá muito bem.

Nota