20 – Xena: PoV
por Panda_BardQuando dei por mim, Gabrielle estava caída. “Afrodite?”
E a deusa deu de ombros e falou “eu disse que ela podia ser afetada… é muito amor pra coitadinha.” Eu comecei a tentar reanimá-la de toda sorte, mas eu não conseguia mais encostar nela, berrei pra Eve me ajudar. Aí a Afrodite disse que era pra eu ter paciência porque logo ela voltaria a si. Perguntei também como diabos tinham ido parar ali, não era exatamente um lugar para pessoas com tanta corporeidade… acho…
Eu não conseguia pensar direito porque estava preocupada com a Gabrielle. Comecei a andar de um lugar pra outro e perguntei pra Eve o que fizeram nos últimos dias. Ela me explicou até a parte em que chegaram no Templo de Kannon. Então eu me dei conta de que elas tinham – de algum modo que eu não sei qual era – me ouvido. Talvez isso de ser fantasma facilite na comunicação… Afrodite não sabia muita coisa de conversas entre mundos, não era a área dela. Mas eu agradeci por tudo que ela vinha fazendo por nós. Eu sei que uma deusa geralmente é mais egoísta porque não entende muito de seres humanos, mas a Afrodite era uma de nossas melhores amigas. Acho que nós também de algum modo éramos devotas dela.
Eu contei o que vinha acontecendo comigo e que quando eu meditava, aqui nesse lugar, eu tinha visões estranhas e treinava de um modo diferente do que quando eu estava viva. Era mais ou menos a ideia de me conectar com a fonte de poder que Lao Ma tinha tentado me ensinar uma vez e que eu havia perdido a conexão. Perguntei para Afrodite se ela tinha algum contato que pudesse me explicar sobre isso, acreditem vocês, ela não tinha.
Eve, tampouco, o deus de Eli era mais… distante pra mim do que outros deuses… e ele não parecia ser muito dado a conversas com mortais. Eve dizia que era simples sentí-lo, mas eu preferia conversar com deuses que eu pudesse ver e que eu pudesse socar.
Quando me acalmei, Afrodite falou “olha só, eu trouxe todas vocês, se encontraram, fiz o que deu, vou dar uma volta, qualquer coisa peçam pra Gabrielle me chamar que eu volto.” E foi aí que me dei conta de que Gabrielle estava não só fazendo de tudo pra chegar até mim, mas que ela deveria ter alguma outra informação consigo pra ter decidido chegar até mim. Algo que talvez ela não tivesse dito à Eve ou a Afrodite.
Eu fiquei ali, observando Gabrielle lentamente recuperar a consciência. Seu rosto, ainda pálido sob a luz difusa do templo, começou a ganhar um pouco de cor. Quando seus olhos se abriram, encontraram os meus imediatamente, um lampejo de reconhecimento e alívio passando por eles.
“Xena,” ela sussurrou, sua voz fraca, mas cheia de emoção.
“Estou aqui, Gabrielle. Está tudo bem agora,” eu respondi, oferecendo um sorriso tranquilizador, mesmo sabendo que ela não podia me tocar. A frustração dessa barreira invisível entre nós era palpável, mas havia também uma gratidão profunda por simplesmente estarmos juntas novamente, mesmo nestas circunstâncias estranhas.
Eve se aproximou, preocupada, mas aliviada ao ver sua mãe acordada. “Você nos deu um susto, Gabrielle.”
Gabrielle sentou-se devagar, ainda um pouco tonta, mas claramente determinada. “Eu preciso contar a vocês sobre Kannon,” ela começou, sua voz ganhando força. “Sobre o que foi dito, sobre o que precisamos fazer.”
Eu e Eve nos sentamos para ouvir, cientes da gravidade do momento. Gabrielle explicou as instruções de Kannon, as metáforas sobre enfrentar verdades e aceitar consequências, e a busca pela harmonia. Cada palavra tecia uma imagem mais clara do caminho à frente, embora as respostas ainda parecessem estar em um quebra-cabeça complexo.
“Então, precisamos enfrentar nossos passados, nossas escolhas, e encontrar uma forma de perdoar… nós mesmas e uma à outra,” eu resumi, sentindo o peso dessas palavras.
Gabrielle assentiu. “E eu acho que parte disso significa entender e aceitar as batalhas que cada uma de nós luta, internamente e externamente. E, de alguma forma, encontrar a paz através disso.”
Eve acrescentou, “Talvez seja por isso que você está aqui, Xena. Para encontrar essa paz, essa conexão que você perdeu.”
A ideia ressoou comigo, um eco distante de lições passadas e oportunidades perdidas. “E você, Gabrielle, precisa encontrar a harmonia que Kannon mencionou. Mas como?”
Gabrielle mordeu o lábio, pensativa. “Acredito que começa com aceitação. Aceitação do amor, da perda, e do fato de que, apesar de tudo, continuamos seguindo em frente. Temos que nos perdoar, Xena. E talvez… talvez assim, possamos encontrar um caminho para trazer você de volta.”
A sugestão de Gabrielle, embora cheia de incertezas, carregava uma faísca de esperança. Olhando para Eve, vi a mesma esperança refletida em seus olhos.
“Afrodite disse que fez tudo que podia,” eu lembrei. “Mas talvez não seja apenas sobre trazer alguém de volta fisicamente. Talvez seja mais sobre curar as feridas que nos mantêm presas, as barreiras entre nós.”
“Então, o que fazemos agora?” Eve perguntou, sua voz carregada de expectativa.
“Primeiro, precisamos entender completamente o que cada uma de nós precisa enfrentar. Gabrielle, suas histórias, seus pergaminhos… eles podem ser a chave,” eu sugeri. “E eu… eu tenho que mergulhar mais fundo nessa meditação, tentar entender as visões e as lições de Lao Ma.”
Gabrielle assentiu, determinação brilhando em seus olhos. “E juntas, talvez possamos encontrar uma maneira de trazer você de volta, Xena, não apenas para nós, mas para o mundo. Um mundo que ainda precisa de você.”
E assim, ali mesmo, no templo lotado e confuso, traçamos um plano. Não sabíamos se daria certo, mas estávamos dispostas a tentar. Porque, no fim das contas, o amor, a amizade e a família valiam qualquer risco. E, talvez, apenas talvez, pudéssemos reescrever nossos finais para algo mais próximo de um começo.
Nossa jornada estava longe de terminar, mas com cada passo, nos aproximávamos de um futuro onde a harmonia, o perdão e o amor guiariam nosso caminho. Era um futuro incerto, mas enquanto estivéssemos juntas, sabíamos que poderíamos enfrentar qualquer coisa.