Fanfics sobre Xena a Princesa Guerreira

-Primeiro – explicou Enoch – Não é seguro que vocês sejam reconhecidas por qualquer pessoa aqui. Existem guardas fiéis a Agur por todo o condado que já devem estar cientes da queda da Fortaleza na Cornualha e existem membros da resistência que assim como eu o fiz, enxergariam a rainha como moeda de troca. Não há tempo de avisar a todos para não atacarem Ayleen, então não é seguro que saia por aí. Vocês precisam se disfarçar. Imogene, deve continuar agindo como alguém indefesa para evitar confronto com os soldados reais e… ajudaria se colocasse um vestido – disse olhando para a calça e camisa de linho que ela havia arranjado – E Ayleen, você deve cortar seus cabelos. Nenhuma plebeia tem cabelos tão bem tratados assim. Nunca vão acreditar que você é uma vassala se não o fizer.

-Tem certeza de que isso é necessário? – protestou Imogene

-Traga a tesoura. – disse a loira determinada.

-Depois disso, eu e Rana vamos sair pela cidadela para fazer uma sondagem de nossos aliados. Poucas pessoas conhecem meu rosto aqui, então vou passar por um camponês local. Rana, que conhece o castelo deve me acompanhar, pois precisamos entrar lá e falar com os nossos contatos internos e mandar alguns deles para cá. Ela dificilmente será reconhecida, porque soldados não prestam atenção em serviçais senão para humilhá-los. Alderick e Edalyn, vão repassar a mensagem para os frequentadores da taverna que são parte da resistência.  – Virou-se para Imogene. – Pelo que Rana me falou, você tem experiência em combate. Quando os membros da resistência chegarem na taverna, Alderick vai encaminhá-los ao porão, onde vocês deverão se reunir, não é seguro discutir esses assuntos no salão principal da Taverna. Como vocês conhecem a geografia do condado muito melhor do que eu, deixo a cargo de vocês discutirem a melhor estratégia para enfrentar Drachen quando ele resolver trazer suas tropas para cá. Sem sua Fortaleza na Cornualha, é para cá que ele virá, disso temos certeza. É uma questão de tempo. Aproveitem para apresentar Ayleen para todos e explicar que não devem atacá-la, mas talvez isso demande um pouco de … persuasão.

-A ponta da minha espada se chama persuasão. – disse Imogene.

Ayleen girou os olhos diante do comentário e dirigiu-se à esposa do taverneiro.

-Edalyn, você poderia me ajudar com meu cabelo?

-Claro minha criança. Vamos até o seu quarto.

Perder os suaves cachos loiros não era nada para quem já havia perdido tanto. Chegava a lhe dar até mesmo um senso de alívio, como se deixasse uma parte das adversidades vividas para trás. Cada mexa de cabelo caída ao chão era uma lembrança que ela permitia se desapegar e uma promessa interna de tentaria mudar algo nesse futuro incerto. Ao final, seu cabelo estava curto, não chegava nem mesmo nos ombros e certamente não era o cabelo de uma rainha, mas era prático. Lhe ajudaria a passar despercebida. Edalyn terminou o corte, bateu as mãos no avental e se dirigiu à porta para voltar às suas tarefas, dando lugar à Imogene, que entrava em passos cautelosos. Ela parou em frente à Ayleen e lhe fitou por alguns segundos.

-Você está linda.

-Não quero estar linda, quero estar “comum”.

-Nós precisamos…

-Eu vou até o bosque mais próximo.

-O que?

-Eu preciso ir até o bosque buscar algo – disse simplesmente.

-Do que você está falando? Não é seguro que voc…Você ainda não se recuperou direito.

-Eu tenho um plano, e preciso ir até o bosque para executá-lo. Simples assim.

Imogene lhe olhou com uma mistura de confusão e irritação.

– Poderia dividir comigo para que eu possa entender e a gente veja como fazer isso da melhor maneira possível?

– Não vejo a necessidade de você sabê-lo até o presente momento. Na hora certa, se funcionar, você saberá. – disse levantando-se e caminhando para fora do quarto a passos largos, seguida por uma Imogene profundamente incomodada. – Edalyn! Você me emprestaria uma cesta de vime e uma pequena faca?

