Gabrielle, sem a presença de Xena ali e com essa nova perspectiva, começou a reviver seus dias no Japão, tentando pegar qualquer janela de interpretação, qualquer fato perdido que talvez significasse algo a mais. E ela começou a pensar.

Ela e Xena estavam planejando ir para o sul, para o Egito, porque Xena havia lhe dito que precisavam de uma garota com um Chakram. Pouco depois disso, chegou um monge e falou sobre Higuchi e Akemi. Até então Gabrielle nunca tinha ouvido o nome de Akemi. Xena dizer que a amara acho que não era exatamente verdade, pelo muito que Gabrielle conhecia de Xena, era mais um caso de veneração e daquele desejo de poder que sua velha amiga tinha no passado.

Akemi sabia – pelo que Gabrielle ouviu de Xena – como usar as palavras e sua forma de falar fazia com que Xena a visse como frágil, mas Akemi era tudo, menos frágil, afinal, Xena a encontrou como concubina num território na China, ela havia sido levada quando criança e agora era uma adolescente. Qualquer criança na mesma situação usaria pessoas como escadas, palavras como punhais e cicatrizes em todo lugar.

Chegando ao Japão, Higuchi estava sitiada e em chamas. O fantasma de Yodoshi tinha reunido um exército e se alimentava de almas para se manter vivo aterrorizando o local. Yodoshi usava Akemi como escrava. Ela, sua filha, agora tinha o dever de atrair almas para saciar Yodoshi. E bem, a cidade de Higuchi, no passado, quando Xena esteve lá pela primeira vez, tentou matá-la. Não se tenta matar uma guerreira… não se tenta matar ninguém com fogo, forquilhas e foices sobretudo durante uma tempestade com fortes ventanias. Mas não era só isso. Havia mais coisas, Xena contou que Akemi a guiou no Japão por um território que era do avô de Akemi, depois fez Xena ir atrás de uma espada sagrada… matou seu pai, Yodoshi, se matou e depois forçou Xena a cortar a cabeça dela. Porque supostamente a espada deveria redimir a ação anterior de Akemi de matar o pai e então ela poderia repousar com os antepassados, tendo vingado a morte deles. Entretanto – Gabrielle seguia pensando – quando aquele monge apareceu, tudo que Akemi fazia não era repousar com os antepassados, ela seguia atormentada e presa nos domínios de Yodoshi e por isso precisava de Xena.

Mas, será que ela precisava realmente de Xena? Com isso Gabrielle levantou, ainda um focada em reviver tudo isso, saiu da cabine e foi comer o peixe que lhe haviam prometido. A tripulação que a acompanhava não a conhecia muito bem e era ela quem os havia contratado. Eles só sabiam que ela era a responsável por livrar as pessoas de Higuchi de Yodoshi. Contavam isso no porto. As pessoas não sabiam de Xena, porque para elas, Xena estava morta, havia sido morta dois dias antes. Gabrielle era quem o povo via e foi o nome dela que chegou à tripulação. Gabrielle os contratou para ir até o Sul, a terra dos faraós. Eles aceitaram, mas não sabiam que seriam duas semanas de choro e luto. Todos ali já haviam perdido amigos então eram solidários, mas temiam pela sanidade dela. Vê-la melhor os acalmava um pouco, melhor uma patronese sã do que louca.

Ela agradeceu o peixe, sentou-se solitária como sempre, mas havia algo em seu olhar que eles percebiam que havia mudado. Ela parecia mais sagaz do que entristecida. Mais determinada. E ela revolvia todos os passos dos dias anteriores dentro de sua mente. Exceto a parte de ter que tirar Xena de um palanque sem cabeça. Essa parte foi cruel e dolorosa demais. Mesmo ela sabendo que havia uma pequena esperança para si e para Xena, pensar naquilo ainda lhe dava pesadelos, náuseas e desespero.

Gabrielle precisava avisar o capitão de que precisava voltar para o Japão e pior, avisar Eva que estava na China de que Xena não apenas tinha morrido, mas que agora Gabrielle queria reviver Xena. Ela terminou sua refeição, levantou-se e caminhou determinada, porém preocupada.

Ao chegar à sala de comando do navio ela falou

“Precisamos voltar, eu tenho alguns assuntos inacabados no Japão”
“Estamos perto da China já… e..”
“Sim, eu sei, inclusive preciso que ancore, vou enviar um recado na China e vamos voltar para o Japão.”
“Sim senhora”
“Obrigada capitão, sua ajuda será lembrada”

Gabrielle saiu das vistas do Capitão e voltou para sua cabine. O capitão sem muito entender pensou que ela talvez estivesse perdendo o juízo e direcionou para que a embarcação ancorasse na próxima cidade chinesa visível. Gabrielle então chamou Afrodite. Ela estava muito longe da Grécia e não sabia se Afrodite apareceria, mas precisava tentar.

Gabrielle se sentou na borda de sua cama, seu olhar perdido no infinito. Ela sussurrou uma vez mais, “Afrodite… Afrodite…”

Com um brilho suave e o perfume de mil rosas, Afrodite apareceu, cercada por uma explosão de purpurina dourada. Ela notou imediatamente a seriedade no rosto de Gabrielle.

“Afrodite, preciso da sua ajuda,” começou Gabrielle, sua voz tremendo com emoção.

Afrodite se aproximou, sua expressão preocupada. “O que houve, Gabrielle? Você parece abatida.”

“É Xena,” Gabrielle engoliu em seco, lutando contra as lágrimas. “Ela se foi, mas de uma maneira que eu nunca imaginei. Ela está presa entre os mundos, e eu estou tentando trazê-la de volta.”

Afrodite sentou-se ao lado de Gabrielle, pegando suas mãos. “Isso é … não sei o que dizer… Como posso ajudar?”
Gabrielle olhou nos olhos da deusa, buscando forças. “Preciso que você leve uma mensagem para Eve, na China. Ela precisa saber sobre sua mãe.”

Afrodite assentiu, sua postura tornando-se mais séria. “Claro, Gabrielle. O que devo dizer a ela?”

“Diga que Xena morreu lutando contra Yodoshi no Japão. Mas também diga que estamos tentando desvendar uma maneira de trazê-la de volta.”

Afrodite franziu a testa, confusa. “Estamos? Como assim ‘estamos’?”

Gabrielle soltou um suspiro pesado. “Eu e Xena. Ela está aqui, Afrodite, de alguma forma. Ela está me ajudando a encontrar uma maneira de voltar.”

A deusa do amor balançou a cabeça em descrença. “Isso é… Bem, é algo que só Xena poderia fazer. Vou fazer o que puder para ajudar.”

“Se Eve quiser vir para o Japão conosco, seria ótimo. Mas ela é teimosa… e muito parecida com a mãe,” disse Gabrielle com um leve sorriso.

Afrodite riu, tentando aliviar a tensão. “Teimosa como a mãe, hein? Vou falar com ela. Tenho certeza de que encontraremos uma maneira de ajudar Xena.”

Com um aceno de mão, Afrodite desapareceu, deixando Gabrielle com seus pensamentos. Gabrielle levantou-se, respirando fundo. “Agora, é hora de mudar o curso. Voltaremos ao Japão.”