Notas de advertência
luto; pode conter cenas de desespero e dor;
10 – O Sonho (Parte II)
por Panda_BardNum caminho similar ao de Gabrielle, dentro de sua mente, Eve se encontra de volta à China. Ela está cercada por paisagens serenas de montanhas nebulosas e rios tranquilos, um reflexo de sua missão recente, cheia de ensinamentos e conexões espirituais. Há uma sensação de paz que permeia o ar, uma calma que acalenta sua alma.
Eve caminha por entre os templos antigos e os jardins meticulosamente cuidados, cada passo um eco suave na quietude do sonho. Ela sente a brisa suave acariciar seu rosto, trazendo consigo os sussurros dos antigos, histórias de sabedoria e iluminação que ela havia compartilhado durante sua estadia.
Por um momento, tudo parece perfeito, um santuário de serenidade distante das turbulências e dores do mundo real. Ela sorri, permitindo-se absorver a paz que o sonho oferece, um momento de descanso merecido para sua alma cansada.
Mas, tão repentinamente quanto surgiu, essa sensação de paz é abalada. O cenário começa a mudar, as cores vibrantes desbotam para tons mais sombrios, e uma inquietação se instala no coração de Eve. O ar se torna mais pesado, carregado de uma ansiedade que ela não consegue identificar.
Ela olha ao redor, tentando compreender a transformação que está ocorrendo. As paisagens idílicas começam a se desintegrar, dando lugar a um ambiente mais inóspito e desconhecido. O som da água corrente é substituído por um silêncio opressor, e uma névoa densa começa a se formar, envolvendo tudo em uma cortina de incerteza.
Eve sente seu coração bater mais rápido, uma sensação de apreensão crescendo dentro dela. Algo está prestes a acontecer, algo que ela sente no fundo de sua alma que vai mudar a natureza deste sonho pacífico. Com uma respiração profunda, ela se prepara para enfrentar o que quer que esteja por vir, sabendo que este sonho pode revelar verdades que ela ainda não está pronta para enfrentar.
No coração do sonho transformado, a figura de Afrodite se materializa diante de Eve. A deusa do amor, normalmente envolta em uma aura de alegria e luz, agora carrega um semblante sombrio, uma expressão que Eve nunca vira antes em seu rosto celestial. A atmosfera ao redor de Afrodite é pesada, carregada com um peso que parece desafiar a própria essência da deusa.
Eve, ainda tentando se adaptar à mudança abrupta em seu sonho, olha para Afrodite com uma mistura de surpresa e preocupação. “Afrodite?” ela questiona, sua voz trêmula com uma súbita sensação de medo.
Afrodite, seus olhos normalmente brilhantes agora embaçados com uma tristeza profunda, encontra o olhar de Eve. “Eve,” ela começa, sua voz embargada, uma dissonância chocante com sua usual cadência leve e alegre. “Preciso te contar… Xena está morta.”
As palavras caem no espaço entre elas como pedras pesadas em um lago tranquilo, enviando ondas de choque através do sonho de Eve. Por um momento, o tempo parece parar, e Eve se vê incapaz de processar o significado dessas palavras.
“Xena… morta?” A pergunta sai de Eve como um sussurro, uma recusa em aceitar a realidade que Afrodite acabara de apresentar. A figura de Xena, tão vívida e poderosa em sua mente, agora se transformava em uma sombra, um eco de uma vida que não mais existia.
Afrodite acena com a cabeça, uma lágrima escorrendo por sua face divina. “Sim, Eve. Ela se foi.” A deusa do amor, normalmente tão vibrante e cheia de vida, parece diminuída, como se a própria notícia tivesse roubado parte de sua essência.
Eve sente seu coração se apertar, um turbilhão de emoções a invadindo. A dor, a incredulidade e a sensação avassaladora de perda se misturam, formando um nó em sua garganta. “Como…?” ela começa, mas as palavras falham, perdidas na imensidão de seu luto.
Afrodite, com uma mão trêmula, toca gentilmente no ombro de Eve, tentando oferecer algum conforto. “Eu sinto muito, Eve. Eu realmente sinto.” Sua voz é um sussurro, um lamento que ressoa no mundo onírico.
Eve se vê paralisada, a realidade da morte de Xena envolvendo-a como uma névoa fria e densa. Neste sonho, que se tornou um pesadelo, a figura de Afrodite começa a desvanecer, deixando Eve sozinha com sua dor e suas perguntas não respondidas.
