O templo zen budista onde Xena se encontrava era uma obra de arte arquitetônica, vasto e majestoso, quase etéreo em sua beleza. Imerso em uma tranquilidade quase tangível, o templo parecia flutuar entre os mundos físico e espiritual, uma ponte entre o concreto e o etéreo. Xena, andando por seus corredores e pátios, estava fascinada pela complexidade e serenidade do lugar.

As estruturas do templo erguiam-se com uma elegância rústica, cercadas por jardins meticulosamente cuidados, lagos cristalinos e densos bambuzais que sussurravam segredos antigos com o vento. A harmonia entre natureza e arquitetura era uma representação palpável dos ensinamentos zen sobre equilíbrio e simplicidade.

Curiosamente, apesar de sua forma espiritual, Xena conseguia captar aromas vívidos que preenchiam o ar. O cheiro de incensários queimando trazia uma sensação de purificação e paz, enquanto os aromas de bolinhos de arroz sakura e chá fresco evocavam uma sensação de acolhimento e conforto. Mas o que mais chamava a atenção de Xena era o aroma forte e doce das glicínias, que permeava o ambiente.

As glicínias, com sua presença marcante, tinham um significado especial: na cultura japonesa, acreditava-se que elas eram uma proteção contra demônios e energias negativas. A abundância dessas flores no templo indicava que aquele era um local sagrado, um refúgio contra as forças do mal.

Xena ponderava sobre a natureza desse templo – seria ele uma réplica espiritual de um local existente no plano físico, ou uma construção única do mundo espiritual, representando um ideal ou um desejo? A linha entre realidade e misticismo era tênue e enigmática.

Enquanto caminhava pelos caminhos de pedra, cercada pela beleza tranquila do templo, Xena sentia-se em paz, mas também intrigada. Esse lugar, com sua mistura de elementos naturais e espirituais, era um enigma que ela estava determinada a desvendar. O templo não era apenas um local de beleza e serenidade; era também um portal para compreensões mais profundas sobre o mundo espiritual e sua própria existência dentro dele.

Xena, mergulhada em reflexões profundas, começou a ponderar sobre a complexidade de sua situação atual. A compreensão de que havia sido manipulada por Akemi, levando à morte de quarenta mil almas, pesava em seu espírito. Agora, presa no reino espiritual, após sua morte marcada pelo ritual samurai de decapitação, ela enfrentava um novo dilema: como poderia retornar ao mundo físico com seu corpo já cremado?

A busca por uma resposta levou Xena a considerar os deuses e entidades espirituais do panteão japonês. Em sua jornada espiritual, ela sabia que cada cultura tinha suas divindades e entidades capazes de realizar feitos extraordinários. No Japão, a complexidade e riqueza do xintoísmo e do budismo ofereciam uma miríade de possibilidades.

Um nome em particular veio à mente de Xena: Izanami, a deusa da criação e da morte na mitologia japonesa. Segundo a lenda, Izanami havia morrido durante o parto e se tornado a governante do Yomi, o mundo dos mortos. Se havia alguém capaz de entender a situação de Xena e talvez ajudá-la, poderia ser Izanami. No entanto, Xena sabia que lidar com deuses era sempre um jogo arriscado, cheio de possíveis complicações e consequências imprevisíveis.

Outra possibilidade era a figura de Kannon, a deusa da misericórdia no budismo japonês, conhecida por sua compaixão e habilidade de ouvir os pedidos dos mortais. Talvez Kannon pudesse oferecer alguma orientação ou auxílio na busca de Xena para restaurar seu corpo e voltar ao mundo físico.

Enquanto ponderava suas opções, Xena também se questionava sobre os limites de sua própria existência espiritual. Ela começou a explorar mais profundamente o templo, buscando sinais, símbolos ou inscrições que pudessem oferecer pistas sobre como prosseguir. Talvez, em algum lugar dentro dos muros sagrados do templo, houvesse conhecimentos antigos ou rituais esquecidos que poderiam lançar luz sobre seu caminho.

Além disso, a presença contínua de Xena no plano espiritual poderia estar afetando Gabrielle e Eve de maneiras que ela ainda não compreendia completamente. A conexão que elas compartilhavam, mesmo agora, era um elo que transcendia a separação física. Xena sabia que precisava encontrar uma solução não apenas por si mesma, mas também para aliviar o sofrimento daqueles que ela amava e que continuavam a lutar em seu nome no mundo dos vivos.

Com esses pensamentos em mente, Xena avançou pelo templo, cada passo uma jornada em busca de redenção, entendimento e, finalmente, a esperança de um retorno.

Nota