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Notas de advertência
Capítulo retrata desespero e dificuldade em lidar com o luto.
9 – O Sonho (Parte I)
por Panda_BardEm um canto esquecido do mundo, nas terras outrora pertencentes ao avô de Akemi, Gabrielle se aconchega sob um céu salpicado de estrelas. A brisa da noite sussurra segredos antigos entre as folhas, e ela se deita, seu leito improvisado pouco mais que uma sombra na escuridão.
O cansaço do dia pesa sobre seus ombros como um manto pesado, seus pensamentos giram em torno de Xena – sempre Xena. Com um suspiro que carrega mais do que a exaustão física, ela fecha os olhos. O mundo ao seu redor desvanece lentamente, e Gabrielle se encontra à deriva na vastidão de sua própria mente.
À medida que a realidade se dissolve, Gabrielle é transportada para um lugar que existe entre o sono e a vigília, um reino de sombras e meias verdades. Aqui, no limiar do sonho, as fronteiras entre o passado, o presente e o futuro se tornam fluidas, e as memórias se entrelaçam com fantasias e medos.
O sonho começa a tomar forma, um tapete tecido com os fios da nostalgia e do arrependimento. Gabrielle se vê em um campo de batalha, uma paisagem onírica onde os horrores da guerra se misturam com a beleza de um mundo que nunca foi completamente real.
Ela está sozinha, mas sente a presença de Xena, uma sensação que percorre sua espinha como um calafrio. Neste mundo de sonhos, Xena é tanto uma sombra quanto uma luz, uma lembrança dolorosa e um conforto distante.
Gabrielle caminha pelo campo de batalha, cada passo ecoando no silêncio que envolve o mundo dos sonhos. Ela procura por Xena, mas encontra apenas ecos e fragmentos, como se estivesse seguindo um caminho marcado por pegadas que desaparecem na névoa.
À medida que a cena se desdobra, Gabrielle sente uma inquietação crescer dentro dela, uma antecipação do que está por vir, uma sensação de que algo está prestes a mudar. E é nesse momento que o sonho começa a se aprofundar, levando-a para um lugar onde suas maiores esperanças e temores estão prestes a se enfrentar.
No coração do sonho, Gabrielle se encontra no meio da última batalha de Xena. O campo de batalha é um labirinto de sombras e chamas, um reflexo distorcido de um passado que não pode ser mudado. Ao seu redor, o som do aço contra aço ressoa como uma música triste e antiga.
Ela vê Xena à distância, uma figura imponente e inabalável, uma tempestade vestida de guerreira. Gabrielle corre em sua direção, desesperada para alcançá-la, para mudar o destino que já conhece tão bem. Mas a cada passo que dá, uma força invisível a empurra para trás, distanciando-a da cena que se desenrola diante de seus olhos.
“Xena!” ela grita, sua voz se perdendo no tumulto da batalha. Ela estende a mão, tentando romper a barreira invisível que a separa de Xena, mas é em vão. Cada tentativa é como bater contra uma parede de névoa e ar, suas mãos agarrando apenas o vazio.
Gabrielle assiste, impotente, enquanto Xena luta, uma dança mortal de habilidade e graça. Há um momento, um instante eterno, em que seus olhares se cruzam – um olhar que carrega tanto amor quanto despedida. E então, como se fosse arrancada pela maré, Gabrielle é levada para longe, afastada da luta, afastada de Xena.
A cena se repete, um ciclo cruel de esperança e desespero. Gabrielle corre em direção a Xena, apenas para ser forçada para longe novamente. A cada repetição, a dor em seu peito cresce, uma dor que é mais do que física – é a dor da perda, da impotência, da culpa.
“Por que não posso alcançá-la?” Gabrielle murmura para si mesma, suas palavras um sussurro perdido na tempestade. “Por que não posso salvar você, Xena?”
O campo de batalha se transforma, as imagens se tornando borrões de movimento e emoção. Gabrielle se vê presa em um loop infinito de tentativas fracassadas, cada uma deixando-a mais exausta, mais frustrada, mais desesperada.
E em seu coração, uma pergunta permanece sem resposta: “Será que eu poderia ter feito algo diferente?”