Eve, agora cativa em um ciclo implacável de pesadelo, se vê presa em uma repetição contínua da mesma cena devastadora. Como se cada repetição fosse projetada para torturá-la, a maneira como ela recebe a notícia da morte de Xena se torna cada vez mais dolorosa, mais vívida e mais cruel.
A cada loop, Afrodite reaparece, mas com cada reencenação, suas palavras parecem cortar mais fundo no coração de Eve. “Xena está morta,” ecoa em sua mente, uma frase que se torna um mantra de desespero e perda.
Com cada repetição, Eve experimenta uma gama diferente de emoções: choque, negação, raiva, e finalmente, uma culpa esmagadora. Ela começa a se perguntar, “E se eu estivesse lá? Eu poderia ter feito a diferença? Eu poderia ter salvado minha mãe?” Essas perguntas assombram Eve, alimentando a espiral de auto-recriminação e sofrimento.
A culpa de não ter estado lá para ajudar Xena, para oferecer suporte ou para… lutar… ao seu lado, cresce como uma sombra escura em sua alma. A cada nova versão do pesadelo, Eve se sente mais responsável, mais carregada pelo peso de uma morte que ela não teve como prevenir.
A dor de perder sua mãe se mistura com a tortura de se sentir impotente, de ser uma espectadora passiva em um evento que mudou o curso de sua vida. Cada vez que Afrodite pronuncia as palavras fatais, elas parecem se entranhar mais profundamente em seu ser, um lembrete constante de sua ausência no momento mais crucial na vida de sua mãe.
Nas profundezas do sonho, Eve se debate contra a realidade imutável da morte de Xena, lutando para encontrar alguma forma de aceitação ou paz. Mas a cada repetição, a aceitação parece mais distante, mais inalcançável.
O rosto de Xena, uma presença tão forte e guia em sua vida, agora se transforma em uma lembrança dolorosa, um símbolo do que foi perdido. E em meio ao turbilhão de emoções, Eve se vê afundando cada vez mais em um mar de luto e culpa, um mar que não oferece nenhum sinal de terra à vista.
No epicentro de seu pesadelo, Eve se encontra atormentada por uma culpa esmagadora e uma dor que parece consumir sua alma. Envolvida pela névoa de seu sonho, ela chora, suas lágrimas um testemunho silencioso da angústia que a devora por dentro.
“Eu poderia ter mudado o destino… Eu falhei com ela,” ela soluça, cada palavra um golpe em seu coração já ferido. O peso da responsabilidade que ela sente por não ter estado ao lado de sua mãe e de Gabrielle naquele momento crítico é esmagador, uma carga que ela carrega sozinha no silêncio de seu sonho.
Em sua mente, Eve revê incessantemente os eventos, procurando por alguma pista, algum momento em que ela poderia ter intercedido, algo que pudesse ter evitado o destino trágico de Xena. Mas não importa quantas vezes ela revisite a memória, o resultado é sempre o mesmo – uma realidade na qual ela não estava presente para oferecer sua ajuda ou proteção.
A impotência que Eve sente é palpável, quase uma entidade própria em seu sonho. Ela se vê incapaz de agir, incapaz de mudar o curso dos eventos, uma espectadora passiva na história de outra pessoa. Essa sensação de inutilidade fere mais do que qualquer ferida física.
Eve se debate contra as amarras de seu sonho, lutando para se libertar da culpa que a aprisiona. “Eu deveria ter estado lá… Eu deveria ter sido capaz de fazer algo,” ela murmura repetidamente, cada repetição um lembrete de sua ausência.
A figura de Xena, agora um fantasma em seus sonhos, parece julgá-la por sua falta de ação. Eve sente o olhar de Xena sobre ela, um olhar que carrega tanto amor quanto decepção, um olhar que questiona suas escolhas e sua determinação.
Enquanto o sonho continua, Eve se perde em um labirinto de “e se”, cada cenário imaginário uma tentativa desesperada de encontrar uma saída para sua dor. Mas a cada volta, a cada reviravolta, ela se encontra de volta ao ponto de partida – sozinha, cheia de remorso, e sem Xena.
No final, o sonho de Eve é um espelho de sua alma atormentada, uma jornada através do luto e da culpa que revela a profundidade de sua conexão com Xena e a profundidade de sua própria dor.
Nos confins de seus sonhos torturados, Gabrielle e Eve chegam a um ponto de culminação onde suas dores e culpas, embora vivenciadas separadamente, se entrelaçam em uma teia complexa de emoções e revelações. Em seus mundos oníricos, os limites entre a realidade e a fantasia começam a se desfazer, permitindo que suas experiências se mesclem de maneira enigmática e profunda.
