Capítulo 2
por Officer KirammanPresente
Ayleen cambaleou para dentro do seu quarto não querendo nada mais do que um banho. Suas vestes estavam parte amassadas, parte rasgadas. Seu cabelo loiro completamente desgrenhado, seu corpo doía e ela se sentia imunda.
Agur havia lhe convocado para seu quarto para a primeira noite do casal. Ayleen sabia que não poderia fugir de seus deveres como esposa, então em nenhum momento lamentou sua sina antes de enfrentá-la, pois seria inútil reclamar. Escolheu a postura da indiferença, afinal, havia decidido que se sacrifícios tinham de ser feitos pelo “seu” povo, ela os faria. Mas era impossível sentir indiferença diante do corpo pesado e malcheiroso de Agur pressionando-se contra o seu. A sensação de sua barba espinhenta parecia ainda permanecer na sua pele assim como seus grunhidos resfolegantes em seu ouvido. Em vez de indulgir-se numa experiência que supostamente deveria lhe trazer algum prazer, tudo que Ayleen sentia era repulsa. Ela sentiu vontade de chorar, mas tinha orgulho demais para permitir que Rana visse suas lágrimas. Apenas deixou-se afundar na tina de água quente esperando lavar de si aquelas sensações horríveis e se livrar do cheiro rançoso o marido havia deixado nela.
-Vá para seus aposentos, Rana, eu posso me arrumar sozinha. – disse após alguns minutos.
-Mas milady, eu preciso…
-Eu quero ficar sozinha. Vá, Rana.
A criada se retirou deixando Ayleen naquele quarto solitário, iluminado somente pelo fogo que crepitava na lareira e pelo candeeiro que ficava numa mesa perto da janela. Aliviada ao se encontrar só, a agora Rainha da Cornualha, deixou as lágrimas rolarem livres enquanto sua mão trêmula passava pelo próprio corpo cheio de pontos doloridos pela brutalidade de Agur. As lágrimas silenciosas logo se transformaram num soluço baixo e pelo menos em algum momento daquele dia, ela sentiu uma fugaz sensação de liberdade. Afundou o rosto nos próprios joelhos tentando esvaziar sua mente de tudo que havia acontecido naquele dia e manteve-se assim por alguns minutos.
O próximo som que seus ouvidos captaram foi o da porta batendo levemente e depois o leve “tec, tec” no chão, tão conhecido por Ayleen. Ela notou a presença de alguém atrás dela, sentando-se no banco que ficava ao lado da tina, mas não se virou. Logo sentiu uma mão quente pousar sobre seu ombro, e mesmo sem poder ver, conhecia bem aquele toque. Levou sua própria mão, até a outra e a segurou por alguns minutos.
-Imogene… – suspirou.
-N- ..não ora… vai f-ficar e-em
-Eu quero acreditar que sim. – Murmurou a loira, levantando-se e envolvendo seu corpo numa toalha de linho. Ela saiu da tina e foi até a cama, vestindo uma camisola e começando a secar os cabelos. Imogene arrastou-se para o lado dela, sentando-se e fitando o chão.
-Ehe e… ele he…te..machu-ou? – balbuciou Imogene com pesar no semblante, largando a bengala ao lado da cama e abraçando Ayleen na tentativa de confortá-la.
-Não, Gene. Eu apenas… – perdeu-se nas palavras por um momento – eu apenas não queria precisar passar por isso. Não queria que tudo dependesse de mim – disse afundando o rosto nas mãos e deixando as lágrimas caírem novamente. – Eu queria…eu queria que você estivesse bem, e então talvez nós poderíamos ter feito algo…ou fugido pra algum lugar. Por que você teve que fazer isso? Por que você se permitiu confiar em quem não merecia sua confiança?
O tom de Ayleen tinha uma ponta de mágoa, ainda que não intencional. Não tinha nenhuma mágoa verdadeira de Imogene, ela era a única coisa que lhe restava que pudesse chamar de família. A mágoa, em verdade era com a situação que se encontravam e com a sensação de impotência que preenchia cada fibra de seu corpo no momento.
-M…e…esculpa – os olhos tristes que refletiam a sensação de fracasso fitavam Ayleen.
-Você não fez nada errado – Ayleen balançou a cabeça levemente, e tentou enxugar as lágrimas – Eu apenas sinto falta…da antiga Imogene.