O mundo dos sonhos de Gabrielle se torna um teatro de tormento sem fim, um loop contínuo da última batalha de Xena, cada repetição um reflexo distorcido de sua impotência e desespero. Como um mar revolto, o sonho a arrasta para o mesmo momento crucial, uma e outra vez, numa maré implacável de dor e culpa.
A cada ciclo, Gabrielle corre em direção a Xena, movida por uma mistura de amor e desespero, mas o destino é sempre o mesmo. Ela é arrancada da cena, suas mãos vazias, seu coração partido. A distância entre elas, uma abismo intransponível, cresce com cada repetição.
Com cada loop, a culpa de Gabrielle se aprofunda, escavando um buraco negro em sua alma. “Eu deveria ter sido mais rápida, mais forte, mais esperta,” ela se censura, cada pensamento uma lâmina afiada cortando sua auto-estima.
As vozes da batalha se transformam em ecos de suas próprias inseguranças e medos. O rosto de Xena, sempre fora de alcance, torna-se uma lembrança torturante do que ela perdeu e do que nunca poderá recuperar.
Em cada nova versão do sonho, Gabrielle se vê impotente, incapaz de alterar o curso dos eventos. A cada fracasso, a sensação de que poderia ter feito algo diferente, que poderia ter salvado Xena, se intensifica. “Por que eu não pude salvá-la?” ela se pergunta, sua voz uma mistura de luto e frustração.
O desespero e a dor crescem dentro dela, como vinhas selvagens enredando seu coração. Ela se vê afundando em um mar de luto e remorso, cada onda uma recordação da última vez que viu Xena, cada respiração um lembrete de sua ausência.
O campo de batalha, agora um labirinto de dor e culpa, reflete a turbulência interna de Gabrielle. Ela luta contra a maré do sonho, mas a cada tentativa, é puxada de volta para o momento fatídico, uma punição eterna por um crime que seu coração acredita ter cometido.
E, enquanto a noite avança, Gabrielle permanece presa nesse ciclo de sofrimento, um fantasma em um mundo de sombras, procurando por salvação em um lugar onde nenhuma pode ser encontrada.
No vórtice de seu sonho torturado, Gabrielle se vê consumida pela conversa com sua própria consciência, um diálogo que é mais um julgamento do que uma busca por conforto. “Eu deveria ter feito mais… deveria ter estado lá,” ela murmura, cada palavra carregada com o peso de um mar de arrependimentos.
O eco da voz de Xena, distante mas tão presente, ressoa em sua mente, um mantra que se tornou sua própria maldição. “Vai, Gabrielle! Salve-se!” As palavras, destinadas a ser um ato final de amor e proteção, agora soam como um gongo que marca sua falha, uma lembrança constante de sua inabilidade de alterar o destino.
Gabrielle se debate contra a maré de suas emoções. Ela se vê presa em um ciclo de “e se”, cada hipótese uma adaga afiada apunhalando seu coração. “E se eu tivesse lutado ao lado dela? E se eu tivesse chegado mais cedo? E se eu tivesse sido mais forte?” Cada pergunta é um lembrete de sua ausência no momento mais crucial.
O sonho se torna um espelho de sua alma atormentada, refletindo sua luta interna. Gabrielle se vê caminhando por um caminho solitário, um caminho que a leva de volta ao mesmo ponto: a perda de Xena, a perda de uma parte de si mesma.
Ela não consegue aceitar as palavras de Xena, não consegue aceitar que a única opção era a fuga. Em seu coração, Gabrielle carrega a crença de que sempre há outra maneira, um caminho alternativo que poderia ter levado a um final diferente.
A noite avança, e o sonho de Gabrielle se aprofunda, cada momento um lembrete de suas escolhas e de suas perdas. Ela se vê vagando em um deserto de desespero, cada passo um esforço contra a areia movediça de sua culpa.
Enquanto as primeiras luzes do amanhecer começam a infiltrar-se no mundo dos sonhos, Gabrielle permanece enredada em seu tormento, uma guerreira enfrentando a batalha mais difícil de todas: a batalha contra sua própria mente e coração.