Gabrielle, ainda presa em seu loop de culpa e impotência, encontra-se em um momento de desespero absoluto. Cada repetição de sua tentativa falha de salvar Xena intensifica a sensação de perda irrevogável. Em seu sonho, ela grita para o vazio, suas palavras um apelo por perdão, por uma segunda chance que ela sabe que nunca virá.
Eve, por outro lado, luta contra a maré crescente de remorso por não ter estado ao lado de Xena. Seu sonho se transforma em um campo de batalha emocional, onde ela enfrenta a dura realidade de que, apesar de seus poderes e sua fé, ela não pôde prevenir a tragédia. “Eu deveria ter estado lá,” ela chora, sua voz ecoando na imensidão de sua dor.
Em um momento misterioso e indescritível, os sonhos de Gabrielle e Eve começam a convergir. Gabrielle, em sua repetição contínua da última batalha, começa a sentir a presença de Eve, como uma sombra à margem de sua visão. Da mesma forma, Eve sente a dor e a luta de Gabrielle como se fossem suas próprias, uma ressonância emocional que transcende a lógica dos sonhos.
Nesse entrelaçamento, as duas mulheres experimentam um momento de compreensão profunda e compartilhada. Gabrielle percebe que sua dor não é uma jornada solitária, que Eve também carrega o peso de uma perda imensurável. Eve, por sua vez, reconhece a profundidade do amor e da conexão de Gabrielle com Xena, vendo nela um reflexo de sua própria luta.
No cerne de seu sonho, Gabrielle encontra Xena. A figura de Xena é ao mesmo tempo familiar e distante, uma lembrança tanto reconfortante quanto dolorosa. Xena se aproxima de Gabrielle, seu semblante calmo, mas seus olhos revelando uma profundidade de sabedoria e mistério.
“Gabrielle,” começa Xena, sua voz uma mistura de força e ternura. “Você não está sozinha nesta jornada. As respostas que você busca, elas estão aí, mas requerem mais do que olhos para serem vistas.”
Gabrielle, embora aliviada por ver Xena, sente um turbilhão de emoções. “Xena, eu… eu sinto tanto a sua falta. Estou tentando entender, mas tudo é tão confuso,” ela responde, a incerteza marcada em seu rosto.
Xena sorri levemente, uma expressão que carrega tanto amor quanto dor. “O caminho para a verdade é sinuoso, Gabrielle. Mas lembre-se, as respostas nem sempre estão no que é dito, mas no que é deixado por dizer.” Gabrielle sente raiva. Raiva de si mesma e de Xena e no sonho, ela começa a socar o chão até suas mãos sangrarem.
Para Eve, a aparição de Xena em seu sonho é uma experiência nova e perturbadora. Ela vê Xena em um ambiente que lembra um templo antigo, uma figura quase etérea cercada por uma luz suave.
“Eve, sua fé e sua força são mais poderosas do que você imagina,” diz Xena, olhando diretamente nos olhos de Eve. “Mas a verdadeira força vem em aceitar o que não podemos mudar e encontrar a coragem para enfrentar o que está por vir, minha filha.”
Eve, surpresa e um pouco assustada com a aparição, tenta assimilar as palavras de Xena. “Mas eu… eu poderia ter feito mais. Eu falhei com você, mãe,” ela responde, a culpa ainda pesando em seu coração.
Xena, com uma expressão serena, responde: “Você não falhou, Eve. Cada um de nós tem um caminho a percorrer, e o seu é tão importante quanto qualquer outro. Confie em si mesma e na sua jornada.”
Gabrielle e Eve, emergindo dos confins de seus sonhos tumultuados, despertam quase simultaneamente. Ambas estão ofegantes, suas respirações pesadas ecoando no silêncio da madrugada. O suor que cobre suas testas é um testemunho físico da intensidade dos pesadelos que acabaram de enfrentar.
Em um momento de clareza pós-sonho, Gabrielle se senta rapidamente, seu olhar perdido no vazio, tentando processar as visões e palavras que a assombraram durante a noite. Seu coração ainda bate acelerado, cada batida um lembrete da dor e do desespero que sentiu ao reviver a perda de Xena repetidas vezes.
Não muito longe de Gabrielle, Eve, com um suspiro pesado, também se senta em sua cama. Seus olhos, ainda embaçados pelo sono e pelas lágrimas, procuram algum ponto de foco no escuro. Ela passa as mãos pelo rosto, tentando afastar as últimas sombras do pesadelo que a consumiu.
