13 – Xena III: PoV
por Panda_BardSentei no chão pra começar a me integrar ao ambiente, aquietar a mente. Mas quem consegue fazer a mente de uma guerreira de longa data se aquietar?
Existem diversas integrações, mas o primeiro passo de todos é aquietar a mente. Dizia Lao Ma que era como encontrar um quarto vazio, completamente vazio.
Mas, toda vez que eu me sentava, exceto a vez em que dominei a técnica de Lao Ma, o quarto que eu via era cheio de sangue e dor. Nunca vi a minha mente vazia. Acho que tem a ver com a alma. Depois de matar o Dragão Verde eu nunca mais consegui ver quarto algum. Essa seria a primeira vez … em morte… que eu estava tentando algo assim. E eu não consigo pensar direito, eu sou uma força de vontade entre dois m…..eu sou algo… Deuses!
Acho que é isso! Vou tentar fazer igual aos monges…Coloquei as pernas uma sob a outra, sentada, coloquei minhas mãos ao lado do corpo. Tentei imitar a posição dos monges. Mas eu não conseguia. Então eu me deitei. A minha mente sempre foi inquieta demais, são mortes demais pra ficar calada. Mas no fundo, eu era essa portadora. Eu entregava o beijo final para as pessoas. Eu ajudava a mão de Celesta… mas isso não era tudo… eu não era cruel… eu só fazia isso pela justiça e pela proteção. Eu não era mais aquela Xena. E bem, agora eu nem era uma Xena…
Fechei os olhos e tentei me aquietar. Mas eu rolei pra um lado, pro outro. Eu não conseguia deixar de pensar no quanto de dor levei para as pessoas… até que senti um calor e vi aqueles olhos verdes. E tudo foi ficando quente dentro de mim, uma paz foi tomando a minha essência e eu ouvia ela dizendo “Sabe Xena, não deve se culpar pelas coisas do passado. Você mudou toda a sua vida e não faz isso por prazer, você faz porque tem que fazer…” Aquele calor tinha cheiro de pão de nozes. Era quente, saboroso… lembrei de quando a Gabrielle comeu pão de nozes envenenado e começou a reger uma banda imaginária. E lembrei da Gabrielle correndo, tentando manejar o cajado. E lembrei de uma jovem e doce Gabrielle tentando segurar a espada com muita falta de jeito. Quanto ela tinha mudado.
Eu mudei a Gabrielle? Bem, andar comigo mudou a Gabrielle, mas ela fez tudo o que fez por vontade própria e porque tinha que fazer. Mas, a Gabrielle me mudou… enquanto eu pensava sobre isso de olhos fechados, eu me via num quarto verde, verde como os olhos dela e o calor desse lugar me acalmava. E eu sentia a respiração, não a respiração da morte que geralmente eu sentia antes de uma batalha e que acelerava meus batimentos. Era um outro tipo de respiração, essa respiração me fazia perceber de olhos fechados o ambiente. Era a respiração do ambiente de quando eu estou conversando com a Gabrielle e cuidando de nós. Era a primeira respiração do guerreiro. A respiração do guia.
E dentro desse quarto eu tentava me levantar e me movimentar, mas era difícil. Essa respiração é simples quando se é vivo e seu corpo tem suas próprias memórias, mas eu não tinha mais um corpo. E isso era uma droga. E nem era como da vez em que o Autólicus me ajudou porque eu estava mais … pesada? essa era a palavra? A Gabrielle ia chamar isso, com algum nome chique, mas era isso eu estava mais pesada. Era como se esse quarto me trouxesse tudo isso. Era bom, mas era difícil. Era como se eu sentisse tudo aquilo que me prende à terra e me impede de sair voando. Se eu tivesse um corpo, certamente eu estaria febril. Eu quero conseguir me sentir normal nesse lugar. É um lugar de conforto, mas eu não me sinto confortável, por quê?!
Mais uma vez eu tentei respirar e eu ouvi uma voz diferente dentro de mim.. ou era fora de mim? A voz de uma senhora dizendo “a calmaria precede a tempestade” e dentro desse quarto de repente – sem eu conseguir me mexer com facilidade o quarto começou a se encher de guerreiros e eles me batiam. E eu não conseguia me mexer. A calmaria precede a tempestade… a força em mim estava descoordenada. Eu não estava calma. Bem, eu me sentia calma, mas eu não estava verdadeiramente calma porque eu sentia que estava perdendo tempo bem no fundo da minha alma. E isso era o que me impedia de realmente sentir qualquer coisa.