-Claro! Você pode pegar na cozinha. O que pretende fazer?

-Vou testar algo, e talvez eu precise de sua ajuda mais tarde, mas te conto logo mais.

-Você vai contar seu plano para ela, mas se recusa a dividi-lo comigo? – disse postando-se no arco da porta de saída da taverna.

-Você não pode me ajudar com o plano, ela sim. Me dê licença Imogene. – Seu tom era sério, estoico e objetivo.

-Isso é loucura, mas sei o suficiente para entender que você não vai desistir. Nesse caso, vou te acompanhar. – disse pegando uma capa de viagem na porta da taverna. Na saída, pegou um pedaço de madeira do monte de lenha que ficava do lado de fora, e voltou à sua postura dos últimos meses, fingindo mancar enquanto caminhava lentamente.

Ayleen caminhou pelas ruelas determinada, até sair da área mais povoada. Quando as árvores começaram a se tornar mais densas ela se sentiu mais segura, era como se a vegetação lhe acolhesse. Uma das heranças que mais amava de seus ancestrais era essa capacidade de conexão com a natureza, sentir a brisa passando entre as folhas, a capacidade de distinguir cada espécie de árvore pelo seu mero cheiro e o ocasional encontro com algum animal amigável que poderia ocorrer. Lembrava-se de caminhar pelos bosques com sua mãe quando criança, juntando cones e pinhas, correndo atrás de esquilos e dançando entre os raios de sol que passavam entre as folhas das árvores.

Ao adentrar o bosque mais próximo, concentrou seus olhos na vegetação, buscando atenta algo que não estava disposta a explicar para Imogene nesse momento. Havia sido uma caminhada curta, de silêncio incômodo e ela só queria terminar sua tarefa e voltar logo, mas sentia que em breve precisaria falar. O problema é que até então, sequer havia parado para organizar mentalmente o que sentia. Ela sabia que se sentia triste e até mesmo traída em certo aspecto. Havia passado meses vivendo praticamente um luto pela condição de Imogene, fazendo tudo que estava ao seu alcance para conseguir uma melhora de vida por ela e agora se sentia uma completa tola. Poderia ter gasto sua energia e seu tempo em algo diferente que fizesse real sentido para melhora a situação.  Sentia-se subestimada, deixada de lado e essa sensação era horrível.  Tentou lutar com a mesma sensação quando era adolescente e Imogene resolveu simplesmente sumir, mas não podia negar que foi um período sofrido.

Sua autoestima também não ajudava. Sentia-se incapaz de contribuir tanto quanto as outras pessoas pareciam contribuir. Ela não tinha experiência em combate, não tinha um conhecimento militar acurado e Enoch sequer havia lhe designado alguma tarefa na conversa de mais cedo. Era como se todos a vissem como alguém frágil demais, ou simples demais para contribuir. Por muitas vezes havia questionado seu real lugar nesse jogo chamado vida. Teria sido ela apenas um enfeite na corte do palácio Callaghan? Apenas uma ferramenta para Alderyn não sucumbir ao luto?

Ela não negava o afeto e a gratidão que sentia pelo finado casal. Mas qual era a função das mulheres da corte afinal? Havia passado grande parte da sua juventude frequentando bailes, tomando chás e indo a passeios pelo jardim. Nas raras ocasiões onde fazia algo para si mesma, afundava-se em leitura do livro deixado por sua mãe ou outros raros livros sobre medicina aos quais tinha acesso através de Hedwyn, e também às escritas e desenhos que registrava em seu diário, agora perdido.  No fim das contas, pensava que Imogene estava certa em ter fugido e feito do mundo a sua escola.

Despertando-se dos seus pensamentos, fixou os olhos no que procurava. Sabia que era raro naquela região, mas tinha certeza de ter visto em algum momento. Um simpático arbusto de folhas cinza esverdeadas e pequenas flores amarelinhas. Aproximou-se da planta pedindo licença e cortou uma generosa quantidade de folhas e flores, acomodando-as em sua cesta. Se tudo desse certo, talvez não fosse tarde demais para contribuir.

Nota