Fanfics sobre Xena a Princesa Guerreira

Ayleen acordou com o solavanco de ser puxada violentamente de sua cama pelo braço e logo sentiu uma forte pancada na cabeça. Sua visão ficou borrada e por mais que tenha lutado para se manter de olhos abertos nos minutos que se seguiram, foi em vão. As próximas sensações que conseguiu sentir foram apenas flashes estranhos, o atrito do chão de pedra do castelo em seu corpo enquanto era arrastada, pequenas centelhas de luz que podia ver através da trama de tecido que cobria sua cabeça e o gosto de sangue em sua boca, misturado à estranha textura do trapo velho com o qual haviam lhe amordaçado. Ela sentiu seu corpo ser jogado contra uma parede dura, tentou mexer os braços, mas eles estavam presos, amortecidos e bastante doloridos. O pequeno esforço foi o suficiente pra que seu corpo cedesse e ela perdesse a consciência de novo, ouvindo apenas gritos e barulhos de espadas ao fundo e o cheiro fétido de fumaça. Seu corpo alternava entre um estado de consciência e da perda dela. Era muito difícil manter os olhos abertos.

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Uma correria generalizada havia se instalado no castelo. Espadas cantando e gritos podiam ser ouvidos pelos corredores e pessoas correndo desesperadas tentavam sair dali. Havia bombas de fumaça sendo atiradas por todas as aberturas e os guardas tentavam bloquear algumas portas para impedir o avanço dos invasores. A Guarda do castelo estava em número reduzido, uma vez que Agur imprudentemente havia levado seus melhores homens para o front na tentativa de conseguir o controle do condado vizinho, e ainda que estivessem com armaduras e armas, eles eram superados em número pelos invasores encapuzados que arrebentavam portões invadindo o local e quebrando tudo.

-Capturem a rainha e o regente! Capturem a rainha e o regente! – gritavam alguns homens que pareciam liderar o grupo. Eles carregavam lanças militares, espadas curtas e suas indumentárias não eram tão complexas quanto a dos guardas reais, mas permitia que eles se movimentassem com rapidez.

 Baelish correu até o corredor onde ficavam os aposentos de Imogene e a encontrou perto de alguns archotes distribuindo chutes na cabeça de dois homens que usavam capas e capuzes.

-Precisamos de sua ajuda- disse ele.

-Eu não posso. Ninguém pode me ver. Quem são essas pessoas?

-Eu não sei, mas vão matar a todos se você não fizer alguma coisa.

-Ninguém pode me ver Bae! Eu preciso que você vá até o quarto de Ayleen e tire ela do castelo.

-Você não entende, Gen. A ala dela foi a primeira que eles tomaram, ela foi capturada e agora tem uma barricada no acesso ao corredor. Alguém está levando ela pra longe pela saída ao sul.

Imogene embranqueceu com pânico no olhar. Precisava fazer algo e rápido, mas não podia deixar que ninguém a visse, ou toda a encenação que havia lutado pra manter nos últimos meses estaria comprometida. Mas do que valeria manter sua identidade se alguém havia capturado Ayleen? Ayleen era tudo que lhe importava e ela precisava pensar rápido. Olhando para o homem que havia desacordado com um chute, arrancou a capa e capuz que ele vestia e os vestiu ela mesma. Sinalizou para que Bae fizesse o mesmo com as roupas do outro homem desacordado e ordenou que a seguisse por uma dúzia de corredores alternativos que Baelish sequer fazia ideia de que existiam.

Ela escalou algumas muretas e se espremeu entre vãos com uma facilidade que o regente não compartilhava, e ralhou sem paciência quando ele demorou pra conseguir executar os mesmos movimentos.

-Eu não faço ideia de como você conhece ou consegue transitar por esses caminhos. – Arfou ele tentando se espremer por uma passagem estreita entre duas paredes que davam acesso pra cozinha do castelo. – E eu estou perdido se alguém ver o regente fugir se esgueirando enquanto os guardas estão tentando deter essa gente.

-Cale-se Bae. Precisamos chegar até Ayleen pra você salvá-la.

-EU salvá-la? Você deve salvá-la e saírem as duas do castelo. Eu não posso…

-Cale-se.

Alguns serviçais estavam escondidos atrás de barris com mantimentos na cozinha escura, assustadas demais para questionar as duas figuras encapuzadas que passavam por ali. Eles saíram pelo portão dos fundos e correram para o pátio interno no castelo.

-PROCUREM O REGENTE – gritou um dos invasores, fazendo Bae instintivamente apertar com força o cabo da espada, mas Imogene lhe tocou o braço indicando que não deveria sacar a arma. Havia fogo se espalhando por parte do jardim do pátio interno, muita fumaça fétida advinda das bombas e algumas pessoas, entre soldados e invasores caídos desacordados ou mortos no chão. – PROCUREM O REGENTE!

Os olhos de Imogene se voltaram para um dos invasores carregando o corpo de uma mulher com as mãos amarradas e um saco de estopa na cabeça. Ela reconheceria a silhueta de Ayleen até mesmo no escuro.

-VEM – gritou pra Bae, e correu puxando-o naquela direção.

Ela jogou seu corpo com toda força em cima do homem que carregava Ayleen e o atingiu com socos impiedosos, fazendo-o derrubar a mulher que carregava, a qual foi amparada por Bae antes que se chocasse contra o chão.

-Tire-a daqui, eu cuido do resto.

