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Notas de advertência
A história explora temas complexos como a perda de um ente querido, a busca por redenção, e a jornada espiritual para enfrentar e aceitar as sombras do passado. Embora não contenha violência gráfica, aborda questões emocionais profundas e o desafio do auto perdão. Recomendado para leitores que apreciam narrativas profundas sobre amor, sacrifício e a busca por entendimento e paz interior.
17 – Gabrielle: PoV
por Panda_BardDepois que lutamos contra aquela meia dúzia de bandidos que tentavam roubar os donativos do templo, nós andamos por ali, era um lugar aconchegante, novo pra mim. Eu só tentei aproveitar, estava cansada e não era mais indicado sair para seguir nossa jornada. Nós também não tivemos como conversar com os monges. E eu não sabia bem o que falar.
Descobri que Kannon era a deusa da compaixão. Comentei isso com a Eve e ela me olhou com um olhar que alternava entre cansaço e preocupação. E ela perguntou como eu fazia pra lidar com a matança. Eu me senti como a Xena quando eu fiz a mesma pergunta. Nós não nos acostumamos e bem, não é matança quando você está tentando ficar viva ou defender alguém que vai morrer se você não intervir. Eu contei como foi a primeira morte e como eu fui atormentada por aquilo. Foi muito doloroso, cruel que qualquer deus tivesse permitido que eu passasse pelo que passei. Mas não falei exatamente isso pra Eve. Ponderei e falei como mãe e como rainha. Eu queria que ela soubesse pelo que passei, que soubesse que às vezes, reagir é a única coisa que te ensina a respeitar a vida. E acho que é isso que ela precisa entender. Não é só caminhar como uma pacifista por aí, é compreender a dor de perder alguém para ponderar entre a vida e a morte.
Eu não contei pra Eve que quando eu fiz essa pergunta, eu cometi um assassinato por causa do impulso, eu não podia permitir que Xena fosse assassinada… e não era um assassino, era apenas um rapaz tentando entregar uma correspondência. Mas era uma outra história essa. Quase morri. Xena quase matou a todos por causa disso. E ela disse que nunca me deixaria morrer. E bem, esse dia eu relembro desde então e por isso que não estou a caminho do Egito, mas voltei para o Japão. Xena que me perdoe, mas eu quero saber porque demonios ela aceitou ficar morta, ela já estava redimida, não fazia sentido permanecer morta como Akemi falou. Eu pensava tudo isso enquanto explicava para Eve que a vida é importante. Tive a sensação de que finalmente ela entendeu o quão mãe dela eu também sou.
Sinto falta de Xena.
Eve é tudo que nos restou. Que restou de nós e dos nossos. Eve é a minha filha e vou seguir nessa jornada com ela. Xena é importante pra ela tanto quanto é pra mim. Talvez ela precise compreender isso.
Me dei conta de que estava com a mão no joelho de Eve, tirei e fiquei contemplando a fogueira no templo.
–
No dia seguinte.
A primeira coisa que eu fiz ao abrir os olhos foi chamar Afrodite pra ficar de olho em Eve que ainda dormia. Afrodite fez uma cara de “mas ela é adulta e eu não nasci pra ser babá, você bem sabe disso” Mas aceitou.
Eu fui até o templo e vi que as pessoas estavam ajoelhadas. Tinha aroma de incenso de ervas secas e carvão. E o incenso deles era diferente do incenso que eu estava acostumada, fazia uma nuvem no ambiente e eu me sentia realmente próxima de tocar qualquer outro lado que fosse, o que é sempre inusitado pra mim. Afrodite era uma deusa e eu estava atrás de outra… e se eu sentasse pra conversar com ela?
Dei meia volta e puxei a deusa de lado.
“Afrodite, você é a deusa do amor, certo?”
“Certo”
“O que eu faço pra ajudar a Xena?”
“Não sei. Eu nunca vi, digo eu vi mas nunca me importei pra descobrir sobre isso”
“Não consegue pensar em nada?”
“Olha, eu não to em casa, entende?”
“Não.”
“Aqui não é bem meu território e eu não consigo interferir muito no terreno de outros deuses, mas, posso te ajudar a chegar e conversar com a moça daqui”
“Quê? Que mo-“
E não deu tempo de mais nada, quando eu vi, eu estava num templo muito, mas muito maior do que este que estávamos, e o incenso era mais inebriante, a cena ainda tinha pequenas cachoeiras e quedas d’agua, espaços para banhos, plantações de bambus e árvores pequeninas magníficas. E caminhando pelo centro do espaço uma mulher que também poderia ser um homem, dependia de como a luz incidia sobre elu. Era diferente.
