Gabrielle, Xena e Eve, pela primeira vez desde que Eve tinha partido para o Reino Chin, estavam novamente juntas como uma família. E era hora de conversarem como uma família.

Xena odiava esse tipo de conversa, mas ela não sabia por onde ir ou o que fazer.

Gabrielle falou: “Veja só Xena, eu acho que você caiu num engano ao seguir o que Akemi te disse, você não devia ter ficado morta.”

“Sim” – Replicou Xena – “Também estou começando a achar isso, veja só, eu consegui umas informações aqui nesse templo, eu vi Akemi antes de a conhecer e percebi que nós éramos muito parecidas.”

Eve que sentiu que precisava dar uma volta porque a conversa estava ficando séria começou a querer se levantar e Xena falou “o que eu tenho pra falar, é melhor você ouvir também”. E Eve assentiu com uma cara levemente contrariada.

“Eu quero pedir perdão pra vocês” – Ela começou. “eu não sou de falar estas coisas,  mas é necessário. Eu errei ao não falar o que eu tinha que dizer  quando viva. Eu te amo Eve, você é minha criança. E não é só minha criança, é a criança de Gabrielle. Eu sei que parece que vocês tem a mesma idade e isso pode soar confuso, mas quando ficamos congeladas por 25 anos, você simplesmente cresceu… isso nos impediu de viver ao seu lado. De ensinar pra você tudo o que você precisava saber. Nos impediu de que você conhecesse melhor sua avó e tivesse lembranças com ela. Ou sua tia Lila. Veja, você é nossa filha. NOSSA filha. Eu sinto muito realmente por tudo o que você passou e carregou sozinha. Sinto por ter vivido em Roma no meio de todo o ódio que foi até ali. Eu … eu tentei te proteger de tudo o que foi possível e impossível Eve. Gabrielle abriu mão de muita coisa por nós duas. Ela é o melhor pai do mundo e você vai descobrir isso de um jeito ou de outro. Fique conosco.”

E antes que Eve dissesse algo, Gabrielle interrompeu: “Xena…eu… Eve, eu sei que nós já viemos conversando, eu gostaria de deixar claro que você é sim minha filha. E eu serei pra você o que você quiser que eu seja, um pai, uma mãe, um abraço em tempos de angústia. Vou te ensinar as piadas do Joxer e contar todas as histórias que escrevi nos pergaminhos. Todas.”

Eve levantou com os olhos marejados, “gente… eu…” e não disse mais nada mas correu em direção às duas e as abraçou. O que terminou num abraço só da Gabrielle porque Xena era meio incorpórea e isso fez todo mundo rir enquanto limpavam as lágrimas dos olhos. “Obrigada vocês duas. Obrigada. Eu entendo que tenho uma missão e que precisarei partir em algum momento, mas só depois de conhecer todas as histórias dos pergaminhos… e trazermos Xen…minha mãe de volta”

“Vamos fazer isso juntas.” – disse Gabrielle.

 “Eu preciso realmente dar uma volta, preciso achar água e um banheiro… a única que não precisa disso é a mãe. ” Eve aproveitou para falar fazendo todas rirem mais uma vez e se retirando. Ela sabia que muito mais do que o que disseram pra ela, ambas tinham que dizer uma à outra.

 “Vai ter alguma regra nessa conversa?” começou Gabrielle “Eu não quero ter que me segurar em nada aqui. Eu sinto a sua falta e quero resolver nossa vida.”

“A única regra é falar a verdade”

“E o perdão. Eu não quero sentir raiva de você Xena”

“Por..q…”

“Eu entendi que você escolheu não voltar, entendi, minha cabeça e intelecto entenderam, mas meu coração se partiu, porque pra mim você estava escolhendo Akemi.”

“…”

“Era isso?”

“Não. Akemi foi parte do meu passado. Eu realmente me intriguei com ela e ela me tocou de algum modo, não era amor, porque amor eu só senti uma vez nessa vida.”

Gabrielle olhou para o chão, insegura do que ouviria em seguida, mas Xena prosseguiu.

“Eu só senti uma vez e foi com você. Você é o amor da minha vida Gabrielle. Me perdoe por ter partido seu coração tantas e tantas vezes durante a jornada. É muito difícil ser guerreira.”

Gabrielle sentou no chão e abraçou os próprios joelhos. E Xena prosseguiu.

“Eu achei que não tinha mais nada a perder e que tinha que me redimir aqui. Mas eu entendi que não era bem isso. Eu não sei exatamente o que Akemi ganha me mantendo morta, mas eu não acho que ela fez isso pelo bem maior. As almas foram libertas, o que as prendia era Yodoshi e não eu. Eu nunca fiz nada por .. querer… só tentei me defender…”

“Eu preciso dizer Xena, que senti ciúme de Akemi, senti ódio de Yodoshi, senti pena daquele general dele que cortou a sua cabeça. Eu senti coisas que não sabia que seria capaz de sentir. Eu aprendi suas técnicas, eu segurei seu chakram, mas eu não consigo viver aqui sem você. E não estou pronta pra isso. Xena, eu senti a minha alma à beira de um grande abismo.”

“Eu sinto muito…”

“Você me ama?”

“Como nunca amei ninguém, nem em vida e nem em morte. Você é capaz de me perdoar?”

“Eu te amo, não quero guardar nada contra você. Se eu pudesse te tocar você saberia disso por outras formas. Nunca mais me deixe sozinha Xena. Você prometeu isso, cumpra sua palavra”

“Agora que passou tanto tempo, precisamos descobrir como resolver…”

“Eu mais ou menos entendi o quebra cabeças, sabe? Eu me sinto mais leve agora que te disse tudo isso e você me deve um beijo – pelo menos – quando voltar a ser palpável.”

“Como assim?”

“Você falou que quando treina aqui nesse templo, as coisas são diferentes?”

“Sim, são como se eu aprendesse a dominar outras artes de batalha e me tornasse uma guerreira ainda mais poderosa do que antes.”

“Será que aqui, eu poderia aprender algo? E será que juntas não poderíamos nos conectar?”

Nesse momento, o mesmo monge que falou do quadro pra Xena, apareceu diante delas e disse “Você é realmente sábia, pequena barda. Aqui você será não só barda, mas também guerreira. E ela será guerreira e também pacificadora”

E Gabrielle olhou para o monge sem saber quem ele era, ao que ele entendeu e disse “A filha tem uma jornada de aprendizagem através do equilíbrio. Ela não pode ser só A Palavra, deve ser também A Espada. Ela é a união de vocês.”