Capítulo 21 – Ponto de Vista de Imogene
por Officer KirammanQuando descemos as escadas do segundo piso do palácio, a confusão que havia se instalado horas antes já estava se dissipando. Eu ainda estava incrédula com o fato de que Ayleen, com seu plano secreto, havia impedido um derramamento de sangue quase certo. Mas nossos problemas não haviam acabado, ainda havia muito a ser feito. Agur havia sido levado para uma masmorra na parte oeste da cidade e eu pedi aos homens que o levavam que cobrissem sua cabeça com um saco de estopa, de modo que ninguém soubesse quem estava sendo transportado. Os guardas reais leais a ele, os quais haviam oferecido pouca resistência no conflito, devido a seu estado de saúde debilitado, foram encarcerados por ali mesmo e tratados com água pura e ervas medicinais a fim de que se reestabelecessem, afinal, não éramos como eles, ainda havia humanidade em nós.
Quando eu cheguei até a cela de Agur, no começo da noite pude ver em sua aparência digna de pena que ele enfrentava uma ressaca tão forte quanto as doses de absinto que havia ingerido. Os favores dos espíritos estavam ao nosso lado, porque certamente o que Agur tinha de tirano, também tinha de estúpido. Imprudentemente havia se embriagado esperando o entorpecimento suave típico do vinho e do hidromel, mas no lugar disso havia recebido um verdadeiro coice no meio da cabeça.
-Acordando, seu imundo – eu disse, passando a minha espada embainhada nas barras da cela. Eu sabia que o barulho do metal lhe seria excruciante, mas ele merecia cada segundo daquilo. Agur levantou-se do catre, permanecendo sentado enquanto segurava as laterais da cabeça. Eu podia ver a dor em seus olhos, e ela nem mesmo era proveniente da surra que eu deveria lhe ter dado, mas pura e simplesmente de sua intoxicação anterior. Com os olhos entreabertos, ele me fitou confuso e eu fiz questão de erguer o candeeiro que segurava para lhe lançar luz diretamente na cara. Meu próprio rosto ainda estava coberto de lama preta, mas sem a pele que vesti anteriormente, eu podia dizer que ele me reconhecia.
-Você? – grunhiu ele entre dor e confusão – Já se recuperou da sua invalidez?
-Já faz um tempo. E você? Já secou suas calças molhadas?
-Sua serpente suja, você me envenenou. Quando eu colocar minhas mãos em seu pescoço ele vai estalar como um galho seco. – disse ele se lançando as grades e segurando-as tão forte que os nós de seus dedos pareciam querer explodir.
-Você mesmo se envenenou. Eu não pensei que fosse tão fraco para bebida, Agur. Talvez não devesse lidar com coisas mais fortes do que consegue aguentar. Eu quase senti pena do seu desespero, implorando pela sua vida diante de dois personagens de uma fábula tola.
-Como ousa zombar das minhas crenças, sua vadia incapaz. Os meus deuses irão te punir com ferro e fogo.
-Ah, eu não sei se os deuses continuam do seu lado, Agur. Você não está exatamente numa posição de conforto aqui, está? Aliás, ninguém nem mesmo sabe que você está aqui. Até onde me importa, posso deixá-lo apodrecendo nessa masmorra sem que jamais alguém saiba o seu paradeiro. Será maravilhoso, o glorioso Agur Drachen, caindo no esquecimento.
-Você esquece o tamanho do meu exército.
-Mais da metade do seu exército está tão enjaulado quanto você nesse momento. O que sobrou dele, tem ordens para parar imediatamente com a captura de escravos e organizar a soltura de todos os seus prisioneiros. Ordens que você mesmo assinou- eu lhe disse, mostrando o documento. Aliás, que estratégia mais porca a sua… Contar uma anedota sobre “impedir a escória Romana de nos dominar” e você mesmo se aliar a ela a troco de algumas moedas de ouro.
-Você deve ser muito tola para achar que meus homens são obedientes a um pedaço de papel.