Ambas, apesar de separadas fisicamente, sentem uma conexão invisível que transcende a pequena distância. É uma percepção súbita e profunda de que, apesar de suas lutas internas parecerem isoladas, elas são incrivelmente semelhantes em sua essência. O luto, a culpa e a busca por compreensão as unem em uma experiência compartilhada que vai além das palavras.
Gabrielle, lentamente recobrando o controle de sua respiração, começa a perceber a extensão do que acabou de vivenciar. “Eve,” ela sussurra para si mesma, “ela também está lutando… não estou sozinha nessa dor.”
Eve, por sua vez, sente um misto de alívio e tristeza ao reconhecer que Gabrielle também está passando por uma jornada de luto tão intensa quanto a sua. “Gabrielle,” ela pensa, “ela entende… ela sabe o que é perder Xena.”
Nesse momento de realização, Gabrielle e Eve encontram um novo sentido de solidariedade e empatia uma pela outra. Elas compreendem que, apesar de suas jornadas serem pessoais e únicas, a dor que as une é um fio comum que as fortalece e as conecta.
com uma determinação feroz. A dor e o luto que consumiram suas almas durante a noite as haviam deixado à beira do desespero, mas agora, uma nova resolução se forma dentro delas. “Não podemos continuar assim,” Gabrielle diz com firmeza, sua voz um reflexo de sua vontade inabalável. “Precisamos encontrar uma forma de lidar com isso, com essa dor que nos consome.”
Eve, ainda ofegante, sente a intensidade do olhar de Gabrielle. Em seus olhos, o reflexo de Lívia – a guerreira implacável que ela foi – se mistura com a dor e a perda que agora definem sua existência. “Você está certa,” Eve responde, sua voz carregada de emoção. “Nós temos que enfrentar isso. Não podemos deixar que o luto nos destrua.”
Enquanto isso, no templo distante, Xena, em sua forma espiritual, sente uma perturbação. É uma sensação de desespero e dor que ressoa diretamente com a essência de Gabrielle. Com um sentimento de urgência, ela começa a se concentrar, buscando uma maneira de alcançar Gabrielle, de estender sua presença para além das barreiras físicas que agora as separam.
Gabrielle, com os punhos cerrados, sente a raiva e a frustração borbulharem dentro dela. A imagem de Xena, tanto em seu sonho quanto na realidade, a atormenta. “Por que ela tinha que nos deixar?” Gabrielle murmura, mais para si mesma do que para Eve. “Por que ela não podia ter ficado conosco?”
Eve, observando Gabrielle, sente uma onda de empatia. Ela reconhece a dor de Gabrielle como um reflexo de sua própria luta interna. “Talvez,” Eve começa, hesitante, “talvez precisemos aceitar que não podemos mudar o passado. Mas podemos escolher como enfrentamos nosso futuro.”
Gabrielle, ainda lutando com suas emoções, olha para Eve. “Como você consegue ser tão forte?” ela pergunta, admirada e perplexa. “Como você consegue manter a fé depois de tudo?”
Eve suspira, seu olhar perdido em memórias distantes. “Não é uma questão de força, Gabrielle. É uma questão de sobrevivência. E a fé… bem, a fé às vezes é tudo que temos quando tudo mais parece perdido.”
Em algum lugar, no limiar entre o mundo dos vivos e o espiritual, Xena se esforça para estabelecer uma conexão com Gabrielle. Ela sente a angústia de Gabrielle como se fosse sua, e isso a impulsiona a tentar com mais força. “Gabrielle, eu estou aqui,” ela murmura, suas palavras uma prece silenciosa que viaja através dos véus da realidade.
Gabrielle, sentindo uma presença familiar ao seu redor, fecha os olhos por um momento. Ela respira fundo, tentando alcançar a calma que ela sabe que precisa encontrar. “Eve, nós precisamos fazer isso juntas,” ela diz, finalmente. “Precisamos honrar a memória de Xena, não nos perdermos nela.”
Eve acena, seu rosto mostrando uma determinação renovada. “Juntas,” ela concorda. “Vamos encontrar um caminho através deste luto. Por Xena, por nós.”
Nesse momento de solidariedade e compromisso compartilhado, Gabrielle e Eve se preparam para enfrentar o dia que se inicia, cada uma carregando sua própria dor, mas também a força que vem de saber que não estão sozinhas nessa jornada.
No templo distante, Xena sente uma ponta de alívio ao perceber que Gabrielle e Eve encontraram um ao outra no meio de sua dor. Ela sabe que sua jornada também está longe de terminar, mas há uma centelha de esperança de que, de alguma forma, ela ainda possa guiá-las, mesmo que apenas em espírito.