Fanfics sobre Xena a Princesa Guerreira

Sentir a água morna envolvendo seu corpo era um bálsamo para todas as dores físicas que sentia. Ayleen se afundou na tina de madeira relaxando os músculos do seu corpo dolorido e esfregando as manchas de sujeira e sangue seco que cobriam parte do seu corpo. Os primeiros raios da manhã iluminavam o vidro fosco do quarto onde havia sido hospedada, e ao longe ela podia ouvir os barulhos característicos de uma Taverna se colocando em funcionamento. Caixotes sendo arrastados, cutelos batendo contra carne de caça ou vegetais, barris sendo rolados e o som do machado partindo a lenha para alimentar o forno que rugia com algum assado para alimentar quem ali chegasse faminto. Havia um estranho conforto nisso tudo, mas ela não queria indulgir-se nessa sensação. Ela tinha um sentimento confuso queimando dentro de si.

Deixou o banho, e olhou desanimada para sua cama. Não tinha muita escolha senão vestir as mesmas roupas sujas do dia anterior, que se resumiam a uma camisola e uma capa de viagem com cheiro de sujeira e sangue seco.  Tentou desembaraçar seus cabelos loiros ondulados com os dedos da melhor forma que conseguia e sentou-se na cama. A cama na qual Imogene havia dormido estava vazia, mas não tardou até que ela aparecesse. Dando leves toques na porta para se anunciar, entrou carregando um volume nos braços, o qual depositou em sua cama.

-Você acordou. Como se sente?

-Melhor do que ontem. E pior do que amanhã, eu espero.

-Eu consegui algumas roupas para nós. Devem servir por hora. – disse tirando do embrulho que carregava um vestido de algodão cru em um tom claro de marrom e entregando a Ayleen. – Enoch disse que é melhor que nos passemos por vassalas, se ninguém nos reconhecer estaremos mais seguras por enquanto.

Ayleen assentiu em silêncio. Ainda sentia aquela sensação queimando dentro do seu peito. Por um momento seus olhos também arderam, mas ela não queria deixar que lágrimas caíssem nesse momento, então tentou respirar fundo e olhar para o lado. Imogene, sentindo o peso do silêncio da amiga sentou-se em sua própria cama e começou a brincar com as próprias mãos. Ela sentia que não tinha controle de nada e isso era uma sensação muito rara e nova para ela.

-Ayleen, eu… – as palavras lhe custavam a sair. Na realidade, ela não sabia o que oferecer. Deveria se justificar? Deveria pedir perdão? Ela suspirou pesado

-Foi Muirne? – perguntou a loira, mesmo que tivesse a sensação de saber a resposta.

-Não. – respondeu engolindo em seco. – Foi antes.

-Por quê?

-Porque eu não tinha escolha. Agur tomaria Devon à força se eu apostasse numa investida direta contra ele. Isso causaria a morte de muitas pessoas. Eu seria desonrada por todos que um dia respeitaram o clã Callaghan se entregasse o condado numa bandeja para ele. Eu precisava convencer a todos de que não conseguiria mais governar, mesmo que isso tenha matado parte de mim.

-EU TINHA UM ACORDO COM ELE – gritou Ayleen.  – Você coloca tão pouca fé em mim?

O rosto de Imogene ardeu de vergonha. Era verdade. Ayleen havia aceitado se casar com aquele porco asqueroso tendo a segurança de Devon como um dos objetivos. Ela havia ignorado isso no meio do seu desespero, e agora se dava conta que também havia ignorado isso por causa de sua mágoa por ela ter aceitado se casar.

-E mesmo que ele não honrasse esse acordo… – continuou Ayleen – você me deixou às cegas? Desesperada por uma cura para sua condição? Imogene, eu blasfemei e maldisse os deuses por não terem me ajudado a restaurar sua saúde. E agora eu descubro que você nem sequer esteve enferma. Eu te banhei e te alimentei no seu leito. Eu chorei por semanas por sua causa. Eu imaginei uma dúzia de formas diferentes de matar Baelish por ter te invalidado.

-Ele fez isso porque eu pedi – ela disse, sentindo o rosto queimar – A surra foi real. E eu realmente fiquei acamada após ela. As sequelas é que não foram. Mas eu precisava me tornar invisível para a corte. Eu precisava entrar nos locais que somente os servos e vassalos entram. Eu precisava ser vista como alguém inofensiva. Ninguém se preocuparia com alguém aleijada e que mal consegue falar.