-Ah não, tenho certeza que não. Mas eles sabem que na ausência do seu rei, que não pode ser encontrado em lugar nenhum, o regente tem plenos poderes para tomar a decisão.
-E você faz ideia de onde está seu trunfo agora? Você é só uma criança tola brincando de estrategista, senhorita Callaghan. Tão tola quanto foram seu pai e seu avô.
-Tire o nome da minha família de sua boca espumosa, Agur.
-Ou o que? Você vai me torturar? Me matar? Faça isso, e você nunca mais verá o regente de novo. Quando eu soube da queda da Cornualha eu enviei um pelotão atrás daquele traidor incompetente. Você ficaria surpresa em ver como alguém miserável está disposto a passar informações úteis por uma moeda de ouro ou um saco de suprimentos. Nesse exato momento Baelish e mais uma dezena de druidas devem estar acorrentados e você nunca saberá onde encontrá-los, se não me soltar. Eu mesmo iria lhe cortar a cabeça quando ele fosse trazido para cá, mas com a notícia da sua “pequena batalha”, você acha mesmo que meus homens não os levaram para outro lugar? Quem sabe para alguma caverna, para serem devorados por lobos famintos, hein? Não seria aterrador? Ou talvez até mesmo tenha se tornado um escravo de Roma nesse momento. Sem mim e sem o regente, esse decreto não tem validade alguma.
Eu engoli em seco por um momento, tentando disfarçar o medo. Eu não sabia se Baelish havia se fato sido capturado, mas não podia descartar essa possibilidade. Havia semanas que ele havia me enviado a mensagem, considerando o tempo que ela levou para chegar até nós. Sabiam os deuses o que poderia ter ocorrido nesse meio tempo. É claro que também era inteiramente possível que Agur estivesse blefando, mas não havia como descobrir isso nesse momento. Minha melhor aposta seria conferir eu mesma o paradeiro de Bae. Além disso, isso dificultaria as coisas, pois se Agur havia colocado um prêmio sobre a cabeça de Bae, o resto dos seus homens não obedeceria a um decreto vindo do regente. Eu precisava desesperadamente de outro plano, mas também precisava de tempo para me organizar.
-Meio exército sem o líder para comandar, sem regente e sem castelo é apenas um monte de palhaços desordenados. Apodreça, Agur. – Eu disse, me retirando.
Os dois dias seguintes foram se reconstrução e limpeza no palácio. Eu tinha total noção do tamanho do problema que tinha em minhas mãos, mas com o comando de Agur fora do palácio que um dia foi dos meus pais, parecia que uma atmosfera mais leve se instalou no condado. A gente inocente, que estava sofrendo sob o comando dele foi poupada a recolocada em seus postos de trabalho. Eu, Enoch, Ayleen, Rana e mais alguns membros da resistência, formamos um conselho temporário para tomar algumas decisões, entre elas, a distribuição de parte do ouro de Agur entre o condado para lhes ressarcir os tributos abusivos que vinham sendo cobrados e tentar melhorar a situação econômica e a qualidade de vida das pessoas. Agur era grosseiramente burro e só pensava em lucro através da exploração, ignorando totalmente o fato de que pessoas famintas e adoentadas não conseguem produzir.
Precisávamos agora decidir o que seria feito do resto do seu exército e o que faríamos a respeito de Baelish e dos druidas que supostamente estavam cativos por ele. Enoch queria mandar os seus companheiros numa patrulha para buscar o paradeiro deles, mas eu sabia que um grupo grande de pessoas poderia gerar um confronto direto que resultaria em mortes, podendo incluir até mesmo Bae e o povo de Ayleen. Eu precisava de outra abordagem e isso também envolveria algum risco. De todo modo eu já havia pedido muito a Bae, e ele havia sacrificado muita coisa por mim, se existia a possibilidade dele de fato estar em perigo eu precisava encontrar um meio de resgatá-lo.