-Mas Imo…

-QUIETO. Tire ela daqui. Eles querem vocês dois! Pegue um maldito cavalo e cavalgue em direção à Devon. Eu acho vocês depois.

Bae pegou o corpo desacordado de Ayleen no colo e se esgueirou pela sombras do jardim tentando se ocultar entre a fumaça até chegar ao portão que dava acesso ao estábulo. Mas a fumaça e a escuridão eram tanta que ele mal conseguia ver um palmo à sua frente e começava a sufocar. Num momento de desespero arrancou o capuz para enxergar melhor e conseguiu visualizar o portão, mas antes que conseguisse atravessá-lo, sentiu uma dor perfurante ao lado da costela.

-NÃO!  – gritou Imogene de longe.

Baelish sentiu as forças se esvaírem de suas pernas e ajoelhou-se no chão para evitar cair e derrubar Ayleen de seus braços.

Um arqueiro encapuzado, de cima de um lance de escadas que davam acesso à uma sacada, preparava outra flecha para atirar em Bae. Imogene sem pensar ou hesitar por dois segundos, sentiu seu corpo tomado por puro reflexo, saltar por homens desacordados, muretas e escadas e como numa dança com o próprio ar, voar para perto do arqueiro, agarrando-lhe a cabeça e quebrando seu pescoço sem hesitar.

-BAE. – gritou ela, pulando para o nível inferior do jardim e correndo até onde Baelish ainda estava ajoelhado segurando Ayleen.

-Me-me desculpe – gaguejou ele. – Você mesma vai ter que salvá-la. Eu não consegui.

Imogene tirou Ayleen dos braços do regente e a acomodou de lado, voltando o olhar para o tórax do amigo. A flecha não havia transpassado. Isso podia ser bom, ou péssimo, dependendo do que havia atingido, mas ela não tinha muito tempo para avaliar os danos. Quebrou a ponta da flecha e arrancando um pedaço da própria capa pressionou contra a lateral do amigo para parar o sangramento.

-Me desculpe ter falhado, Gen.

-Cala a boca Bae. Você não vai morrer. Eu não vou deixar.  – disse apertando mais o ferimento e fazendo-o gemer de dor. – Eu não vou tirar o resto da flecha para que ela impeça mais sangramento. Você consegue caminhar?

-Não tenho certeza. Mas não o bastante para carregá-la.

-Precisamos chegar aos estábulos. – levantou-se carregando Ayleen nos braços – Apoie-se em mim, certo?

-Você não vai aguentar carregar duas pessoas, Gen. Eu sou o Regente, preciso voltar para os homens da guarda, pra tentarmos salvar o castelo.

– Pro inferno com o castelo, Baelish. Vai querer demonstrar lealdade ao seu rei agora? Me poupe.

-Tem pessoas inocentes lá dentro.

-Sinto muito, não vamos conseguir salvar todo mundo. Eu sei, é triste, mas é uma lição que aprendi duramente. Agora arraste seu traseiro para o estábulo comigo.

-Não.

-Mas o que…?

-Eu estou ferido, vou atrasar vocês. Além do mais eles estão atrás de Ayleen e de mim. Se seguirmos juntos, somos um alvo mais fácil.

-Não seja um completo idiota, eu não acredito que você vai se…

-Não vou me entregar. Eu entendo, não devo lealdade nenhuma a esse pulgueiro. Mas vou para outro lado. Se eles me acharem, pelo menos não chegarão até vocês tão rapidamente.

-Inferno – resmugou a morena apertando os dentes – Tudo bem. Faça o seguinte, contorne a muralha à direita, siga para o portão norte, mas não passe por ele ou vão te cravar mais uma meia dúzia de flechas. Suba para o posto da guarda do lado do portão e percorra as duas torres do posto pelas sombras. No final da segunda torre tem uma escada para o nível abaixo dela com uma pequena porta que dá para fora do pátio do castelo.

-Em nome dos espíritos, como você sabe dessas coisas?

-Quieto. Saia por ali, procure o primeiro cavalo que ver em sua frente e siga para leste. Se você conseguir cavalgar sem parar, em um dia e algumas horas vai chegar em Glastonbury. Siga para as colinas e entre no bosque que fica depois delas. Procure uma cabana no meio dele e fale com Muirne. Ela vai cuidar do seu ferimento. E por todos os espíritos, não deixe de pressionar essa droga de buraco, ou você vai sangrar antes de sequer chegar ao portão.

Bae desapareceu nas sombras para fazer o que Gen havia ordenado. Ela não tinha certeza que ele conseguiria, ou de que sequer chegaria vivo até o bosque dos Druidas, mas era a melhor chance que ele tinha. Com Ayleen nos braços, esgueirou-se ela mesma pelas sombras até chegar perto dos estábulos, mas conforme se aproximava, conseguia ver o clarão laranja reluzindo pela noite. Haviam incendiado o estábulo e todos os silos de cereais e soltado todos os cavalos que agora corriam descontrolados pelo campo. Quem quer que fosse que estava coordenando o ataque, tentava reduzir o castelo de Agur Drachen à ruinas, mas ela não estava disposta a ficar para vê-lo no chão. Finalmente tirando o saco de estopa da cabeça de Ayleen, a arrumou melhor em seus braços e correu pela noite tentando ocultar-se nas sombras das vielas até chegar ao bosque mais próximo. Seguir a pé para Devon não seria exatamente o passeio dos seus sonhos, mas era para lá que iria.

Nota