-E nunca lhe passou pela cabeça me incluir no seu plano? Pelos deuses… Eu sei que não sou tão incrível quanto você, Imogene – disse ela com escárnio e lágrimas caindo – Eu não sou tão vivida, não estudei no Leste, não aprendi a usar uma espada. Mas enquanto sua mãe quase morria de luto por uma filha que ela tinha certeza de estar morta, fui eu quem segurou a mão dela. Eu fiquei aqui, sozinha, por três anos, chorando a sua ausência e fazendo todas as preces que eu sabia para que você estivesse viva. E depois, quando você voltou, eu chorei novamente pela sua enfermidade. Desde que eu entrei no maldito castelo Callaghan, tudo que faço é viver por você, é amar você, primeiro como aquela menina de olhos brilhantes que você era e depois pela mulher linda que você se tornou, mas eu fui abandonada, por mais de uma vez. Você me abandonou quando tinha 14 anos, e me abandonou agora, mesmo estando tão perto. O único acalento que eu tive nesse tempo todo foram as escrituras de minha mãe, as palavras sábias e os poemas que ela registrava em seu livro, e agora até mesmo isso está perdido. Por que você fez isso comigo?

Imogene deixou as lágrimas caírem. Alcançou o resto do volume que havia depositado na cama anteriormente e o entregou à Ayleen.

– Sobre isso – disse, tirando o tecido de cima e revelando o livro druida que havia pertencido à mãe da amiga. – Rana o salvou antes de sair da Fortaleza.

Ayleen abraçou o livro como quem via algo precioso. Fechou os olhos que ainda deixavam lágrimas escorrer e suspirou pesadamente.

-Eu… Eu não sei o que dizer – disse Imogene. – Eu mesma demorei para perceber os erros que havia cometido até conversar com Muirne. Eu convenci a mim mesma que não ter lhe contado tudo isso era o jeito mais lógico de lhe proteger, porque se você soubesse você tentaria participar de um plano que eu julgava perigoso demais. Algum tempo depois Rana me flagrou conversando com Bae em um canto do castelo, e eu precisei revelar meu ato para ela, e ela me informou que eu não era a única que tinha a intenção de deter Agur, que ele tinha muitos inimigos e que ela me daria mais detalhes sempre que pudesse, mas que você, como Rainha, também correria perigo apenas por ser a esposa dele e então eu tive mais medo ainda.

-Eu odiei Baelish com toda a fúria da minha alma.

-Eu sou uma pessoa horrível pelo que fiz a ele. Mas eu precisava de um informante dentro da Fortaleza. Agora nem mesmo sei se ele está vivo. – lamentou Imogene. – O mais difícil de tudo isso é que… Eu fiz tudo isso tentando convencer a mim mesma que ter lhe deixado de fora era para sua segurança. Hoje, como Muirne disse, vejo que fui estúpida.

-Eu sei que não sou grande coisa. Mas eu teria tentado ajudar de outras formas.

-Não, você não entende. Eu nunca subestimei a sua sabedoria, a sua eloquência, os seus conhecimentos em medicina e tudo que seus ancestrais a haviam deixado. Você é a pessoa mais doce e gentil que eu já conheci em toda a minha vida e eu sei que você daria a sua vida para salvar a de um inocente e é isso que me dói mais. Eu fui estúpida e egoísta. Eu não suportei ver você dando a sua vida à Agur para salvar o povo de Devon e Glastonbury e no processo ter me abandonado. Meu orgulho estúpido e meu coração partido me fizeram lapidar uma mentira onde eu, como a heroína tola que fui, fingi me sacrificar por uma causa maior quando na verdade apenas estava te punindo e me autopunindo por algo que não podia viver ao seu lado. Você, ao contrário, foi resiliente durante todo o tempo, muito mais sábia do que eu jamais seria. Eu entendo se não conseguir me perdoar – disse entre lágrimas, se aproximando de Ayleen e se ajoelhando diante dela enquanto segurava suas mãos. – Mas eu lhe peço, por favor, não me despreze.

-Eu…

Ayleen foi interrompida por uma batida na porta.

-Imogene, Ayleen – chamou Rana – Precisamos conversar. Enoch está esperando perto do estábulo.

Imogene levantou-se e caminhou até a porta, deixando Ayleen para que ela vestisse as roupas que havia trazido. Internamente, ela tinha medo de ouvir o que a amiga iria dizer antes de ser interrompida.

Nota