“Vai garota, Elu tá ali”
“Mas Afrodite, e a Eve? Ela vai acordar e achar que nós a abandonamos!”
“Não vai não”
E com um mexer de brilhos, Eve apareceu enrolada nas mantas e dormindo como um bebê perto de nós. E Afrodite ainda fez uma fogueira para mantê-la aquecida. Eu só pisquei porque o que iria dizer?
“Você sabe onde a gente tá?”
“Ah, no Templo Central. Coisa de deuses”
“Você sabe que vou precisar de você pra sair daqui né?”
“Relaxa”
Amo Afrodite, mas ela às vezes me deixa sem saber como reagir, eu queria rir… ela simplesmente cortava os caminhos e fazia do jeito que ela queria..
E eu sussurrei e não sabia nem porque eu tava sussurrando “Afrodite, o que eu faço agora?”
“Sei lá. Você não queria conversar sobre a sua situação?”
Enquanto me aproximava com os passos meio inseguros, eu realmente lidava com deuses de uma maneira confusa, a figura de Kannon se tornou mais clara, uma presença que emanava não apenas paz, mas também uma força tranquila, uma promessa de que a misericórdia pode encontrar caminho mesmo nas situações mais complexas. “Kannon,” comecei, minha voz trêmula com a carga de minha missão, “eu estou aqui porque preciso entender como trazer Xena de volta. Ela… ela não deveria ter partido assim. Existe um caminho para corrigir isso?”
Kannon me olhou com uma profundidade que parecia abranger todo o conhecimento do universo, um olhar que acalmava e desafiava ao mesmo tempo. “Gabrielle, sua jornada com Xena é um testemunho do poder do amor, da redenção e da coragem. O desejo de trazer Xena de volta é um reflexo do amor inquebrantável que vocês compartilham. Sim, é possível. Mas o caminho requer mais do que apenas o desejo. Requer compreensão, sacrifício e a aceitação de que algumas verdades podem ser mais complexas do que parecem.”
Minhas mãos tremiam, mas eu senti uma determinação firmando-se dentro de mim. “Eu farei o que for necessário. Diga-me, por favor, o que eu preciso entender. Como eu faço isso?”
“Para trazer Xena de volta, você deve primeiro encontrar o equilíbrio entre a luz e a escuridão dentro de si mesma,” Kannon explicou suavemente. “Você deve enfrentar as verdades do passado, aceitar as consequências das escolhas feitas e entender que a redenção vem não apenas em atos, mas também no perdão, principalmente o perdão a si mesma.”
“Perdão…” eu murmurei, a palavra ecoando dentro de mim. “E sobre Xena? Ela está… ela está tentando voltar também?”
“Xena está lutando sua própria batalha, Gabrielle. Uma batalha para alcançar você novamente, para corrigir os erros e para assegurar que o legado de amor e coragem que vocês construíram juntas continue. Vocês estão conectadas, não apenas pelo amor, mas também pelo destino. Ajudar Xena a voltar é também ajudar-se a encontrar a paz.”
Eu respirei fundo, as palavras de Kannon acendendo uma nova chama de esperança em meu coração. “Eu entendo. E estou pronta. O que devo fazer primeiro?”
“Comece por buscar a harmonia dentro de si, Gabrielle. Medite sobre as lições aprendidas, sobre o amor que vocês compartilharam e sobre o perdão. Sua jornada irá guiá-la aos próximos passos. Lembre-se, a compaixão de Kannon está com você, oferecendo força e orientação.”
Eu assenti, mas isso parecia um pouco enigmatico, porque deuses não falavam decentemente? MAS, sentindo um misto de determinação e gratidão eu disse: “Obrigada, Kannon. Pela sua misericórdia e pela luz no caminho. Eu encontrarei o caminho para trazer Xena de volta, não importa o que custe.”
Kannon acenou, sua presença um lembrete do amor e da compaixão que permeiam o universo. “Vá com coragem, Gabrielle. O amor que vocês compartilham é a chave.”
Com uma nova resolução, virei-me para sair do templo, cada passo impulsionado pela promessa de reencontrar Xena. Sabia que a jornada seria árdua e cheia de desafios, mas as palavras de Kannon haviam me dado um mapa para seguir. Eu não estava sozinha, e com amor e compaixão como meus guias, eu estava determinada a fazer o impossível se tornar possível.